Letícia, a princesa do reino do Inverno irá se casar com o príncipe Ryuuji do reino do Outono devido a um antigo acordo entre os reinos, porém sua mãe lhe deixou um diário informando que necessitava encontrar um cavaleiro de confiança para protegê-la. Ela encontra Aleph um cavaleiro com qualidades excepcionais, porém ele esconde sua real identidade, quem será Aleph? Por que motivo a antiga rainha estabeleceu um acordo de casamento? Por que Leticia necessita encontrar um cavaleiro.
O Reino do Inverno estendia-se sob um manto de tranquilidade gélida, onde imponentes montanhas, cobertas por gelo eterno e árvores cristalizadas pela neve erguiam-se em direção ao céu. Lagos começavam a congelar sob o toque do solstício de inverno, prenunciando a estação que reinava soberana naquele reino. O clima hostil dificultava a agricultura, obrigando o reino a recorrer a frequentes trocas comerciais, especialmente com seu principal aliado econômico: o Reino do Outono.
A má gestão do Rei durante a última colheita havia lançado o reino em uma crise econômica profunda. Para salvar seu povo da fome e da ruína, o monarca viu-se forçado a recorrer ao próspero Reino do Outono. A ajuda, porém, vinha com um preço: o cumprimento de um antigo acordo que selava o destino da Princesa Letícia. Recém-completados seus dezoito anos – a idade núbil naquele reino –, ela seria entregue em casamento ao Príncipe Ryuuji, do Outono, consolidando uma aliança política crucial para a sobrevivência do Reino do Inverno.
No momento, esse era o tema dominante em todas as rodas de conversa do reino. O entusiasmo era palpável, e todos especulavam sobre as possíveis melhorias que essas mudanças trariam para o futuro do reino, até mesmo em uma floricultura esse tema era comentado.
— Imaginem só! A princesa Letícia vai se casar com o príncipe do Outono! — disse uma delas, com um suspiro sonhador.
Esse comentário chamou a atenção de uma jovem cliente de cabelos negros e olhos azul-claros que examinava algumas flores com cuidado. Intrigada com o que ouvira, disfarçou seu interesse, fingindo concentrar-se nas pétalas de uma rosa. Contudo, seus olhos atentos revelavam que cada palavra dita a seu redor era cuidadosamente registrada.
— Eu queria tanto ver o casamento! — lamentou outra. — Mas será em outro reino... Queria ver a princesa com o vestido de noiva... dizem que os vestidos do Reino do Outono são os mais deslumbrantes! — E, embalada pela fantasia, rodopiou com um buquê de rosas, imitando uma valsa nupcial.
— Será que o príncipe é bonito? Se for, ela deu muita sorte! — comentou uma terceira, enquanto organizava uma pilha de flores.
— Bobagem! — interveio uma funcionária mais velha. — Não basta ser bonito, tem que ser cavalheiro! Vocês são jovens demais para entender essas coisas.
A jovem cliente sorriu discretamente. Tendo escolhido suas flores, aproximou-se do balcão, onde Verônica, a dona da floricultura, a atendeu com um sorriso acolhedor.
— São para quem, senhorita?
— Para minha mãe. Poderia colocar um laço vermelho? Era a cor preferida dela.
Após pagar, a jovem deixou a floricultura com um último olhar discreto. Mal sabiam elas que era justamente dela que tanto falavam. Mesmo com sua partida, a conversa delas continuou.
— Senhora Verônica, viu o novo cavaleiro que chegou na cidade? — perguntou uma delas, com os olhos brilhando. — Tem uns 20 anos, rosto de tirar o fôlego, porte atlético, alto... e uma voz encantadora!
— Atlético? Ora, ele é um cavaleiro! É de se esperar — respondeu Verônica, com um sorriso divertido.
— E tem os olhos de um cinza claro incrível! — complementou outra. — Mas ninguém viu a cor do cabelo dele ainda. Ele usa um gorro o tempo todo.
