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Capítulo 4: Não se sinta mal, por quem faz o mal.

A muito tempo atrás: eu nunca me considerei a pessoa mais ética do mundo. Tenho noção dos meus defeitos, mas sinceramente, não é algo que eu me importasse até então, antes da minha vida virar de cabeça pra baixo por conta das minhas escolhas. Quando tinha 9 anos, eu e Mercil chegamos da escola totalmente machucados, nós apanhamos feio dos otários da escola, simplesmente porque a gente não é igual a todo mundo.

Eu lembro como se fosse ontem, a gente chegando em casa com o traje branco que ia dos pés ao pescoço, com uma linha preta nas duas laterais do traje, era o uniforme da escola. Eu e o Mercil, a gente era bem pequenos na época, nosso cabelo nem era pintado nesse tempo, era totalmente preto. Assim que a gente chegou, Luthan tava usando um pijama preto casual, e logo ele percebeu os cortes no nosso rosto, e meu olho roxo.

— O que aconteceu com vocês? — ele foi até nossa direção, se agachou pra ver o nosso estado.

— Um gato arranhou a gente. — eu não queria falar a verdade, não queria que Luthan fosse até a escola causando discórdia, isso ia ser bem pior, eu ia apanhar muito mais.

Mercil tava mais apático do que eu. Eu tava mais recluso, um pouco assustado, Mercil parecia não se importar.

Luthan, soltou uma expressão de leve confusão, arqueando as sobrancelhas. — Vou buscar os curativos.

Quando Luthan se afastou, eu e Mercil nos olhamos por um momento, nós tínhamos um plano.

Uma semana depois, esperamos o Kalaeel, ficar sozinho, sem o seu grupinho, a gente analisou cada passo dele, por exemplo: descobrimos que ele gosta de passear sozinho pelo "Pântano de Lixão", é um gosto um tanto quanto peculiar, lá tem lagos tóxicos, sujos e fedidos, e é claro, pilhas imensas de lixos. Mas não importa o gosto desse babaca, o que importa era apenas nossa vingança por ele infernizar nossa vida, Mercil tinha arquitetado todo plano, como sempre, eu era tipo o suporte pro plano, então depois da escola, a gente esperou o Kalaeel aparecer.

De longe, olhando pro amontoado de casas de ferro e metal improvisadas do ADBR do Norte, consegui ver, o garoto alto de cabelos de fogo, bem curtinhos, como espinhos, olhos verdes como planta, entrar no Pântano de Lixão sozinho, com um pirulito na boca, cheio de marra e descompromisso.

— Fica esperto Danme. — Mercil me alertou.

Nós estávamos escondidos atrás de uma pilha de lixos, quase no topo, apenas observando de longe.

— Beleza. — eu comecei a descer lentamente da pilha, fazendo o máximo de silêncio possível.

Kalaeel ficou próximo de um lago no meio de três montanhas de lixo em volta, um lago que parece ser pequeno, mas é extremamente fundo. Ele se sentou na frente do lago, e ficou observando aquela água verde e suja por algum motivo, onde você não consegue observar o fundo de tão profundo que é. Então eu fiz o que tinha que ser feito, com uma corda, eu fiz um nó, e joguei a corda no pescoço dele, então segurei a corda com firmeza. Mercil ao mesmo tempo, empurrou ele pro lago, ele não teve nem tempo de reação, a corda balançava freneticamente, e eu consegui perceber várias bolhas de ar tentando escapar do lago.

— Sobe. — Mercil ordenou.

Então eu puxei a corda pra trás, subindo a cabeça dele pra fora do lago, água suja saindo pela sua boca, tentando respirar desesperado pra sobreviver.

— O q-que vocês querem? — ele perguntou assustado e ainda confuso.

Mercil encarou ele com um olhar vazio, sem empatia nenhuma. — Queremos respeito, se decidir mexer conosco novamente... Vou fazer algo pior do que deixar você morrer afogado.

— Pensa que pode mandar em mim anormal?! Quando eu sair daqui, eu e os moleques vamos matar vocês dois!! — ele gritou, pulsava de raiva.

— Danme, desce. — você que manda.

Então eu abaixei a corda de novo, ele se afogando mais uma vez, eu não tava gostando muito do que eu tava fazendo, mas precisava obedecer o Mercil, só ia levantar quando ele ordenasse... agora não... só mais um pouco.

— Sobe. — ainda bem.

Puxei a corda mais uma vez, de novo ele com a cabeça pra fora, pra que pudesse respirar um pouco.

