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CAPÍTULO PRIMEIRO: ENTRE DOIS MUNDOS

A quarta feira começou de forma normal, sem nenhuma peculiaridade. um dia comum, no meio de uma semana normal, de um mês monótono de um ano que não prometeu nada. A vida entregava nada mais e nada menos do que entregou desde o princípio para aqueles destinados a uma existência de engrenagem do sistema mundano. São cinco da manhã e mesmo que tenha dormido mais de dez horas na noite anterior ele ainda tem vontade de socar alguém com todas as suas forças. O som do despertador se espalha por todo seu apartamento enquanto o silêncio da madrugada lentamente começa a ser substituído pelas sinfonias que indicam o início da rotina urbana. Como todos os dias, ele permaneceu sentado em sua cama, esperando a coragem para enfrentar um novo dia chegar. como todos os dias ele suspirou desapontado quando a coragem chegou e como todos os dias ele se levantou, se arrumou, colocou sua bolsa preparada previamente em seu ombro e saiu em direção ao serviço.

O jovem é conhecido por Gael, emburrado como sempre ele se esconde dentro de seu casaco para se proteger da cortante e gélida brisa matutina. Caminhar até o ponto de ônibus de manhã tão cedo ainda é uma das coisas que ele mais odeia fazer em sua vida. Isso não se compara, a aturar os animados passageiros que pegam o mesmo ônibus que ele todos os dias, ou ao fato de trabalhar tão longe de casa. A realidade é que desde que entrou na vida adulta, existe muito mais coisas que ele odeia do que coisas que realmente gosta. Seus fones de ouvido e música alta são o que realmente o impedem de agredir verbalmente as mulheres e homens que falam tão alto e tão animadamente todos os dias.

Mais de cinquenta minutos de viagem o separam de seu local de trabalho. Quando finalmente chega na empresa onde presta seus serviços, ele está mental e sentimentalmente esgotado. Formado em um curso superior de uma área completamente diferente da qual atua, seu sonho juvenil de trabalhar com o que gosta foi engolido, digerido e expelido pelas necessidades e obrigações da vida adulta. Com a morte de seu pai logo após a sua tão aguardada formatura virou seu mundo de cabeça para baixo e ele não tinha vontade e nem condição de ser um fardo para sua mãe, então desde seus vinte anos ele trabalha descontentemente em uma empresa de exportação de carvão mineral. Emprego esse que lhe foi arranjado graças aos contatos de seu falecido pai.

Após seu ponto de início de jornada de trabalho ser registrado, mais uma vez Gael tem que reunir coragem para enfrentar o dia que está por vir. Nem tudo é de todo mal, apesar de estar aos poucos estrangulando seu sonho em um serviço que não lhe agrada, ele conheceu pessoas verdadeiramente incríveis nesse lugar. Entre eles um antigo amigo de seu pai que o trata exatamente igual a um filho, um ou dois colegas de trabalho que conseguem relevar seu mau humor matutino e sua grosseria e má vontade no resto do dia.

Silva: Bom dia, Gael... Parece que hoje você tá mais emburrado do que o normal?! – Silva é um homem magro e alto. Tem uma barba rala e olhos pequenos e azuis. é o coordenador direto de Gael e ambos trabalham juntos há mais de quatro anos. Quando Gael começou a trabalhar na empresa eram apenas os dois no setor.

Gael: Não é nada não, Silva. – Todos o chamam pelo sobrenome. – Acho que devo ter dormido de mal jeito nesses últimos dias. Não importa o quanto eu durma, eu sempre acordo cansado... Sono agitado sabe. cheio de sonhos... – Ultimamente Gael tem tido recorrentes sonhos estranhos. O conteúdo dos sonhos logo se esvai da memória quando acorda, mas uma coisa sempre lhe fica martelando a cabeça ao decorrer do dia.

Saulo: Deve ter passado a noite inteira jogando. Por isso tá sempre com essa cara de bunda o dia inteiro. – Saulo é um dos colegas de trabalho do setor de Gael. Um dos poucos que revelam seu temperamento difícil é com toda certeza uma das pessoas mais animadas de todo o planeta. É um contente recém-casado orgulhoso de sua esposa e um administrador contábil extremamente competente. Tem cabelos cacheados e loiros como aqueles anjinhos que aparecem em quadros que se vendem em camelôs.

Gael: Passei a noite pensando na nossa esposa, para falar a verdade. – Gael responde como de costume, sem esboçar nenhuma expressão e com os olhos fixos no seu telefone. Ele nunca funcionou bem pela manhã. Saulo como de costume responde com uma gargalhada sincera e irritante.

Gaube: Que história é essa de nossa esposa?! Posso entrar no meio disso daí também? – Gaube corresponde às gargalhadas animadas de Saulo. É um novato irritantemente feliz no período matutino, algo que Gael tem bastante dificuldade em lidar. Chegou a pouco mais de dois meses e ainda nem passou do período de experiência, mas é um homem gentil e alegre que conquistou a amizade e simpatia de quase todos da empresa. Tem quatro filhos e constantemente os exibe orgulhosamente para qualquer um que lhe dê atenção o suficiente.

Saulo: O Gabriel cismou que a Rafaela é esposa dele também e eu deixo ele continuar brincando já que a única namorada dele é a própria mão.

Gargalhadas tomam o escritório por completo, mesmo estando de mal humor Gael deixou escapar um sorrisinho que não foi percebido por ninguém. As planilhas e e-mails seguiram sendo analisados conforme o que devia ser feito até o final do expediente. Em meio a uma tarefa ou outra ele se perde em meia a curtos devaneios sempre imaginando como seria trabalhar em um lugar onde ele se sentiria realmente contente. provavelmente em uma pequena vendinha no meio da roça, com poucos clientes e quase nenhuma tarefa muito dificultosa e com tempo suficiente para que ele possa dedicar bastante tempo aos que quer que goste de fazer.

Ele retorna ao seu apartamento cerca de duas horas depois de finalizar seu expediente. O trânsito no final do dia é tão caótico quanto poderia ser. Esgotado mental e fisicamente de tanto contato humano Gael não tem ânimo para fazer mais nada além de se acomodar em uma poltrona velha virada para a janela de sua sala de estar. O espectro de cores alaranjadas que compunham o pôr do sol, podia ser visto perfeitamente da janela de seu apartamento, ele conseguia ver perfeitamente a gigante estrela lentamente sumindo da sua vista entre dois prédios a sua frente e aquilo lhe trazia paz. Enquanto o sol se punha ele fumava um cigarro enquanto não pensava em nada mais do que naquele momento.

Assim que o sol se põe completamente e as luzes da cidade conquistaram completamente a noite ele costumava se levantar, comer alguma coisa, dedicar poucos minutos frustrados a desenhos cujo resultado não era aprovado o levando a rasgar e jogar no lixo tudo que fez até então, mas hoje não. Está cansado devido ao sono inquieto recheado de sonhos que apesar de não se lembrar o deixam incomodado e fatigado durante todo o dia. Hoje diferente do normal Gael foi para a cama após um banho longo, um cigarro e uma xícara de café.

Novamente o seu sono é turbulento, acordou várias vezes ao longo da noite não conseguindo dormir por mais de vinte minutos. Uma incomum e forte chuva no meio do verão atinge a cidade de Ouro velho naquele dia, trovões, vento forte e as enchentes em algumas partes mais baixas da cidade foram noticiadas repetidamente no dia seguinte. Na realidade não é nada fora do comum, porém o que de mais fantástico aconteceu não foi descoberto por ninguém, ninguém além de Gael.

Dessa vez, diferente das outras Gael estava consciente dentro de seus sonhos. Dessa vez ele se lembrava perfeitamente do que sonhava toda vez que acordava, o que só causava mais estranhamento de sua parte já que isso não fazia o menor sentido. Parecia estar dentro de um filme medieval. Sonhos vividos de guerras, batalhas sangrentas e criaturas conhecidas pelos humanos apenas em histórias fantasiosas. Toda vez que acordava devido a agitação de seus sonhos incomuns Gael deu de cara com a mesma cena, seu quarto escuro e vazio com o som forte da chuva ao fundo. Alguns trovões ao fundo se seguiram e a luz dos raios iluminava repentinamente todo o apartamento revelando que ele estava completamente sozinho, exatamente como deveria estar.

