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22. Patéticas.

LIZ

13 dias para o baile de inverno.

Cecília segura minha mão quando entramos na loja de souvenirs (que estava mais para um mini mercado), fico surpresa por ela ter feito isso e feliz de ela ser tão espontânea da forma que é. Procuramos Maya e Ingrid enquanto olhamos por um corredor cheio de doces.

Cecília pega alguns MM's numa animação digna de uma criança, quando acabo rindo da forma que ela faz acabo ganhando um olhar meio repressor, meio divertido.

— Ei, vocês. — Maya nos encontra e fala animada. — Achamos alguns chaveiros com a forma do estado que são bem baratinhos e fofos, algumas bebidas daqui também.

— Você não vai conseguir sair daqui com essas bebidas. — Falo o óbvio.

— Além disso você está dirigindo. — Cecília pontua quase como uma velha chata, o que me faz sorrir um pouco.

Ela é meio doida às vezes, mas também é certinha, isso muito me agrada.

— Eu tenho uma identidade falsa, dã! — Maya revira os olhos como se devêssemos saber disso o tempo todo. — Além disso estou levando para beber em Nova Orleans e se eu quiser beber no caminho ainda tem vocês duas que também sabem dirigir e podem fazer isso por mim, coladoras de velcro!

Fico vermelha e até Cecília que pelo que vejo é sem vergonha cora um pouco. O acontecimento do carro pesa um pouco com o apelido de Maya, nos fazendo ficar dessa forma.

— Vocês são patéticas.

Maya e sai em direção ao caixa que não ficava longe dali, no meio da loja praticamente. Vamos procurar por Ingrid que está abaixada em frente a todo e qualquer tipo de lembrança do Estado do Alabama.

— Eu não sei o que levar para minha mãe. — Ingrid fala depois de olhar para Cecília e eu.

Não estávamos mais de mãos dadas desde que Cecília foi pegar seus MM's numa difícil missão de equilibrar todos contra o peito, ela foi um pouco exagerada ao pegar tantos.

— Sua mãe gosta de colecionar canecas, então leva uma.

Cecília simplifica numa calma incrível, olha para onde Maya está e ela parece com problemas com o funcionário do caixa.

— Maya está em apuros.

Falo e deixo as duas amigas para trás indo em direção a minha, eu não peguei nada além de um chaveiro do estado. Não sentia fome por incrível que pareça, só sentia ansiedade; às vezes da forma ruim e às vezes da forma boa (em menor escala que a anterior).

— O quê?

Cecília pergunta, mas já estou um pouco longe dela. Ela continua falando e mesmo que eu não entenda, sei que é com Ingrid e algo sobre escolher logo o que fosse levar.

Quando chego ao lado de Maya escuto o funcionário falar:

— Senhorita, acho que você não tem mais de 21 não...

Minha amiga não parece se abalar em momento algum, enquanto eu já estou começando a suar por mais que estivesse quase congelando momentos antes.

— Não, senhor, eu tenho. — Maya confirmar na maior cara de pau, ela mexe o seu pé nervosamente num "tic nervoso" que eu conheço bem. — Olhe a identidade.

— Essa nem parece a senhorita.

— Mas sou eu. — Maya fala impaciente. O homem de uns 40 anos olha para minha amiga e a avalia, por último me olha e parece ficar mais desconfiando.

— Pode passar o meu chaveiro? — Pergunto querendo sair dali logo, finjo nem conhecer Maya mesmo que o homem tenha visto minha interação com ela um pouco antes. — Eu realmente quero ir embora logo.

Eu sinto toda ansiedade que segurei desde o horário que sai de casa se acumular no meu corpo e acho que posso desmaiar ou ter um ataque de qual seja o tipo logo ali na frente daquele funcionário.

Lembro até das várias mensagens que já dos meus familiares no meu celular, isso pela manhã, antes que eu o desligasse e mal respiro quando coloco o chaveiro no balcão para o funcionário me falar o valor.

— São 6 dólares.

— Ok.

Tiro dinheiro da capinha do meu celular sem olhar para Maya, ou para o nome do funcionário em seu crachá. Ingrid e Cecília se aproximam quando me afasto um pouco para acompanhar o desfecho com Maya não tão de perto.

