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POV's Tourm— 00h44.
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Todos nós temos nossos dias cotidianos. Aqueles dias em que permanecermos na rotina de nossos afazeres, seja por lazer ou trabalho mesmo.
Até mesmo eu tenho essa rotina. Após concluir o colegial, não mudou tanta coisa assim, bem, a única diferença destacável é que agora vivo sozinho em uma casa alugada. Continuo acordando todos os dias as 6h da manhã, faço meu próprio café da manhã, realizado alguns exercícios diários pra não ficar parado o dia todo, vou a faculdade, almoço em uma pequena padaria ao lado, voltou a faculdade, retorno para casa, faço meus deveres e estudos, janto, trabalho na loja de conveniência e, por fim, chego em casa pra tomar banho e dormir.
Alguns dizem que posso acabar me sobrecarregando com tanta coisa, mas, sinceramente, isso realmente não passa do normal. Quando ingressei a essa nova fase da vida, achei que poderia não lidar tão bem assim no início, mas não. Logo no segundo dia, pude me adequar perfeitamente a situação.
Foi seguindo dessa forma durante quatro meses.
E não importa quanto tempo passe, é impossível esquecer o passado... a não ser que alguma coisa MUITO maluca ocorra no presente.
E foi o que aconteceu. Uma coisa MUITO maluca apareceu diante de mim! Quer dizer, uma garota surgiu no lugar de uma esfera de energia viva nos fundos da loja onde trabalho! E agora...!!!
"Eu... a trouxe para casa..."— Eu dizia, pra mim mesmo, sozinho, estando sentado no sofá da minha sala com as mãos na minha cara.
Sim, eu trouxe até minha casa uma garota misteriosa que simplesmente brotou do nada! E o que eu deveria fazer? Deixá-la ali, jogada no chão, no meio do nada, perambulando por aí nua?! Não havia como eu ter coragem e muito ao menos pensar sobre isso naquele momento! Tudo aconteceu tão rápido e de repente! Se... se eu estivesse no lugar dela, não saberia o que fazer. Não teria a menor ideia por onde ir e a quem deveria pedir ajuda.
Lembro do estrago que causou a implosão, não havia sido somente a poeira que foi levantada, mas o concreto do asfalto da rua também. Os postes e algumas das pequenas árvores puxadas pela força, permanecendo inclinadas em seus lugares. Houveram também vidraças quebradas e mais e mais bagunça por onde quer que eu visse.
Se a garota fosse deixada para trás, levaria toda a culpa que não merecia e o que falaria para se defender? Nenhum dos policiais ou até mesmo a própria governo acreditaria!
Então fiz o que fiz! Decidi ajudar ela! Peguei um casaco e também uma capa de chuva bem grossa minha e a vesti pra que possamos sair dali sem levantar a suspeita de que ela... estivesse sem nenhuma veste a mais por baixo. Quer dizer, teve pessoas que estranharam sua aparência, mas com certeza não pensaram nada de indecente! Só devem ter pensado que era uma esquisita.
"Aaahhrr..."— Suspirava me inclinando pra trás, encostando minhas costa no sofá.
Agora, assim que consegui chegar em casa em segurança, ofereci meu banheiro pra tomar um banho e iria buscar alguma roupa confortável que pudesse usar. Mas quando ofereci, apenas recebi dúvidas e confusões pela face dela. Não dava pra ver seus olhos por conta da venda preta que usava, mas ela inclinou a cabeça pro lado claramente perguntando... 'Tomar banho?'.
Sim, por incrível que pareça... ela não sabia o que era exatamente isso. Pensei que era uma brincadeira, mas, após pensar um pouco, notei que não teria como brincar numa situação dessas. Logo, a guiei ao banheiro e expliquei como funcionava o chuveiro, sabonete, shampoo e condicionador. E logo em seguida, recebi uma resposta como... 'Devo fazer isso também?'.
Foi, tipo, muito estranho. Todas as pessoas se lavam, mas ela agia como se não fosse alguém qualquer! Bem, de fato, não é mesmo. Afinal, ela saiu de uma bola de pura energia. Mas... se ela consegue fazer perguntas básicas, como não sabe tomar banho?
"Preciso esfriar a cabeça. Vou preparar alguma coisa pra ela comer."
Levantava do sofá e ia até a cozinha. A garota ainda deve estar tomando banho, consigo escutar o som do chuveiro ainda ligado no corredor ao lado da sala onde eu estava. Talvez se eu fosse rápido, conseguisse terminar antes dela sair. Como já tarde, farei algo leve e que possa ser reconfortante a ela.
Peguei a chaleira do armário e a encho com a água, logo, colocando-a no fogão para ferver. Enquanto esperava, procurei um pacote de chá verde na dispensa. É da minha marca preferida, conhecida por suas propriedades calmantes, então, talvez ela goste, talvez. Pude sentir a suave fragrância do chá começar a preencher a cozinha, deixando até eu mais tranquilo.
Para a comida, acho que vai ser um Onigiri simples. As bolas de arroz são fáceis de fazer e também leveis para o estômago. Assim, pegava uma tigela de arroz cozido, temperava com o sal e moldava o arroz em pequenas bolas triangulares. Não posso esquecer de recheá-los com Umeboshi, que são as ameixas em conserva, e... talvez outras com salmão grelhado desfiado, pra realçar o gosto.
Enquanto trabalhava, minha mente não deixava de lado o som do chuveiro. Minha mente não deixava de lado... quem era aquela mulher? Ela aparentava ter uns 20 a 25 anos, quase a mesma idade que eu... Bem, acho que sou pelo menos um ano mais novo então.
"Acho que a chamarei pelo '-san' então..."— Dizia apenas para mim enquanto desfiava o salmão.
[FIIIIIUUU!]
Ah, a chaleira apitou! Quase sempre levo um susto quando seu som agudo corta o silêncio. Bem, a água estava pronta. Eu desligo o fogão e despejo a água fervente sobre as folhas de chá e, sempre que faço isso, observo com a atenção a água adquirir a suave cor verde, é uma mania minha. O aroma reconfortante do chá com certeza me acalmava.
Nesse momento, assim que preparava as duas xícaras, o som do chuveiro havia parado já faz algum tempo e, quando notei, pude escutar a porta do banheiro se abrindo. Logo, escutei os passos da mulher, se aproximando cada vez mais.
"Deve estar com a barriga vazia, então eu..."— Minhas palavras foram cortadas assim que me virei para trás...— "Q-Que?! M-Mas...!!"— E vi a mulher.
Eu estava surpreso, sim. Sentia meu rosto esquentar, estava corado, sim. Por vergonha, sim. Talvez algo a mais também, sim. E o motivo pra isso, era que a mulher, além de sua venda e a faixa em seu cabelo, estava usando somente uma peça de roupa, a camisa branca que havia separo e entregue a ela.
"O que houve?"— Ela disse, me questionando num tom meio frio, mas calmo.
O problema era justamente ela estar usando somente a minha camisa branca! Ah, meu Deus, agora que notei, eu sou muito mais alto que ela! Minha própria camisa era muito larga pro seu corpo! E o pior! Por causa do tecido da roupa, a luz do cômodo fazia eu ver a silhueta do seu corpo! E... e... era muito sedutor!!!
"E-E-Eh...!!"— Eu me virava rapidamente, dando as costas a ela, enquanto continuava a falar.— "P-Por que está apenas de camisa?! C-Cadê... Cadê o resto?!"
"O resto...?"— Perguntava ainda aparentando estar confusa.— "Se refere a aquelas outras vestes que me entregou lá fora?"
"N-N-Não! Estou perguntando sobre a bermuda! As roupas de baixo!"— Afirmei me virando e apontando aos quadris dela, mas ainda escondendo meu rosto.
"..."
A mulher permaneceu em silêncio por alguns instantes enquanto descia sua cabeça para ver seu estado. Como ela via mesmo estando vendada?! Qual era o sentido nisso?!
"....."— Após mais alguns instantes, levantava a cabeça e afirmava.— "É que essa roupa já é tão larga. Então, deduzi que devia usá-la assim como aquelas lá fora."
"O-O-O QUE?!"
Não estava mais envergonhado, mas sim em choque com essa conclusão! Por acaso ela não se importa em estar seminua?! Na frente de um cara, ainda por cima?! E-Eu, quer dizer, muitas coisas estão passando pela minha cabeça agora! Primeiro, o mais importante, tem uma mulher MUITO gata usando somente a minha camisa! Segundo, estou MUITO preocupado com os conceitos dela! Agora realmente não quero nem imaginar o que aconteceria se eu tivesse a deixada na rua sozinha!
"A-A-Apenas... por favor, senta no sofá..."— Sinceramente, só podia pedir isso a ela, assim não veria o que tem por baixo da roupa.— "J-Já estou terminando por aqui..."
Com meu pedido, ela nem hesitou e caminhou até o sofá, sentando-se de frente a uma mesinha totalmente ereta. Eu estava de costas novamente, mas a encarava pelo reflexo da janela em minha frente. Não tenho como negar, essa mulher é a mais linda que eu já vi. Pensava por muito tempo que não haveria alguém mais bonita que Saori. Pelo visto, estava enganado. O mundo é realmente muito grande.
A cozinha e a sala são praticamente um cômodo só, nenhuma parede os separando. Por isso podia ligar a luz de um que o outro estaria quase iluminado. Assim, seus cabelos brancos também se destacavam na pouca de escuridão que tinha.
Vejo a mulher se ajeitando no sofá e puxando grande parte da roupa para o meio de suas pernas. Ela estava se sentido desconfortável sentando na camisa? Eu preferiria assim já que... o quadril e o traseiro não ficariam expostos... Acho que agora só resta pra mim tentar ignorar.
Agora, notei ela virando a cabeça para mim. Ainda sendo um mistério, estava encarando minhas costas de alguma forma. Será que ela quer perguntar alguma coisa? Bem, provavelmente seria muito incomum encontrar alguém que só quer ajuda sem receber nada em troca. Eu também desconfiaria disso se estivesse no lugar dela...
"Peço confirmação de ID, por favor."— Ela disse, sendo direta, calma e fria.
"...."— Quando ia colocar o chá nas xícaras, eu travei por um instante. Ela... quer o que?
Me viro lentamente para a mulher, que parecia aguardar minha resposta, estando agora verdadeiramente muito confuso.
"Como?"
Agora, era a vez dela que aparentava estar surpresa com algo. Não dava pra ver seus olhos, mas pude notar seus lábios se separando momentaneamente.