Acordou diversas vezes naquela noite e enquanto o barulho forte da tempestade continuava ininterruptamente ele sempre se deparava com a mesma cena quando acordava. Até que finalmente quando a tempestade abrandou sua fúria e as grossas gotas de chuva se tornaram uma garoa gentil a cobrir a terra tudo estava diferente. Gael aterrorizado encarava uma criatura que nunca imaginou ver em sua frente. De olhos arregalados, respiração pesada e todo suado, ele tem seu olhar fixo no ser que permanece imóvel no ar o encarando com igual interesse. Poderia ser uma serpente claro, isso seria o mais aceitável, seria o mais acreditável se não estivesse flutuando em pleno ar. Se não tivesse um quarteto de chifres brotando de sua cabeça, se as escamas hexagonais brilhantes de diferentes tons de azul que adornam seu corpo longo de serpente não refletissem a luz da lua como se estivesse envolto por uma névoa prateada. Seria o mais acreditável se sua boca não fosse tão recheada de dentes afiados aparentes mesmo enquanto ele mantém a sua boca fechada, e seria menos inacreditável se seus olhos não demonstrassem tamanha inteligência.

"Saudações... humano. "– Uma voz tranquila e bela invade a mente de Gael como um sopro. Não há a possibilidade de ainda estar sonhando. O suor frio lhe descendo a nuca, a respiração pesada e o aperto no peito não é nenhum produto de sua mente. Tudo está realmente acontecendo.

Um grito assustado e desesperado depois o colocou em movimento e Gael já está de pé segurando uma faca a sua frente. A faca foi um presente de seu pai, a qual ele mantinha escondida embaixo do travesseiro desde que começou a morar sozinho. A criatura permanecia imóvel no ar a sua frente, observando-o com certo ar de desdém e com uma expressão de decepção. Enquanto o tempo passava de forma lenta, cada segundo parecia durar uma eternidade e aos poucos ele começava a tremer.

"Por favor... Peço que se acalme. Seu espeto pontudo não será capaz de transpassar minhas escamas. Largue a arma e sente-se confortavelmente. Trago-lhe uma mensagem de alta importância. "- A voz em tom cordial invade a sua mente novamente, o que o pega desprevenido e o assusta mais do que deveria. Em um movimento impensado e irracional, Gael salta para frente da criatura com a faca em punhos, pronto para apunhalá-lo com todas suas forças.

A criatura serpentina que levitava no ar desapareceu de sua vista por um instante. No segundo seguinte ela já estava completamente enrolada em seu corpo como uma cobra constritora restringindo os movimentos de seus braços e pernas. Sua enorme boca estava próxima ao seu ouvido e ele podia sentir o hálito quente da criatura contra sua pele.

"Se quisesse seu mal, já o teria feito. Largue sua arma e sente-se imediatamente. "- A força da criatura é esmagadora, não a nada que Gael possa fazer além de soltar a faca ao chão em um baque surdo. tão rápido quanto se enrolou no corpo de Gael a criatura se solta e volta a ficar em sua frente de forma pomposa enquanto levita no ar. Gael percebe quatro patas, dotadas de garras brilhantes e negras como um céu estrelado.

Gael: Que coisa é você? – Ainda que temendo pela sua vida, a postura de Gael é calma e controlada. Seu descontrole anterior devido ao choque foi uma reação à visão estranha da criatura. Embora suas mãos e pernas ainda tremam, ele tenta sobretudo não demonstrar o medo que está sentindo.

"Coisa? Dirija-se a mim com mais respeito, humano. Minha existência transcende a de seu povo em muito e exijo que me trate com a devida cortesia. Estou aqui a serviço dos grandes deuses dragões que em sua infinita misericórdia decidiram nomear você um guardião. "– O tom da criatura é expresso dentro da mente de Gael, ao mesmo tempo que sua expressão muda enquanto gesticula com seu corpo flutuante.

notando a indisfarçável confusão de Gael a criatura indignada continua.

"Você não sabe o que é um guardião, sabe? "

Gael: Conheço a palavra... não sei qual significado isso tem para você. – Ainda que de certa forma esteja relativamente cauteloso com essa criatura, aos poucos essa conversa pacífica se torna mais natural para ambos. Gael por um lado nunca esperou encontrar uma criatura desse tipo antes e a criatura por sua vez, não esperava que o humano conseguiria manter uma conversação decente após o pequeno atrito que os dois tiveram.

"Acho que seria mais proveitoso para nós dois se começasse lhe explicando desde o princípio. Pelo que observei... Seu povo não é familiarizado com a mana. "– A criatura se enrola para se aconchegar em seu próprio corpo pronta para contar uma história.

Gael: Mana... tipo mana de magia. A gente meio que é familiarizado com isso…, só que de uma forma diferente.

"Sim... Estou ciente dos meios de entretenimento que seu povo usa. De fato, imagino que isso tenha sido de certa forma baseado no conceito real de mana, mas de forma errônea. "– A criatura parece estranhamente satisfeita em estar nessa posição de explicar algo.

Gael: Posso fumar um cigarro?

"Parece estranhamente confortável com essa situação. Sua raça não tem menor costume com o meu povo, como pode estar tão calmo diante dessa situação que nos encontramos? "

Gael: Não entenda errado. – Gael pega um cigarro ao lado de sua cama e o acende ainda com as mãos tremendo. é evidente a sua dificuldade em manejar o isqueiro enquanto treme. – Não estou nenhum pouco calmo e eu estou morrendo de medo de você, mas não tem nada que eu possa fazer... Nunca imaginei que uma coisa dessas poderia acontecer e para falar a verdade ainda acho que tudo isso é um sonho e eu vou acordar a qualquer momento. – Finalmente ele consegue acender um cigarro apesar das aparentes dificuldades. – Acho que tudo que posso fazer é me conformar com isso.

"Se for um sonho eu acordo amanhã como se não fosse nada, se eu acordar e essa coisa ainda estiver na minha frente eu vou ter que ir em um psicólogo. Pelo menos minha mãe vai ficar contente de eu finalmente seguir o conselho dela." – pensou Gael enquanto dava sua primeira tragada.

"Primeiro as devidas apresentações... Sou conhecido pelo meu povo como Fyrvax, a escama noturna. Fui o incumbido de guiar você em seu caminho como um guardião abençoado por um de meus amados deuses dragões." – As palavras na mente de Gael são emitidas com entonação, e tudo dá a entender que a criatura acredita firmemente que apenas isso é o suficiente. Um silêncio constrangedor se instaura no quarto e na mente de Gael.

Gael: Como assim?! Só isso.

"Pelo seu silêncio acreditei que tinha entendido toda a situação. Parece ser um humano dotado de bastante capacidade de entendimento. Revelei meu nome e o motivo de ter invadido sua residência. Tem mais alguma coisa que queira saber?" – A criatura parece estar perplexa pela falta de entendimento de Gael.

Gael: Claro que eu tenho... É... O que você é?! O que é um guardião?! Deuses dragões?! Por que eu fui escolhido para uma coisa dessas? – A respiração pesada e desregulada de Gael indica seu nível de confusão. Finalmente sua postura calma sucumbiu diante da estranha situação.

"Certamente você não entendeu nada. Bom...Humpf... Sou um dragão. Minha existência é agraciada pela bondade daqueles que sopraram a vida em mim e aqueles que vieram antes de mim, os únicos que deram origem a minha raça são conhecidos como deuses dragões...e... e eu desconheço os motivos por trás da sua seleção como guardião. Os guardiões são uma existência que se inicia em todos os planetas cujo processo de união de mundos está prestes a se iniciar." – O pequeno dragão se enrola no ar de forma a ficar mais confortável.

"Ele parece com um daqueles dragões chineses... não achei que ele ia ser uma coisa que eu pudesse conhecer." - Pensou Gael

Gael: E o que é essa...

"A união de mundos é um processo natural pelo qual todos os mundos dotados de seres racionais passam. A energia que permeia toda a criação chamada de mana, começara a integrar o seu mundo o que criará uma nova era. Toda nova era é acompanhada de mudanças e para proteger seu povo dessa mudança, os guardiões são escolhidos." – O dragão é esperto e está ciente do turbilhão de dúvidas que podem vir a surgir na mente de Gael.

Gael: Que mudanças... que mudanças essa união de mundos vai trazer pra cá? – O cigarro queima sem ser tragado. O assunto em questão é mais importante.

"A união de mundos trará grandes poderes aos seus habitantes, mas também grandes desafios. É tarefa sua junto ao dos outros guardiões lutar junto ao seu povo para que sua raça, assim como as outras que passaram pelo mesmo processo antes de vocês possam continuar existindo."

