A Companhia, Parte 1

*** Ponto de vista aleatório de um funcionário da empresa 'Evo-Gaming' ***

Havia sido um dia normal na HQ da Evo-Gaming, ou 'EG' como as pessoas aqui chamavam. Dan era gerente de segurança de tecnologia para a EG e vinha trabalhando na nova cápsula de jogos há algum tempo.

A cápsula deveria ser a principal tecnologia para 'Nova Éden' desde o início, mas por causa de alguns pequenos problemas de segurança, eles adiaram o lançamento.

A empresa, não querendo adiar todo o lançamento, havia ordenado que os técnicos inventassem algo para permitir o lançamento do jogo na data prevista, de qualquer maneira.

Foi aí que eles surgiram com os capacetes de RV. Ele tinha a mesma tecnologia básica da cápsula, mas com menos parâmetros.

O capacete ainda permitia as conexões sinápticas e congelamento da função motora, mas não fazia mais nada. Apenas conectava as pessoas ao jogo.

Para a equipe técnica, isso era apenas uma solução temporária, e os repugnava quão de baixa qualidade era o produto.

Mas ninguém queria perder o emprego, então eles entregaram o trabalho para os chefões e voltaram ao seu projeto principal.

A cápsula fazia muito mais. Não apenas se conectava ao cérebro, mas também o monitorava.

Ela também poderia estimular o resto do corpo de dentro da cápsula, para fazer os usuários sentirem mais enquanto estavam dentro do jogo.

Claro, isso vinha com uma série de riscos. As informações trocadas entre o corpo no jogo e o corpo real tinham que ser restritas.

O alinhamento mental tinha que ser mantido perfeito.

A equipe técnica continuava aprimorando o programa para que essas questões fossem resolvidas, mas o lançamento do jogo já havia acontecido.

A maior parte da equipe estava triste com isso, uma vez que seu projeto favorito não foi utilizado desde o início, e isso mancharia a reputação deles.

Só mantinham a moral alta quando pensavam em como ele ainda acabaria sendo a forma principal de jogar em breve.

Ainda havia muitas semanas de ajustes e correções pela frente, mas sabiam que, com tempo, poderiam entregar.

Dan era o gerente principal dos testes de segurança. Todo o seu trabalho era garantir que o produto estivesse de acordo com as normas de segurança antes de chegar às lojas.

Ele era o que realizava todas as simulações imagináveis no programa para encontrar erros. Ele era o que pegava os glitches que poderiam colocar os usuários em perigo antes que realmente acontecessem.

Se o programa que gerencia o feedback em tempo real não estivesse à altura, muitos acidentes poderiam acontecer.

Quando um jogador tinha seu braço cortado no jogo, se o programa de feedback não limitasse a transferência de dor, o jogador poderia acabar danificando severamente o sistema nervoso do braço.

O cérebro sinalizaria ao corpo que o braço estava perdido, possivelmente negando qualquer sensação a ele a longo prazo. Esse era exatamente o tipo de erro que ele tinha a tarefa de capturar.

E se alguém fosse possuído por um demônio ou espírito no jogo? Isso deixaria danos cerebrais permanentes no jogador?

Ele desenvolveria um transtorno de personalidade? Quem sabe?

Portanto, o trabalho de Dan era rodar qualquer cenário que sua mente pudesse imaginar através de uma simulação e ver se o programa fazia seu trabalho corretamente.

Ele ainda estava pegando erros desse tipo diariamente, então ele sabia que não lançariam a cápsula tão cedo.

Durante a primeira semana de lançamento, Dan se mantinha atualizado sobre como o jogo estava sendo recebido pelos jogadores. Ele frequentemente consultava os fóruns, garantindo que o capacete que ele havia aprovado não causasse acidentes.

Quando descobriu que alguns jogadores não estavam se desconectando, causando a ativação do protocolo de segurança, ele ficou satisfeito por seu trabalho estar funcionando corretamente. Ele foi o que propôs esse limite rigoroso, para assegurar a segurança dos usuários.

No quinto dia após o lançamento, enquanto ele rodava uma milionésima simulação para a cápsula, seu telefone tocou.

Era o supervisor do projeto. O homem pediu que ele comparecesse à reunião do conselho no quadragésimo sexto andar às nove da manhã em ponto no dia seguinte.

Quando ele tentou se esquivar, dizendo que ainda tinha muito trabalho a fazer, seu supervisor insistiu fortemente. Ele até ameaçou demiti-lo e acabar com sua carreira se ele não estivesse lá.

Dan concordou relutantemente e desligou. Ele detestava esse tipo de reunião mais do que tudo.

Homens ricos e arrogantes, impondo suas ideias e soluções sobre os verdadeiros gênios de um projeto. Agindo como se soubessem o que é melhor para a tecnologia que os verdadeiros gênios produziram.

Esses homens eram o que Dan mais temia. Ele esteve em muitas dessas reuniões ao longo de sua carreira, a maioria delas terminando em ele ter que lançar alguma tecnologia com a qual não estava totalmente satisfeito.

Claro, ele sempre garantia que a tecnologia estivesse segura para uso, mas normalmente ficavam alguns pequenos problemas e efeitos colaterais a longo prazo. Esses eram os que levavam mais tempo para serem encontrados e corrigidos.

Na manhã seguinte, ele vestiu um terno e foi para o trabalho mais cedo. Queria terminar essa reunião o mais rápido possível para voltar ao seu verdadeiro trabalho.

Essas reuniões horríveis não eram o seu chá favorito. Ele as odiava porque tinha que ser gentil e educado com pessoas que não sabiam de nada, apenas porque elas têm dinheiro e poder.

Se dependesse dele, ele nem faria essas reuniões. Na opinião dele, eram uma perda de tempo.

Durante seus devaneios, ele se dirigiu ao escritório. Em vez de pegar o elevador para o laboratório, ele foi para cima, para o andar da administração.

Ele chegou ao quadragésimo sexto andar e esperou do lado de fora da sala de reunião. Seria de má educação ele ser o primeiro a sentar-se na sala, já que ele era apenas um funcionário.

Ele olhou para o seu relógio, e ainda estava quinze minutos adiantado. Então ele apenas ficou lá, olhando as paredes.

Pouco antes das nove horas, os gerentes dos departamentos começaram a chegar, um por um. Mas quando ele pensou que todos estavam lá, mais pessoas continuaram entrando.

Alguns deles ele reconheceu, os rostos eram bastante famosos. Essas pessoas eram todas influentes no país.

Mas eram ricas. Podres de ricas!

Ele presumiu que fossem os investidores do jogo, e provavelmente também acionistas majoritários e minoritários da Evo-Gaming.

Seu nervosismo atingiu um nível ainda mais alto enquanto ele engolia sua saliva seca.

*Glup*

Esta reunião acabara de se tornar muito mais séria do que ele imaginava.