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Capítulo 67 de 01 — Matar… destemidos!

Volume 4 – Segundo Destemido

Na Mangolândia, uma cidade de mais de cinco mil almas, predominava uma juventude vibrante, cujo número superava em muito os mais velhos. Essa peculiar demografia era fruto de uma política instaurada por um líder do passado, que incitara fervorosamente o aumento da taxa de natalidade e visava a formação de um exército robusto para a defesa da cidade.

A estratégia se revelou eficaz ao longo dos anos, pois cada nova vida trazida ao mundo representava não apenas uma esperança para o futuro, mas também um soldado em potencial para a proteção. 

Originalmente, Mangolândia possuía apenas uma entrada, por onde passavam todas as atividades comerciais e sociais. No entanto, com o acesso crescente à preciosa e rara madeira chamada mirtir, novos portões foram erguidos em pontos estratégicos ao redor da cidade. 

Agora, os quatro portões, situados nos pontos cardeais — norte, sul, oeste e leste —, não apenas facilitavam o fluxo de pessoas e mercadorias, mas também fortaleciam a defesa da cidade, garantindo que nenhum flanco ficasse desguarnecido diante das potenciais investidas.

A muralha que circundava Mangolândia era mais do que uma simples barreira física; era uma sentinela inabalável, guardiã dos sonhos e das esperanças de seu povo. Desde sua criação, jamais fora derrubada, graças à vigilância implacável dos soldados de vigia, sempre prontos para enfrentar qualquer ameaça que se atrevesse a se aproximar.

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No sul distante de Mangolândia, além das fronteiras, uma cena de horror se desenrolava numa noite de luar. Uma horda de demônios avançava vorazmente em direção às muralhas, suas formas distorcidas contorcia-se em um frenesi selvagem, enquanto grunhiam e rosnavam em antecipação à carnificina que esperavam encontrar.

Porém, além do som gutural de suas vozes ásperas e dos ruídos de seus corpos contorcidos em movimento, ecoava um som mais sinistro, algo que transcendia os limites do medo e da compreensão humana. 

Era um ruído estridente e incessante, que reverberava pelos campos abertos, alertava todos os que estivessem a quilômetros de distância.

Os sons variavam em intensidade e frequência. Alguns eram explosivos e estrondosos. Outros eram mais moderados.

No entanto, havia um som que se destacava entre todos os outros, um zumbido baixo e constante que se repetia incessantemente, sem pausa ou intervalo significativo.

À medida que os demônios se aproximavam do local de onde os estranhos ruídos emanavam, eles se tornavam alvos. Os sons perfurantes cortavam o ar com precisão mortal, encontrando seus alvos com uma eficiência assustadora.

Os mais próximos, alvejados pelos barulhos mais intensos, caíam como folhas ao vento, suas formas distorcidas desmoronava sob o impacto devastador. Cada disparo era uma sentença de morte.

Aqueles atingidos pelos sons de intensidade moderada, enfrentavam uma batalha mais prolongada, mas não menos terrível. Mesmo que feridos, continuavam sua investida implacável e exigia múltiplos tiros para serem finalmente detidos.

Porém, resistiam aos sons menos intensos. Mesmo diante de múltiplos disparos, continuavam avançando, com sua determinação alimentada por uma fome insaciável por carne humana.

Enquanto os demônios se aproximavam inexoravelmente, os sons que pareciam ecos distantes para os que estavam longe, tornavam-se sinistros presságios para aqueles que podiam ouvi-los mais de perto.

Enquanto os demônios avançavam implacavelmente, um homem empunhava suas armas com habilidade. Com uma arma de formato imponente, segurada com ambas as mãos, ele disparava tiros que ecoavam pelos campos, derrubava seus inimigos mais próximos com sua potência ensurdecedora.

— Droga! Acabou.

Então, num movimento fluido e preciso, ele trocou para uma arma menor, agora segurada com uma única mão. Com um ajuste rápido, ele modificou a peça, transformando-a em um instrumento capaz de disparar sons de intensidade moderada. Os tiros resultantes eram menos estrondosos, mas ainda assim eficazes.

— Também acabou.

O defensor tinha uma terceira arma pendurada nas costas. Semelhante em tamanho e formato a outra maior, essa arma diferia ligeiramente em sua aparência, talvez indicava uma função especializada.

No entanto, apesar de sua presença imponente, essa terceira arma permanecia silenciosa e não utilizada.