Gael: Grandes poderes e grandes desafios não é o bastante. – Uma tragada. – Se o conceito de mana de vocês for o mesmo que o nosso... então isso quer dizer que...

"Sim... O que sua cultura chama de magia vai passar a fazer parte de seu mundo de forma real, palpável e perigosa." – Um clima de seriedade se instaura no lugar, os olhos de Gael e Fyrvax fixos uns nos outros deixam toda essa situação ainda mais tensa.

Gael: Eu não quero isso. – Uma tragada. – Não quero essa responsabilidade. Não vejo motivo nenhum pra aceitar uma coisa dessa. Se tudo o que você tá me dizendo é verdade e mais coisas como você estão pra vir pra cá eu não quero estar na linha de frente disso tudo. Eu não quero ajudar ninguém, não quero proteger nada. Só quero viver uma vida tranquila. – Ao contrário de antes, não tinha emoção alguma em sua voz, nem em suas ações. Fyrvax percebe essa falta de emoção em sua voz e entende que essa resposta não é movida por pura covardia.

"Entendo seus motivos. Eu de fato desconheço quais são as reais obrigações de um guardião, tão pouco sei sobre seus propósitos e não consigo lhe dizer mais de um ou dois motivos para aceitar essa rara oferta, mas respeitarei sua decisão." – O dragão se desdobra mostrando seu corpo por inteiro, pouco menos de quatro metros quando inteiramente esticado.

Gael: Você veio até aqui só pra voltar de mãos abanando?! Não vai nem tentar me convencer de aceitar o convite de seus amados deuses dragões?!

"Não vejo motivos para tentar convencê-lo do contrário. Lhe observei durante alguns ciclos antes de entrar em contato, e parece que dedicou toda sua curta vida a perpetuar o tanto quanto possível a insignificância que resume a sua existência. A paz que buscou e aparentemente atingiu agora, definitivamente nunca mais estará ao seu alcance se aceitar a função de guardião. É melhor que continue a existir de forma insignificante a fazer um trabalho ineficiente." – Não há nenhuma tentativa de persuasão nas palavras do dragão. Suas palavras são exatamente sua opinião, sem floreios ou rodeios.

Gael: Você fala de insignificância como se fosse uma ofensa...

"De forma alguma. Alguns são fadados a nada mais que viverem suas próprias vidas e nada além disso. Embora possa existir alguns outros como você que sejam destinados a ser algo a mais, apenas cabe a eles aceitar esse destino ou não."

Gael: Destino não é uma palavra que usamos normalmente. – Uma tragada. – Só por curiosidade... Se você fosse me convencer, quais são esses motivos que disse antes?

"Na realidade eu acredito que exista apenas um motivo para que aceite ser um guardião. Deixando de lado a honra de receber uma benção dos deuses dragões, o único motivo plausível na minha opinião para que aceite é para que acabe com esse vazio que permeia todo seu ser."

Gael: Vazio?! Não tinha chamado de paz um segundo atrás...

"Eu realmente desconheço o que é a paz para os humanos, mas pelo pouco que os observei eu não reconheço isso no que você chama de vida. Tudo que me aparenta preencher a sua vida parece ser algo feito por simples rotina. Até mesmo as falhas em suas tentativas frustradas de transcrever suas iluminuras no papel parecem fazer parte da rotina que cultivou até então. Talvez consiga preencher esse vazio com um propósito." – os olhos brilhantes do dragão se destacam entre a escuridão do quarto. "E já que não conseguiu encontrar um propósito sozinho, eu imagino que não teria nenhum problema em utilizar de um que lhe foi encarregado pelo destino."

As palavras sinceras da criatura transcendental não poderiam surtir mais efeito. Como poucas vezes em sua vida, Gael reconheceu uma lógica indiscutível nas palavras de outro ser. Viver sua vida de forma tranquila, também significa vivê-la de forma verdadeira. Gael tinha aceitado sua insignificância desde pouco tempo depois que entrou, e nunca parou pra pensar o quão bem aceitou isso. E mesmo antes de aceitar essa insignificância ele sempre acreditou que o que é verdade não pode ser de todo ruim. Propósito, destino e vazio não são conceitos abordados normalmente na vida de pessoas comuns como ele e todas elas sendo utilizadas de forma tão coesa e ainda por cima reforçadas de tanta verdade o desarmam de qualquer argumento. Sobretudo Gael sempre se orgulhava internamente de ser uma pessoa razoável e racional. Após ter esfregado em sua cara a sua falta de objetivos ele não via nenhuma alternativa além de aceitar a estranha oferta do dragão Fyrvax.

Gael: Acho que você está certo. Não tenho nenhuma resposta para te dar. – O cigarro chegou ao seu fim, embora a maioria dele tenha se queimado sozinho, Gael conseguiu dar uma última tragada antes de se levantar e ficar frente a frente com o dragão que invadiu sua casa.

"Parece ser um humano razoável e racional. Diante de tamanha racionalidade da sua parte eu irei lhe perguntar mais uma única vez... Estou aqui a serviço dos grandes deuses dragões que em sua infinita misericórdia decidiram nomear você um guardião. Você aceita?" – O dragão sabe sua resposta tanto quanto ele, mas mesmo assim o aguarda responder.

Gael: Eu... Eu aceito. Acho que você está certo… não tenho nada a perder com isso tudo. - Gael arremessa a guimba do cigarro em um cinzeiro já lotado ao lado de sua cama.

As memórias de Gael ficam nubladas depois disso tudo. Quando acordou na manhã seguinte tudo parecia um devaneio distante. Ao abrir os olhos ele imaginou que tudo que aconteceu não passou de um sonho. um sonho tão incomum quanto o que ele teve durante toda a semana. não havia a mínima necessidade de se preocupar com o que aconteceu, já que foi um sonho. não precisaria procurar um psicólogo, psiquiatra o ou que quer que fosse. Não precisaria ao menos se não estivesse vendo a criatura brilhante de escamas azuladas que invadiu seu apartamento na madrugada anterior enrolada confortavelmente em sua poltrona. Ela estava lá, menos etérea do que quando flutuava pelo seu quarto escuro e compartilhava suas palavras diretamente em sua mente, mas ainda estava lá. Seu corpo de serpente coberto de escamas azuis brilhantes tem mais de três metros de comprimento desde sua cabeça até a ponta de sua cauda. se contar com a pelagem brilhante na ponta de sua cauda, seu comprimento deve atingir mais de quatro metros e meio. suas quatro patas dotadas de garras tão brilhantes quanto suas escamas representam perfeitamente o que deveria ser um dragão, mesmo que muito menor do que todos imaginam. Além da criatura fantástica dormindo despreocupadamente em sua sala, algo que ele imaginou que nunca mais veria também existe algo destoante em sua visão.

Gael: Hey… Fyr. O que são essas letras e números aparecendo na minha frente? Você consegue ver também? - O dragão abre os olhos de forma natural, como se estivesse apenas de olhos fechados por um curto período de tempo. Provavelmente despertou assim que Gael saiu da cama e o estava esperando. 

[MENSAGEM DO SISTEMA]

NOME: -

CLASSE: -

SUBCLASSE: GUARDIÃO

NÍVEL: 1

SAÚDE: 80

MANA: 50

VIGOR: 40

CANSAÇO: 0

FORÇA: 8

AGILIDADE: 4

INTELIGÊNCIA: 5

SENTIDOS: 8

SORTE: 0

ATAQUE: 10 

DEFESA: 8

ATAQUE MÁGICO: 12

DEFESA MÁGICA: 10

[MENSAGEM DO SISTEMA]

NOVAS HABILIDADES PASSIVAS ADQUIRIDAS!

HABILIDADE PASSIVA: BENÇÃO DE FORSTVAX 1

O guardião foi abençoado com o sistema e a capacidade de se tornar mais forte, graças a bênção suas habilidades curativas mantém sua boa saúde enquanto estiver vivo. Suas capacidades curativas aumentam exponencialmente enquanto dorme.

HABILIDADE PASSIVA: INVENTÁRIO

O guardião consegue controlar um espaço isolado para armazenar itens à sua vontade. Dentro do espaço pertencente ao inventário do guardião os itens não sofrem a passagem do tempo. 

HABILIDADE PASSIVA: POLIGLOTISMO

O significado das suas palavras serão mentalmente transmitidas para aqueles ao seu redor, quando não compartilharem o mesmo idioma, do mesmo jeito que o significado das palavras dos outros serão transmitidas para sua mente caso não compartilhem o mesmo idioma.