"Eu repito, peço a confirmação de ID, por favor!"— Disse levantando um pouco a voz, mas não chegava a ser rude.
Era isso mesmo? Um ID? Será que... seria o meu nome? O jeito dela falar, reparando agora, parecia muito como um militar. Se bem que ainda nem sequer nos apresentamos.
"Hã... Você quer saber o meu nome?"— Perguntei tentando entende-la e forçando um sorriso.— "Bem, eu me chamo Tourm... Tourm Waters."
"....."
Assim que me apresentei, achei que a tinha respondido sua curiosidade, mas não. Invés disso, parecia que foi o oposto. Só vi ela virando a cabeça em direção a mesinha em sua frente e mais nada. Permaneceu ali encarando sem dizer nada a mais.
Será que disse algo errado? Ela, por alguma razão, parece mais... decepcionada? Não consigo entender direito suas ações e muito menos o que poderia estar passando em sua cabeça. Mas vamos com calma.
Primeiro, devo a deixar o mais confortável possível pra ela responder todas as minhas dúvidas!
"Eu preparei isso para você."— Eu disse, tentando ser casual, mas minha voz traía uma leve curiosidade.
Caminhei até a sala trazendo a bandeja com o chá e a comida em mãos. Repousei a comida na mesinha no meio dos dois sofás. Enquanto sentava, arrumava a posição das xícaras e colocava o prato com os onigiris mais próximo de si.
Nesse momento, notei que a moça agiu de maneira estranha. Ela ergueu a cabeça para mim e depois voltou para o prato de maneira lenta e insegura. O que houve? Será que ela não gosta de arroz? Acho isso bem difícil.
"Olha..."— Cosei meu braço de nervosismo, queria tentar convencê-la. "Sei que pode não estar com fome ou sede, então preparei algo bem leve. Deve servir pra ajudar a relaxar. E, se não quer comida, ao menos experimenta o chá. Ajuda a controlar os nervos... haha."
"....."— Permaneceu encarando a comida, mas logo virou a atenção para o chá.
Ela ficou parada por pequenos segundos, mas pareceu demorar tanto pra tomar qualquer ação. Nem sequer falava algo. Logo, meus olhos piscavam de surpresa quando via se inclinar levemente até o prato.
Ela pegou a xícara de chá com cuidado, quase hesitante. Por um momento, apenas olhava para o líquido quente e fumegante. Depois, aproximava de seu nariz e cheirava pra afastar em seguida ainda em sua mão. Assim, depois de mais alguns segundos, levou a xícara aos lábios e tomou um gole. Nossa, desculpem, mas até os lábios dela são bonitos! Tem até uma pequena pinta bem ao lado da boca!
E... nunca vi alguém enrolar tanto pra beber um chá. Seria a primeira vez dela? Mas como seria possível? É normal toda pessoa beber chá, principalmente no Japão. Vivo aqui já faz anos e nunca encontrei um japonês que não bebe chá.
"....!!"— De repente, após tomar um único gole, ela afastou a xicara rapidamente, repousando de volta a mesa com pressa, estando assustada.
"O-O foi? Estava muito quente? Desculpa, devia ter avisado."— Me preocupei levantando as mãos por impulso.
Eu ia até pegar a xícara pra verificar, porém, a mulher acabou a pegando de volta para si.
"Hã...?"— Confuso, apenas a olhava.
A mulher tomou mais um gole, sendo mais devagar do que antes. Ela estava... apreciando o chá? Então gostou? Mesmo com a venda sobre seu rosto, agia como se estivesse muito intrigada e logo pegou um dos onigiris, levando-o à boca com cuidado, pra, finalmente, morder.
Ela mastigava, mastigava, mastigava, parou por uns segundos e voltava a mastigar. Acho que deve ter gostado dos bolinhos então. Só que a cada mordida que ela dava, demorava quase um minuto inteiro pra engolir. Com isso, deu um fim ao primeiro onigiri e tomou o que restava do seu chá alguns momentos depois.
"Estava bom? Faz tempo que não cozinho para alguém. Posso estar um pouco enferrujado..."— A questionei tentando puxar assunto para animá-la.
"...."
Não dizia nada. Após ter comido, parecia ficar pensativa encarando suas mãos vazias, mas seu dedo estava sujo com um pequeno grão de arroz.
Nesse momento, de repente, ela se levantou lentamente do sofá e andou em direção a cozinha ainda em silêncio.
"E-E-Ei, espera!"
Ela simplesmente ignorou meu apelo. Mas a segui por trás tomando uma certa distância. Afinal, o que ela vai fazer? Pensei que havia gostado do que fiz. Será que vai pegar algum tempero ou algo assim? Não. Se fosse, ela mesma poderia ter me pedido. E também não tem como saber onde estaria guardado o sal, o shoyo ou coisa assim.
Na cozinha, assim que chegou, ela abriu as gavetas procurando por algo. Vasculhando e vasculhando sem parar. Eu ainda estava de longe observando e... começando a ficar com medo. Por que? Bem...
[CLINC-CLINC-CLINC!]
É porque estava ouvindo atentamente os talheres tilintarem sem parar. Confesso, que minhas pernas tremiam um pouco, me obrigando a dar um passo para trás. Não... não, não... não me diga que ela...?
Meio segundo depois, o som parava. E no meio segundo seguinte, pude ver pelo reflexo da janela em sua frente, a mulher tirando... UMA FACA DE COZINHA!!!
Não, não, não, não, não, não, não, não!!! Não pode ser!!! E-Ela é... ELA É A YANDERE?!?!? A MESMA YANDERE QUE O DEUS ME DISSE QUE PODERIA ENCONTRAR E QUE ME CASTRARIA?!?!?
Não pode ser!!! É nisso que dá ajudar os outros?!?! Pague com bondade pra receber a desgraça como troco?!?!?! Nãããããããoooooo!!! Minha vida acabooouu...!!! Eu queria fazer tantas coisas ainda!! Se ao menos eu...!!!
[FSSS!]
"....."
"Eh...?"— Meu ataque de desespero parou assim que ouvi.
O som... era de um corte. A mulher cortou algo? Não era pra usar em mim?
Além dela estar de costas, não consigo ver o que fez pelo reflexo da janela. Curioso me aproximo bem devagar, com muito cuidado. Não quero levar um ataque surpresa e ser logo cortado de cara.
Mesmo agora estando logo atrás dela, não houve nenhuma reação. A mulher estava com a cabeça caída para baixo, encarando algo próximo ela. Talvez... entre seus braços?
E então, aproximei mais um pouco e olhei por cima do seu ombro pra... O que?!
"S-Seu braço!"— Acabei levantando a voz, o que fez a mulher se assustar e tremer um pouco.
Por que fiz isso? Simples! Ela havia feito um corte no próprio braço! O corte revelou um fio de seu sangue vermelho escorrendo pela sua pele. A ferida não era grande, mas mesmo assim...! O que tem na cabeça dela?
"Vem cá, senta no sofá! Vou pegar um kit de primeiros socorros!"— Eu falava já arrastando a mulher de volta para o sofá com cuidado.
Após fazê-la sentar e posicionar seu braço numa posição em que o sangue não continuasse saindo, corri para o banheiro e abrir o armário e logo voltava para a sala carregando o kit e uma toalha. Porra! Nunca achei que iria ter que usar isso alguma vez! Minha mãe sempre teve razão, sempre é bom se precaver!
Agora, voltei e estava ajoelhado diante a mulher sentada no sofá. Mesmo com a ferida, ela não dizia nada ou até expressava que sentia alguma dor. Era como se pensasse em outras coisas nesse momento.
"Eu preciso limpar. Pode arder um pouco."— Dizia com a voz firme, calmo, mas preocupado.
Era a primeira vez que fazia algo assim! E não tem como levá-la para um médico, o que fariam depois? Arrhh! Droga, se concentra! Ok, eu abri a caixa e tirava gaze, o antisséptico e uma bandagem.
Primeiro, usei a toalha limpa e pressionei gentilmente sobre o corte para estancar o sangue. Depois, com firmeza, mas sendo suave ao toque, limpei a ferida com o antisséptico. Notei a mulher reagindo a ardência, tentando afastar o braço, mas não deixei. Continuei segurando.
"Eu avisei."— Afirmei sem olhar para ela, de olho no tratamento que fazia.
"Hm..."— Ela gemia pelo antisséptico.
Mesmo não vendo, sabia como um pressentimento que ela estaria me encarando. E, novamente, percebi que isso podia não ser tão incomum a ela. Quer dizer, não sei se ela já sentiu dor, mas antes, quando havia se cortado na cozinha, não havia nenhuma expressão de angustia. Mesmo sendo um simples corte, ainda dói. Será que... ela já está acostumada com isso?
Com o antisséptico, apliquei o gaze e cuidadosamente envolvi o corte com a bandagem. Pronto, agora sim posso ficar mais relaxado.
"Feito."— Disse, levantando meus olhos para encarar a face dela.— "Isso deve ajudar até você poder descansar mais."
"..."— Com o tratamento realizado, ela recuava o braço e trazia até seu peito.— "Obrigada."— E agradecia.
Enfim ela disse alguma coisa. Era... estranho. Geralmente, dependendo da situação, o significado das palavras pode variar. Mas, nesse momento, interpretei como se ela estivesse me agradecendo não só por cuidar do corte, mas por tê-la ajudado.
E novamente... não pude deixar de reparar, principalmente estando bem perto, a fisionomia de seu corpo. Era... perfeito até demais. Pude reparar que a pele era suave, tão lisa quando toquei seu braço. Seu busto era do tamanho apropriado, não muito pequeno, mas também não tão grande, era... ideal. Mesmo com a camisa tentando esconder, dava pra notar isso. Os quadris dela perfeitamente proporcionados, não vestindo nada além da camisa, conseguia ver que seu traseiro... com certeza era grande. E as pernas esguias... Nossa, posso acabar ficando maluco e ter um ataque no coração só se continuar vendo! Mas... se tem algo que me deixava com mais vontade de ver... era seu rosto, seus olhos escondidos pela venda.
Vocês perguntam por que? Porra, ela tem lábios tão perfeitos que com certeza dá uma imensa vontade de beijar! E ainda por cima! Tem uma pinta tão sexy ao lado deles! Isso é um charme único! Só faltava... só faltava poder ver os olhos dela. Qual seria a cor deles? Preto? Azul? Verde? Castanho? Droga... queria tanto saber! Assim como tenho tantas perguntas! Tanta coisa que precisamos falar! Eu quero... quero saber...
"Quem é você?"— Eu a questionei, sem perceber.
