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Capítulo 1: Irmão

Yuji Itadori estava deitado em um sofá velho no escritório do seu padrinho , absorto na leitura de um livro de mitologia antiga escrito em latim. O idioma sempre o fascinara desde os tempos do ginásio, e agora, no colegial, continuava encantado com ele.

Ele ergueu os olhos para a porta do escritório ao escutar o ranger familiar da porta da frente da antiga casa abrir e fechar, deixando as vozes ecoarem pelo espaço.

Eles haviam passado uma semana ali na casa do seu padrinho antes de retornarem à "civilização", como seu pai costumava dizer.

A 'Grande Cabana' de Gojo Satoru era um dos lugares prediletos de Yuji. Localizada no meio do nada, cercada por uma vasta floresta para explorar e trilhas para percorrer.

A residência era um tanto antiquada, com móveis não tão novos, mas a presença animada de Gojo compensa.

Sempre com seu sorriso brincalhão fazendo as piores piadas quando Yuji fazia algo para irritar seu pai, em sua casa ele tem um grande fascínio por antiguidades, e uma sala cheia de livros.

Em breve, teriam que deixar a calmaria da interior da cidade de Ome para retornar a Shinjuku. Apesar de ambas as localidades estarem dentro da mesma metrópole de Tóquio, a distância de carro era considerável, quase uma hora e meia de viagem.

Nanami Itadori, pai de Yuji, lecionava na Universidade de Shinjuku, onde ministrava um curso sobre mitologia e folclore japonês.

Yuji, distraído ao folhear as páginas do livro, se viu capturado pelas vozes provenientes de uma das outras salas ao ouvir seu nome ser mencionado.

"Yuji vai?" Ele conseguiu ouvir parte da pergunta feita para seu pai e ergueu os olhos ao reconhecer seu nome.

"Como eu disse, ainda escrevo para ele a cada duas semanas. Falo sobre as coisas chatas que faço por aqui. Às vezes, ele responde".

"Sim," ele pôde visualizar seu pai concordando com o que quer que Gojo estivesse falando.

"A mesma coisa por aqui. As cartas são sempre as mesmas. Variações diferentes, mas o mesmo conteúdo. O Doutor disse que não notou nenhuma mudança real, exceto que ele está um pouco mais tranquilo agora."

"Você pretende visitá-lo em breve? Eu não me importaria de vê-lo novamente. Já faz muito tempo."

"Sim, em breve," respondeu seu pai. "Eu só... caramba, Satoru. Me machuca vê-lo lá. Isso dói. Às vezes falo com ele e é como se ele nem soubesse quem eu sou, como se estivesse olhando através de mim. Mas ele sempre pergunta por Yuji. Sempre."

Houve um breve silêncio. Yuji franziu a testa, curioso sobre quem eles estavam discutindo e por que estavam falando sobre ele.

Após um momento, seu pai falou novamente: "Eu simplesmente não sei o que fazer por ele. Não sei se há algo que possa ser feito por ele neste momento."

"Bem, não desista dele," a voz de Gojo era firme. "Alguma coisa vai mudar, eventualmente. Só não desista dele."

"Estou tentando, Satoru," a emoção começou a transparecer na voz de seu pai.

"É difícil, mas estou tentando. Se eu achasse que tirá-lo de lá faria algum bem, eu faria. Eu odeio que ele esteja lá. Ele ainda é meu filho."

Yuji ficou imóvel, agarrando o batente da porta enquanto seu coração parecia pular dentro do peito. Engoliu em seco, superando o nó na garganta e a dor desconhecida que se instalou em seu peito.

Dois pares de olhos se voltaram para ele, chocados, quando ele apareceu no campo de visão de seu pai e padrinho, questionando: "E-Eu... tenho um irmão?"

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Yuji, determinado a descobrir mais sobre o mistério do seu irmão, passou meses tentando juntar informações com seu pai. Nanami, apesar de relutante, ocasionalmente compartilhava pequenos fragmentos sobre a pessoa sobre a qual tanto evitava falar.