— Tudo bem, tudo bem! Por favor só não me mata! Eu deixo vocês em paz... — ele aceitou a ordem do Mercil sem hesitar dessa vez.

— Ótimo. Se você me desobedecer... — Mercil se abaixou, pegando Kalaeel pelo o cabelo, apertando com força, pra não só machucar, como pra intimidar. — Saiba que eu não hesitaria em matar você. — então Mercil puxou ele pelo o cabelo, jogando ele com agressividade no chão. Ele começou a andar na minha direção, pisando na cabeça de Kalaeel no caminho.

— Vamos Danme. — ele tocou no meu ombro.

— Me sinto mal por ele... — eu realmente fiquei mal, sentia um pouco de remorso por machuca-lo desse jeito, ainda mais que ele ficou no chão, jogado, chorando e humilhado.

Mercil deu um leve tapa na minha nuca. — Não se sinta mal por quem causa o mal, seu idiota.

— Tá... Eu entendi. — olhei uma última vez pra Kalaeel, então me virei e segui meu caminho. A partir desse dia, ele e a turma dele, nunca mais mexeram com a gente. Eu disse que não sou a melhor pessoa do mundo, e esse é meu fardo.

Presente: minha respiração tava rápida, quase travada, meu coração batia rápido a cada compasso, meus olhos abertos, a cada segundo em alerta. Na minha frente o Mágoa irradiando uma aura aterrorizante, enquanto mais perigos se aproximavam.

— Aí pivete. Acha que dá conta de dar uma forcinha? — Tec me perguntou, exalando confiança.

— Eu? Eu acho que s-sim. — eu fechei meus punhos, apertando eles com força.

— Então só não dá mole e fica esperto. Vou pensar no que cê pode me ajudar. — Tec coçou o queixo da máscara. — Consegue fazer a paradinha do raio com a mão de novo?

— Acho que sim.

— Só sabe falar "eu acho que sim"?

— A-ah! Eu... — fiquei com uma quebra de raciocínio e expectativa ao mesmo tempo.

Então das árvores cinzentas, das sombras que escondiam os maiores segredos, uma turbulência sem tamanho, algo se aproximava, e então surgiram inúmeros Mágoas, semelhantes ao Mágoa aracnídeo, mas distorcidas e com formas da sua maneira. Era como um avalanche de uma infestação de insetos albinos vindo tudo de uma vez, um amontoado de bagunça e caos. Meu corpo paralisou, eu não sabia o que fazer, mas logo voltei a consciência quando Tec estalou o dedo a frente do meu rosto.

— Agora preciso que você se concentre, pivete. — ele falou com a voz calma e confiante, ele parecia um poço de confiança.

— Ok! — eu acenei.

Então o Mágoa aracnídeo, deu uma investida rápida novamente, com suas patas enormes, carregando uma aura roxa pelo seu corpo, tenta desferir um ataque mortal com suas patas direitas, causando um corte insano no ar que corta árvores a quilômetros de distância, por sorte, o corte acerta uma pequena parte da minha testa, o meu sangue quente e fervido, escorrendo pelo meu rosto. Sairu Techno sequer foi acertado por esse golpe fatal, ele teleportou seu corpo pra cima de uma árvore próxima.

— Vai precisar mais do que isso pra me acertar cabeça de bagre! — ele insulta o Mágoa sem hesitar.

A avalanche de Mágoas vindo na minha direção, mas então, Tec cria um portal distorcido novamente a minha frente, dessa vez um portal enorme, um portal invisível que parece distorcer a realidade. Assim que os Mágoas passam por ele, um portal ao céus em uma área pouca próxima, arremessa eles ao chão. Eu desvio minha atenção, vendo os centenas de Mágoas sendo arremessados ao chão.

— Pivete, carrega o raio na mão! — Tec gritou.

— Drow! Você ouviu: carregar eletricidade!

— Claro jovem viajante! Qual potência?

— A máxima que tiver! — eu estava com a mente afiada, o tempo parecia passar mais devagar por conta da adrenalina.

E assim, o Mágoa aracnídeo, tentou mais uma vez, utilizar seu ataque letal: Agulhas Mortíferas. Ele juntou suas patas, como uma agulha, e se lançou na minha direção, mas então, o portal de Tec passou atrás de mim pelo meu corpo, e quando eu me dei conta, eu estava no ar, caindo na direção das costas do Mágoa.

— Pivete! Consegue se manter no ar? — Tec me perguntou.

— A-aaah! Eu tô tentando! — eu falei com a voz meio trêmula, enquanto eu caía.