— Qual seu nome, senhorita?

— Mona? — Maya responde e parece incerta, ela tem uma identidade falta e nem ao menos se deu ao trabalho de gravar o nome que está nela.

— Eu realmente não posso lhe vender essas bebidas.

Não escuto, mas vejo o movimento do corpo de Maya; ela está bufando. As notas já estão no balcão há algum tempo para pagar pelos produtos enquanto as bebidas estão nas mãos dela, Ingrid e Cecília estão ficando nervosas com o rumo que aquilo está indo. Dá mesma forma que Maya está segurando o dinheiro para pagar pelas suas comprar as duas amigas também estão.

— Mas, senhor...

— Não. Vocês são menores.

Ele coloca a identidade no balcão, olhando para a mesma mais uma vez.

— Merda.

Maya fala e sai correndo com três garrafas de bebida nas mãos vindo na minha direção, mas não antes de jogar seu dinheiro no chão pagando o homem.

— Liga o carro, Liz! — Maya se aproxima gritando. Corro bastante como se ela tivesse me perseguindo, minha adrenalina vagando pelo meu corpo todo. — Liga o carro!

— Vocês são loucas!

O funcionário fala, eu não olhei para trás para sabem, mas acho que ele estava começando a correr.

— A chave está com Cecília! — Grito para Maya quando chegamos ao carro.

A latina é última a chegar ao carro, ela deixa cair alguns pacotes de MM's no chão quando joga a chave nas minhas mãos. Pego e destravo o carro, Maya e Ingrid pulam na parte detrás rapidamente.

Entro e demoro um pouco para conseguir colocar a chave na ignição, ligo o carro e nada de Cecília entrar.

— Cecília!

— Entra logo!

Ingrid e Maya começam a gritar a garota. Abro a porta do carona por dentro mesmo e empurrou, o funcionário da loja está se aproximando da porta.

— Cecília! Entra logo!

— Meus MMs!

Cecília responde, mas logo está dentro do carro. Não espero nem que ela feche a porta e já estou dando ré de qualquer forma. Não sei o que aquele homem fala, pareço estar surda por conta da adrenalina.

— Caramba!

Ingrid suspira aliviada assim que pegamos a estrada de novo.

— Você é maluca, Cecília?! — Maya pergunta, ainda não estou raciocinando direito depois do aperto passado.

— Olha quem fala! — A latina retruca nervosa. — Eu ainda fiquei sem meus doces, acho que minhas mãos perderam os movimentos.

Cecília mostra as mãos contra a luz do teto e estão tremendo, as minhas também estão e eu nem sei como não mandei o carro para fora da estrada ainda.

— Eu te dou quantos MMs quiser depois. — Ingrid fala amigável, ela está com a caneca de sua mãe em mãos. Ela e Cecília pelo jeito também jogaram o dinheiro em qualquer lugar, sair sem pagar nunca.

— Eu fiquei sem minha identidade falsa, caramba. — Maya fala irritada. — Como vou entrar nas melhores festas agora?

— Bem feito. — Escuto Cecília murmurar, ela realmente ficou irritada por deixar seus doces para trás. Eu teria falado o mesmo, mas estou diminuindo a velocidade para encostar o carro.

— Vai parar? — Maya pergunta preocupada, afinal é uma beira de estrada com nada mais que mato desse lado.

Não respondo, apenas abro a porta rapidamente e sinto o vento de um carro que passa ao lado antes que eu chegue perto do mato e vomite tudo que está em meu estômago.

Cecília é a primeira a sair do carro, eu queria que ela fosse a última pessoa a me ver daquela forma.

— Ai, Lo. — Maya fala preocupada e aparece com alguns lenços de papel, mesmo de longe.

Cecília segura meus cabelos e me olha preocupada. Me sento na beira do asfalto, os faróis do carro iluminando todas nós.

Ingrid me entrega os lenços, Maya evita me olhar e sei que é arriscado ela vomitar também se ficar muito próxima.

— Cecília... Não quero que me vejo assim.