"....."— E ela apenas me encarava com os lábios semiabertos.
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POV's ???— 22h32(2 horas e 12 Minutos Atrás)
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O mundo é daqueles que possuem o conhecimento e que se arriscam.
Isso é algo em que acredito fielmente. Muitos já sabem e muitos apenas não ligam. Aqueles que não ligam, acabam sempre indo pelo caminho mais fácil com trapaças e golpes planejados pra ficar com um pedaço e, logo depois, tomar todo o resto.
Já aqueles que sabem, encaram as coisas prevenindo cada tipo de cenário, arriscando em percorrer o caminho mais difícil, e conseguir chegar ao topo.
Foi por isso que escolhi ser parte deste projeto. É por isso que... tenho que corresponder as suas expectativas e realizar o impossível!!
[BIP-BIP!!]
É isso o que todos nós estamos fazendo!!
[WEE-OO WEE-OO!!]
Tornar o impossível possível!!
[ALERTA!! ALERTA!!]
E ter certeza de alcançar grandes feitos e revolucionar não o mundo e nem a galáxia, mas todo o universo!!!
A instalação secreta, cravada no gelo entre o Canadá e a Antártica, vibrava com uma tensão palpável. O Projeto Dimensão, a joia da coroa da nossa pesquisa multidimensional, havia sofrido um erro catastrófico. Alarmes ecoavam pelos corredores de aço e vidro, luzes vermelhas piscando em um ritmo frenético. Cientistas, técnicos e guardas corriam de um lado para o outro, tentando conter o caos.
E eu, corria desesperado pelos corredores, segurando meu tablete cheio de dados erráticos. Minhas mãos tremiam. Eu sabia que não havia tempo a perder. O Chefinho, o enigmático e poderoso líder da operação, estava prestes a chegar!
O helicóptero pessoal do Chefinho, um monstro negro de última geração, cortava o céu gelado, aproximando-se rapidamente da base. Cheguei à plataforma de pouso bem a tempo de ver o helicóptero pousar suavemente. O vento causado pelas hélices chicoteava meu jaleco, mas mantive a postura, tentando aparentar calma. As portas do helicóptero se abriram com um ruído mecânico preciso. Dois guarda-costas imponentes, vestidos de preto e com óculos escuros, saíram primeiro, verificando o perímetro. Então, o Chefinho apareceu.
Ele desceu do helicóptero com uma aura de absoluta autoridade. O Chefinho era um homem alto e esguio, vestido impecavelmente com um terno preto sob medida. Seus cabelos tingidos de branco estavam perfeitamente penteados, e seus olhos vermelhos, quentes, podiam até fazer o próprio gelo a volta sumir. Quer dizer, não literalmente, mas era a impressão que me dava! Acabo sempre ficando com medo! Ele tinha uma presença magnética e assustadora, uma combinação de carisma e ameaça.
"C-Chefinho, obrigado por vir tão rapidamente!"— Engoli em seco e me adiantei para cumprimenta-lo.— "Houve um... um imprevisto com o Projeto Dimensão."
"....."
O Chefinho não me respondeu imediatamente. Ele apenas me olhou fixamente, como se estivesse avaliando cada fibra do meu ser.
"Explique."
Finalmente, ele falou, passando por mim com sua voz profunda e controlada que ecoava pela plataforma de pousa e caminhava para dentro da instalação.
Os guardas abriram caminho enquanto eu o liderava pelos corredores da base, passando por portas reforçadas e estações de segurança. Cada passo do Chefinho era medido e decidido, exalando uma confiança inabalável. Ele era um homem acostumado a estar no controle, e a ideia de que algo poderia dar errado em seu projeto parecia quase um insulto pessoal.
Chegamos ao laboratório principal, onde a sala estava em um estado de semi-caos controlado. Equipamentos apitavam, telas mostravam dados incompreensíveis para a maioria, e um grande portal instável pulsava no centro da sala, agora contido dentro de uma imensa bolha de vidro blindado, fortemente fortificada. O Chefinho parou na entrada, observando a cena com olhos calculistas e fazendo sinal ao guarda do lado a desligar o alarme. Ele não gostava do barulho.
"Durante o teste mais recente, conseguimos estabilizar o portal, mas houve complicações."— expliquei, tentando manter a voz firme.— "O portal se dividiu e, de certa forma, várias dessas partes estão percorrendo o mundo de maneira imprevisível e invisível aos olhos nus. No centro do laboratório, temos um holograma do mapa global que registra a movimentação desses fragmentos."
O Chefinho caminhou lentamente até o centro da sala, onde um holograma tridimensional projetava um mapa global. Pequenos pontos luminosos, representando os fragmentos do portal, moviam-se erraticamente pelo globo. Era uma dança caótica de luzes, impossíveis de prever.
"Quais são os riscos?"— Ele estudou o holograma com uma expressão fria e meticulosa.
Engoli em seco e rapidamente acessei meu tablete, exibindo filmagens gravadas pelos nossos satélites privados e também relatos recentes na internet, ainda não transmitidos pela televisão.— "Senhor, isso é o que já estamos vendo."
Projetando a tela do tablet no holograma maior, a imagem mudou para um vídeo de uma cena de desastre. Aviões destruídos em pleno ar, como se tivessem sido atropelados por um objeto não identificado. Os destroços caíam do céu, espalhados por uma vasta área.
"Acidentes como esse estão começando a ser reportados."— expliquei, a voz tremendo levemente.— "Parece que os fragmentos do portal colidiram com essas aeronaves, causando destruição massiva. E isso é só o começo. Se não conseguirmos rastrear e conter esses fragmentos rapidamente, as consequências podem ser catastróficas."
"E qual é o plano de contenção?"— O Chefinho não mostrou nenhuma emoção visível, mas a tensão em sua voz era perceptível.
"Estamos desenvolvendo dispositivos para localizar e estabilizar cada fragmento,"— disse rapidamente.— "Mas precisamos de tempo. Estamos mobilizando todas as nossas equipes para uma operação global."
"..."
O Chefinho ficou em silêncio por um momento, comtemplando as implicações.
"Entenda uma coisa,"— disse ele finalmente, com uma voz gelada.— "Falhar não é uma opção. Quero relatórios de progresso a cada hora. E se houver qualquer atraso, qualquer falha, vocês vão responder diretamente a mim. Não queremos que mais alguém encontre o seu fim igual a Piranha da Cientista Genérica 243, não é?"
"AHN?!"— havia ficado sem fôlego quando ele falou assim.— "C-Chefinho, não pode dizer isso! É errado!"
"Errado?"— Ele questionou, confuso inicialmente. Após pensar um pouco, me encarou ficando decepcionado e só levantou um pouco a voz.— "Pelo amor, N°88! Por acaso vou ser cancelado e ser chamado de machista por um povo de uma rede social ridícula só por falar que uma das minhas cientistas virou LITERALMENTE uma piranha e que morreu pelas mãos de um INCOMPETENTE que esqueceu de alimentá-la?!"
O Chefinho apontava para o lado, para um aquário vazio encostado na parede no qual estava o Cientista Genérico 994 chorando ao se lembrar da terrível tragédia.
"ME PERDOA, MARIA!! ME PERDOAAAA!!"— O 994 clamava de joelhos ao teto.
Coitado do 994. Se fosse comigo, não teria nem coragem de continuar vindo trabalhar. Ah, sim, esqueci de me apresentar. Olá, pessoas, eu sou o Cientista Genérico 88, mas podem me chamar de '88'. Espero que possamos nos dar bem daqui pra frente.
Após recuperar a compostura com uma leve tosse, o Chefinho deu uma última olhada no holograma antes de se virar para sair da sala, suas palavras finais pairando no ar como uma ameaça velada.— "E lembrem-se, o possível nunca é suficiente para mim. Eu exijo o impossível."
"S-Sim, Senhor. Faremos o... impossível."— Assenti rapidamente, sentindo uma gota de suor frio escorrer pela minha têmpora.
Assim que o Chefinho terminou de falar e estava prestes a nos deixar, uma de minhas colegas de trabalho, a Cientista Genérica Número 127, se adiantou, os olhos arregalados em choque. "Chefe, acabei de captar uma movimentação diferente de um dos fragmentos do portal!!"
O Chefinho parou e se virou lentamente, seu olhar frio fixando-se em 127.— "Explique."
"Um dos fragmentos se moveu de forma coordenada, como se tivesse um destino específico!"— Disse 127, apontando para o holograma.— "Ele foi direto em linha reta para o Japão, Tóquio. Veja aqui." Ela ajustou o holograma para focar na trajetória do fragmento. A linha de movimento era clara, um impulso intensificado e direto que cortava o mapa até chegar ao Japão. Então, de repente, o ponto luminoso sumiu.
"O que isso significa?"— perguntou o Chefinho, sua voz tão fria quanto antes, mas agora com uma pontada de curiosidade.
Então aproximei-me do holograma, observando atentamente a trajetória do fragmento. Isso era muito estranho. Todos os fragmentos do portal dimensional continuavam a percorrer pelo mundo sem parar. Mas apenas um deles mudou sua trajetória e no fim desapareceu? Por que isso...? Talvez...
"Chefinho, isso sugere que algo em Tóquio atraiu o fragmento. E, logo em seguida, ele fez contato com algo ou alguém, o que causou seu desaparecimento. É como se o fragmento tivesse se fechado após o contato."— Eu dava minha opinião vendo pela primeira vez.
"..."
O Chefinho ficou em silêncio por um momento, seus olhos vermelhos estreitando-se ligeiramente enquanto comtemplava a informação. Ele então caminhou até um dos computadores avançados da instalação, usados pelo Cientista Genérico 111 e o empurrou, tendo todo o acesso ao banco de dados agora. Seus dedos rápidos ativando uma série de comandos complexos. As telas ao redor da sala iluminaram, exibindo uma interface de hacking sofisticada. O ambiente ficou silencioso, com todos calados e encarando o Chefinho trabalhando.
O código piscava rapidamente na tela enquanto o Chefinho penetrava nos sistemas de segurança cibernética do Japão. Em questão de minutos, ele havia hackeado os registros e identidades de todos cidadãos de Tóquio. As informações flutuavam nas telas, uma vasta base de dados que continha cada detalha da população da cidade.
Era simplesmente... incrível. Em só questão de minutos, o Chefinho conseguia fazer uma cópia de todos os dados de habitantes de outros continentes! Ele não era só poderoso por ter dinheiro ou algo assim. Sim... ele era poderoso por ter o conhecimento e saber arriscar.
