Passaram dois dias e eu havia terminado de ler o livro e começado a colocar seus ensinamentos em prática no campo de treinamento, uma sensação de desânimo se instalou em mim. O livro explicava os conceitos de uma maneira simplista, quase como se estivesse destinado a um público infantil, o que me deixou levemente ofendido.
Segundo o livro, aura era descrita como uma forma de energia positiva que fluía através do corpo humano, comparável ao sangue correndo em nossas veias. Manipulando-a, poderíamos fortalecer a defesa de nosso corpo, tornando-o mais resistente, e até mesmo infundir objetos externos para aumentar sua potência. Embora intrigante, o aspecto mais fascinante era a habilidade rara de algumas pessoas em controlar totalmente e despertá-la.
No entanto, como era de se esperar, eu me vi incapaz de sentir sequer um vestígio em meu próprio corpo. Tentei canalizar minha energia negativa como se fosse aura, mas logo percebi que era uma tentativa infrutífera. Eu não conseguia concentrá-la em um único ponto do meu corpo para fortalecer meus ataques; em vez disso, ela circulava livremente, incapaz de ser direcionada de maneira eficaz.
Comecei a questionar se realmente possuía. No entanto, como metade humano, parecia plausível que eu a possuísse. Apesar disso, minhas tentativas de infundir minhas espadas com energia negativa falharam repetidamente.
No terceiro dia, decidi concentrar-me exclusivamente nos ensinamentos e tentar aplicá-los à minha energia negativa. Ui, minha companheira, decidiu acompanhar-me nessa jornada, expressava o desejo de aprimorar sua própria aura. Embora pudesse pedir dicas a ela, meu orgulho não permitiria tal humildade.
Enquanto eu tentava aplicar os conceitos, Ui optou por meditar, aprimorando seu controle. Sua dedicação silenciosa me inspirou, apesar de minha relutância em buscar sua orientação direta.
— Izumi, eu fiz! Consegui! Finalmente consegui sentir minha energia negativa fluindo!
— Quê?!
Droga, ela não estava tentando dominar a sua aura?
Senti humilhado por não conseguir dominar, não consegui reunir coragem para pedir a opinião de Ui sobre o assunto. O orgulho e a vergonha me impediram de admitir minha dificuldade e buscar ajuda.
— Izumi, é só circular sua energia negativa o mais rápido que puder, e então vai conseguir sentir sua própria aura!
— Hum…
— Concentre-se e circule sua energia negativa o mais rápido que puder!
Mesmo sem ter pedido, decidi escutar o conselho dela. Fiquei parado por um momento, fechando os olhos para me concentrar. Era claro que circular manualmente pelo corpo estava além das minhas capacidades no momento. Então, decidi tentar algo diferente.
Super Speed Brute Force Iz.
— Isso Izumi, você consegue!
As veias começaram a se destacar em meu corpo à medida que minha energia negativa se intensificava, mas mesmo assim, não conseguia sentir nenhum resquício de aura percorrendo meu ser. Após um minuto, decidi desativar minha técnica, frustrado com a falta de progresso.
— Conseguiu?
— Me deixe em paz.
Sentei-me no chão, consumido pela decepção em mim mesmo. A verdade é que não me importava tanto; se eu pudesse simplesmente ter controle total do meu poder, já seria o suficiente para mim. Mas nem mesmo isso parecia estar ao meu alcance. Se eu não conseguia sequer dominar minha própria, retirar de outro ser se tornaria uma tarefa impossível.
De longe, avistei Max que se aproximava, provavelmente vindo para me incomodar mais uma vez. Eu já estava cansado disso. Decidi que era hora de desistir do aprendizado ou como controlá-la, se isso fosse tão difícil assim. Continuaria confiando em meu instinto, pois sabia que com ele eu poderia ir longe.
Ui e Max começaram a cochichar entre si, e eu pude ouvir cada palavra. Max perguntava a ela sobre meu progresso, e aquilo só aumentou minha sensação de fracasso.
Mas que saco!
Max se aproximou de mim, se inclinou um pouco e mostrou seu braço direito. Com uma expressão descontraída, disse:
— Pegue, irmãozinho.
— Irmãozinho?
— Sim, eu sou o seu irmão mais velho. Me chame de irmãozão — Com um sorriso no rosto, disse, irradiando confiança.
— Jamais na sua vida. — Neguei veementemente.
— Haha! Eu sei, mas pegue meu braço, quero te mostrar algo — dizia enquanto aproximava mais o seu braço.
Percebia a curiosidade de Max, decidi ceder e peguei seu braço, não vendo nada de extraordinário acontecer. Fiquei intrigado com sua atitude e me perguntei:
— E o que eu faço com isso?
— Consegue sentir alguma coisa?
— Não.
— Tente usar seu speed Iz.
— Hum?
