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Expulso de casa

— Mas que pouca vergonha é essa, Gabriel?

A voz estridente do Senhor Jones assustara Theodore. Diante de seus olhos um deja vu acontecia, provando experienciar uma situação semelhante a de um ano atrás. Estava em um quarto com um alfa, o beijando e sendo pego pelos pais dele. Será que as consequências também seriam as mesmas?

Tendo aquele homem encará-lo furiosamente causara náuseas no ômega, que se agarrara no braço do namorado. O que deveria fazer naquele momento? Pedir desculpas? Deixar que Gabriel resolvesse a situação? Não fazia ideia do que o Senhor Jones pensaria de si naquela primeira impressão. Seu comportamento fazia o senhor espreitar os olhos para si, não parecendo muito contente em ver seu filho aos beijos com outro rapaz.

— Quem é esse moleque? — Rosnava o pai, respirando fundo aspirando aquele cheiro adocicado, franzindo o nariz logo em seguida. — Um ômega? Ousa seduzir o meu filho debaixo do meu teto?

— Pai, o Theo não me seduziu.

— Eu deveria ter imaginado quando começou com aquela ladainha de menino doce que estava passando por bullying. Ele já tinha colocado as garras em cima de você. — Aproximando do casal, o Senhor Jones segurara o pulso do ômega o puxando pra se levantar e empurrá-lo para a porta. — Saia já da minha casa!

Levantando-se da cama também, Gabriel fora até o namorado libertá-lo do aperto em seu pulso. Fora necessária uma boa força para que o alfa conseguisse obrigar seu pai a soltar Theodore. Assim que liberto, o ômega fora abraçado pela mãe de Gabriel, ambos protegidos pelas costas do alfa.

— Solta ele! O que pensa que está fazendo?

— Eu que pergunto! Meu filho beijando outro moleque? Um ômega ainda por cima?

— É o meu namorado, minha alma gêmea!

— Alma gêmea? Você nem tem idade pra saber o que isso significa, Gabriel. Por acaso está passando pela fase rebelde agora?

— Querido vamos nos acalmar um pouco, os vizinhos podem escutar esse berreiro e vão pensar que precisam chamar a polícia. — Pedia a mulher ainda abraçada a Theodore afagando suas costas.

— Quieta mulher. E solte já esse sujeito imundo!

Senhor Jones dera um passo em direção de Theodore para afastá-lo da esposa, mas fora peitado pelo filho que o impedia de se aproximar. O olhar frio e a aura possessiva que um alfa tinha quando seu ômega era tocado se fazia presente ameaçando o seu inimigo. Mesmo que o inimigo em questão fosse o próprio pai. Gabriel jamais deixara aquele lado ser visto por seus progenitores, no entanto aquela situação como um todo era cheia de novidades.

Um alfa não só protegeria o seu ômega, como também o seu filhote. Era parte do instinto natural, o que tornava aquela classe a mais forte.

— Não vai tocar no meu ômega. — Rosnara Gabriel.

Um tapa no rosto Gabriel levara. Theodore sufocava o grito arregalando os olhos horrorizado em presenciar aquele tipo de cena mais uma vez.

— Sou seu pai. Ousa me ameaçar?

Passando por Gabriel, o Senhor Jones conseguira se aproximar de Theodore o segurando pelo pulso e o empurrando para fora do quarto. O ômega não tirava os olhos de seu namorado, que parecia ainda surpreso pelo tapa recebido.

— Gabriel! — Chamava o loiro em desespero.

— Não ouse dizer o nome do meu filho com essa boca imunda!

— Querido! Querido! Cuidado, por favor! — Intercedia a mulher tentando impedir Theodore de ser empurrado quando já estavam próximos das escadas — Tome cuidado, ele está grávido!

Não somente o Senhor Jones arregalava os olhos para a mulher ômega, como o próprio Theodore. Ela sabia? Gabriel havia contado então? Por um instante ele sentira os olhos castanhos do pai do alfa sobre si, processando a informação cuidadosamente.

Mas aquilo não chegava a ser importante naquele momento, pois no mesmo instante o homem soltara Theodore e esfregara as mãos na calça jeans como se limpassem de sujeira. Gabriel surgira naquele momento, segurando a mão do ômega e puxando para descerem as escadas.

Incapaz de enxergar os olhos do alfa, Theodore não sabia o que dizer. Só apertava a mão de Gabriel sentindo a sua própria tremer.