Os cientistas ao redor trocaram olhares nervosos, principalmente a 127, que se aproximava pra dizer algo.
"Chefe... O que..."
"Se alguém atravessou o portal, não haverá o menor registro no governo sobre a prova de vida daquela pessoa."— O Chefinho falou, sua voz cortante.— "Devemos verificar se há alguma anomalia nos registros, qualquer inconsistência que possa indicar a presença de alguém que não pertence a este mundo."
O ambiente estava tenso, mas a determinação dele era clara. O Chefinho continuou a manipular os dados, filtrando informações, em busca de qualquer sinal que pudesse explicar a movimentação do fragmento do portal. A sala estava em silêncio absoluto, enquanto todos aguardavam o próximo passo.
"Parece que terei que passar algumas noite aqui também."— Ele comentava como se fosse uma reclamação, tirando do bolso do seu terno um óculos comum de estudos antiluz-azul. Segurança em primeiro lugar, como eu diria.
Sem tirar os olhos da tela, dava sua última instrução com firmeza.— "Monitorizem todos os sinais de anomalias em Tóquio e informe-me imediatamente sobre qualquer desenvolvimento. Isso pode ser a chave para entender o comportamento desses fragmentos. Lembrem-se, não há margem para erros. Cada detalhe deve ser analisado. A segurança do nosso projeto depende disso."
Os cientistas se dispersaram rapidamente, cada um assumindo suas tarefas com uma urgência renovada. Permaneci diante do computador, sentindo a pressão aumentar enquanto Bob continuava a vasculhar os dados, determinado a desvendar o mistério que se desenrolava diante de nós.
"N°88."— O Chefinho me chamava, sem olhar para mim, e logo me dava uma ordem.— "Você vai até Tóquio investigar a situação pessoalmente."
"E-Eh? Eu??? Mas eu não..."
"Preparem um dos meus jatos para o N°88 e certifiquem-se de levar tudo o que for preciso com ele!"— Ele me ignorava virando-se para os guardas que confirmavam em sentido.
"M-Mas Chefinho...!"— Tentei protestar, mas fui cortado novamente, só que sendo respondido por ele desta vez.
"Você já é um asiático, N°88. Não há com que se preocupar. Leve a N° 127 junto por precaução."
Ele ainda nem virou para mim ou para a 127 que já estava ao meu lado. Apenas permaneceu olhando a tela e nos dispensou com a mão.
Eu estava muito preocupado, muito mesmo. Afinal...
"Japonesa?"— Questionei a 127.
"Chinesa. E você?"— Ela me respondeu pra logo me perguntar com insegurança.
"Coreano."
No fim, nós dois suspiramos. Vamos precisar montar uma equipe com um interprete de confiança.
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POV's Tourm— 08h00 da manhã.
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O sol da manhã infiltrava-se pelas janelas da cozinha, banhando o ambiente com uma luz suave.
Eu estava concentrado na preparação do café da manhã. Em uma panela, o arroz branco recém-cozido soltava uma fragrância convidativa, enquanto eu grelhava pequenos filetes de peixe e preparava um Tamagoyaki, uma omelete doce e enrolada. Ao lado, a sopa de miso fervia levemente, cheia de sabor e simplicidade.
{Em um desenvolvimento recente, três incidentes envolvendo aviões explodindo em pleno ar foram reportados.}
Enquanto trabalhava na cozinha, ouvia o noticiário na televisão da sala. Parece que estava acontecendo mais incidentes da noite pro dia.
{Os aviões vinham da América do Norte e estavam em rota para o Japão. As autoridades aeronáuticas estão investigando, e os primeiros indícios sugerem que pode estar relacionado a anomalias eletromagnéticas severas, potencialmente causadas por distúrbios atmosféricos de origem desconhecida. Reiteramos que as investigações estão em andamento e não há motivo para pânico. Mais informações serão divulgadas conforme disponíveis.}— A voz do âncora soava calma e informativa.
Parei por um momento, absorvendo as notícias com uma expressão séria. Os relatos eram perturbadores, mas a apresentação calma do jornalista ajudava a manter a situação menos alarmante. Minha mente começou a vagar, retornando à noite anterior. A lembrança da misteriosa mulher que encontrei atrás da loja de conveniência emergiu com força.
Mesmo eu ter a ajudado, preparado algumas coisas pra se sentir mais à vontade, ela ainda não me falou nada. Nem ao menos me disse seu nome. Quer dizer, isso era esperado, talvez. Como você pode contar a sua vida para um estranho se nem você mesmo sabe o que aconteceu contigo? Pois é. Não é fácil. Eu faria a mesma coisa se do nada viesse de uma implosão de energia elétrica.
Ela... agia como se estivesse perdida e realmente muito confusa. Primeiro, parecia não saber o conceito de se lavar. Segundo, não saber vestir direito as roupas. E terceiro... a maneira como reagiu a comida e ao chá. Tudo isso e mais o fato dela mesma ter se cortada sem a menor expressão de dor. Ainda estava fresco em minha memória.
Deixei ela passar a noite no pequeno quarto de hóspedes, ainda dormindo profundamente quando me levantei. Não quis incomodá-la, sentindo que ela deveria descansar mais e processar tudo o que aconteceu.
"Assim que eu terminar, vou lá acordar ela."— Eu falava a mim mesmo, após suspirar.
Voltei minha atenção para a comida, tentando afastar as preocupações. Cuidadosamente dispus os pratos na mesa, deixando a mesa mais reconfortante. Os filetes de peixe grelhados estavam no ponto certo, o tamagoyaki perfeitamente dourado e a sopa de miso com seu aroma reconfortante.
[CREC!]
"Hm?"
Enquanto ajeitava a mesa, ouvi o som familiar da portinha dos fundos se abrindo. Golden, minha fiel cachorra da raça Golden Retriever, apareceu se espreguiçando toda, acordando agora pouco. Ela podia sentir o cheiro da comida sendo feita e veio andando até minha direção.
Por incrível que pareça, Golden não é uma cachorra que late ou de fazer muito barulho. Ela sempre foi assim e não havia nada de errado nisso. Quer dizer, era bem melhor. Pelo menos assim eu não teria nenhum vizinho chato reclamando. Na verdade, uma das únicas vezes que latiu, choramingando de tristeza, foi quando me mudei para cá e a deixei sozinha um dia inteiro na casa dos meus pais. Golden definitivamente gostava mais de mim.
Sem latir ou fazer qualquer som como de costume, Golden ficou parada olhando para mim com expectativa, seus olhos brilhando em antecipação.
Sorri para ela e abaixei-me para lhe dar um carinho—"Bom dia, Golden. Já acordou com fome, hein?"
Ela abanou o rabo alegremente, e eu não pude deixar de rir. Golden sempre conseguia me fazer sorrir, mesmo nas manhãs mais difíceis.
Não demorei muito para ir até a cozinha e pegar a ração preferida dela, Biscoito-Dee. Por mais que parece um biscoito, é na verdade uma ração rica em nutrientes e tem um gosto muito bom.
..... Que foi? Tá, não vou mentir. Eu já comi um. Mas faz muito tempo. Eu era criança e havia confundido com meu próprio biscoito de chocolate. Não teria notado a diferença do sabor se não fosse pelo meu pai rindo enquanto me via de longe.
Enfim, Golden acabou trazendo a tigela dela e logo a repousou em minha frente pra eu agachar e servi-la com a primeira refeição do dia.
Mas minha mente continuava voltando para a mulher estranha. Quem era ela realmente? E será que... eu podia ajudá-la de alguma forma? Sei que posso estar fazendo mais do que o necessário. Mas, se aparecer a chance de apoiá-la a voltar para a casa dela, não hesitaria.
"Bem, acho que já devo ir chamá-la."— Comentava enquanto acariciava as costas de Golden.— "Você fica aqui e espera pra se apresentar, entendeu?"
Dessa forma, me certificando que a mesa já estava preparada, fui até o pequeno quarto de hóspedes. Bati suavemente na porta, esperando que ela estivesse acordada.
[TOC, TOC!]
"..."
Mas sem nenhuma resposta, aparentemente. Será que ela ainda estava dormindo?
Curioso como estou, girei a maçaneta e abri a porta com cuidado e observei-a deitada por cima dos lençóis, de barriga para cima, sem se cobrir com nada. Ela ainda estava pelo menos com a camisa branca, mas mesmo assim... dava pra perceber que não havia mais nada além disso.
A luz suave do amanhecer entrava pela janela, iluminando seu belo rosto ainda com os olhos ocultos pela venda. No entanto, ao me aproximar, notei que ela estava se mexendo de maneira estranha, gemendo um pouco.
Quando me aproximei ainda mais, pude ver que estava meio ofegante. Era perceptível o suor escorrendo de sua testa, mesmo não estando quente hoje. E, assim que notei que ela murmurava palavras...
"Nine... S...! Nine... S!"— Disse ela, quase em pânico.
Ela estava tendo um pesadelo! E parecia não ser nada leve! Senti um aperto no peito enquanto ouvia dizer algo que parecia... um nome, talvez, eu sei lá! Só sei que devo acordá-la agora!
Sem pensar duas vezes, ajoelhei-me ao lado da cama e coloquei a mão em seu ombro, sacudindo-a suavemente.— "Ei, está tudo bem, você está segura. Acorde!"
"...!!!"— Ela reagiu.
Porém, assim que fiz isso, ela acordou de repente, soltando um suspiro rápido como prova disso, já que não pude ver seus olhos. Em um movimento rápido e fluido, ela saiu da cama, me empurrou e me imobilizou contra o chão! Antes que pudesse fazer algo, senti seu braço pressionando o meu, ameaçando quebrá-lo!
Pude notar suas ações, sua respiração, seu aperto e peso contra mim como se estivesse em real pânico! Focados e determinados a agir por puro reflexo!
No instante seguinte, ouvi o som rápido das patas de Golden correndo pelo corredor ao lado.
"GRR... WOOF! WOOF!"— Ela entrou no quarto em disparada, latindo e rosnando ferozmente.
Com seus latidos, ressoando no pequeno espaço, fez com que a mulher erguesse a cabeça e a encarasse. Isso a fez ficar travada por um tempo e sua respiração aos poucos ia retomando o ritmo normal, começando a se acalmar.
"Golden, calma!"— Eu tentei dizer, mesmo com minha voz soando um pouco abafada pela tensão do momento.
Dessa vez, a mulher abaixava sua cabeça e me olhava de volta ao ouvir minha voz, até que finalmente pareceu perceber onde definitivamente estava. Lentamente, ela soltou meu braço e levou suas mãos ao meio de suas pernas, aparentando estar arrependida.