[MENSAGEM DO SISTEMA]

NOVAS HABILIDADES ATIVAS ADQUIRIDAS!

HABILIDADE – OLHOS DRACÔNICOS DA VISÃO VERDADEIRA – nível 1

O guardião pode utilizar a visão verdadeira, um poder naturalmente agraciado apenas aos dragões antigos. Enquanto ativos, os olhos da visão verdadeira concederão ao guardião a capacidade de ver as estatísticas de atributos para aqueles a quem olhar. Os olhos da visão verdadeira consomem 1 de mana para cada segundo ativado.

Fyrvax: Meu nome é Fyrvax, pode me chamar assim ou de escama noturna.- Os dois se entreolham, Gael está surpreso e o dragão está se esticando no ar.

Gael: Sua voz… Não tá mais só na minha mente. - Embora Gael ouça as palavras do dragão no que parece ser o seu idioma natural, o significado é simultaneamente inserido em sua mente sem nenhum atraso.

Fyrvax: Diferente de ontem, parece que seu corpo está produzindo uma pequena quantidade de mana. Imagino que durante nossas poucas horas de sono a bênção de um de meus deuses deve ter sido lhe conferida com sucesso… É um acontecimento comum que alguns guardiões ganhem a habilidade de poliglotismo durante o processo de preparação para a união.

Gael: Beleza… Beleza, mas e esses números aqui ?

Fyrvax: Aparentemente cada raça interage com a mana de forma diferente, esses números e letras devem ser a forma dos humanos utilizarem da mana. Não tenha mais informações para comparação visto que você é um dos primeiros a passarem por esse processo. Utilizarei sua experiência como base para futuros estudos… Descreva para mim o conteúdo dessas letras.

Gael: Parecem ser mensagens de algo chamado de sistema. Parece que minha força, inteligência, vigor estão pontuados e também recebi algumas mensagens falando sobre habilidades adquiridas.

Fyrvax: Fascinante… Realmente fascinante. - O dragão começa a rodear Gael o observando de cima abaixo.- Aparentemente o meio que os humanos interagem com a mana criou um sistema que quantificou seus atributos de forma que vocês possam discerni-los. Não conseguem interagir com a mana de forma intuitiva como a maioria das espécies. Claro que não posso saber se isso é uma interação individual sua ou se aplica a todos os humanos dotados de mana… Seria ótimo ter mais material de pesquisa.

Gael: Eu não sou material de pesquisa, sabe. - Gael começa a andar em direção a cozinha enquanto o dragão continua a observá-lo como um rato de laboratório. Enquanto começa a passar um café ele acende um cigarro. - Você come comida normal?!

Fyrvax: Os dragões de minha espécie aceitam servir como guias apenas para estudar os abençoados pelos deuses dragões. Somos eruditos antes de tudo, então tudo isso faz parte de nossa pesquisa.

Gael: Entendi !... Todos da sua espécie são estudiosos? - Gael retira ovos e uma bandeja com bacon da geladeira. Cozinhar pela manhã não é um costume seu, mas visto que tem um visitante ele achou de bom tom recebê-lo bem. Ainda levando em consideração a quantidade enorme de perguntas que provavelmente ainda faria ao dragão.

Fyrvax: Sim. Visto que nossa força física é quase nula, todos nós dedicamos nossa existência a diferentes campos de pesquisa. - A atenção do dragão se volta para o cheiro do bacon sendo fritado.

Gael: Força física quase nula?! Você não pareceu fazer o mínimo esforço para me imobilizar ontem. - Joga os ovos na panela.

"Se olhar o tamanho dele, deve comer igual um boi. O que eu tenho aqui em casa não vai dar nem pra uns três dias. Eu só cozinho no final de semana, mas se for desse jeito mesmo eu vou ter que fazer isso todo dia… Vai ser um saco."

Fyrvax: Estou colocando em comparação com a minha própria raça. Diante de meus semelhantes, a minha raça é a que detém o menor potencial ofensivo, os humanos normalmente são bem frágeis… Não devo ser mais de duas vezes mais forte que você. - As palavras de Fyrvax ficam um pouco mais espaçadas à medida que o cheiro de bacon e ovos fica mais forte. - O-o que é isso que está fazendo? O cheiro é intrigantemente prazeroso.

Gael: Toma!... Pode comer. É carne de porco e ovos fritos. Acho que não deve te fazer mal. - Gael se serve com uma xícara de café enquanto observa o dragão devorar o prato de carne e ovos indiscriminadamente. - Eu não cozinho de manhã… nem de noite pra falar a verdade, mas já que você é visita eu acho que vou ter que te tratar bem.

Fyrvax: Agradeço pelo alimento. Achei que os humanos se alimentavam por intermédio desses palitos de fumaça que você vive usando. - o dragão passa sua língua longa pelos seus dentes caçando pedaços de carne sobressalentes.

Gael: Ah! isso aqui… - Gael olha para o cigarro em sua mão. - É mais como um passatempo… Eu vou me arrumar para o trabalho. Acho que você vai começar a me acompanhar a partir de hoje, né?

Fyrvax: Certamente. Toda a sociedade humana é meu objeto de estudo. Agora que podemos nos comunicar, acredito que algumas de minhas dúvidas serão sanadas com maior facilidade. Gael: Claro, claro. - Responde de seu quarto enquanto veste suas roupas cotidianas. - Mas eu não vou poder te responder abertamente quando a gente tiver junto de outras pessoas. Seria um saco fingir que estou no telefone o tempo todo, então tenta não falar comigo quando tiver gente em volta.

Fyrvax: Podemos nos comunicar por meio de minha telepatia quando estivermos próximos a outros humanos. Imagino que minha aparência causaria certa histeria em meio ao seu povo. - Fyrvax adentra o quarto enquanto Gael está se trocando. Como era de se esperar, o conceito de privacidade não existe para sua raça. - Sua reação foi inesperadamente tranquila, exceto é claro pelo seu ataque.

Gael: Acho que poderia ter gente que reagiria melhor, não a maioria é claro. Tem algumas histórias de coisas do tipo por aí, sabe?! Pessoas sendo encontradas por entidades e criaturas desconhecidas para uma grande jornada que mudará suas vidas completamente. Pessoas que são mandadas para outro mundo depois de morrerem. - Gael termina de se vestir. - Se bobear deve ter alguns que sonham com algo do tipo acontecendo com eles.

Fyrvax: E você não é um desses, pelo visto.

Gael: Eu… eu não. Minha vida é boa no geral, tranquila e confortável. Tirando o que você esfregou na minha cara, eu não mudaria ela em nada. Mas acho que vai ser melhor desse jeito. Eu sempre achei que as pessoas que sonhavam com esses tipos de coisas fantásticas eram as que não se contentavam com a vida que tinham, mas quem sou eu pra falar, né? Me contentei tanto com minha vida que cheguei num ponto… num ponto que nem consegui perceber mais o que eu queria de verdade.

Fyrvax: Talvez essas pessoas que anseiam tanto por uma oportunidade dessas não seriam as mais aptas para lidar com essa responsabilidade. - O dragão abre caminho para que Gael passe pela porta do quarto enquanto ajeita sua bolsa em seu ombro.

Gael: Quando fala de oportunidades faz tudo parecer melhor do que é. A situação inteira ainda é bem estranha pra mim. - Gael pega suas chaves e as coloca em sua bolsa após trancar a porta do apartamento.

Fyrvax: Todo seu mundo está prestes a mudar. Acredito que a situação seria estranha para qualquer um.

A madrugada está fria como estava ontem, porém há tantas coisas diferentes que o próprio mundo não parece o mesmo. Ao que tudo indica essa não será apenas mais um dia como todos os outros. Os acontecimentos da noite anterior que não se mostraram ser apenas um delírio suprimem seu mau humor matutino diário e o deixam inesperadamente cheio de energia. O seu comum caminho até o ponto de ônibus é mais vivido e vibrante do que o de costume. E claro que ter um dragão azul brilhante deslizando sobre as brisas deixa tudo ainda mais fantástico. Tudo parece tão irreal que ele mesmo quase não consegue acreditar.

Fyrvax: Me dê mais detalhes sobre o conteúdo dos textos que aparecem para você. Descreva também as habilidades que mencionou anteriormente. Acredito que dessa forma eu possa lhe ajudar com o cerne de sua magia.

Gael: Como eu disse antes, essa coisa chamada de sistema me deu alguns atributos… parece até um RPG na verdade. Minhas maiores pontuações são em força e em sentidos. Oito pontos as duas. Pelo que posso ver minha saúde e mana também foram pontuadas. - Está frio, Gael tem de se encolher dentro do casaco para não diminuir o passo. - Também estou no nível um, e meu atributo de sorte está zerado.

