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03 - Reset

...E quando fechei os meus olhos completamente, eu senti uma sensação de leveza e paz. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas eu não tinha medo. Eu sentia que alguém estava comigo, mas eu não sabia quem era.

Eu não sei quanto tempo se passou, mas eu acordei em um lugar diferente. Era um mundo cheio de cores e vida, diferente do mundo cinzento e morto que eu conhecia. Eu estava em uma igreja, deitado em um berço de palha. Eu ouvi um som de sinos e orações. Eu me levantei e olhei em volta, confuso e assustado.

Eu vi um padre se aproximando de mim, com um sorriso bondoso no rosto. Ele me pegou no colo e me disse:

- Olá, meu filho. Você é um milagre de Deus. Você foi encontrado na porta da igreja, sem nenhum sinal de quem são os seus pais ou de onde você veio. Mas você é uma criança especial, pois você tem a marca dos seis.

Ele apontou para a minha testa, onde havia uma tatuagem em forma de hexagrama. Era a marca dos seis, o símbolo dos que podiam usar as seis energias: fogo, água, terra, ar, luz e trevas. Era uma habilidade rara e poderosa, que poucos possuíam.

- Você tem um grande destino pela frente, meu filho. Você se chamará Astracar, o nome do anjo da justiça. Você será criado na igreja, sob a minha proteção e orientação. Você aprenderá a usar as suas energias para o bem e para a glória de Deus.

Eu não entendi nada do que ele disse, mas eu senti que ele era uma pessoa boa e que queria me ajudar. Eu sorri para ele e ele sorriu de volta. Ele me levou para dentro da igreja, onde havia outras crianças órfãs como eu. Ele me apresentou a elas e elas me acolheram com carinho.

Eu cresci na igreja, sob os cuidados do padre. Ele me ensinou a ler, a escrever, a rezar, a cantar. Ele me ensinou também sobre as seis energias: fogo, a energia da paixão e da transformação; água, a energia da emoção e da adaptação; terra, a energia da estabilidade e da materialização; ar, a energia da mente e da comunicação; luz, a energia da vida e da cura; trevas, a energia da morte e da destruição.

Ele me ensinou como usar cada uma delas, com equilíbrio e responsabilidade. Ele me disse que cada energia tinha seus benefícios e seus perigos, e que eu deveria usá-las com sabedoria e bondade. Ele me disse que eu era um escolhido de Deus, e que eu tinha uma missão especial neste mundo.

Eu não sabia qual era essa missão, mas eu confiava nele. Eu o via como um pai, e ele me via como um filho. Nós éramos felizes na igreja, junto com as outras crianças. Nós brincávamos, estudávamos, rezávamos. Nós éramos uma família.

Mas essa felicidade não durou para sempre.

Um dia, o padre adoeceu gravemente. Ele tinha uma febre alta e uma tosse persistente. Ele tossia sangue e tinha dificuldade para respirar. Ele estava sofrendo de uma doença incurável e contagiosa.

Ele foi isolado em um quarto nos fundos da igreja, onde ninguém podia vê-lo ou falar com ele. Ele só recebia a visita do médico e do bispo, que vinham trazer remédios e orações.

Eu fiquei desesperado com a situação dele. Eu queria vê-lo, falar com ele, abraçá-lo. Eu queria usar as minhas energias para curá-lo, mas eu sabia que isso era impossível. A doença dele era resistente à luz e à água. Nenhuma energia podia salvá-lo.

Eu rezava todos os dias por ele, pedindo a Deus que o curasse e o protegesse. Eu esperava um milagre, uma intervenção divina. Mas nada acontecia.

Até que um dia, eu ouvi um grito vindo do quarto dele. Eu corri para lá, sem pensar nas consequências. Eu abri a porta e entrei. Eu vi o padre deitado na cama, pálido e suado. Ele estava tendo convulsões e espumando pela boca. Ele me viu e me chamou com a voz fraca:

- Astracar... Meu filho...

Eu me aproximei dele e segurei a sua mão. Ele me olhou com amor e tristeza. Ele me disse:

- Astracar... Você é um menino bom e especial... Você tem um grande destino pela frente... Você tem que cumprir a sua missão... Você tem que encontrar a sua irmã...

Eu fiquei confuso e assustado com as suas palavras. Eu perguntei:

- Minha irmã? Que irmã? O que você está dizendo, padre?

Ele sorriu e disse:

- Sua irmã... Charlotte... Ela é como você... Ela tem a marca dos seis... Ela está em perigo... Você tem que salvá-la...

Eu não entendi nada do que ele disse, mas eu senti uma estranha conexão com aquele nome. Charlotte. Era como se eu já conhecesse essa pessoa, como se ela fosse parte de mim.

Eu perguntei:

- Charlotte? Quem é ela? Onde ela está? Como eu posso salvá-la?

Ele suspirou e disse:

- Ela é a sua irmã gêmea... Ela foi separada de você quando vocês nasceram... Ela foi levada por um homem mau... Ele quer usar as energias dela para o mal... Você tem que encontrá-la e libertá-la... Você tem que protegê-la e amá-la...

Ele fechou os olhos e disse:

- Eu sinto muito, meu filho... Eu não posso te dizer mais nada... Eu não tenho mais tempo... Eu vou morrer em breve...

Eu comecei a chorar e a gritar:

- Não, padre! Não diga isso! Você não vai morrer! Você vai ficar bem! Você vai se curar! Você vai ficar comigo!

Ele abriu os olhos e disse:

- Não chore, meu filho... Não grite, meu filho... Seja forte, meu filho... Seja corajoso, meu filho... Seja santo, meu filho...

Ele apertou a minha mão e disse:

- Eu te amo, meu filho... Eu sempre te amei, meu filho... Eu sempre vou te amar, meu filho...

Ele soltou a minha mão e disse:

- Adeus, meu filho...

Ele fechou os olhos e parou de respirar.

Ele morreu.

Eu fiquei em choque, sem reação. Eu não podia acreditar no que tinha acontecido. Ele tinha ido embora, para sempre. Ele tinha me deixado sozinho, sem respostas.

Eu olhei para ele e vi o seu rosto

sereno e tranquilo. Ele parecia estar dormindo, mas eu sabia que ele não ia acordar.

Eu me deitei ao lado dele e o abracei. Eu chorei até não ter mais lágrimas. Eu rezei até não ter mais voz.

Eu me despedi dele e o agradeci por tudo.