"Você tem um irmão mais velho, ele precisou ser enviado para outro lugar quando você tinha três anos", revelou Nanami, evitando detalhes mais específicos que Yuji tanto ansiava.

Gojo, por outro lado, permanecia calado, sua expressão nervosa evidenciando o desconforto da situação. Evitando aborrecê-lo, Yuji desistiu temporariamente das perguntas, mas seu desejo por respostas só crescia.

Entre idas e vindas, em momentos antes da escola, durante as refeições e até mesmo no carro, Yuji persistia com suas perguntas, às vezes recebendo respostas reticentes de seu pai, embora mínimas.

"Sukuna", ele acabou descobrindo, era o nome de seu irmão mais velho, quatro anos à frente dele, foi levado embora quando Yuji era apenas uma criança de três anos.

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Nanami disse que começou a notar comportamentos perturbadores em Sukuna após a morte da mãe de Yuji em um acidente de carro.

"Sukuna, e-ele começou a falar sozinho e com pessoas que eu não conseguia ver. Eu imaginei que fosse um trauma, afinal, vocês haviam perdido a sua mãe recentemente, mas a situação piorou". Seu pai disse a ele um dia.

Outro dia seu pai estava divagando e disse a ele: Que pouco depois de Yuji completar dois anos, seu irmão Sukuna começou a falar sobre Maldições.

Ele dizia que são coisas que ele viu que outros não podiam ver. E ficou quase obsessivo por Yuji durante esse tempo, protetor e paranóico de que algo iria tirar seu irmão dele.

"Quando Sukuna tinha sete anos, ele atacou um adolescente vizinho com um taco de bola. O ataque pegou o adolescente desprevenido e o jogou no chão."Nanami disse.

"Quando eu o arranquei de cima do menino, Sukuna estava gritando que no ombro do menino havia algum tipo de monstro e que todos estavam em perigo." Yuji viu a aflição no rosto de seu pai enquanto explicava.

"O menino acabou com o pulso quebrado e… Sukuna acabou no consultório de um terapeuta. E-Eles o d-diagnosticaram…e imediatamente foi levado por uma internação em um hospício infantil."

Os detalhes que lhe foram fornecidos perturbaram Yuji um pouco:

O mais perturbador, porém, foi que seu irmão, aparentemente, esteve internado em um hospital psiquiátrico após outro nos últimos treze anos.

Yuji, que tinha acabado de completar três anos quando o menino mais velho foi mandado embora, não tinha ouvido falar dele nem visto uma foto e, como as crianças costumam fazer naquela idade em que não têm nada para lembrá-las, havia esquecido ele.

Não havia nenhuma foto, nenhuma menção a ele, nenhuma evidência de sua existência.

Ele havia conseguido todos os detalhes que pôde com seu pai, e eles criaram emoções confusas dentro dele. Tristeza por esse irmão que ele não via há treze anos e que estava trancafiado; raiva de seu pai por esconder tudo dele; ansiedade porque seu irmão, mesmo que não se conhecessem mais, estava sozinho e triste.

Quase um ano de persistência e pesquisa levou Yuji a descobrir o paradeiro de Sukuna: o Hospital Psiquiátrico em Shibuya.

A revelação, feita no dia seguinte ao seu aniversário de dezessete anos, trouxe um misto de emoções enquanto ele se preparava para confrontar uma realidade que, por tanto tempo, permaneceu obscurecida.

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O ambiente ao redor do Hospital Psiquiátrico pairava tenso enquanto Nanami e Yuji tinham essa conversa crucial dentro do carro. A ansiedade de Yuji era quase palpável enquanto seu pai tentava transmitir a complexidade da situação que estava prestes a enfrentar.

"Você tem certeza de que quer fazer isso?"

Nanami fez a pergunta pelo que parecia ser a quinquagésima vez. Yuji se controlou para não revirar os olhos e apenas balançou a cabeça afirmativamente.

"Eu quero conhecê-lo."

Finalmente depois dois meses após o décimo sétimo aniversário de Yuji. Ele precisou esperar até as férias de verão para finalmente convencer seu pai a deixá-lo conhecer o irmão que nem sequer sabia que existira.