Fyrvax: Entendo… Esse sistema certamente deve ser o modo que você usará para interagir com a mana. Já posso senti-la em pequenas quantidades sendo emitida pelo solo. Aparentemente o seu progresso é simbolizado por esse nível que lhe foi atribuído, como acabara de receber a sua benção e ser agraciado com a mana os seus atributos ainda são iguais a de um humano normal.

Gael: É tudo um pouco complicado para entender de cara. Você disse mais cedo que eu já estou emitindo um pouco dessa mana, e também já está sentindo ela saindo do próprio solo, mas porque eu não sinto nada?! não tô sentindo nada de diferente pra falar a verdade.

Fyrvax: Sua percepção mágica ainda é muito ineficiente. Seria uma surpresa bastante bem vinda se conseguisse sentir a mana de forma eficiente logo depois de receber a sua benção. Acho que poderia te chamar de gênio se conseguisse, mas acredito que esse não é o seu caso.

Gael: Obrigado, pela parte que me toca eu acho…

Fyrvax: Suas habilidades… prossiga. - Embora atento à conversa dos dois, o dragão também reage a qualquer mínimo movimento que acontece. Gatos passando correndo, barulhos de carros sendo ligados e até mesmo os automóveis que já percorrem a rua de forma esporádica o fazem reagir a algo.

Gael: Acha mesmo que está tudo bem você ficar voando por aí assim?

Fyrvax: Posso pertencer a um plano de existência diferente desse material, só podem me perceber aqueles a quem eu permito. Prossiga com a definição.

Gael: Bom… Deixa eu ver. - Através de sua vontade, janelas brilhantes vermelhas parecendo com telas de celulares aparecem à sua frente. as janelas lhe informam seus atributos assim como suas habilidades. Tudo realmente se parece com um jogo eletrônico e é impossível não notar a semelhança. - Minhas habilidades são divididas em dois tipos. Tem descrições delas também. Habilidades passivas e habilidades ativas… As habilidades passivas, são a benção de Forstvax, inventário e poliglotismo…

Fyrvax: Então foi Forstvax… esse conjunto de habilidades é muito conveniente para exploração. O inventário é um subtipo de magia espacial que permite armazenagem sem limite de objetos… Uma magia muito rara e é deveras estranha que lhe tenha sido conferido a você como uma habilidade. O poliglotismo por outro lado não é tão incomum, mas recebê-lo assim também é bastante curioso…

Gael: Quem é esse Forstvax? Ele é parente seu? - Gael já consegue ver de longe algumas pessoas se reunindo no ponto de ônibus, ele diminui o passo para prolongar um pouco mais a conversa com Fyr.

Fyrvax: Não seja tolo, humano. Forstvax é um deus dragão. O primeiro dragão. A cada vez que você abre a boca eu fico mais confuso sobre o motivo de ser escolhido para receber essa benção.

Gael: Você não pode esperar que eu saiba dessas coisas, Fyr… - Gael responde elevando seu tom chamando a atenção de todos os distraídos que esperavam no ponto. Ele permanece indiferente. - Você tá aqui pra me explicar essas coisas, não adianta ficar boladinho por causa de pergunta idiota. Quantas pessoas você já guiou?

Fyrvax: Já lhe disse para se dirigir a mim como Fyrvax, ou escama noturna…

Gael: Pra quantos você já serviu de guia, Fyrvax?

Fyrvax: Você… é… o primeiro… Os dragões de minha espécie são relativamente raros. Quase na mesma proporção de abençoados pelos deuses dragões… não são muitos que serviram de guia para mais de um escolhido.

Gael: Tenso… mas não tem muita coisa que a gente possa fazer mesmo… e sobre essa habilidade ativa aqui… hum… Deixa eu ver… Olhos dracônicos da visão verdadeira… - O dragão para por um instante. Essa informação certamente o pegou de surpresa.

Fyrvax: Essa é uma habilidade realmente interessante para se ter…

Gael: Por quê? - Gael pergunta despreocupadamente enquanto lê a descrição da habilidade.

Fyrvax: A visão verdadeira é uma habilidade desenvolvida ao longo do tempo por dragões entre a fase jovem e a fase adulta. É estranho pensar que sua magia despertou de uma forma tão específica. Claro que já que não tenho base para comparação eu não posso dizer se a benção de Forstvax influenciou no despertar dessa habilidade ou se sua mana já teria essa propriedade de qualquer forma, preciso reunir mais informações.

Gael: E como que eu uso essa coisa?

Fyrvax: Coisa?! Fala dos olhos dracônicos?

Gael: Sim. Na descrição, ela informa que eu gasto um ponto de mana para cada segundo ativado… Então eu devo conseguir ativar e desativar esse troço, mas não fala como… - As telas de mensagens do sistema interagem com Gael de duas formas, por meio de seu pensamento e por meio de toque, parece ser algo realmente feito para ser usado por humanos, como os celulares que todos estão tão habituados. Gael tenta clicar na janela que descreve a habilidade dos olhos da visão verdadeira, mas sem nenhuma resposta.

Fyrvax: Não ouvi relatos de nenhuma outra criatura sem ser um dragão que possui os olhos dracônicos, então acredito que não iremos ter um embasamento para seu uso. Para nós que despertamos essas habilidades como uma característica racial, o uso é instintivo e o domínio vem ao longo do tempo… - O dragão parece estar se esforçando para reunir em sua mente o máximo possível de informação para sanar essa dúvida. Para ele é extremamente complicado explicar algo que aprendeu de forma natural através de seus instintos.

Gael: Se não tem nenhum relato então a gente vai ter que descobrir por conta própria… Será que se eu falar o nome da habilidade ela vai se ativar?! Tipo naqueles animes. - O dragão o encarou confuso assim que ele mencionou os animes, Gael percebeu a sua confusão e brincando resolveu entrar no personagem. - Tipo assim oh… Olhos dracônicos da visão verdadeira! 

[MENSAGEM DO SISTEMA]

HABILIDADE: OLHOS DRACÔNICOS DA VISÃO VERDADEIRA ATIVADA!

A brincadeira rendeu frutos inesperados. O silêncio de Fyrvax não foi resultado de uma confusão causada pela informação desconhecida dada por Gael, mas sim pela possibilidade dessa habilidade ser ativada caso seu nome fosse proclamado dessa forma. Os conceitos que regem a magia nos humanos é um total mistério para Fyrvax, e provavelmente para qualquer um que tente estudá-lo. Visto que dentre todas a raça humana é a única raça dotada de tanto avanço intelectual, social e tecnológico dentro de toda a criação que não teve acesso a mana. De certa forma é quase impossível prever como a mana se manifesta na existência única que os humanos são. Fyrvax esteve observando Gael durante as últimas semanas e pelo pouco que observou notou um individualismo sistemático em todos os humanos. Um individualismo que com toda certeza influenciará todo o uso de magia na criação. A experiência foi como cair em um sonho alucinado. Assim que falou o nome de sua habilidade em voz alta ela se ativou tão rápido quanto poderia se ativar. Em um instante Gael estava enxergando as coisas como sempre fez, embora animado com as novas perspectivas de sua vida e um companheiro tão interessante ele sequer imaginava em que mundo estava entrando. Os olhos dracônicos da visão verdadeira, mesmo que um pouco, lhe mostraram como o dragão Fyrvax enxerga o mundo ao seu redor.

A experiência de ver o mundo com esses olhos pela primeira vez, finalmente o fez realmente acreditar em tudo que lhe estava acontecendo. Os olhos o possibilitaram enxergar o fluxo de mana sendo emitido pelo solo, assim mesmo como Fyr disse. A mana está sendo percebida por Gael como uma fina névoa colorida que estava sendo expelida pela terra até se dissolver na atmosfera estava em todo lugar, e até mesmo em seu corpo. Quando olhos para suas mãos, Gael pode enxergar a mana em seu corpo, assim como também pode enxergar a mana de Fyrvax. A sua aura é como uma fina membrana que lhe cobre o corpo, já a de Fyrvax é como um pilar sólido que se estende até os céus. Além de conseguir ver o fluxo de mana, ele também vê uma ficha de atributos assim como a que ele vê o tempo todo graças ao sistema, porém além do nome, nada é revelado. Seu nível ou qualquer um de seus atributos não é discernível.