"Perdão, eu..."— Sua voz soava meio trêmula.— "Eu não sabia onde estava...".
"Está tudo bem. Você só teve um pesadelo e reagiu pelo susto. É normal."— Eu esfregava meu braço dolorido.
"..... Pesadelo...?"
Hã? Não me diga que... Não. Ela só devia estar muito aprofundada no sono que quase não reconheceu o que era real ou não. Não tem como ela não souber o que é um pesadelo. Talvez o que a assustou tanto foi alguma lembrança desagradável.
E ainda teve aquela palavra estranha. "NineS". Será algum apelido ou a abreviação de algum conhecido dela? Não tenho certeza. Se falar em voz alta, até parece que estou dizendo um número, só que inglês. Bem, isso eu posso deixar de lado por agora, pois...
"H-Hmm... Eeeh..."— Acabei grunhindo em tom um tanto vergonhoso e inseguro.
"O que houve?"— A mulher me questionava sem sair de sua posição.
O mais importante... é saber como lidar com essa situação agora.
Quando acordou e me empurrou contra o chão, ela havia literalmente se jogado em cima de mim. E, assim, se encontrava sentada sobre a minha cintura. E também, mesmo comigo usando calças, eu conseguia sentir. Pude sentir a maciez e o calor do... do... bumbum dela.
Eu... estou morrendo de vergonha por dentro. Sério. Se eu fosse um daqueles personagens de anime, me imaginaria tendo um ataque de sangramento nasal ou coisa parecida. Quem sabe, até com fumaça saindo de minha cabeça. Mas... mas... era de fato bom.
Ninguém nunca havia me tratado como uma cadeira ou até estando em meu colo, então, de início, a pressão era intensa e constante, um peso firme e inescapável. A pele contra o tecido da roupa se comprimia, moldando-se ao contorno das coxas da mulher em cima de mim. Havia uma sensação de calor, o corpo dela se irradiando contra as camadas de tecido que eu usava, criando um contraste com o ar ao redor.
Cada movimento, mesmo que pequeno, era perceptível. Qualquer deslocamento de peso podia provocar uma mudança... imediata. Droga, estou começando a sentir.
O cheiro de seu perfume natural, o som da respiração e, talvez, até mesmo o batimento cardíaco, se ela estivesse mais suficientemente próxima. O que eu sentia... era uma combinação de desconforto, calor e... uma conexão física intensa. Eu... eu...
"Hm? Você carregava algo nos bolsos?"— Ela questionou, após aparentar notar algo embaixo dela.
Oh, meu Deus... Eu fiquei duro.
OH, MEU DEUS!! ELA PERCEBEU ISSO?!?!?!
"T-T-TÁ TUDO BEM!!! A-A-APENAS SAIA DE CIMA DE MIM, OK?"— Com certeza eu estava gago e meu rosto corado, não precisava nem dizer.
"Mas e se quebrou quando me joguei?"
"N-NÃO FALA ISSO! QUER DIZER, NÃO SE PREOCUPA!! APENAS LEVANTA!"
"Entendido."
Sem hesitar após compreender meus apelos, eu acho, a mulher se levantou, a sensação maravilhosa indo embora. Nossa, o pior é que até sentir um frio assim que se afastou. Mas rapidamente levantava meu tronco e permaneci sentado de pernas cruzadas, escondendo minha ereção que talvez não sossegaria tão fácil.
E o pior, quando achei que não podia piorar...
[WHOOSH!]
O vento da janela em minha frente, atrás da mulher que estava de costas para ela...
"Ah."
Havia assoprado com uma corrente de ar forte, de certo modo. Forte o suficiente pra a mulher de cabelos brancos, que usava somente uma única camisa branca, ser pega de supressa.
"..."— Minhas pálpebras abriam além dos limites.
E assim, a camisa fez um leve voou e...
".... Eh."
....
....
...
...
...
....
....
Eu vi. Sim, eu vi. Eu, definitivamente, vi. Meus olhos não me enganaram. Era exatamente igual a uma flor.
Sim. Sim, sim, era isso mesmo. Era uma... bela de uma flor.
Sim... Eu vi. Eu vi. Sim, eu vi. Eu, definitivamente, vi. Meus olhos não me enganaram. Era exatamente igual a uma flor.
Ah, por que eu repetir o mesmo pensamento? Ora, é porque... Eu vi! Sim, eu vi! Eu, definitivamente, vi! Meus olhos não me engaram! Era exatamente igual a uma flor!
Sim, isso mesmo!! Era uma flor!! Tão bela quanto qualquer coisa que já vi em vida!! Não tem como eu descrever mais do que isso!!!
Não consigo pensar em mais nada enquanto continuo aqui, na minha cozinha, de costas para sala, onde a mulher de cabelos brancos com uma flor tão linda estava apreciando a comida que fiz desta vez sem nenhuma perturbação aparente!!!
O que mais eu posso fazer?! Não consigo fazer nada!!! Estou apenas parado pensando em como poderei encarar aquela mulher!!! Aaaarrrrhhh!!! Droga, pra piorar, eu ainda estou duro!!! Porra!!!! Por que logo eu, Deus?!?! Por que?!?!
"Grr...!"— Ouço um rosnado ao meu lado.
Era de Golden, óbvio. Desde que fui 'atacado', Golden não saia do meu lado nem por um segundo. Sentada, ela mantinha os olhos fixos na mulher, ainda desconfiada e protetora. Seu rabo balança levemente, mas seus olhos estavam atentos a cada movimento que a 'ameaça' poderia fazer.
Só que... tudo o que a mulher fazia era apenas comer normalmente. Na verdade, ela estava até apreciando a comida com mais gosto do que a primeira vez em que ofereci algo. Parece que ela realmente gostou.
Ufa... Por alguma razão, agora me sinto mais calmo. Saber que Golden estava tão preocupada com minha segurança, me distraiu o suficiente pra esquecer essas coisas vergonhosas. Eu realmente preciso arranjar uma namorada algum dia.
"Você está gostando?"— A perguntei, me virando para a mulher e permanecendo na cozinha atrás do balcão.
"Sim. Está... delicioso."— Sua voz ainda tinha um tom de incerteza, mas notei a sinceridade em suas palavras.
"Hum. Fico feliz em ouvir isso."
Ela me encarou por mais alguns instantes e continuou a comer e beber um pouco. Já eu, decidi me afastar da cozinha e me juntar a mesa, sentando do outro lado por conta de Golden.
E falando nela, soltava um pequeno 'woof' e se aproximou mais de mim, deitando a cabeça em meu colo. Acariciei sua cabeça, tentando acalmá-la.
"Está tudo bem, menina. Ela não vai me machucar."— Murmurei, embora soubesse que continuaria vigilante.
Nesse momento, ouvi o som dos hashis repousando no prato e olhei para a mulher que encarava o prato vazio por muito tempo. É só uma ideia, mas talvez ela não quisesse que tivesse acabado tão rápido? Bem, se for assim...
"Quer repetir?"— Perguntei com um sorriso simpático, faz tempo que não cozinho para alguém, é meio agradável.
"...."
A mulher parecia processar a oferta, mas, não demorou muito pra pegar o prato e xícara e oferecê-los para mim.
"Por favor, mais uma porção."
"Hehehe. Não precisa ser tão formal."
É. Ela, de fato, gostou da minha comida. Agora eu realmente me sinto feliz com isso. Ter alguém tão honesta e direta que admite gostar do que você fez, traz uma sensação agradável.
Após me levantar da cadeira, peguei o prato junto dos hashis e xícara e fui novamente até a cozinha preparar um pouco mais. Enquanto isso, pelo reflexo da janela dava algumas espiadas por trás e notei a mulher se levantando da cadeira, segurando o braço com a atadura e virada para mim. Notei que ela iria tentar se aproximar, mas...
"Woof!"
"A-Ah!"
Golden foi mais rápida e se posicionou na frente da mulher, bloqueando seu caminho. Novamente, tinha certeza que isso acontecesse. Golden não deixaria que a pessoa que me atacou se aproximasse de mim tão fácil assim. A não ser... que a pessoa brincasse um pouco com ela. Assim podia dizer que estaria perdoada.
"Grr...!"
"..."
Olhando bem para a situação, a mulher de cabelos brancos não fazia nada. Apenas encarava a cachorra em sua frente, como se nunca tivesse interagido com um antes. Será que ela prefere gatos? Bem, isso é comum, principalmente aqui, em Tóquio. Os gatos são mais quietos que os cachorros e não fazem nenhum barulho, se tirar em conta o prejuízo das cortinas.
Mas voltando ao ponto principal, a mulher hesitava em dar um passo para frente, então acabou dando para trás.
Ela estava com medo?
Por ter feito isso, Golden dava um passo à frente também.
Ela a estava intimidando-a?
Com isso, a mulher começou a andar para trás enquanto Golden a perseguia sempre a encarando. Como era a mulher que estava no controle do caminho, ela decidiu contornar a mesa de jantar e Golden não teve escolha a não ser continuar a segui-la. E assim, continuaram, continuaram e continuaram de novo e de novo. Nenhuma das duas paravam e nenhuma das duas não desviaram o olhar... eu acho. Quer dizer, a mulher ainda estava vendada.
Agora parecia que tinha a representação do infinito em pessoa.
"Quem precisa de Gif, não é?"
Enquanto comentei, meus ficavam mais fixos na mulher e minha mente vagava na lembrança de quando estava tendo o pesadelo e no suposto nome que ela havia dito.
Pra ela ter dito isso, devia ter sido muito mais do que um simples pesadelo. Talvez uma recordação sendo passada em sonho. Se não me engano, isso já me aconteceu uma vez sonhando comigo criança brincando com minha falecida avó. Eram bons tempos. Mas no caso dela... a lembrança com certeza foi de péssimos tempos.
Sim, não vou questionar sobre o seu passado. Minha maior prioridade deveria ser...!!!! Ah, meu Deus não!
Mais uma vez!!! Mais uma vez, acabei vendo a flor que não deveria!!! Agora a mulher e a Golden aceleraram o passo e, por conta disso, a camisa branca fica dançando junto e permitindo que eu veja a flor e aquele bumbum lindo de novo!!!
Aaaahhh!!!! Não dá, não dá, não dá, não dá!!! Eu preciso arranjar algo para ela logo...!!! É ISSO!!! ROUPAS!!! EU PRECISO ARRANJAR ROUPAS FEMININAS PARA ELA!!!