— Vou ser breve, falou?: segundos atrás, quando eu ataquei o Mágoa, eu marquei o torso dele com minha Chronotopo, o que você precisa entender, é que assim que você atingir as costas do Mágoa com o raio do seu robôzinho aí, o ataque vai ter um eco no tempo, ficando muito mais poderoso, e exterminando esse bicho feio, sacou?

— B-beleza! — então com um equilíbrio mediano no ar, me lancei nas costas do Mágoa, e antes que meu corpo chocasse com o dele, com meu braço esquerdo que estava coberta por eletricidade azul e vibrante, dançando como pessoas se balançando freneticamente em uma balada, eu coloquei a palma da minha nas costas do Mágoa, e assim que minha palma chocou com seu corpo, na área marcada, uma grande explosão de energia aconteceu, me lançando pra trás com força total. Antes de eu cair no chão, Tec me pegou pelos braços, me colocando lentamente no chão. O Mágoa, que outrora se mostrava em outro nível e ameaçador, agora era consumido por uma energia incessante de eletricidade, uma cena estranhamente linda, mas... Sinto um pouco de pena...

— Me sinto mal por ele... — eu sussurrei.

Tec me encarou, ele estava de máscara, mas parecia me julgar através dela. — Pivete, você não se sente mal por quem faz o mal.

Assim que Tec diz essas palavras, eu fiquei quase com uma expressão inerte, de choque... De novo essa frase me seguindo? Será que significa... Que devo ter ódio por esses demônios?... Afinal... Meu pai foi morto por um.

— Virou churrasquinho esse bicho. — Tec falou do Mágoa que agora estava com o corpo cinza apodrecido, o corpo dele parecia descascar por não ter mais vida, como se fosse uma fruta podre concluindo seu ciclo de vida. — Agora os Mágoas que joguei pra longe, vão ficar bem bravinhos, fica de olhos abertos, pivete.

Porém, enquanto me afogo nas minhas próprias perguntas internas, sinto uma dor intensa no meu braço esquerdo, ele está todo chamuscado, com as veias completamente marcadas e escuras.

— Peço perdão jovem viajante! Parece que eu exagerei na voltagem! — Drow, simpático como sempre.

— Ah... Droga! — a dor é aguda, e se espalha por todo meu braço.

Tec reparou muito no meu braço. — Você ainda tem sorte de não ter perdido o braço garoto.

— O que?!

— Eu esperava que seu braço ia se perder completamente com a voltagem avassaladora de energia, depois eu ia remontar seu braço é claro, não sou um psicopata... Pelo menos não totalmente.

Eu fiquei incrédulo e com raiva pelo o que acabei de escutar. — Olha, vai me desculpar, mal te conheço, mas você não acha que foi meio louco nisso não?!? — o afrontei.

Ele não me respondeu, ficou apenas me encarando, eu não conseguindo ver seu verdadeiro semblante, apenas o olhar sanguinário de sua máscara. — Pra falar a real, esse pivete é bem estranho. Ele tem uma resistência e regeneração sobre humana, afinal, o ombro dele, que estava com um ferimento gravíssimo, se curou em poucos segundos. Talvez ele seja um infiltrado, ou... Algo maior.

— Então? Será que você pode me responder?

Tec me deu um soco no queixo, no mesmo instante, eu desmaiei, ele pegou meu corpo e deixou deitado abaixo de uma árvore. — Dorme um pouquinho bebê.

— Jovem viajante? Está bem?

— Ele tá só tirando um cochilo, ô... Como é seu nome mesmo?

— Ah! Que bom então! Meu nome é Drow! Sou um assistente, prazer!

Tec não falou mais nada, agora ele precisava manter sua mente focada nos Mágoas, mas dessa vez, junto com eles, surgiu algo que Tec já temia: Queen. A rainha dos Mágoas, uma criatura de 20 metros, com apenas braços no corpo ao invés de pernas também, quatro braços precisamente, enorme e delicados. Seu corpo é algo distorcido e reto, com uma cabeça enorme fincada na anatomia estranha do seu corpo. Com olhos distorcidos e negros enormes, e com uma boca gigante que se estende até metade de seu corpo abaixo, em uma posição vertical.

— Aaaah... Que delícia. — Tec resmungou, ajustou seu machado, e começou a correr na direção do avalanche de Mágoas, em nenhum momento ele hesita, pelo o contrário, exala confiança diante ameças grotescas e enormes. Então se jogando na avalanche de Mágoas, Tec começou a dançar com seu machado, cortando vários Mágoas consecutivamente com maestria, o sangue preto e viscoso dos Mágoas voando pelo o ar. Então Tec com seu machado, segura o cabo do machado com as duas mãos, então ele começa a girar seu corpo em uma velocidade insana, e com seu poder, ele estende o alcance dos cortes, como se fosse uma grande lâmina de energia avermelhada cortando inúmeros Mágoas.