— Moldar, moldar, moldar.

Enquanto a batalha alcançava seu auge e os demônios avançavam implacavelmente, o homem invocou sua aura, uma energia sombria que pulsava em suas mãos envoltas pelas luvas negras.

Com uma expressão firme, ele dirigiu sua atenção para a arma de sons altos, cuja aura brilhava em tons negros em resposta à sua vontade. Ao envolver o dedo no gatilho, a arma respondeu com um estampido estrondoso, um som explosivo que ecoou pelos campos abertos.

O disparo atingiu um dos demônios em cheio e o impacto lançou o corpo do defensor para longe, afastando-o consideravelmente da horda que avançava.

— Aarrgghh!

Apesar dos ferimentos graves e da dor lancinante que o consumia, o guerreiro persistia, arrastando-se penosamente enquanto o vento agitava seus cabelos ruivos soltos e seu manto negro desgastado. Cada passo era um suplício, cada respiração uma luta contra a exaustão que o envolvia.

O sangue escorria de suas feridas, manchava sua pele parda com tons de vermelho, enquanto suas roupas negras estavam rasgadas e esfarrapadas.

Apesar da agonia que o consumia, o homem persistia em sua fuga desesperada. Mas os demônios de quatro pernas, ágeis e vorazes, avançavam impiedosamente, cada vez mais próximos de sua presa frágil.

Um tigre demonificado, com olhos faiscantes e presas afiadas, liderava o ataque, rugia sua fúria enquanto se lançava em direção ao homem ferido.

Percebendo tarde demais a investida do tigre, sacou sua faca com uma determinação feroz e visava deter a criatura avançante. No entanto, mesmo com golpes precisos e rápidos, a resistência do demônio se mostrou surpreendentemente tenaz. Cada investida da lâmina parecia apenas inflamar ainda mais a fúria da besta, que continuava a investir com ferocidade implacável.

Com um misto de desespero e coragem, o homem continuou a golpear freneticamente, suas mãos trêmulas empunhando a faca com toda a força que lhe restava. Mas, apesar de seus esforços hercúleos, a criatura demoníaca persistia, suas garras afiadas e dentes vorazes ameaçava perfurar o corpo do guerreiro.

Em um último ato de desespero, o homem convocou suas últimas reservas, sua aura brilhava com uma intensidade desesperada. Com um grito primal de determinação, ele desferiu golpes finais, penetrando fundo na carne do demônio, até que, finalmente, a besta caísse aos seus pés, derrotada.

Mesmo assim, a vitória foi fugaz, pois ele estava exausto, mal conseguia se manter em pé. Com um esforço sobre-humano, ele tentou continuar sua fuga, mas suas forças logo o abandonaram, e ele caiu ao chão, vulnerável diante dos seus inimigos que se aproximavam rapidamente.

Com um último suspiro de resignação, ele enfrentou seu destino com coragem, pronto para enfrentar a escuridão que se abatia sobre ele. E assim, enquanto os inimigos avançavam implacavelmente, a luz da esperança se apagava.

Enquanto a escuridão da inconsciência começava a envolver o homem ferido, uma reviravolta inesperada interrompeu o curso sombrio dos eventos. Os demônios, que avançavam impiedosamente em sua direção, de repente cessaram sua investida.

À beira da inconsciência, mal conseguiu processar o que acontecia. Por que os demônios haviam parado de repente? Qual era a causa desse súbito desvio de sua trajetória? As perguntas ecoavam em sua mente enquanto ele lutava para manter-se consciente.

Então, a escuridão o envolveu, e ele se entregou ao abraço silencioso do sono, sua mente obscurecida pela incerteza e pelo mistério que envolvia os eventos que se desenrolavam ao seu redor.

Horas se passaram, e o guerreiro despertou, incrédulo por ainda estar vivo e, ainda mais, por não encontrar nenhum demônio à vista. O rosto que outrora exibia uma expressão sombria e fechada agora se transformara em uma máscara de surpresa e perplexidade, os olhos brilhando com uma inocência infantil diante do inexplicável.

Enquanto tentava processar o que havia acontecido e o porquê de sua improvável sobrevivência, uma sensação de assombro e gratidão o envolveu, preenchendo-o com uma sensação de renovação e esperança. 