Só que... eu nunca fui a uma loja roupas femininas antes! Imagino que terei que conseguir roupas íntimas também! Eu preciso de ajuda! Eu preciso... eu preciso...
"Ligar para a minha mãe..."— Eu engolia em seco, meu rosto esquentando de vergonha e suando de nervosismo.
Era isso ou... iria perder o controle um dia.
Deixei o prato, a xícara e os utensílios na cozinha e caminhei até a sala para ir até o telefone fixo. Eu e meus pais inventamos uma regra entre nós, meio que uma confirmação definitiva que era eu falando com eles. A cada dia, sempre que houver uma chance, chamaria por eles pelo telefone fixo da casa dentro das 08h da manhã. É uma garantia pra eles não receberem nenhum golpe por telefone.
Foi minha própria mãe que sugeriu isso. E ela é... um tanto quanto protetora demais. Acho que se ela soubesse que poderia pedir roupas dela jovem pra emprestar para uma suposta amiga, definitivamente, viria pessoalmente na hora querendo saber quem é 'mocreia', pelo menos é assim que a chamaria. Não estou mentindo. É verdade.
Bem, agora peguei o telefone e disquei o número dos meus pais. O telefone tocou algumas vezes antes de ser atendido...
{Alô? Diga, Tourm.}
O meu pai, Heitor Waters! Graças a Deus não foi minha mãe!
"Oi, pai! Sim, sou eu!"— Respondi, tentando manter minha voz casual.— "Que bom que foi você quem atendeu. Eu... preciso de um favor."
{E o que seria?}— Ele soou curioso
Ah, droga, como posso dizer isso sem parecer estranho? Bem, não terá como evitar. Conhecendo meu velho, tenho certeza que vai fazer algum escândalo. Mas... é melhor do que lidar com minha mãe.
"Tem uma... amiga minha aqui, que precisa de algumas roupas. Pensei nas roupas antigas da mãe, de quando ela era jovem. Você acha que ela sentiria a falta de algumas delas?"
{....}
Houve uma longa pausa.
Droga. Ele vai fazer aquilo, não vai?
[{boom!}] [{pum, pum, pum!}]
{AEEEEEEEEEEEHHH!!! MEU FILHO NÃO É MAIS VIRGEM!!!}
"Você realmente soltou os fogos de artifícios que comprou no verão passado?"
{MAS É CLARO!! EU SABIA QUE IRIA USÁ-LOS ALGUMA HORA!!! AEEEEEEEEHHHH!!! PERDEU O CABÂÇO!!!}
Sim. Meu próprio pai havia comprado fogos de artifícios pra comemorar o dia em que arranjaria uma namorada. Não quero nem imaginar quando eu for casar.
"P-Pai, por favor, se a mãe te ouvir, vou estar morto!"
{Relaxa! Hahaha! Ela está no banheiro agora ouvindo música alta. Mas deixa isso de lado! Esse dia finalmente chegou! Finalmente, meu garoto virou um homem!}
Senti meu rosto esquentar de pura vergonha.— "Pai, não é nada disso. É... uma situação complicada. Só preciso de algumas roupas."
{Uma situação complicada, entendi, entendi.}— ele ria, ainda mais.— {Então você quer que eu vá até o quarto de sua mãe e busque as roupas de quando ela era jovem? Isso é ouro, meu filho. Ouro!}
Aaarr... De certa forma, sentia uma vontade de encerrar a ligação ali mesmo. Mas não posso fazer com meu próprio pai. Principalmente se fui que liguei.
"Pai, por favor. É sério."— Respondi, esfregando um pouco minha cara.— "Ela realmente precisa de roupas. Pode separá-las? Penso em ir aí pegá-las eu mesmo."
{Ah, claro, claro. Estou só brincando com você. Vou ver se arranjo algum conjunto da sua mãe. Talvez até encontre algumas da época de disco! Quem sabe a garota goste, hein.}"
Misericórdia, Senhor! Tudo menos isso! Se ela andasse na rua com esse tipo de veste hoje em dia, seria dita como uma louca ou exibida.
"Pai, só... só pega roupas normais, tá? Isso inclui... o sutiã e a calcinha. E certifique que a mãe não saiba disso! Ela vai ter ideias erradas."
{....}
"Pai...? Alô?"
Do nada, meu pai parou de falar. Conseguia ouvir a respiração dele ainda na linha. Parecia que ele estava pensando em silêncio.
{Tourm...}
"Sim?"
{Você havia rasgado até as roupas de baixo na hora da emoção?}
"CHEGO AÍ EM 15 MINUTOS!!!"
[TRACK!]
Cortei a ligação do telefone na hora.
Porra!!! Foi ele que acabou tendo a ideia errada! Não tinha como evitar de pensar besteira?! Aah... acho que não. Foi eu mesmo que não havia comentado sobre as roupas de baixo também. Mesmo se eu pedisse apenas roupas casuais, ela poderia se sentir desconfortável, não é?
Agora que penso... talvez fosse melhor meu pai vir trazendo as roupas. Deixá-la sozinha em casa pode não ser uma boa ideia. Hmm... deveria levá-la comigo? Não. Todas as roupas que tenho não são adequadas para uma garota. Mas será que não tem um outro.....
Desculpem. Não pude completar meu pensamento.
É que, assim que me virei, olhei para a mesa de jantar e... a mulher desconhecida e a Golden ainda estava andando sem parar. E... a garota agora estava acelerando muito mais o passo.
Então... acabei vendo a flor de novo. A linda e deslumbrante flor tão clara e rosinha. Sim. Sim, isso mesmo.
"Acho que um tempo sozinho será muito melhor pra mim."— Afirmei após suspirar.
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POV's Heitor— 08h50 da manhã.
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Hoje... o dia havia começado muito bem. É sério. Afinal, era meu dia de folga. Não precisava ir ao trabalho. Então, comecei com o pé direito nessa manhã!
Apenas sentado na cadeira da sacada do novo apartamento que comprei, vendo as notícias que acontecem no mundo pela internet e tomando um cafezinho. Sinceramente, não confio mais no jornal e muito menos na televisão. Recentemente sinto que as notícias estão ou vindo atrasadas ou manipuladas. Claro, isso só pode ser teoria maluca minha, mas a internet pelo aparelho celular era realmente mais conveniente.
E quando achei que essa manhã não pudesse melhorar... bum! Do nada, meu filho me liga! Precisando urgentemente da minha ajuda! Ajuda com... garotas! Hahaha! Soltei até fogos de artifícios de tanta alegria que senti! Que bom que minha esposa estava tomando banho no momento.
Enfim, o Tourm pode ter desligado na minha cara por tê-lo provocado um pouco demais. Mas... eu realmente fiquei preocupado. Meu filho é do tipo selvagem quando se anima? Que loucura! Ele com certeza puxou mais da mãe do que aparenta! Só fico um pouco pra baixo por ele não ter quase nada parecido comigo...
MAS ISSO É DIFERENTE AGORA!
ELE PRECISA DA MINHA AJUDA!
E ESTOU MUITO ANIMADO COM ISSO! COM CERTEZA!
INICIAR A OPERAÇÃO ALPHA-DELTA: O PATINHO VIROU UM CISNEI!
Enfim, me levantei rapidamente da cadeira, animado com a missão. Caminhei até o quarto e abri o armário da minha esposa, procurando por alguma roupa mais casual e confortável que ela tinha quando jovem. E... cacetada! Isso era um armário mágico ou algo assim?!
Quer dizer, eu sei, fui eu que comprei a maioria das coisas, mas não lembrava que tinha tantos conjuntos diferentes! Até pensei que iria para um daqueles... Hã... desenhos isekais...? Esse é o nome? Bem, pouco importa. Eu tinha que ser rápido!
E mesmo sabendo disso, não foi fácil! Quanta roupa, quanto tecido maluco e bizarro! Quando conheci minha esposa, ela não era assim não! E sim uma valentona!
Hahaha! Nunca vou esquecer da primeira em que nos encontramos... É... não tem como esquecer mesmo. Foi inacreditavelmente incomum. Se bem que já ouvi histórias de casais mais malucos, então posso estar com mais sorte do que azar.
Ah, achei algumas blusas leves, um par de jeans e algumas peças íntimas também. Tudo isso foi colocado cuidadosamente em uma bolsa. Bem, tomará que sirva, principalmente o sutiã e a calcinha. Senão, vai cair.
E assim que saia do quarto, indo para sala colocando meus calçados...
"Querido, aonde vai?"
Era minha esposa, me questionando curiosa e tendo acabado de sair do banheiro com a toalha presa ao seu belo maravilhoso e estupendo corpo justo que deixaria qualquer rapariga com inveja! Eu amo a minha esposa de todas as formas possíveis! Tô certo! Obrigado querida por me dar mais um vislumbre de sua beleza divina! Te amo, mi amore! Mas agora estou sem tempo, pois nosso filho precisa do pai agora! ..... Só não posso te contar isso.
"Vou na padaria."— Respondi, sendo casual como sempre.— "Estamos com falta de pão."
"Padaria?"— Ela levantou a sobrancelha, mas não fez mais perguntas.
AAAAHHH!! COMO MINHA ESPOSA É LINDA!! EU TE AMO!! TE AMO, TE AMO MUITO!!!
Eu sorri internamente, sabendo que meu álibi estava seguro. Conseguindo sair rapidamente escondendo a bolsa atrás de minhas costas, desci até o térreo do prédio.
Não vou negar, queria muito saber como meu filho conheceu essa garota! Será que é ela quem será minha futura nora? Ah, caramba! Nunca pensei que seria avô tão cedo! Eu tô animado, tô animado, tô animado! Tenho que continuar me mantendo tranquilo e normal por fora, senão as pessoas podem desconfiar do meu verdadeiro lado que só minha queridíssima esposa e queridíssimo filho sabem! Aaaahhh!!! Mas eu tô tão animado!!!!
Finalmente, as portas se abriram e desci do elevador! Fui com o passo apressado até a portaria e lá estava ele, meu filho querido que também amo tanto! Ué? Será que ele cresceu mais? Nossa, a cada dia está mais parecido com meu falecido sogro! Tourm, você ao menos podia ter puxado algo de seu pai, não acha?
Enfim, o porteiro abria as portas pra eu pisar na calçada e cumprimentar meu garoto.
"Filho! Mas que surpresa! Já veio de volta à casa do seu velho pai com ajuda em lidar com as garotas?"— Eu ri, entregando a bolsa.
Meu filho lindo revirou os olhos lindos que ganhou da mãe, mas sorriu— "Oi, pai. Sim, sim, muito engraçado. Conseguiu trazer sem levantar suspeitas?"