A tensão dominava o interior do carro e Yuji estava um pouco nervoso. Ele lançou um olhar para o pai quando o homem continuou a descrever:

"Ele... ele tem alguns problemas, Yuji. A forma como ele pensa é diferente. Há alguns anos, ele acreditou que eu e Satoru iríamos... que iríamos fazer mal a vocês. Ele ficou furioso comigo por um bom tempo depois disso. Ele acredita em coisas como feitiçaria, monstros, chama-os de xamãs e maldições. Tentamos remédios, terapia, tudo o que pudemos imaginar, mas não ajudou."

As mãos do pai se apertaram no volante e ele fechou os olhos, respirando fundo antes de se virar novamente para Yuji.

"Ele perguntou sobre você, mas não sei como ele reagirá quando te conhecer. É uma das razões pelas quais nunca te trouxe aqui. Você tem certeza de que quer fazer isso?"

Yuji encontrou o olhar do pai e acenou com a cabeça afirmativamente. "Tenho certeza. Eu quero conhecê-lo."

"Ok, então," Nanami abriu a porta do carro e se moveu para sair, "Vamos."

O coração de Yuji batia forte, quase ensurdecedor, enquanto seguia seu pai pelo corredor do hospital. O nervosismo se manifestava em seu interior, misturado com uma carga de incerteza e preocupação que não conseguia decifrar completamente.

Ao passar pelo processo de check-in, Yuji observou atentamente seu pai interagir com os funcionários do hospital. Ele viu um sorriso nervoso, um aperto de mão firme, e pequenos gestos que deixavam claro o quão tenso estava o ambiente ao seu redor.

Contudo, não era medo do que poderia encontrar do outro lado da porta. Era algo mais complexo, uma mistura de expectativas, medo de decepcionar e a sensação desconfortável de que talvez Sukuna o tivesse interpretado mal todos esses anos.

"Será que ele acha que eu o abandonei?"

Yuji se questionou internamente, preocupado com a possibilidade de que seu irmão acreditasse que ele se afastou intencionalmente, por opção própria. A ideia o atingiu com força, uma nova camada de angústia se formando dentro dele.

Enquanto avançavam pelos corredores do hospital, Yuji percebeu vagamente os detalhes ao seu redor, mas sua mente estava ocupada demais com seus próprios pensamentos, ansiedades e receios.

Só quando pararam diante de uma porta é que sua atenção se voltou para os homens à sua frente, seu pai e um psiquiatra, preparados para dar um passo em direção a uma reunião há muito adiada.

Ao redor da porta do quarto psiquiátrico era repleta de símbolos e runas intricados. Yuji observou, seu olhar rosado brilhantes mudou para a tinta cobria cada centímetro visível da porta, um emaranhado de línguas antigas e desenhos misteriosos.

Alguns ele reconheceu, seu pai ensinava mitologia e ele próprio estava interessado no assunto, e outros não.

Seu olhar se voltou para o pai, buscando explicações, e recebeu um sorriso pálido como resposta. "Isso o faz se sentir mais seguro", explicou Nanami, antes que o psiquiatra batesse na porta e a abrisse.

Primeiro, seu pai entrou, seguido pelo psiquiatra. Yuji, apreensivo, deu passos hesitantes, seguindo-os para dentro do quarto. Ao adentrar, o cenário que se revelou diante de seus olhos era surpreendente.

Se ele ficou espantado com arte na entrada, do lado de dentro era uma galeria.

Símbolos, palavras e desenhos adornavam as paredes, formando uma tapeçaria visual fascinante. O tapete de papéis colados no chão, os símbolos no teto e a profusão de desenhos ao redor da única janela criavam uma atmosfera única e peculiar.

Seu olhar se fixou no jovem à frente, sentado na cama. Ele era magro, com cabelos rosados semelhantes aos de Yuji, pele clara e desenhos que pareciam ter sido feitos meticulosamente em torno do rosto, como que parecia ser caneta piloto.

Vestia-se casualmente, com jeans surrados e uma camiseta preta por baixo de uma camisa xadrez desabotoada.