O que poderia fazer?

O que deveria fazer para ajudar o seu alfa?

— Vá pra casa, Theo — Sussurrava Gabriel indo em direção da porta — Assim que eu resolver as coisas por aqui, irei te ver.

— Espera, Gabriel. — Sussurrava o ômega parando de andar, tendo o alfa virando-se para olhá-lo um tanto quanto surpreso — Por que tentar resolver as coisas sozinho?

— Não quero que meu pai te machuque.

Olhando em direção das escadas onde os pais de Gabriel observavam atentamente os dois jovens, Theodore suspirou pesado.

— Não é a primeira vez que alguém é preconceituoso comigo por eu ser um ômega. Também fui enxotado da casa do Jake daquela vez, e fui covarde em me esconder com a desculpa de esperar Jake vir me ver. — Olhando para Gabriel, Theodore sorria levemente. — No final das contas permaneci esperando mesmo quando ele já tinha ido embora.

A mera menção daquele nome causara uma onda de arrepios em Gabriel, mas ele não dissera uma palavra sequer. Não era um momento apropriado para se sentir enciumado.

— Eu só não quero te machuquem. Você está grávido, é o nosso filhote.

— Mais um motivo pra ficar. Estamos juntos nessa, não é?

— Onde foi que eu errei? — Dizia o Senhor Jones descendo as escadas lentamente. — O meu filho, um alfa, sendo domado por um ômega? O engravidou? Como pôde?

Gabriel suspirava desviando o olhar prestes a perder a paciência. Theodore entrelaçara os dedos ao do alfa respirando fundo, erguendo os ombros ao virar-se para os pais de Gabriel. Mesmo tremendo e enjoado, o ômega criava coragem.

— Qual o problema de ser um ômega? Não é como se eu tivesse feito algo ruim.

— Theo... — Intercedia Gabriel, tendo o ômega pouco se importando com o aviso.

— O senhor não me conhece, não sabe qual a minha índole e já me taxa como alguém sedutor. Nunca ousei ir atrás do Gabriel, mesmo tendo sentimentos tão fortes por ele dentro de mim. Em nenhum momento usei meu cheiro ou qualquer outro artifício para forçar o seu filho a ficar comigo. Ele veio até mim porque quis.

— Meu filho jamais se rebaixaria! Um alfa é quem domina. Um alfa é mais forte que qualquer ômega.

Em passos decididos o senhor Jones aproximava dos dois jovens ameaçadoramente. Estava disposto a discutir desde que fosse capaz em expulsar aquele ômega de sua casa. Mas antes que chegasse perto demais, Gabriel ficara na frente de Theodore impedindo aquele contato.

— Entenda que ele é meu ômega. E não vou deixar nenhum outro alfa tocar nele, mesmo sendo o senhor, pai.

— Foi um erro termos vindo pra cá. Deveríamos ter permanecido na capital e assim você jamais teria se envolvido com esse tipo de gente.

Aquela discussão não teria fim, imaginava Theodore. Provavelmente o pai de Gabriel intercederia na sua relação, e ele ficaria sem o seu namorado.

O maior medo de Theodore estava prestes a acontecer mais uma vez.

Ficaria sem a pessoa que ama.

Sozinho.

Espera, sozinho não. Baixando os olhos para a própria barriga, Theodore se lembrava de em breve sua vida teria mais alguém importante para amar. Ainda estava no processo de aceitação daquela gravidez, tentando compreender como conseguiria dar uma vida para aquele bebê.

"Ser o melhor pai para essa criança", foram as palavras do próprio Gabriel. Ele havia tomado decisões para seguir aquele caminho. Mas e se o Senhor Jones não permitisse? Não deixasse eles fique juntos?

Será que não existia nenhuma maneira de interceder? Algo que mostrasse para os pais do seu namorado que seria perda de tempo tentarem separá-los?

Observando o pescoço de Gabriel, Theodore umedecia os lábios. Estaria tudo bem em ser egoísta uma vez na sua vida? Sempre respeitara as decisões das outras pessoas, deixando de lado o que ele mesmo queria. Um bom garoto ele era, talvez tolo o suficiente por permanecer enraizado no lugar assistindo o que era importante ser perdido graças a sua falta de iniciativa.

Sua alma gêmea não seria afastada de si tão facilmente.

— Por que é tão difícil de aceitar? Não se importa com a minha felicidade?