Assim que ele para de girar, ele consegue uma área livre considerável, então gira seu machado pelos braços, e finca o cabo do machado no chão com força. — "Quebra". — vários desenhos brilhantes no chão, como símbolos e linhas distorcidas se espalham em um enorme círculo por todo o campo de batalha, em seguida, todos os Mágoas ficam no ar por um momento de forma repentina, e seus corpos parecem se mover de forma lenta, como se o tempo tivesse ficado mais lento para eles. Então Tec remove seu machado do chão, e dentro da área da sua habilidade "Quebra", ele tem sua velocidade, o seu tempo, acelerado exponencialmente. Então como um flash, ele parte ao meio centenas de Mágoas de uma vez, logo após sua técnica se desfaz, e agora tudo volta ao normal.

Então Queen, vendo seus subordinados sendo mortos pelo Sairu, decide reagir, ela abre bastante de forma grotescas sua boca, como se estivesse rasgando a própria pele, então uma esfera roxa começa a surgir de sua boca, começando a se forma lentamente, como chamas infernais em uma esfera caótica de destruição, então, Queen dispara um raio estrondoso na direção de Tec, que por pouco, escapa se teleportando para outra área.

— Chega. Vamo acabar com isso. — Tec então começa a girar seu machado, aumentando a velocidade a cada giro, e girando rapidamente sem parar, seu machado começa a irradiar uma aura vermelha enquanto corta o próprio ar. Tec cria uma poderosa e enorme distorção esférica a frente de seu machado, uma esfera invisível, mas irradiando um aura vermelha, ele gira a esfera pelo seu machado, como se estivesse preparando ela para ser lançada, se preparando para o golpe definitivo, uma guia para esfera, então ele gira seu corpo, pronto pra lançar a esfera. — Expressão Tipo 3: "Oblívio".

E esfera invisível atravessa o corpo dos Mágoas sem os perfurar, mas por um momento, ela simplesmente para no ar, então, como um buraco negro, todos os Mágoas, incluindo a Queen, começam a ser sugados pelo "Oblívio". O problema é que o Oblívio ele não para de os esmagar, a atração é contínua, uma anomalia no espaço-tempo.

— Isso é 1% do que Sairu Techno pode fazer, babacas! — Sairu provocando as criaturas, levanta o dedo do meio para elas.

Todas as criaturas são esmagadas continuamente, e então, a esfera implode, criando uma enorme explosão de energia vermelha pelo o campo de batalha que outrora estava infestado de Mágoas. Antes que pudesse ser atingido pela própria técnica, Tec se teleporta acima da uma árvore cinzenta, segurando Danme pelo o ombro. A explosão de energia se comprime, deixando uma enorme área devastada e destruída, com um enorme buraco no chão.

— 1 a 0 pra mim. — Tec soltou um leve suspiro.

— Vencemos? — Drow pergunta inocentemente.

Horas depois: eu abro meus olhos lentamente, minha visão embaçada logo volta ao normal, eu estou fraco, e eu olho pro meu braço esquerdo que já estava curado, porém, meu corpo do pescoço pra baixo, estava coberto por uma massa preta, pendurada no chão, como se a gravidade estivesse invertida, e eu estivesse flutuando. A sala ao meu redor minúscula, as paredes eram completamente pretas, e não parecia ter saída, até que uma figura se teleporta pra dentro da sala: Sairu Techno.

— O que tá acontecendo?!? Por que eu tô preso aqui?!? — eu confrontei, minhas sobrancelhas contraídas de raiva, meus olhos abertos em alerta.

Então Tec anda lentamente na minha direção, e fica de frente pra mim, me encarando através da máscara, mas então, ele toca em um botão em sua orelha, e a máscara se comprime ao um nível de um fone de ouvido, o rosto dele é revelado pra mim: um homem branco, com uma pele gélida, olhos predatórios e marcados com um semblante de quem já viu muita coisa terrível. Ele tem um pearcing preto na sobrancelha, e seu cabelo é algo interessante, fios vermelhos como vinho ou até mesmo sangue. As laterais do cabelo bem menores comparadas ao resto, criando uma aspecto mais radical, e bagunçado.

— Agora vou falar sério com você, pivete. — ele falou bem sério dessa vez, não estava contente e alegre como sempre, eu engoli em seco. — Pra quem você trabalha?