Enquanto o pai e o psiquiatra conversavam, o jovem na cama mostrou pouco interesse, revirando os olhos e mexendo na manga da camisa, demonstrando desinteresse visível pela presença dos adultos.

Os olhos de Yuji se encontraram subitamente com os avermelhados de Sukuna do outro lado da sala, e o jovem parou imediatamente.

Yuji olhou para o pai quando o homem se aproximou dele antes de voltar seu olhar para seu irmão.

"Yuji," o jovem sussurrou seu nome, e Yuji ergueu as sobrancelhas, surpreso.

O outro o reconheceu?

"Você sabe quem é, Sukuna?" Era a voz do psiquiatra. A pergunta pareceu absurda para Yuji, já que seu irmão acabara de pronunciar seu nome.

De repente, ele queria nada mais do que ter um momento a sós com o garoto, ou o jovem, como sua mente o corrigiu por alguns minutos. Longe dos olhos do pai e do psiquiatra.

Ele se virou para o pai e, de repente, perguntou: "Posso ficar sozinho com ele?"

"O quê?" A surpresa estampada no rosto de Nanami teria sido cômica em outras situações.

"Você ...eu não sei, Yuji." O homem mais velho olhou para Sukuna, preocupado.

"Eu vou ficar bem," Yuji assegurou, elevando-se à sua altura total, "Eu só... eu não o vejo há 13 anos, pai. Só quero falar com ele por alguns minutos."

Ele encarou Sukuna; o olhar do irmão ainda estava fixo nele desde o momento em que o avistou.

Ele lançou aquele olhar de 'cachorrinho' ao pai, algo que Gojo chamava de sua 'arma secreta'.

"Por favor? Só um pouco?"

Nanami hesitou, olhou novamente para Sukuna, antes de se virar para o psiquiatra: "Ele ficará bem?"

"Acredito que sim," o homem assentiu, ajustando os óculos. "Sukuna tem se comportado bem. Estaremos do lado de fora, se permitir."

Nanami olhou para Yuji, ainda incerto. Yuji encontrou o olhar do irmão e, com convicção, disse suavemente, ainda olhando para Sukuna: "Ele não vai me machucar, pai."

"Tudo bem", Nanami finalmente cedeu, "Seja gentil com ele, Sukuna."

Se o homem na cama ouviu, não deu nenhuma indicação. Ele simplesmente permaneceu sentado, quase imóvel, olhando para Yuji.

Yuji observou seu pai e o psiquiatra saírem, deixando a porta entreaberta. Ele podia vê-los pela janelinha, parados do lado de fora da porta, conversando.

Sua atenção voltou-se para Sukuna; ele hesitou por um momento antes de dar um passo à frente. O irmão se moveu um pouco, mas permaneceu quieto enquanto Yuji se aproximava.

"Oi, Sukuna," ele cumprimentou, baixinho, enfiando as mãos nos bolsos. "Eu sou Yu-"

"Yuji," Sukuna interrompeu. Seus olhos se moveram rapidamente, examinando o rosto de Yuji, observando-o.

Yuji se assustou um pouco quando o outro avançou na cama de repente, ficando de joelhos bem na beirada.

"Assim como eu vi você em meus sonhos," Sukuna murmurou, tocando a bochecha de Yuji com a mão. O toque estava quente. "Sabia que você viria. Sabia que você me encontraria."

Yuji estremeceu um pouco, levemente assustado, enquanto os braços de Sukuna se envolviam ao redor dele, puxando-o para um abraço. Ele ouviu a porta do quarto se abrir, ouviu a voz do pai "Sukuna!" enquanto era abraçado pelo irmão.

"Pai, está tudo bem," ele olhou por cima do ombro para o pai, e Nanami parou no centro da sala.

"Está tudo bem. Ele está bem." Ele repetiu ao seu pai que hesitou antes de assentir bruscamente; Yuji sorriu e voltou seu foco para Sukuna.

Ao envolver os braços em torno do irmão trêmulo e abraçá-lo de volta, Sukuna enterrou o rosto no pescoço de Yuji e sussurrou:

"Yuji. Esperei tanto tempo, eu sabia que você viria. Eu sabia que você viria. Meu Yuji."