"Claro! Disse à sua mãe que estava indo à padaria, o que não é bem uma mentira. Eu estava realmente precisando ir para lá comprar uma baquete e tomar um café."— Sorri com um ar conspiratório.
"Hah! Boa jogada, pai. Obrigado por isso."
Agora, esse é o momento. Devo me certificar se meu garoto realmente fez ou não. Se aconteceu, irei chorar de alegria por ser um avô! Se não aconteceu, bem, é só ter paciência.
Dei um tapinha no ombro dele, esticando um pouco meu braço.— "Então, essa amiga... é só uma amiga mesmo? Ou finalmente está me dando um neto?"
"Pai! Não é nada disso."— Ele fica corado bem fácil, igual a mãe!! Que bonitinho!!!— "É uma situação complicada. Ela só precisa de ajuda. Desculpa, mas é que não posso dar muitos detalhes no momento. Mas prometo que explico tudo depois."
"Hahahaha! Você sempre foi um bom samaritano. Mas não se preocupe, eu guardo o segredo."
"Obrigado, pai. Sério. Isso realmente significa muito."
Aaaahh... meu garoto me agradecendo tanto do fundo de seu coração, me alegra tanto! Queria ouvir mais! Queria ouvir mais disso!
Olhei ao redor, certificando-me de que ninguém estaria por perto pra ouvir.— "De qualquer forma, fique atento, Tourm. As coisas nunca são tão simples quanto parecem. E lembre-se, se precisar de mais alguma coisa, seu velho está a um telefonema de distância."
Ver o sorriso do meu garoto também alegrava ainda mais meu coração!! Aaahh!! Que felicidade que sinto!!
"Valeu, pai. Vou sempre lembrar disso."— Ele disse, segurando a bolsa firmemente.
Dei-lhe um abraço rápido.— "Agora, vá em frente, herói. E cuide bem dessa amiga."
[BANG!!!]
"....."
"....."
De repente, assim que abracei meu garoto, aconteceu. Eu reconheceria esse som de qualquer lugar. É. Não havia como estar enganado. Não só eu, Tourm também tinha uma boa ideia do que era.
"Pai... Não me diga que..." — Ele murmurou, vendo uma das alças da bolsa partidas e um dos pneus furados de um dos veículos estacionadas logo atrás dele.
"Sim... É ela..."— Com minha voz trêmula, eu confirmei o que havíamos mais temido.
Afastei meus braços lentamente de meu filho e virei para trás, olhando para cima e, lá estava ela. Do alto do prédio, da sacada do meu apartamento, estava minha esposa, com um potente rifle em mãos, apontando diretamente para nós. Quer dizer, provavelmente, a mim.
"A mãe... descobriu sobre as roupas tão rápido?"— A voz do meu filho querido também estava trêmula.
"É. Parece que sim. Mas não a garantia que deva saber que são para sua amiga, meu garoto. Quem sabe, ela esteja duvidando que eu a esteja a traindo. Bem, isso acho que é bem pior, mas bem mais óbvio."
Mesmo de longe, de alguma forma podia sentir uma forte ameaça vindo de lá. Se eu desse mais um passo, com certeza minha esposa atiraria mais uma vez. É de mim que ela está atrás. Então... Só me resta fazer o que estive preparado desde o início...
"Tourm."
"Hã?"
Me virei novamente para ele, por eu ser mais baixo, estiquei meus braços pra segurar seus ombros, olhando no fundo dos seus olhos herdados de sua mãe.
"Escute com atenção. É possível que seja difícil nos comunicarmos por um tempo. Farei tudo o que puder pra te dar o tempo que for necessário pra ajudar sua amiga e se explicar. Talvez eu arranje uns dias, mas... Tentarei resolver as coisas, está bem?"— Eu sorria, sem arrependimentos e contemplando o rosto de meu garoto crescido mais uma vez.
"E-Espera, pai! V-Você não pode voltar pra dentro agora! Se você for, a mãe vai...!"— Ele dizia com preocupação, meu amado filho estava preocupado comigo!
"Eu sei, eu sei... Mas no momento que fiz meus votos pra sua mãe em nosso casamento, já estava preparado pra tudo que viesse pela frente."
"Pai... Você tem certeza?"
Aaaahh!! Meu filho é tão bom!! Ele realmente não me quer deixar para trás!! Sim, sim!! Eu consigo ver!! Sempre imaginei um dia eu e ele enfrentando os malês da vida lado a lado!! Quem sabe quando a amiga dele se tornar minha nora, poderemos carregar esse grande peso da vida de casados juntos!! Mas... não agora. Como pai, devo proteger meu menino até o fim.
Esse é o dever de um pai!
Agarrando seus ombros, eu virei Tourm e dei um forte tapa em suas costas o empurrando pra que corresse!
"Corra, Tourm!! Corra o mais rápido que puder!! Vá e se torne o herói da sua amiga!!"
"P-Pai...!! Boa sorte!!"
Ele nem olhou para mim assim que correu. Como previ, nenhum disparo ocorreu. Minha esposa queria era minha cabeça. Ela jamais machucaria nosso pequeno garoto. Eu sei disso muito bem. Mas... também não quero que essa seja a última vez em que o verei!
Sim!! Eu não posso desistir desse nosso relacionamento!! Assim, eu me viro ficando diante ao prédio onde moro, o prédio no qual era o ninho de amor meu e de minha esposa. Sei que nos mudamos recentemente para cá, mas sinto como se já relembrasse de todo o tempo que passamos juntos. Assim como nossos anos juntos nessa jornada da vida.
Mesmo assim... eu ainda quero viver mais um pouco e me certificar em ter segurado meu primeiro neto em meus braços ao menos uma vez!!!
Por isso, Minha Querida Esplendida Perfeita e Adorável Esposa, não irei cair aqui!!! Não agora!!! Prepare-se, essa é minha técnica mais mortal na qual nem mesmo mostrei a você!!!
Nesse momento, eu flexiono meus joelhos ao máximo que dava!!! Os músculos de minhas pernas reagiam e queimavam na hora, usaria o poder delas na potência máxima!!! O sangue bombeado pelo meu coração me dava toda a energia que fosse necessária para isso!!! Apenas para essa técnica secreta e mortal!!!
"SINTO MUITO, QUERIDA!! MAS AÍ VOU EU!!!
Com meu grito de guerra, eu utilizo o único trunfo que tinha...!!!
"TÉCNICA SECRETA E MORTAL: SUPER... NIGERUNDAYO SMOKEY!!!"
[BAM!!!]
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Essa... era a técnica invencível. A técnica na qual ninguém jamais conseguiu precipitá-la. Passada de geração a geração a cada um dos maiores malandros da história...
Ter que usá-la contra a mulher na qual mais amo nesse mundo, era um ultraje. Porém, se fosse para o bem daquele garotinho que vi crescendo, faria de tudo por ele.
Sim... eu prometi que arranjaria o máximo de tempo possível. Tourm, onde quer que você esteja agora, é bom estar preparado para quando enfrentar sua mãe.
Isso porque... antes mesmo que eu dê-se o primeiro passo, sua mãe atirou com a arma e acertou bem em frente ao meu pé direito. O pé que usaria pra começar a correr. O pé na qual ela pode antecipar todo e qualquer movimento ou trajetória que tomaria.
Sim...
A minha esposa...
Superou o NIGERUNDAYO.
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POV's Tourm— 09h53 da manhã.
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Assim que consegui as roupas, voltei para casa rapidamente.
Nossa, não vou mentir, pensei que fosse meu fim quando minha mãe atirou com a arma legalizada que tinha na sacada do apartamento contra mim e meu pai.
Ah, sim, esqueci de mencionar, mas minha mãe já serviu ao exército. É. Minha mãe era do exército. Não lembro bem em que posição ela era, mas era de um nível bem importante. Mas deve ser por conta disso que é tão protetora e leal a nossa família.
Sei que ela não irá machucar tanto meu pai. No máximo, vai dar umas boas tapadas na cara dele ou... fazê-lo passar por mais de 10 mil flexões enquanto carrega nas costas tijolos e mais ela mesma sentada, o tratando como uma cadeira.
Meu pai havia prometido que manteria o segredo o máximo que possível. Se eu não me engano, o máximo que conseguiu esconder alguma coisa dela foi por uma semana. Mas ele parecia bem motivado agora, então chuto que terei duas semanas inteiras pra pensar no que dizer a ela.
Até lá, provavelmente a minha cara desconhecida já estará de volta para casa dela, não é? Claro que não. Quer dizer, a não ser que decida pelo menos se apresentar e dizer mais sobre si como onde mora, por exemplo.
Só que... não posso forçá-la. Nem sei como ajudá-la em voltar para casa sem encontrar alguma lógica em como surgiu uma bola de energia no meio do nada que implodiu a fazendo aparecer! Não vou negar que estou estressado. Por isso pensei em seguir uma abordagem diferente.
"O que era pra ser isso?"— Ela questionou.
Vejo para o que apontava contra a vitrine de uma loja, era um bicho de pelúcia de algum anime aleatória infantil. Era bem famoso, mas não sei o nome. Parei de ver os animes depois de 2019.
"Hã... É apenas um brinquedo feito de pelúcia. É pras crianças brincarem com ele ou dormirem abraçadas e... eu acho que era pra ser uma tartaruga."— Coçava minha nuca tentando entender o que era também.
"Por que as crianças dormiriam com isso?"
"O que? Bem... Deve ser porque muitas crianças tem medo do escuro. E pra não se sentirem sozinhas, abraçam e dormem com eles se sentindo protegidas."
"Entendo. Proteger, é?"
Ela apenas ficou encarando o bicho de pelúcia por mais um tempo pela vitrine da loja de brinquedos.
Simplificando todo o meu plano agora, decidi sair com ela pela cidade. Estamos agora em um dos bairros mais famosas da cidade, Shibuya. Gosto de passar mais em Shinjuku, mas pensei que seria melhor irmos pelo outro, pois era mais perto.
Quando convidei a desconhecida, ela pareceu hesitar, mas acabou aceitando. Não sei o porquê, mas pra mim parecia agir com insegurança em relação a alguma coisa. Bem, só vendo pra descobrir o que seria.
As roupas que meu pai entregou também serviram muito bem. Muito, muito bem... bem até demais! Eram roupas completamente casuais, mas que a faziam ficar extremamente linda e elegante! Uma leve blusa branca, uma calça jeans escura, botas de cano e um casaco leve... apenas fizeram a beleza natural dela se destacar ainda mais por onde passávamos! Chamando a atenção de muitos! E também... ela ainda usava a venda preta em seus olhos. Sério, como ainda tinha a noção do espaço a sua volta?
