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O Plano de Walden

Era estranho ver um humano se aproximar de um gigante de forma tão amigável, por mais que Walden contasse sobre a bondade que os gigantes tinham com sua família, Ingall tinha dificuldade para aceitar aquilo como algo natural. O prisioneiro voltava noite após noite com um pouco de comida, mesmo quando Ingall era alimentado, ele sabia que as porções de comida do gigante deviam ser igualmente grandes. Por mais estranha que fosse aquela relação entre os dois, Ingall procurava não se incomodar, já que sua fome vinha sendo saciada. No entanto, o gigante temia que algum soldado viesse a descobrir os dois, Ingall sabia que seria castigado mesmo não sendo culpado por nada.

Era improvável que alguém soubesse o que Walden vinha fazendo, já que fora mandado para trabalhar na coleta de madeira, junto à Ingall, algumas semanas mais tarde. Durante o dia não conseguiam conversar à vontade como nas noites de visita, os soldados estavam sempre observando o gigante trabalhar. Walden evitava se aproximar, já que o capitão Lendall estava sempre próximo do gigante. O capitão fazia questão de humilhar o prisioneiro loiro toda vez que o via, achava que o cativeiro e o trabalho forçado não eram o suficiente para puni-lo pelos crimes cometidos, o que fazia Ingall questionar se Walden era quem realmente dizia ser. Quando o prisioneiro o visitava, Ingall sempre perguntava como eram os gigantes, mas Walden acabava dando voltas e fugindo da pergunta, ou simplesmente dizia que eles se comportavam exatamente como os humanos e por isso não admitia que sofressem tanto nas mãos dos homens.

– Onde eles estão agora? – Ingall perguntou certa noite.

– Eu não sei – respondeu o prisioneiro. – Quando os homens de Ruzgar chegaram eu fiz de tudo para protegê-los e ganhei uma pancada na cabeça. Quando acordei estava no calabouço, longe de casa, da família e dos amigos grandalhões.

Os soldados não mais andavam com a lança pronta para furar Ingall, assim como os guardas de Rosa d'Oeste que já estavam acostumados com sua presença. Ingall nunca desobedecia nem apresentava riscos, era um animal dócil, como dizia o capitão Lendall. Após dois meses de trabalho, o senhor Volkan atendeu aos desejos do capitão e concedeu um machado especialmente grande ao gigante. No princípio, Ingall teve dificuldade para derrubar as árvores com a ferramenta, mas assim que aprendeu, o número de árvores derrubadas por dia quase triplicou.

– O que você faz é impressionante – disse Walden durante uma de suas visitas noturnas.

– Derrubar árvores? – Ingall falou com a boca cheia de carne de cordeiro que o colega trouxera.

– Não estou falando só de derrubar árvores, estou falando da sua força. Eu já vi gigantes muito fortes, mas nunca vi um como você. Carregar todos aqueles troncos nos ombros, cortar faias de duzentos anos com menos de dez machadadas, arrancar os tocos... Eu não acreditaria se não tivesse visto com meus próprios olhos.

Ingall deu de ombros, saboreando a carne. Estava deliciosa, se perguntou como um prisioneiro tinha conseguido arranjar uma carne tão boa. Essa era uma boa pergunta, pensou consigo mesmo. Se Walden era tão perigoso quanto seu mestre dizia ser, como os guardas poderiam deixá-lo escapar tantas vezes e ainda saquear comida para levar a um gigante escravizado? Ingall voltou o olhar para cima para observar o loiro.

– Ei! Você tem força para quebrar essas corrente, amigo – Walden sussurrou.

– Eu não posso.

– Pode sim! Vi sua força e sei do que é capaz, Ingall. – Walden fez uma pausa para pensar e olhou para trás ao ouvir o som de um galho estalando. – Nós podemos fugir daqui juntos. Só precisamos esperar o momento certo, que não é agora. Adeus, amigo.

Era sempre assim, Walden saía com pressa e o deixava com perguntas pairando sobre a cabeça.

Ingall jamais fugiria. Tinha aprendido sua lição na última vez em que tentou, as cicatrizes espalhadas por seu corpo não o deixavam esquecer aqueles tempos. O poço tinha deixado marcas ainda mais terríveis em sua mente. O poço de Rosa d'Oeste era diferente do buraco onde estava agora e, embora tivesse a companhia de Walden quase todas as noites para amenizar a solidão, sua situação atual talvez fosse ainda pior, mesmo com todo o esforço e obediência que vinha mostrando desde seu primeiro dia na floresta.

O outono se aproximava e as noites ficavam ainda mais frias, seria impossível viver daquela forma por muito mais tempo, não era mais tão jovem como na vez em que foi jogado no poço. Ingall temia que Walden tivesse razão quanto à fuga. Entretanto, se fugisse, jamais poderia se tornar um soldado do reino, como o próprio rei havia lhe prometido.

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