— Acha que isso tudo é amor que vai durar a vida toda? Logo você vai se cansar, mas estará preso por uma responsabilidade que nem é capaz de lidar. Você é ainda uma criança Gabriel!

— O senhor me enxerga como uma criança! Mas na hora de me empurrar pra filha dos Mckenzie, eu era homem, não é?

— Meça suas palavras!

Passando a língua pelos dentes, Theodore engolira em seco. Ouvir a mera menção de Sadie fora o suficiente para empurrar longe qualquer dúvida que tinha. O pai de Gabriel o tratava como lixo, mas em compensação queria que o filho namorasse Sadie?

Será que ele saberia o que aquela garota já fizera consigo e com seu melhor amigo, que também era um ômega? Levando em consideração a forma como agia naquela discussão, Theodore não se surpreenderia caso Senhor Jones concordasse com a conduta de Sadie.

Quando olhara para o pai do seu namorado, Theodore sentia raiva. Raiva por saber que ele estava disposto a deixar o próprio filho em uma relação tão vazia com outra ômega, seja lá por qual motivo. Raiva por tratá-lo tão rudemente e ter nojo de tocá-lo só por estar grávido.

Abandonar Gabriel?

Nem ferrando!

Aproximando-se de Gabriel e afastando a blusa do alfa, Theodore olhava diretamente para o Senhor Jones.

— Me perdoe, Gabriel.

Quando o Senhor Jones se dera conta do que estava prestes a acontecer, já era tarde demais. Theodore afundara os dentes mordendo abaixo da nuca de Gabriel, tendo o alfa virando a cabeça o olhando surpreso pelo canto dos olhos.

O desejo de se conectar com aquela alma gêmea aflorara como cerejeira no ápice da primavera. Um vínculo pré existente tornava-se quase completo. Theodore sentia em cada músculo, em cada parte do seu corpo uma sensação estranhamente prazerosa surgir. Seu coração acelerava dentro do peito e suas pupilas dilatavam quando a ponta da língua fora passada pelo local da mordida.

— Theo?

Alfa e ômega trocavam olhares quando o Senhor Jones surgira empurrando Theodore porta a fora. Gabriel nem conseguira se mover, a mordida o deixara fraco com tontura ao ponto de cair de joelhos no chão suando frio.

Theodore tentava se desvencilhar para ir perto de Gabriel, mas a força do Senhor Jones parecia ter aumentado subitamente. O alfa mais velho empurrara o ômega para longe e com rispidez, tendo Theodore se batendo no portão e tropeçado ao passar por ele caindo no meio da rua.

Erguendo o rosto quando fora expulso da casa, vira aqueles olhos ferozes mais uma vez sendo direcionados para si.

— Nunca mais apareça na minha casa!

Senhor Jones entrara na casa trancando o portão sem olhar para trás. Theodore mantinha-se jogado ao chão olhando para aquele sobrado ainda surpreso pelo que havia acontecido. Tentando se levantar, sentira suas costas doerem soltando um gemido baixo.

— Theo? Theodore! O que aconteceu?

Virando-se para trás reconhecera Jake saindo do carro vindo correndo em sua direção. O alfa platinado o segurara pelos braços prestes a ajudá-lo a se levantar, mas Theodore soltara um gemido baixo o fazendo ter cuidado em tocar no ômega.

— Você está bem? Está machucado?

Respirando fundo, Theodore concordara com a cabeça.

— Me ajuda a levantar, por favor.

— Claro, claro.

Jake segurara a cintura de Theodore, sentindo a diferença no corpo do ômega logo o olhando de canto. Nada comentara enquanto ajudava o rapaz a ficar em pé.

— Obrigado — Apesar de Jake estar na sua frente, Theodore olhava para as janelas do sobrado tentando encontrar Gabriel, mas sem ver uma sombra sua. — Que merda!

— O que tá rolando, Theo? Por que você estava na rua desse jeito?

— Um grande problema, Jake. Um grande problema. — Fazendo uma careta ao se alongar devido as dores nas costas, o ômega olhava para os dois lados da rua. — Preciso me acalmar primeiro...

— Vamos na banquinha, eu te compro uma água enquanto você me conta o que aconteceu. Pode ser?

Concordando com a cabeça, Theodore deixara o alfa platinado o ajudar a entrar no carro. Sua cabeça passavam várias informações confusas que ele mal saberia como compreendê-las.

Mas uma coisa era certa.

Não desistiria de Gabriel.