— Isso fortalece a relação. — Cecília fala baixinho perto do meu ouvido, ela afaga meus cabelos num carinho rápido. — Já te vi socar uma garota, Rodriguez, com certeza isso me assusta mais que vomito.

Nem sei porque sinto vontade de chorar, enquanto limpo mais uma vez a minha boca, penso na merda de ideia idiota que foi essa de fugir, deixo minha família preocupada e ainda me exponho em riscos.

Ingrid senta ao meu lado, Cecília está agachada atrás de mim e Maya mais pro lado me olhando com culpa.

Choro mais e começo a soluçar, eu não esperava por aquilo, mas Ingrid praticamente me coloca em seu colo me juntando ao seu corpo e acariciando meu braço numa tentativa de conforto.

— Se acalma.

Ingrid murmura. Cecília senta no asfalto ao meu lado, pegando em minha mão e segurando com firmeza.

— Tudo vai dar certo. — Passa o polegar num movimento constante, as duas estão conseguindo me acalmar — Estamos com você, Liz.

Maya se joga perto de nós agora que meu o vomito nem faz parte da cena mais.

— Me desculpa por te fazer passar por isso. — Maya beija minha cabeça, ela não vai chegar perto do meu rosto mais que isso enquanto eu não tomar um belo banho.

— Para começo de conversa a culpa é minha.

— Deixa de ser boba. — Maya fala com seu jeito habitual sem delicadeza. — Agora eu só queria sair daqui porque estou com medo do Nathaniel ter mandando a polícia atrás de nós.

— Você até sabe o nome dele. — Ingrid fala com uma cara esquisita, ela lotaria minha galeria de memes fácil

— É claro que sei, estava cogitando ter que mostrar meus peitos pra ele e tinha que saber o nome de quem eu faria isso.

Maya arranca uma risadinha minha, mas ainda estou chorando um pouco. Merda de ansiedade que me faz ser uma idiota.

— Alguém ainda tem água? — Maya levanta e vai para o carro.

Ingrid responde que tem e minha amiga volta com quase duas garrafinhas cheias de água, minha escova de dentes já com creme dental e mais lenços de papel.

Maya faz isso tudo não porque é só uma boa amiga, mas sim porque ela sente nojo de situações assim e sabe que vou ficar carente como fico todas as vezes que passo algum tipo de mal e vou querer o colo dela.

*****

Nós atrasamos mais um pouco na estrada porque Cecília e Maya estavam com fome mais uma vez e tivemos que parar. Eu me sinto péssima e se não estivesse tão perto do meu destino final teria voltado para casa.

— Acho que chegamos. — Ingrid anuncia incerta depois de escutar a voz feminina do GPS anunciar que chegamos ao destino final.

Fui acordada por Maya minutos antes, Cecília está meio de lado no assento da frente olhando para minha amiga e eu.

Olho para o prédio ao lado, pelo vidro do carro, e o lugar apresenta ser só para pessoas boas de grana morarem. É ali com certeza.

— A Rafa falou para entrar pela garagem, o segurança vai chamar ela para nós.

— Certo. — Ingrid, a motorista da vez, concorda.

Ela avista a entrada da garagem e é barrada pela segurança assim que vira para entrar no local desejado. Ingrid informa o nome de Rafa para o homem barbudo, que logo consegue entrar em contato com a Chávez.

Ingrid acha a segunda vaga de Rafa, vazia, e estaciona lá. Saímos do carro e nos esticamos um pouco antes de pegar nossas malas e entrar no elevador para o terceiro andar.

Rafa não gosta muito de altura e me admira ela não morar no primeiro andar. Cecília fica bem ao meu lado e me olha rapidamente de lado quando estamos no segundo andar, eu tento não fazer contato visual por ainda estar com vergonha dela ter me visto vomitar pouco tempo depois de ter me beijado.

Antes que eu acorde de fato para o que estou fazendo, Maya já está batendo na porta de número 24, basicamente esmurrando a porta de Rafa.

Quando a porta se abre, revela alguém que eu não esperava ver ali de forma alguma.

— Burguesa safada! — Exclamo o apelido com certo humor e sou agarrada por braços magros.

