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Capítulo 17

Viajando sozinhos, Aleph e Letícia descobriam, a cada dia, afinidades e gostos em comum. A amizade entre eles se aprofundava, e um sentimento novo, diferente de tudo que já haviam experimentado, começava a florescer no coração de Letícia. 

 

"Por que ele me protege com tanta dedicação, mas se recusa a ser oficialmente meu cavaleiro? Gostaria de demonstrar minha gratidão por tudo que tem feito por mim, mas qual seria a maneira correta? Ele vem de outro reino, os costumes devem ser diferentes…" — pensava ela, confusa. 

 

Chegaram a um vilarejo singular, com uma arquitetura e vegetação distintas de tudo que Letícia já havia visto. Aproximando-se de uma pousada acolhedora, Aleph a interpelou, a voz baixa e séria: 

 

— Não podemos chamar atenção – disse ele. – Precisamos ocultar sua identidade. Para evitar suspeitas, o melhor seria fingirmos ser um casal em viagem. 

 

Letícia assentiu, compreendendo a necessidade da precaução. Aleph, visivelmente envergonhado, mas disfarçando o constrangimento, prosseguiu: 

 

— O ideal, por segurança, seria dividirmos o mesmo quarto. Mas imagino que se sinta desconfortável com isso, princesa. 

 

— Por mim não tem problema. – respondeu Letícia, mais constrangida do que deixava transparecer. – Afinal... Você é meu cavaleiro. Seria a medida ideal nessa situação. 

 

Apesar da aparente tranquilidade, Letícia sentia o rubor subir-lhe às faces. Seria a primeira vez que dividiria um quarto com um homem. 

 

"Concentre-se, Letícia. Aja naturalmente." — ordenou a si mesma. — "Não posso demonstrar timidez." — repreendeu-se mentalmente, buscando refúgio nas lembranças da infância, quando dividia o quarto com Laurenn e ouvia as histórias e canções de ninar de sua mãe. 

 

Na recepção da pousada, Aleph solicitou um quarto com duas camas de solteiro. 

 

— Não quero perturbar o sono da minha noiva – explicou à recepcionista, que os admirava com um sorriso. – Costumo me mexer bastante durante a noite. 

 

A recepcionista se encantou com a delicadeza de Aleph. Letícia, por sua vez, soltou um suspiro de alívio. 

 

Ao adentrar o quarto, Letícia notou a decoração peculiar, uma mistura intrigante de elementos familiares do Reino do Inverno com toques exóticos e desconhecidos. Já pronta para dormir, notou Aleph sentado na poltrona ao lado da cama. 

 

— Não vai dormir na cama, Sir Aleph? – perguntou, preocupada. – Deve ser desconfortável passar a noite sentado. 

 

— Preciso me manter vigilante – respondeu ele, simplesmente. 

 

A resposta de Aleph causou um leve desconforto em Letícia. A ideia de ser observada enquanto dormia a constrangia. Tentou manter-se acordada, mas o cansaço venceu, e ela adormeceu. 

 

Aleph observava Letícia dormindo tranquilamente. Seus longos cabelos negros estavam soltos, espalhados pelo travesseiro, e ele imaginou como deviam ser macios ao toque. 

 

"Gostaria de tocá-los" pensou, enquanto seu olhar deslizava para seus lábios, delicados, que pareciam pedir um beijo. "Queria senti-los." 

 

Mas então, como se tivesse sido desperto de um sonho, ele se retraiu. "O que estou pensando? Por que tais pensamentos cruzaram minha mente?"  

E, sem perceber, a exaustão tomou conta dele, e Aleph acabou adormecendo. 

 

Letícia acordou e encontrou Aleph adormecido na poltrona. Cuidadosamente, o cobriu com uma manta. Desceu até a recepção, onde a recepcionista a cumprimentou com um sorriso. 

 

— De onde vêm, vocês dois? – perguntou a recepcionista, curiosa. 

 

Letícia mencionou o nome da última cidade em que estiveram. 

 

— Faz tempo que estão viajando, então! – comentou a recepcionista. 

 

— Apenas um dia desde a última cidade – respondeu Letícia. 

 

— Impossível! De lá até aqui, leva pelo menos dez dias de viagem – replicou a recepcionista, incrédula. 

 

— Devo ter me enganado quanto ao nome da cidade… – murmurou Letícia, confusa. — "Mas, eu tenho certeza de que o nome da cidade era esse… As cidades deveriam estar mais distantes umas das outras. Como chegamos tão rápido?" — pensou. 

 

A pergunta ecoava em seus pensamentos, um mistério inquietante. 

 

... 

 

Enquanto isso, no reino do Inverno, Laurenn apresentava um relatório administrativo, repleto de propostas inovadoras para a próxima reunião do conselho. Inspirado pelo conselho de Aleph, decidira se envolver mais ativamente na política do reino. Hayden, porém, mal olhou para o documento. Com um gesto brusco, bateu na pilha de papéis. 

 

— Mais relatórios inúteis?! — explodiu, furioso. — Você é um incompetente! Nem para isso serve! 

 

Arremessou os papéis na direção de Laurenn, as folhas se espalhando pelo chão. Laurenn, humilhado, baixou a cabeça. Havia se dedicado tanto àquele projeto… Hayden se levantou e, com desprezo, pisou nos papéis espalhados. 

 

— Saia da minha frente! — ordenou, com a voz gélida. — Antes que sua estupidez seja contagiosa! 

 

Laurenn se retirou, a frustração e a tristeza o consumindo. Era a terceira vez que seu trabalho era rejeitado. Ansiava por colocar em prática os conhecimentos adquiridos com o Mestre Yoshi, mas Hayden o impedia a todo custo. Sua reputação de príncipe inútil, cultivada cuidadosamente pelo próprio rei, o isolava politicamente, deixando-o sem aliados e sem voz. Hayden, agarrado ao poder, sabia que um Laurenn confiante e competente representava uma ameaça ao seu reinado. Por isso, o mantinha sob seu jugo, esmagando sua autoestima e destruindo suas esperanças. A cada humilhação, Laurenn se tornava mais fraco, mais inseguro, mais distante do líder que poderia ser. 

 

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