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Capítulo 3 - O choro

 Após alguns minutos sentado, tentando recobrar a sensatez, que era de fato muito necessária, Jonas lembrou-se que a secretária com a qual flertava tinha um telefone em sua mesa e percebeu que a cadeira onde estava sentado, era por coincidência a cadeira que ela usava. Ao notar que estava um pouco afastado, levantando-se rápido, pegou o telefone que, para sua surpresa, assim como o celular estava sem linha; com isso, sem ter o que fazer naquele lugar, ele decidiu sair pelo corredor e descer pelas escadas.

 Descendo as escadas, ao chegar no 6º andar, ele ouviu uma voz de mulher, lamentando e chorando, voz essa, que vinha aparentemente do corredor principal daquele andar, contudo, não se importou nem um pouco, sua preocupação naquele momento era exclusivamente encontrar, ou pelo menos ter alguma notícia de Clara. Enquanto descia as escadas, ainda no 4º andar, Jonas lembrava da última vez em que viu sua esposa, lembrou-se que estava estressado, com isso, não deu a mínima confiança antes que ela partisse rumo a rodoviária.

Quando chegou ao 3º andar, Jonas ouviu uma outra voz de mulher, que parecia estar desesperada. — Socorro! Alguém me ajuda por favor! — bradava ela. Jonas, não parou, mais uma vez não se importou, até que a mulher gritou pela segunda vez. — Socorro! Alguém me ajuda pelo amor de Deus! Nesta segunda vez, a voz dessa mulher se assemelhou a de Clara, o que o fez parar abruptamente no quinto degrau da escada. Quando aquela mulher gritou pela terceira vez, ele não teve dúvida, de forma bizarra e inexplicável aquela voz parecia ser de sua esposa.

 Jonas, sem pensar, subiu a escada e entrou no corredor principal. No fundo do corredor, havia realmente uma mulher, contudo, ela não gritava mais, apenas chorava de forma desesperada. Ela estava agachada e de costas, aparentemente abraçando alguém ou alguma coisa e o que lhe chamou mais a atenção, foi que os cabelos dela eram escuros e longos como os de Clara e isso fez com que acelerasse seus passos. Ao chegar próximo o suficiente daquela mulher ao ponto de poder tocá-la, sentiu ele um frio na barriga e seu coração começou a bater mais forte, era seu corpo se preparando para fortes emoções, pois, o fato de estar mais perto aprofundou sua visão, fazendo com que percebesse que os cabelos negros e longos daquela mulher, pareciam realmente ser os de sua esposa.

 Ela, ainda chorava de forma excessiva e, após ficar alguns segundos atônito atrás dela, Jonas resolveu tocar em seu ombro, o que fez com que a mulher se assustasse e virasse para trás, com isso, ele pode perceber que não era Clara, o que lhe causou certo dissabor, a mulher por sua vez se levantou e ainda chorando clamou: — Por favor, me ajuda! Meu filho sumiu diante dos meus olhos! Jonas, ainda estava abalado, atarantado pelo fato daquela mulher não ser sua esposa, contudo, após alguns segundos de reflexão, pela razão dela ser parecida com sua esposa, ele criou certa empatia e perguntou o que havia acontecido. A mulher, ainda chorando e com a voz embargada o respondeu dizendo: — Eu estava saindo do pediatra com meu filho no colo e de repente, em um piscar de olhos, ele sumiu, só as roupinhas ficaram!

Automaticamente, o pensamento de Jonas foi levado ao passado, à lembrança de uma aula que havia tido em uma escola bíblica em sua adolescência, a qual lembrava bem vagamente, pois, naquela fase da adolescência, ele frequentava raramente, apenas quando estava de olho em alguma garota. No momento em que aquela mulher falou que só as roupas haviam ficado, veio a sua mente, que o professor daquela aula havia dito (ao falar sobre arrebatamento) que "tudo que é corruptível ia ficar, citando as roupas como exemplo, os corpos dos salvos seriam arrebatados em um piscar de olhos e se tornariam incorruptíveis". Cada vez mais, ia se confirmando no entendimento de Jonas, que realmente tudo o que estava acontecendo tinha ligação com o arrebatamento tão pregado nas igrejas, com isso, tentando confortar aquela mulher, ele disse que estava se cumprindo a palavra de Deus e que o filho dela havia sido salvo automaticamente, pelo fato de ser uma criança inocente. Ainda chorando e um pouco alterada pelo que havia acabado de escutar, aquela mulher disse: — Você está louco! E você? Por que está falando de Deus? Se você é cristão, também não deveria ter sido "salvo"? Me deixe em paz!

 As palavras daquela mulher foram fortes, abalaram Jonas imensamente e enquanto ele se retirava da presença dela, a cada passo, as palavras que o Pastor João Oliveira havia dito faziam mais sentido; "Te vejo o tempo todo, mas, mesmo assim sinto a sua falta". Enquanto saia daquele corredor, essas palavras se repetiam sucessivamente em seus pensamentos, o que o fez sentir uma enorme angústia e antes de descer as escadas do 3º andar, apoiando sua mão direita na parede, ele chorou.

Jonas, não tinha uma total consciência de que não era um bom exemplo de pessoa, muito menos de cristão, ele tinha uma personalidade à qual achava que, pelo fato de falar sempre o que pensava, era o dono da verdade, contudo, por se tratarem de palavras que machucavam pessoas, feitas a imagem e semelhança de Deus, achar isso foi um de seus maiores enganos. 

Deixar o próximo ferido era algo corriqueiro na vida de Jonas, pessoas se afastavam dele a todo instante. Dificilmente, em um ambiente, seja na escola, no trabalho ou na igreja, ele tinha comunhão com a maioria das pessoas, grande parte das que tinham "afinidade" com ele, à tinham por interesse ou se aproximavam por se sentirem intimidados com a sua personalidade. Na igreja, muitas foram as discussões com os líderes, principalmente os do grupo de música e louvor, além de sempre chegar atrasado ou até mesmo faltar aos ensaios, ele divergia e batia de frente com os mesmos o tempo todo, por não concordar com a maneira que as coisas eram feitas. Ele, conjecturava em sua mente, como achava que deveria ser feito e sem pensar ou se preocupar com a autoridade do líder, expunha suas ideias na frente de todos, pois, achava que todas elas eram a verdade absoluta, causando constantes desconfortos e divisões no grupo, ao ponto de alguns entregarem o cargo de líder ao pastor da igreja.

 O pastor, constantemente o oferecia o cargo de líder do grupo de música e louvor, mas ele nunca aceitou, pois, não queria saber de assumir grandes responsabilidades e segundo seus pensamentos; ocuparia tempo demais da sua vida, com coisas que não lhe ajudariam individualmente. Enquanto se apoiava naquela parede e as lágrimas desciam de seu rosto, Jonas entrava em um conflito interno, um lado reconhecia que talvez ele pudesse ter sido uma pessoa melhor e menos rude, já o outro lado, era cheio de orgulho e não enxergava a trave que tinha em seus olhos, ou o quão duro era o seu coração.

O que ele também não sabia, é que a pior parte de quando se briga com você mesmo é que mesmo quando você ganha, você perde, e não se pode pôr a culpa em mais ninguém, apenas em você mesmo, afinal brigamos com nós mesmos, deixamos o orgulho ganhar e perdemos por conta das consequências. No caso de Jonas, toda essa luta interna e carnal, lhe custaram algo muito precioso, isto é, enquanto ele deixava o seu orgulho ganhar, aos poucos ia perdendo a sua salvação.