— Fallon! Eu falei que não era para atender a porta. — Rafa chega atrás da Guzman fingindo estar brava. — Oi, meninas. Sejam bem-vindas.

Fallon me solta para que eu possa abraçar Rafa e cumprimenta cada uma das meninas.

— Não me diga que voltou com Fallon ou está morando com ela. — Implico porque sei que as duas apesar de combinarem, brigam a maior parte do tempo que estão juntas.

— Pior, ela é minha vizinha e vive aqui em casa.

— Ei! Não seja chata.

Fallon se intromete na nossa conversa.

— Vai pro seu apartamento!

Rafa fala e eu gargalho, elas são terríveis juntas.

— Não vou. — Fallon passa por nós na porta e se joga num dos sofás da sala de Rafa sem cerimônias.

— Pois entrem e ignorem essa maluca. — Rafa comenta e vejo em seus olhos que ela se diverte um pouco com a implicância com Fallon Guzman.

Arrastamos nossas malas ou puxamos, tanto faz, para dentro do apartamento e Rafa nos ofereceu pizza. Cecília comeu tanto que me surpreendeu, eu mal consegui comer uma fatia inteira, estava totalmente sem fome.

— É a comida preferida dela. — Ingrid se inclina para perto de mim e justifica a amiga ainda estar mastigando mais uma fatia de pizza. Cecília nos olha, do outro lado da mesa de centro da sala de Rafa, com uma expressão que não consigo decifrar; mas sempre atenta. — Não se assuste, porque ela é pior em um rodízio.

Acabo sorrindo um pouco, pensar em Cecília comendo desesperadamente parece algo engraçado e até fofo.

Maya conversa com Rafa e Fallon; eu não sei sobre o que é o assusto, mas com certeza é sobre alguma coisa burguesa que elas fazem.

Estou sentido frio mesmo que o aquecedor esteja ligado dentro do apartamento, lá fora nevou recentemente por ser inverno, Nova Orleans fica assim. Rafa e Fallon estão como se tivessem voltado da praia, já estão acostumadas a temperatura baixa.

— Rafa... — Minha amiga deixa de dar atenção para as duas burguesas e se aproxima de mim. — Eu queria tomar banho e ir deitar, estou exausta... Pode me mostrar onde vou ficar?

Chávez se abaixa e me abraça, enquanto fala:

— Claro, Lo. — Ela beija minha cabeça. — Vamos, lá... Estou tão orgulhosa por ter criado coragem de vir.

— Maya, eu preciso de roupas. — Ingrid aponta para a blusa de futebol que veste. — Não dá para permanecer assim.

— Você tem sorte que eu faço a mala quase em dobro, garota. — Maya cantarola para a negra que parece grata por isso.

— Eu faço isso. — Fallon fala risonha. — E se precisar a minha colega de AP, a Vanessa, pode emprestar algumas roupas... — Guzman para o assunto e olha confusa para Ingrid. — Ué, como viajou sem roupas?

— Longa explicação...

E assim Ingrid foi explicar pra Fallon e me deixou de lado. Rafa me chamou para seguir ela. Peguei minha mala e nem percebi Cecília atrás.

— Eu vou com você, Liz, tudo bem?

Ela parecia preocupada, mas Rafa não nota isso e brinca:

— Vocês vão tomar banho juntas?

Cecília não tem reação e eu só paro de andar e seguro minha amiga.

— Rafa...

— Ela é bonita, Lo. — Rafa insiste na brincadeira e eu quase lhe dou uns tapas ali em frente Cecília mesmo. — Tudo bem, parei, mas depois quero saber de umas coisas...

— Ok, vamos que estou morrendo de frio. — Faço Rafa andar na frente.

— Eu posso te esquentar. — Cecília sussurra ao meu lado, ela fala baixo para poupar mais uma fala idiota de Rafa, tenho certeza. — Minhas mãos estão quentinhas.

Ela encosta sua mão no meu pulso para dar veracidade ao que falou e eu coro ao mínimo contato entre nossas peles. Cecília sorri como uma criança quando se afasta e olha para Rafa que falou algo que não prestamos atenção.