Aparentemente sua nova capacidade de enxergar a mana que antes lhe era invisível alterou a sua percepção de alguma forma e ele pode sentir a mana ao seu redor. Talvez seja pela quantidade ridícula ostentada pelo dragão que tenha despertado isso, visto que sua percepção não se estende para as pequenas quantidades expelidas pelo solo. Essa sensação não pode mais ser sentida, sua percepção mágica mencionada anteriormente por Fyr despertou graças ao primeiro uso de sua habilidade e a partir desse momento ela assim como Gael só iriam evoluir.

Fyrvax: A sua habilidade excedeu em muito as minhas expectativas… Aparentemente você recebeu uma magia capaz de mimetizar a habilidade de nossos olhos dracônicos, possivelmente você conseguirá evoluí-los conforme usa. - O dragão está bem próximo de Gael, está verdadeiramente fascinado com a situação.

Gael: Eu tô conseguindo ver a mana que você falou agora… Tá saindo do chão até sumir no céu. Como se o ar estivesse absorvendo a mana… e também… dá pra ver sua ficha de atributos, mas não tem informação nenhuma além do seu nome.

Fyrvax: Realmente fascinante… A habilidade se adaptou a sua forma de interagir com a mana, incorporando o sistema que você usa nela mesma. - O dragão se vira para as pessoas que esperam no ponto de ônibus. Alguns olham para Gael de forma preocupada, afinal ele está falando sozinho desde que entrou na vista deles. - Já que a mana quantificou sua existência em pontos para seu melhor entendimento , formando assim o sistema que mencionou antes, essa sua habilidade é capaz de quantificar a existência dos outros… Vamos… chegue perto daqueles outros humanos e me diga como você os enxerga.

Gael: Mas eu não consigo ver os seus… Será que vou conseguir enxergar os deles… E outra coisa também… Eu não vou poder ficar conversando com você se estiver perto deles…

Fyrvax: Não me compare com esses humanos. Tenho uma quantidade infinita de mana se comparada a sua espécie, A mana que escolho não reprimir forma um escudo contra seus olhos dracônicos destreinados.

Gael: Peraí, você tá reprimindo a sua mana?! - O pilar de aura que se estende até os céus é apenas uma fração da real mana de Fyrvax, Claro que Gael não entende os reais usos da mana, mas isso é impressionante de qualquer maneira. No momento em que acompanhava o avanço animado de Fyr, Gael sentiu como se algo estivesse em seu rosto e decidiu ver melhor. Com seu celular ele viu quais eram os outros efeitos que os olhos dracônicos causavam em seu corpo. Não somente lhe permitiam ver os atributos dos outros e o fluxo de mana, como também criou um certo padrão brilhante ao redor dos olhos, um padrão similar as escamas de Fyr, Além disso os seus olhos cor de mel humanos deram lugar para brilhantes olhos vermelhos reptilianos similares aos do dragão que o acompanha. Provavelmente o dragão não entende que tal aparência causaria certa comoção indesejada no meio de humanos. Por sorte a habilidade está próxima de terminar seu efeito, da distância que estão gael já consegue ver os atributos das outras pessoas sem que ninguém veja sua aparência.

"Diga-me o que vê. No meio dos outros humanos nos comunicaremos por meio da minha telepatia." - A voz de Fyr subitamente invadiu sua mente como na noite em que se conheceram.

"Eu consigo ver os atributos deles.. não passam dos seis pontos em nenhum deles." - A intenção de responder a Fyr o permite conversar com o dragão de forma telepática. Seus outros pensamentos permanecem reservados só para ele.

"Contando que são idosos e mulheres, eu imagino que sua constituição física influencia bastante em sua pontuação. Aproveitando que precisa praticar o uso de seus olhos dracônicos podemos continuar consultando os atributos dos outros humanos… Será importante para minha pesquisa definir como os humanos eram antes da união." - mesmo em telepatia, o ânimo de Fyr é transmitido.

A habilidade cessa sua atividade assim que a mana de Gael se esgota. os cinquenta segundos se passaram rapidamente. E junto ao seu esgotamento de mana, um certo torpor caiu sobre Gael que instantaneamente sentiu sua mente cansada, a sensação é quase a mesma que sente depois de um dia de trabalho. Junto a isso o ônibus finalmente chegou e como de costume estava lotado. Se esgueirando entre os passageiros, Gael procurou Fyr imaginando que ele também daria um jeito de entrar no transporte coletivo até que viu o dragão pairando graciosa e confortavelmente pelo ar enquanto estava espremido entre duas senhoras. O dragão o observava indiferente enquanto deslizava pelas brisas e Gael o inveja de todo o coração. Seu típico mau humor matutino, que estranhamente não começou quando ele acordou se iniciou naquele momento.

A jornada do ônibus foi bem mais curta do que ele esperava, já que ficava quase hipnotizado enquanto via o avançar metódico e rítmico do dragão voando enquanto acompanhava o avanço do transporte coletivo. Uma vez ou outra ele tinha que desviar de carros que vinham na direção contrária, mas o fazia com tanta tranquilidade e graciosidade que logo voltava ao seu ritmo normal de voo. Enquanto se hipnotizava com o dançar aéreo de Fyr Gael inundava sua mente com perguntas que só se multiplicavam à medida que o tempo passava. Quando desceu do ônibus e iniciou a curta caminhada até finalmente chegar na empresa em que trabalha, Gael já tinha formulado algumas perguntas para o dragão.

Gael: Tem alguma ideia do porque eu consegui usar esses olhos só falando o nome da habilidade?! Achei que ia ser bem mais complicado que isso… - Os passos de Gael são mais curtos que comumente são, ele quer aproveitar ao máximo o tempo sozinho com Fyr.

Fyrvax: A magia pode ser acessada de vários meios diferentes. O nome tem bastante poder quando se trata de magia, a conjuração verbal é o inicio da prática. - O dragão apresenta certa satisfação sempre que explica algo. - Claro que só conheço os fundamentos da magia teoricamente, o uso da magia por aqueles de minha espécie são englobados em nossas habilidades… assim como seus olhos dracônicos. Por isso foi uma surpresa para mim que sua magia se manifestasse desse jeito. O jeito ao qual faz uso da magia é mais similar ao nosso do que qualquer outra criatura humanoide que já estudei…

Gael: Mas ainda não dá pra ter certeza… - Fyrvax permanece em silêncio esperando a conclusão. - Como você disse antes, a única fonte de informação que você tem até o momento sou eu. Com isso não dá pra ter certeza se todo humano é assim ou se sou uma exceção.

Fyrvax: Você pensa como um pesquisador! - Elogia Fyrvax realmente encantado com a sagacidade de Gael. - De fato terei de esperar até que os outros abençoados ou usuários de mana despertem para ter mais material de estudo. Fico profundamente satisfeito com a sua atenção a minhas palavras. Toda informação que pudermos coletar também lhe será de grande ajuda durante sua jornada com abençoado.

Gael: Falando em abençoado e essas coisas, o sistema me deu uma classe… uma classe de guardião… Isso quer dizer alguma coisa específica? - Gael analisa sua ficha de atributos enquanto caminha.

Fyrvax: Os guardiões são uma das existências que comportam a bênção de deuses. Porém só há registro de guardiões durante o período de união de mundos, depois deles os heróis e arautos assumem como regentes da vontade divina em seus respectivos mundos.

Gael: Meu nome também não está aparecendo na ficha… Será que tem alguma coisa errada?!

Fyrvax: Acredito que o sistema não tenha identificado a sua intenção de escolher um nome… pelos seus relatos e ações a interação com o que você chama de sistema são bem intuitivas. Talvez se manifeste sua intenção de escolher um nome, ele permita essa ação. - O dragão está se esforçando ao máximo para entender como essa nova manifestação da mana funciona. Seu interesse nas funcionalidades e peculiaridades do sistema são genuínas. 

[MENSAGEM DO SISTEMA]

QUAL SEU NOME, GUARDIÃO?

Gael: E eu escolho qualquer nome? - Como Fyrvax disse sua intenção abriu uma janela de interação. 

Fyrvax: É de comum cultura através da criação que se escolha o próprio nome. Se não estiver satisfeito com o nome que seus progenitores lhe deram não vejo hora melhor para escolher um novo… Afinal adquirir uma benção de um deus dragão e ser agraciado com o dom da mana pode ter uma importância igual ao seu nascimento. 

Gael: Não é questão de estar insatisfeito ou não… Nunca parei pra pensar nisso na realidade… Eu gosto do meu nome no geral, mas acho que não tem problema em escolher um nome de guardião, né ?! 