A jornada estava longe de terminar, mas naquele momento, ele escolheu abraçar a luz que brilhava em meio à escuridão, pronto para enfrentar o que quer que o futuro reservasse com um novo vigor.

Mesmo exausto e debilitado, continuou a arrastar-se adiante, determinado a alcançar a segurança da cidade que se erguia ao longe. Cada passo era uma luta contra a dor e a exaustão, mas ele perseverou, impulsionado pela esperança de encontrar refúgio entre os muros familiarizados de Mangolândia.

No entanto, suas forças finalmente o traíram, e ele tombou mais uma vez, vencido pelo cansaço e pela dor que o consumiam. Por horas ele permaneceu inconsciente, até que, finalmente, os olhos se abriram novamente, surpreso por encontrar-se ainda vivo e, desta vez, mais próximo do seu destino almejado.

Um sentimento renovado de determinação inflamou o seu coração enquanto ele sussurrava palavras de encorajamento para si.

— Destemidos, matar destemidos.

E assim, com um último suspiro de esperança, o guerreiro retomou sua jornada, os contornos familiares da cidade começava a se materializar diante de seus olhos. A dor e a exaustão ainda o assombravam, mas agora, mais do que nunca, ele estava determinado a encontrar segurança e redenção nos muros acolhedores de Mangolândia.

— Destemidos, destemidos, destemidos.

Ele avançava pela paisagem desolada, sua determinação alimentada pela raiva e pela dor que o impulsionavam adiante. 

Então, após meia hora de caminhada exaustiva, o homem se deparou com uma visão chocante. Espalhados pelo chão estavam os corpos dilacerados de dezenas de demônios, cortados em pedaços com uma precisão brutal.

Ao se aproximar dos corpos, começou a examiná-los de perto, sua mente atormentada pela incredulidade. Os cortes nos corpos dos demônios eram surpreendentemente semelhantes, sugerindo uma mão hábil por trás dos ataques.

Uma sensação de perplexidade e descrença tomou conta dele. Como poderia uma única pessoa ter infligido tamanho estrago sem o uso de aura? Era algo que desafiava toda a lógica e compreensão.

Embora desejasse investigar mais a situação, ele sabia que não podia se dar ao luxo de se deter por muito tempo.

Com um suspiro resignado, ele retomou sua marcha. No entanto, sua determinação vacilou quando avistou uma figura distante à frente. Um calafrio percorreu sua espinha enquanto ele reconhecia a intensa energia que emanava daquele ser. Ele tremia de temor, desejava com fervor que sua visão fosse uma ilusão.

Mas, infelizmente, não era. A figura sinistra permanecia ali, uma presença ameaçadora que parecia desafiar todas as leis da natureza. O guerreiro sabia que enfrentar tal adversário seria uma tarefa quase impossível, ainda mais nas condições em que se encontrava.

Acostumado a detectar e interpretar as energias dos demônios como um atirador habilidoso, percebeu imediatamente a intensidade incomum que emanava da figura sinistra à sua frente. Nunca antes ele havia sentido uma presença tão ameaçadora, uma aura de perigo iminente que o deixava paralisado de medo.

Antes que pudesse reagir, uma intenção assassina avassaladora o atingiu em cheio, derrubando-o ao chão em um golpe repentino. 

Então, com um sobressalto, ele percebeu que o demônio se aproximava rapidamente, correndo em sua direção. Antes que pudesse processar completamente o que acontecia, a figura sinistra desapareceu diante de seus olhos, deixando-o momentaneamente confuso e atordoado.

Um breve instante de alívio o envolveu quando percebeu que talvez o demônio não o considerasse uma presa. Mas essa esperança foi esmagada no mesmo momento em que o demônio reapareceu diante dele, sua presença imponente preenchia o ar com uma sensação de terror insondável.

— Hum! Humano?

Apesar da iminência da perdição, o homem não cessou seus sussurros:

— Destemidos, destemidos, destemidos…

— Hum!?

À beira da inconsciência, o homem encontrou um vislumbre de alívio. Para ele, desaparecer sem sentir dor parecia uma dádiva. Ele compreendia que se enfrentasse o mesmo destino cruel dos demônios dilacerados, o sofrimento seria insuportável.

Não foram apenas cortados; foram despojados de sua dignidade, desmembrados um a um. Mas antes que a escuridão o envolvesse completamente, ele emitiu seu último sussurro com firmeza e determinação.

— Matar… destemidos!