— Com este frio, não é de se admirar — comentou Verônica. — A propósito, onde foram parar aquelas três?
Enquanto isso, as três funcionárias mais jovens, aquelas que a dona da floricultura procurava, estavam ocupadas com algo bem diferente: fascinadas pelo cavaleiro misterioso que surgira na cidade, seguiam-no disfarçadamente pelas ruas movimentadas.
— Será que ele é careca? — sussurrou uma delas.
— Impossível! — exclamou outra, balançando a cabeça com veemência. — Impossível!
— Vamos descobrir! — declarou a terceira, com um brilho travesso nos olhos. — Vamos dar um jeito de tirar aquele gorro!
E, com um sorriso conspiratório, as três jovens elaboraram um plano para desvendar o mistério capilar do cavaleiro. Uma delas fingiu tropeçar e torcer o tornozelo, enquanto as outras duas a amparavam, aproximando-se do cavaleiro com ares de aflição.
— Senhor cavaleiro, nossa amiga machucou o tornozelo! — exclamaram. — O senhor poderia nos ajudar?
O jovem cavaleiro, com seus impressionantes 1,85m de altura, atendeu prontamente ao pedido. Indicou que a moça se sentasse para que ele pudesse examinar o tornozelo. No entanto, enquanto ele se abaixava, as outras duas aproveitaram a oportunidade e, com um movimento rápido, arrancaram-lhe o gorro. Cabelos curtos, de um cinza prateado reluzente, emolduravam seu rosto, combinando perfeitamente com seus olhos da mesma cor. Um contraste marcante com os cabelos escuros e olhos azuis ou verdes tão comuns no Reino do Inverno.
— Que lindo! — exclamou a moça que fingira o acidente, admirando os cabelos prateados. —Você deveria mostrá-lo mais vezes! Ninguém por aqui tem cabelos assim!
O cavaleiro, visivelmente desconfortável com a situação, respondeu com um tom educado, porém firme:
— Por favor, devolvam meu gorro.
A voz suave e melodiosa apenas aumentou o fascínio das jovens. Letícia, observando a cena à distância, percebeu o desconforto do cavaleiro e decidiu intervir.
— Senhora Verônica está procurando por vocês — disse, com uma voz clara.
As jovens, envergonhadas, devolveram o gorro ao cavaleiro e saíram correndo.
— Desculpe-me o incômodo que elas possam ter causado — disse Letícia ao cavaleiro, com um leve aceno de cabeça. — Com licença.
O cavaleiro retribuiu o gesto com uma inclinação respeitosa.
Letícia prosseguiu então para o cemitério real, o local de descanso de sua mãe e de gerações de monarcas do Reino do Inverno. Depositou as flores sobre o túmulo de mármore branco e acendeu um incenso de lavanda, a fragrância preferida da rainha Elyza.
— "Em breve partirei para ao reino do Outono, mãe" — sussurrou, a voz embargada pela emoção. — "Saiba que eu sempre me lembrarei dos seus ensinamentos. A saudade que se depara sobre mim com certeza não pode ser aliviada, mas eu farei o possível para seguir em frente apesar de todos os problemas que possam passar pela minha vida de agora em diante. Eu me transformarei em uma princesa que você teria orgulho de presenciar se estivesse aqui ao meu lado."
Lágrimas silenciosas rolaram por sua face, enquanto uma profunda saudade se deparou sobre ela naquele instante. Após um último adeus, Letícia deixou o cemitério.
Minutos depois, o cavaleiro de cabelos prateados aproximou-se do mesmo túmulo. Depositou um ramo de flores brancas ao lado das que Letícia havia deixado.
— Meu pai pediu que eu trouxesse isso — murmurou, com reverência. — É uma pena não ter tido a oportunidade de conhecê-la, Majestade.
Com uma última inclinação, o cavaleiro se retirou.
Antes do entardecer, Letícia retornou ao castelo. Ao chegar, foi informada de que uma reunião administrativa sobre seu casamento seria realizada na manhã seguinte.