Não conseguia entender por que deveria utilizar minha habilidade sem motivo aparente. A incerteza pairava sobre mim enquanto tentava decifrar o significado por trás daquela ação aparentemente sem propósito.
— Use, vou te mostrar algo legal — declarou com um olhar confiante, demonstrava firmeza em suas palavras.
Curioso e intrigado, decidi ativar meu speed Iz, mas como esperado, nada aconteceu. No entanto, de repente, percebi uma sensação estranha, uma energia fluindo em seu braço. Surpreso, questionei-me se aquela coisa poderia ser aura.
— Vejo que conseguiu sentir — disse e perguntou: — Qual a cor da minha aura, irmãozinho?
— Hum! Amarela.
— E agora.
Fiquei surpreso ao perceber que conseguia sentir circulando, mas de repente a circulação cessou e desapareceu completamente.
— A sua sumiu.
— Ela não sumiu, eu simplesmente parei de elevar — respondeu, e logo em seguida seu braço começou a ter uma sensação diferente. — E agora, o que sentes?
— A sua mão está úmida.
— Certo irmãozinho, essa é a habilidade especial da minha linhagem. Controle de fluido corporais.
— Então essa seria a sua aura despertada?
— Não, na história da minha linhagem, não temos ninguém que despertou — disse enquanto olhava para o lado, um pouco decepcionado.
— Como assim?
— Controle de fluidos corporais é uma habilidade nossa que não envolve o controle de aura — afirmou e depois perguntou: — E agora irmãozinho, o que sentes?
— A sua mão está quente.
— Sim, quando colocamos aura externa nos nossos fluidos corporais, ela fica dourada e assim podemos usar nossas explosões.
Com essa experiência, comecei a compreender melhor o conceito e a sentir mais claramente como ela percorria o corpo humano. No entanto, ainda encontrava dificuldades em utilizar. Surgiu a possibilidade de que minha abundância de energia negativa e a escassez de aura poderiam estar dificultando o despertar. Essa realização trouxe um novo entendimento sobre meus desafios e me inspirou a continuar explorando e desenvolvendo minhas habilidades.
— E pare de me chamar de irmãozinho — falei enquanto soltava sua mão.
— Haha! Então irmãozinho, vou indo.
Ele se despediu e partiu, deixando-me refletir sobre nossa relação e as possibilidades que o futuro poderia trazer. Era evidente que ele não pararia de me chamar daquela maneira, e comecei a considerar que, como irmão da mesma mãe, talvez compartilhasse do mesmo sonho. Esperava sinceramente que fosse o caso, pois assim poderíamos lutar lado a lado sem preocupações.
Apesar das reflexões, continuei o treino sem sucesso. Ao retornar para casa, Ui persistia em me bombardear com informações sobre como ela conseguia utilizar ambas, mas nada daquilo parecia me ajudar de verdade.
No quarto dia, lembrei-me de que o inseto era um demônio e pensei que talvez ele soubesse como utilizar. Decidi sair sem levantar suspeitas e fui procurá-lo perto da cidade. Graças ao seu distintivo cheiro, não tive dificuldade em encontrá-lo.
— Ei, inseto.
— Hum! Inseto. O que fazes aqui? — respondeu enquanto mastigava alguma coisa, dando a entender que sua atenção estava dividida entre a conversa e a atividade que realizava.
— Me diga, como você consegue controlar sua energia negativa.
— Hum! — expressou enquanto jogava um pedaço de carne no chão.
O inseto compartilhou comigo, revelando que o processo tinha princípios semelhantes aos da aura. No entanto, para minha frustração, aquelas informações não me ajudaram em nada. Comecei a questionar se valia a pena continuar investindo tempo e esforço nesse aprendizado.
— Não tens nenhuma dica, inseto?
— Hummm! Haammm! Eu sei de uma forma inseto!
— Diga.
— Comer demônios.
— Quê?
— Sim, ingerindo demônios, vais sentir a energia deles no seu estomago, talvez assim consigas controlar sua energia.
— Entendo.
Determinado a dominar e aperfeiçoar minha habilidade, decidi buscar um demônio que não fosse humano para não correr o risco de me alimentar de carne humana. Logo avistei um javali demonificado e parti para caçá-lo. Consumi uma de suas pernas, e pude sentir algo circulando em meu estômago. Tentei controlá-la, mas sem sucesso inicial.
Persisti e continuei a comer mais pedaços do animal. Gradualmente, percebi que conseguia manipular um pouco aquela energia antes que se misturasse com a minha própria. Decidi então buscar demônios mais poderosos, e os resultados foram promissores. Conforme consumia, sentia as duas forças colidindo dentro de mim.
Foi então que percebi que quanto maior fosse a energia negativa que eu ingerisse, mais habilidade tinha em controlar. Minha autoestima começou a aumentar, pois percebi estar mais próximo de alcançar meu objetivo de curar aquela puta.
— Esperem por mim, vou vos ensinar que sou foda! Lhiahahahaha!