Mesmo assim... não vou negar. E sim admitir e repetir mais uma vez. Ela de fato estava linda. E eu me sentia de certa forma feliz por fazer companhia a uma dama tão bela. .... Eu realmente disse 'dama'? Nossa, eu sou um idiota mesmo! Já fiquei hipnotizado pelo charme dela! Droga, Tourm, se controla!
Continuamos caminhando, passando pelas lojas coloridas e luminosos letreiros de neon. E conforme íamos, quase não falávamos muito. Devo dizer que também não sabia por onde começar direito, mas ainda acho que é ela quem tem que decidir se pode ou não confiar em mim em algo. Também notei que ela ficou bastante tempo observando tudo em sua volta, as pessoas, os prédios e... até as pequenas árvores? Ela tinha interesse em jardinagem ou coisa parecida?
Eu realmente não consigo entendê-la. Ela age como alguém fria, mas as vezes parece querer expressar mais o que sente ou pensa, mas não sabe se deve. É o que aparenta pra mim, pelo menos.
Acabamos indo a uma loja de roupas femininas. Sim, meu pai arranjou as roupas da minha mãe, mas não é o suficiente. Principalmente as roupas intimas. Só havia um conjunto dentro da bolsa e por sorte parece que coube bem. Bem, a desconhecida não reclamou ou fez qualquer comentário, então acho que serviu. Então, pensei em comprar sutiã e calcinha com base no tamanho das que ela usava... mas eu mesmo não sabia o número. Logo, pedia pra uma atendente da loja ajudar sobre as medidas dela e....
O QUE?!?! 84cm DE BUSTO?! O QUE?!?! 56cm DE CINTURA?!?! O QUE?!?!?! 88cm DE QUADRIL?!?!?!?!
Essas são medidas que só as verdadeiras modelos têm!! Aquelas que são a definição de beleza e que qualquer mulher ficaria com inveja!! Até mesmo a atendente saiu com uma expressão de derrota do provador!! Meu Senhor!! Mesmo eu tendo visto de perto, não consigo acreditar nesses números! E eu ainda teria que comprar muitos conjuntos disso!! Nunca achei que fosse fazer isso na vida!! Será que se as pessoas me olharem vou ser considerado um pervertido? Eu espero que não!
Eu... esperava que não...
"Então... gostou de algum?"— Perguntei, enquanto a desconhecida observava cada peça intima feminina pendurada a frente.
"Eu... não sei."— Respondeu, parecendo incerta.
Ela ficou ali parada examinando os vários tipos de sutiã e calcinhas. Ela os pegava e sentia sua textura depois devolvia, fazendo isso repetidamente com os próximos. Enquanto isso, pude sentir as outras clientes, mulheres, talvez solteiras ou comprometidas, encarando e cochichando pelas minhas costas.
Droga, não faço ideia de como se comportar nessa situação.
"Esse aqui é boa?"— A mulher chamou minha atenção.
"Hein...? E-Eh!"
Ela me mostrou uma calcinha preta bem e extremamente sexy! Não faço ideia qual seja o nome dessa peça, mas imaginar alguém usando isso, faria muitos caras perder a cabeça!
"E-Eu... Bem..."
Tentei pensar em como responder. E tinha que ser rápido! O pessoal em minhas costas já estava falando muito alto! Diziam como eu e ela éramos ousados ou até safados! Mas que situação mais constrangedora!
"P-Por que não algo mais normal? N-Não precisa ser meticulosa com isso. Escolha a que for mais... conveniente."— Mesmo tentando manter a calma, estou gritando horrores por dentro.
"Mesmo? Então..."— Ela colocava de volta a que pegou e rapidamente pegava outra e mostrava.— "Esta?"
Era algo bem simples e comum. Um sutiã branco. Ela realmente parece não ter gostos pra essas coisas. Do mais sedutora possível, foi para o mais puro possível.
"É... Pode ser."— Concordei, sem mais nada a dizer.
"Então escolherei outros conjuntos iguais a este."
"Se quiser, pode escolher de outras cores, eu acho. Quer dizer, pra variar, tá?"
"Entendido."— Afirmou quase em sentido, como se fosse uma militar.
Caramba, se essa daí encontrasse com minha mãe, iria ao menos ganhar um possível cumprimento dela. Mas, enfim, ela foi capaz de escolher... e acabei comprando pela primeira vez dez conjuntos diferentes de roupas intimas femininas.
Existe primeira vez pra tudo mesmo.
Mas agora... era necessário entender as coisas de uma vez por todas.
Seguimos para um café aconchegante próximo, escolhemos uma mesa perto da janela, de onde podíamos ver as ruas movimentadas de Shibuya. Pedi um latte para mim e, para a desconhecida, um chá verde.
Estávamos sentados um de frente para o outro, e um silêncio constrangedor pairou no ar. Não falamos absolutamente nada. Eu não sabia muito bem o que dizer e, ao que parecia, ela também não. Enquanto esperávamos nossas bebidas, ela virava a cabeça, parecendo observar seu arredor, as pessoas dentro da cafeteria e também as do lado de fora.
Quando nossas bebidas chegaram, agradeci ao garçom e tomei um gole do meu latte. O sabor do café me fazia pensar melhor, queria saber o que falar nessa situação.
Eu sei... Eu sei que deveria questioná-la sobre muitas coisas, mas ao mesmo tempo sei que pressioná-la não seria o caminho certo. Claro, deixei passar a noite na minha casa, cozinhei, permitir que usasse meu chuveiro. Mas... Porra! Ela surgiu literalmente de uma bola de energia, caralho!! O que eu deveria fazer?! Simples!! Eu deveria perguntar de uma vez mesmo!!
Só que... só que... Se eu estivesse no lugar dela, o que eu diria? Como eu me sentiria em relação a tudo isso? Por alguma razão, eu sinto medo. Medo de talvez não ser capaz de ajudar mais do que já fiz. Medo de acabar não acreditando mais no possível. Medo de acabar ficando louco. Medo... de acabar me metendo em mais problemas.
Se eu disser algo a mais, não teria mais volta. Não. Na verdade, desde que eu botei meus olhos nela, não pude nem ter escolha mesmo. A única coisa que minha própria alma me dizia era... ajudá-la. Acho que isso era uma das poucas coisas que puxei de meu pai.
"Seja o herói da sua amiga, né?"— Murmurei, apenas pra mim mesmo, as palavras do meu pai.
Então, decidi.
"Você está bem?"— perguntei, finalmente quebrando o silêncio.
Ela virou a cabeça para mim, aparentemente surpresa pela pergunta repentina.
"Sim, estou... só um pouco confusa."— respondeu, sua voz suave, mas um tanto fria ainda.
Tomei mais um gole do latte, considerando cuidadosamente minhas próximas palavras. "Esta manhã, você teve um pesadelo. Falou algo enquanto dormia... um nome, eu acho. 'NineS'. Quem é ele?"
Ela hesitou, eu notei. Pude ver tremer sua postura perfeitamente ereta. Sua cabeça abaixava, seu suposto olhar desviando para a xícara de chá que estava na mesa, intocável.— "No sonho... eu estava procurando por alguém que conheço. Não posso dizer que é um amigo, mas... alguém importante."
De novo, ela se nega a conta. E de novo, iria deixar de lado? Não. Não vou mais. Eu quero saber. Preciso saber! Quero entender o que se passa! Minha vida não será mais a mesma, mas quero compreender! Quero que ela...
"Olha,"— Comecei, escolhendo minhas palavras com cuidado.— "Não nos conhecemos não faz nem um dia. Gostaria de dizer que entendo o que se passa com você, mas não posso. Pois não sei mesmo. Não sei nada sobre você. Mesmo assim... decidi ajudar. E ainda quero continuar com isso. Ajudá-la no que for possível para mim. Para isso, preciso entender o que está acontecendo. Quem você realmente é? De onde você veio? Você pode, não..."— Minha voz parou, pois pensei e reformulei minha frase.— "Confie em mim."
Eu disse. Eu finalmente disse. Agora, não tem volta mesmo. Nunca havia dito algo em que estava tão certo sobre o sentia ou pensava.
Ela permaneceu em silêncio, ainda encarando a xícara. Depois de um longo momento, suspirou e ergueu sua cabeça para mim. Mesmo vendada, passava uma expressão de resignação e tristeza.
"Eu... minha identidade é YoRHa No. 2 Type B, mas pode me chamar de 2B. Eu não sou humana. Pelo menos, não era. Fui criada para ser uma combatente, uma soldada em uma guerra que você não pode imaginar."
"..... É o que?"
Tá bom... eu não estava esperando por isso. Mas como conheci até mesmo um Deus da Sorte e Amor, por tempo integral, vi uma bola de energia surgir do nada e implodir brotando ela do nada, acho que posso acreditar.
"Então, você não era... humana?"— perguntei, minha voz trêmula depois de processar minhas palavras.
"Isso mesmo,"— confirmou ela, sua voz firme. "Fui uma androide. Fui projetada para lutar, obedecer ordens, e nada mais. Mas algo aconteceu. Algo mudou e agora... eu sou como você e igual a todas essas pessoas, de carne e osso. E isso me deixa... confusa e... assustada."
"Então, o nome que você mencionou no sonho... 'NineS'... ele também é um...?"
"Sim, '9S',"— respondeu ela, interrompendo-me.— "Ele também é um androide, um modelo Scanner. Era meu parceiro de combate. Nesse sonho, eu estava procurando por ele, tentando encontrá-lo, mas não consegui. Não sei o que aconteceu com ele e muito menos comigo. E... também eu não era capaz de ter isso, sonhos."
"..."
Nossa, quer dizer... nossa! Se fosse alguém comum, diria que ela é louca. Porém, notei algo em sua voz. Era a sinceridade. Androide ou não, senti isso, a verdade e o peso de sua confissão. Acho que posso agora de fato saber o quanto essa mudança bizarra a estava afetando. Tudo isso deve ser terrivelmente novo pra ela! Assim pra mim.
É... minha vida não será mais como era mesmo.
Só posso fazer uma coisa agora...
[BAM!!!]
"Tourm?!"— Ela disse meu nome pela primeira, pega de surpresa assim como todos da cafeteria quando bati fortemente minha cabeça contra a mesa.
Uma coisa é mais do que certa, eu me fodi pra caralho!!
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Próximo Capítulo: A Reação da Ação. Quero, ao menos, Ajudar.