Fyrvax: Como disse, acredito que não haverá hora melhor para escolher. - O nome é algo muito importante tanto na cultura dos dragões como no uso da magia, e o dragão reconhece a importância que escolher seu próprio nome teria na mentalidade de Gael.

 "Ele está lidando inesperadamente bem com essas mudanças em sua forma de vida. Muito melhor do que os relatos que tive dos outros guias, mas tudo isso pode ser demais para sua mente fraca assimilar se não for muito bem definido. Seu nome de guardião pode simbolizar uma barreira entre o mundo que conhece e o que vai passar a descobrir agora. É de extrema importância que sua mente aguente firme para continuarmos minha pesquisa, fui realmente abençoado por receber a tarefa de guiar um abençoado tão complacente." - Pensou o dragão enquanto observava em silêncio, Gael contemplativo sobre qual nome escolher.

 Gael: Acho que já sei… Se for pra escolher um nome de guardião… Acho que vai ser Reilivre. - Uma lembrança antiga corta sua mente enquanto ele diz isso em voz alta. Fyrvax é o primeiro a ouvir essa palavra de sua boca, embora já tenha pensado nisso antes ele nunca externou isso.

Fyrvax: Parece um nome razoável para um guardião. Tem algum motivo para escolhê-lo?

Gael: Tenho, mas acho que não é muito importante… Vem de uma coisa que aconteceu comigo há muito tempo… Quase não tem relevância, mas ainda é importante pra mim. Acho que vai servir pra me lembrar do que eu sou … independente do que vai acontecer comigo… - Os olhos de Gael mostram certa nostalgia enquanto fala.

Fyrvax: Entendo… Guardião Reilivre. Realmente parece um nome apropriado.

Os dois chegaram juntos ao local de trabalho de Gael antes mesmo de que percebessem e rapidamente Gael foi engolido pela rotina de suas tarefas na empresa. Fyrvax compassivamente permaneceu em silêncio todo o momento por dois motivos: para não incomodar Gael em seu horário de trabalho e também pelo fato de que a rotina, interações e individualidades dos humanos são únicas em toda a criação. Não somente os abençoados com a mana, mas todo e qualquer humano é uma fonte de pesquisa interessante e empolgante.

Qualquer dragão tem um tempo médio de vida inconcebivelmente grande para qualquer humano sequer compreender. Nos mundos em que habitam eles testemunham o passar de eras inteiras sem nem serem afetados pelas mudanças que atingem todos os outros. Os dragões da espécie de Fyrvax são uns dos mais raros e únicos dentre toda essa raça. Já que na maioria das situações eles são praticamente intocáveis, eles viajam por todo o cosmo estudando as formas de vida que habitam a criação e depois reportam tudo que descobriram ao primeiro de sua espécie, o dragão sábio que detém todo o conhecimento de sua espécie. Graças a um acordo feito com o deus dragão da liberdade Forstvax, as crias do dragão sábio são enviadas como guias para os abençoados por qualquer deus dragão. Graças a isso os abençoados recebem ajuda e o dragão sábio recebe conhecimento. Isso só é possível devido a raridade na qual um abençoado por qualquer deus dragão é escolhido, visto que as crias do dragão sábio são igualmente raras.

Embora Fyrvax tenha ficado quieto, sua simples presença era o suficiente para frustrar qualquer tentativa de concentração. Por volta do meio-dia, Gael recebeu mais duas mensagens do sistema, algo completamente diferente do que recebeu até o momento. Pela primeira vez, o sistema se comunicou com ele de forma a lhe dar instruções de algo. 

[MENSAGEM DO SISTEMA]

DUAS NOVAS MISSÕES DISPONÍVEIS ! 

MISSÃO: PREPARE SE PARA A UNIÃO

Torne-se forte para ajudar seu mundo durante o processo de união. A união se iniciará automaticamente em 8458 horas, 48 minutos e 17 segundos.

MISSÃO DIÁRIA: TORNANDO-SE FORTE

Para preparar o corpo e mente do guardião, o sistema formulou uma série de exercícios para ajudar o guardião a manter seu corpo e mente sãos e torná-lo forte.

Flexões 0/100

Abdominais 0/100

Agachamentos 0/100

Corrida 0/10 km

Recompensas:

3 pontos de atributo distribuíveis

Caixa de recompensas aleatória básica

Junto à presença de Fyr, as missões repentinas tiraram o que sobrava da concentração de Gael ao longo do dia. Embora tenha deixado o dragão apenas observando as coisas e não mencionado nada sobre as novas mensagens do sistema, sua mente não parava de pensar no que estava por vir. Tudo parecia um sonho maluco por qualquer perspectiva, mas tudo estava realmente acontecendo de forma inegável. O dragão, os olhos, a magia e o sistema eram inegáveis situações reais que não podiam ser ignoradas de forma nenhuma. Parando pra pensar um pouco, sem envolver Fyr ou qualquer outro Gael percebe inteiramente que sua vida nunca mais seria como era antes, talvez essa benção que inesperadamente recebeu seja o que lhe tiraria da insignificância e do conformismo que ele já tinha aceitado há alguns anos. O final do expediente demorou a chegar. As horas passaram de forma lenta e vagarosa até que finalmente Gael se encontrava a caminhar novamente com Fyrvax voando ao seu lado. 

No caminho de volta Gael compartilhou as novas informações que recebeu, incluindo suas missões diárias e o tempo que falta para a união de fato começar. Fyrvax ouviu atentamente e até manifestou seu descontentamento sobre a quantidade de tempo que eles têm até a união começar. Após as rotineiras duas horas de viagem de volta para casa, Gael já exausto teve que ir por insistência do dragão para completar a sua missão diária. Por sorte próximo ao conglomerado de apartamentos em que Gael mora existe uma via de corrida e uma praça onde idosos gastam seu tempo em aparelhos de ginástica concedidos pela prefeitura. 

Gael: Olha Fyr, já tem um tempo que eu não faço nada disso. Da última vez que eu deitei para tentar fazer uma abdominal eu dormi e acordei duas horas depois todo suado. 

Fyrvax: Reconheço a sua falta de força física e resistência, mas a tarefa à qual você foi incumbido deve ser concluída. Isso é uma ferramenta que o seu sistema lhe deu para se fortalecer sem se colocar em risco. Devemos explorar todas as características desse sistema… Comece a correr. - O dragão o empurrou, sua força física ainda que segundo ele seja quase nula é capaz de subjugar Gael completamente.

Gael, um jovem de vinte e três anos não dotado de nenhuma proeza física excepcional e sem nenhum costume de realizar qualquer atividade física passou por um dos momentos mais humilhantes de sua vida, naquele dia. Nos primeiros duzentos metros da corrida ele vomitou tudo que tinha em seu estômago. Demorou quase duas horas para concluir os dez quilômetros que sua missão diária solicitava. Quase chorou diversas vezes enquanto era obrigado por Fyrvax a concluir suas repetições de flexões, abdominais e agachamentos. Após uma madrugada cheia de surpresas, um dia cansativo de trabalho e uma jornada de volta para casa extenuante, ele demorou mais de quatro horas para concluir sua grade de exercícios. Quando retornou a seu apartamento já passava das onze horas da noite.

Fyrvax: Poderemos nos deliciar agora com mais uma daquelas refeições que me serviu durante a manhã. - O dragão parece ainda mais empolgado do que quando recebe novas informações, ou explica coisas.

Gael: Eu não tô com fome, tô enjoado e meu braços estão ardendo. - O jovem se direciona ao banheiro para tomar um banho, enquanto o dragão o segue despudoradamente. Gael não tem força física ou mental para repreendê-lo.

Fyrvax: Então acredito que apenas a minha refeição deve ser preparada. Deve descansar bem para continuarmos amanhã.

O dragão espera pacientemente até que sua refeição esteja pronta. Gael completamente destruído pelo dia exaustivo não consegue discutir e sede a fome do dragão. Após cozinhar o que era pra ser a quantidade de carne da semana inteira para satisfazer o apetite voraz do dragão ele não teve força e nem vontade de sequer fumar seu cigarro noturno diário. Caiu no sono assim que pousou sua cabeça no travesseiro. Aquela noite foi tranquila, não teve nenhum sonho ou acordou durante suas poucas horas de sono e a sexta feira que se seguiu sempre é um dia menos insuportável que os outros. Quando se levantou todas as dores musculares de seu corpo tinham sumido e estava em plena forma, além de ter recebido as notificações do sistema o recompensando pela conclusão de uma missão diária.

[MENSAGEM DO SISTEMA]

CONCLUSÃO DE MISSÃO DIÁRIA REALIZADA!

AS SEGUINTES RECOMPENSAS SERÃO ADICIONADAS A POSSE DO GUARDIÃO. 

3 pontos de atributos distribuíveis

caixa de recompensas aleatória básica 

Após duas semanas Gael de conclusão metódica de missões diárias e uso constante do sistema, tanto ele quanto Fyrvax obtiveram um conhecimento razoável sobre as funcionalidades do sistema. Embora a abordagem de entendimento de Fyrvax seja mais metódica , Gael só conseguiu interagir de forma efetiva com o sistema o encarando como um dos poucos jogos de RPG que jogou durante sua vida. Segundo suas especulações, o sistema foi criado para que os humanos pudessem interagir com ele da forma mais simples possível, então a abordagem analítica de Fyrvax junto ao raciocínio rápido de Gael permitiram que eles conseguissem descobrir suas funções. Como Fyrvax disse, a magia verbal é um dos meios de domínio da mana mais simples descoberto por aqueles agraciados com o dom da mana e o sistema funciona principalmente dessa forma, mas Gael descobriu que as interfaces que o sistema mostra podem ser interligadas com comandos gestuais como o toque.

Gael distribuía seus pontos de atributo diariamente, sempre notando a diferença gritante entre a conclusão de uma missão diária e outra, focando principalmente em seu atributo de agilidade que também aumentava seu atributo de vigor. ele nessas duas semanas conseguiu evoluir fisicamente de forma extraordinária. Atingindo trinta pontos em agilidade e vinte pontos em força ele já tinha ultrapassado a condição de um humano normal. Durante essas duas semanas que passaram inteiramente dedicadas à sua evolução do domínio do sistema, Gael usou incessantemente os seus olhos draconianos da visão verdadeira. Mesmo durante o trabalho ele os utilizava assim que sua quantidade de mana permitisse, analisando tudo e todos que passavam em seu caminho. Em um determinado dia, Gael propôs uma experiência para ambos. Juntos eles visitaram várias academias e ginásios com o objetivo de analisar as pessoas que frequentavam esses tipos de lugares para que pudessem determinar uma pontuação média de atributos para os humanos, presumindo é claro que o sistema funcionaria dessa forma para todos.

O uso da habilidade de inventário também foi por Gael. Retirar e guardar itens dentro desse subespaço criado pela habilidade podia ser realizada livremente desde que o item em questão pudesse ser carregado por seu usuário, além disso tudo a habilidade não consumia mana nenhuma, o que Fyrvax descrevia sempre como um presente dos deuses. As caixas de recompensa aleatória também eram itens extremamente curiosos, após serem abertas elas se liberam itens mágicos, principalmente poções e elixires de recuperação, para Fyrvax que conhece a origem desses itens fica abismado com a conveniência desse sistema. Os dois juntos ficam cada vez mais maravilhados por suas interações com o sistema.

É dia 25 de março, um sábado após uma semana de trabalho desimportante e um acontecimento realmente único. De sua caixa de recompensas aleatórias do dia ele recebeu um item fora do padrão anterior, não era nenhum tipo de poção ou elixir, mas sim uma espécie de chave. Uma chave completamente embebida em mana. Sua percepção ao longo dessas duas semanas progrediu de forma satisfatória. Sob a instrução de Fyrvax, Gael conseguiu expandir sua percepção mágica até mesmo quando não utilizava de seus olhos dracônicos, algo que segundo o seu dragão guia e instrutor seria um processo natural, visto que o uso da habilidade apenas abriu sua capacidade de percepção. É uma quantidade enorme de mana, claro que não é nada comparado a reserva suprimida de Fyrvax, mas ainda assim é impressionante.

Fyrvax: Tem uma magia de transporte imbuída nessa chave. - Diz Fyr, enquanto devora uma bacia de salsichas assadas. - Qual a descrição desse objeto?

Gael: hum… Chave de portal para covil atroz. Categoria D. A descrição é… Chave de portal deve ser utilizada na estação de ouro velho para que guardião inicie uma missão de invasão… - Gael analisa a chave em sua mão enquanto fuma um cigarro, inesperadamente o seu primeiro da semana. - Já que a missão diária já tá concluída a gente podia dar um pulinho lá na estação pra ver o que é isso.

Fyrvax: Provavelmente é uma tarefa divina. - Fyrvax lambe a bacia.

Gael: Tipo uma Quest?

Fyrvax: Não sei do que se trata isso, mas tarefas divinas são trabalhos dados pelos deuses para testar seus campeões.

Gael: Então esse tal de Forstvax tá me dando um trabalho… Sabia que esse negócio de benção não ia ser de graça.

Fyrvax: Não acredito que essa tarefa tenha vindo dele. Na sua posição como guardião em preparação para a união, você deve receber trabalhos de quase qualquer tipo de deus. Apenas arautos respondem somente a trabalhos dos deuses que os abençoaram…

Gael: entendi… então?! Anima ir?!

Fyrvax: Acompanhar um guardião em uma tarefa divina certamente será uma ótima fonte de informação… - Fyrvax aprendeu a lavar as louças nessas duas semanas, sempre que Gael cozinhava para ele, o dragão ficou encarregado de limpar a sujeira. Algo que ele sempre fazia de bom grado desde que estivesse de barriga cheia. - Mas devo avisar que não posso contribuir em nada caso enfrente alguma dificuldade.

Gael: Ok… vou manter isso em mente.

Os dois partem juntos para a estação de ouro velho. A única estação ferroviária da cidade que funciona quase vinte e quatro horas por dia. O lugar já viu dias melhores, os bancos estão depredados e pichações se espalham por todo e qualquer muro. Assim que ambos adentram o lugar Gael já consegue detectar certo acúmulo irregular de mana. Durante essas últimas semanas ele se habituou bem com a regular emissão de mana do solo e consegue notar mesmo que de forma dificultosa qualquer súbito agrupamento irregular de mana. Sua concentração é botada em teste toda vez que tem que realizar essa busca. Em seu nível atual de mana e experiência ele não consegue manter um estado de busca de mana por mais que trinta minutos seguidos. Seguindo as instruções de Fyr ele usa sempre que está com a mente minimamente tranquila para prática.

A fonte inesperada de mana vem de uma área particularmente mais danificada do que o resto da estação. É no subsolo e bem próximo a área dos nojentos banheiros aparentemente abandonados da estação. Ao descer as escadas ele consegue sentir a mana acumulada cada vez melhor, oque o compele a avançar mais rápido. Ao ficar de frente para uma porta fechada, Gael retira a chave que recebeu de seu inventário e com uma mínima aplicação de mana, uma reação imediata aconteceu. Assim que conseguiu fazer suas missões diárias sem quase morrer, Fyr iniciou extenuantes aulas sobre manipulação de mana, oque realmente ajudou, visto que agora ele consegue utilizar de seus olhos dracônicos sem a necessidade de comando verbal. Após a chave se desfazer em poeira metálica em sua mão ela foi absorvida pela porta fechada que instantaneamente começou a emitir uma luz de cor clara.

Ambos, Gael e Fyrvax foram engolidos por essa luz e juntos eles se sentiram arrastados violentamente por uma grande distância. Instintivamente Gael fechou os olhos e quando os abriu ele já não reconhecia o lugar onde estava. Nenhum de seus sentidos parecia reconhecer aquele lugar. O ambiente é similar há uma caverna úmida e suja, de longe ele consegue ouvir grunhidos e uivos que se espalham por todo lugar impossibilitando saber de onde o barulho está vindo. O cheiro é horrível, o fedor de carne podre e fezes se mistura em um odor inebriante de revirar o estômago. E acima de tudo, existe mana impregnada em toda parte. Se Gael e fyr estão em algum lugar, esse lugar não é mais o planeta terra.

Olá possíveis leitores! Devido a um erro de planejamento de minha parte acabei escrevendo vários capítulos dessa obra em outra plataforma. Ao migrar para a inkstone acabei me deparando com o limite de palavras e caracteres por capítulo, o que me levou a ter de dividir alguns capítulos em duas partes. Espero que isso não atrapalhe sua experiência ao ler Sekai Union e informo que essa situação só irá se repetir até o segundo capítulo do segundo volume, pois não quero diminuir a quantidade de informações que adicionei em cada parte, já que isso influenciará diretamente na maneira como essa história será contada. Peço a compreensão de todos e agradeço a atenção.

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