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Capítulo 2: Caça Solar

Acordei em um lugar que estava quase totalmente tomado pela escuridão. Uma cela diferente da minha antiga. Além disso, estou acorrentado e não há sinal de qualquer objeto ou pessoa que me ajudaria, caso eu precisasse fazer minhas necessidades.

Não tenho certeza de quanto tempo passou. Escutei passos que ficavam cada vez mais altos, com uma luz que se aproximava. Levantei a cabeça apenas para ter a visão desagradável do rosto alegre da Princesa. Eu suspirei, meus olhos estavam mortos. O que será que essa desgraçada queria comigo agora?

─ Ora, ora, o que temos aqui? Lunan, o desafortunado escravo!

Ela riu de uma forma irritante. A única coisa que se passava na minha cabeça era arrebentar essas correntes e grudar no pescoço dela. De qualquer forma, não havia nada que eu pudesse fazer, então comentei.

─ Poupe seu tempo, Princesa. A que devo a graça de uma visita de um membro tão importante da família real?

─ Parece que até um cachorro pode falar bem, não é mesmo? Enfim, venho aqui te informar sobre do que se trata a Caça Solar. Esteja agradecido, verme. Se não fosse por mim, você iria para lá sem nenhuma informação.

Olhei diretamente nos olhos dela, esperando a explicação sobre como o evento aconteceria.

─ Escute, esse evento acontece uma vez por ano, no Verão. Os Nobres participantes escolhem seus melhores escravos para representá-los. A atração principal, da qual você irá participar, é a seguinte.

Ela se calou, então o mantive o contato visual. Aquela cara nojenta estava tentando segurar um sorriso enorme. Finalmente percebi, ela não me escolheu pra esse evento para me dar uma chance de viver, somente para me humilhar e me dar uma morte mais desonrosa ainda.

─ Os escravos serão soltos pela floresta assim que o sol começar a se pôr. Após cinco minutos, predadores que mantemos em cativeiros também serão soltos. O último a sobreviver, fica vivo, basicamente é isso.

Ela começou a rir, cerrei meus dentes e usei todo o resto da minha força pra tentar estourar aquelas correntes e atacar ela, mas obviamente não foi possível. Perdi a calma, e sabendo que provavelmente hoje seria o dia da minha morte, eu não iria mais me segurar.

─ Sua puta maluca! Psicopata! Espero que você morra da forma mais dolorosa possível!

Enquanto eu a insultava, seu rosto se fechou em uma carranca. Ela pegou a tocha que o guarda segurava e jogou em mim. Queimando meu abdômen de forma dolorosa.

─ Como ousa um mero escravo dirigir essas palavras sujas para mim? Descanse bem, e boa sorte. Você vai precisar.

Ela foi embora enquanto ria, e ali eu perdi todas as minhas esperanças. Abaixei minha cabeça e fiquei olhando para o chão. Memórias de toda a minha vida começaram a passar por minha mente. Lembrando dos meus pais e de como minha vida era, lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. Murmurei para mim mesmo enquanto lágrimas caiam de meus olhos.

─ Se você, Deus do Sol, existe mesmo, espere que não retorne vivo amanhã. Senão, farei de tudo para acabar com você e quem te segue enquanto eu ainda viver.

***

O dia finalmente chegou. Fui escoltado junto com dezenas de escravos de vários lugares, estávamos todos acorrentados juntos. Haveriam vários tipos de eventos hoje, a Caça Solar seria a última pelo visto. Cada grupo de escravos foram separados de acordo com o que fariam. Haviam escravos fortes que iriam lutar por sua liberdade no coliseu, escravos atléticos que competiriam contra outros em diversas áreas esportivas para conseguir sua liberdade se ganhassem o 1o lugar.

A única modalidade que não garantia a sua liberdade, ironicamente, era a minha. Além de mim, haviam alguns outros escravos acabados, magros, velhos e desse tipo que também irão participar da Caça Solar. Pelo visto, os Nobres pegam os escravos mais esfarrapados que eles têm e os mandam para esse evento, desgraçados.

Assisti diversos escravos fazerem as mais variadas coisas. Pelo visto, além de ganhar sua liberdade, o Nobre também seria reconhecido como uma boa pessoa por cuidar de um escravo tão bem. O Povo desse reino é idiota ou o que? É óbvio que ele só cuidou bem dos escravos que ele achou que poderiam beneficiar ele.

***

Chegou a minha hora. Com o céu ganhando a tonalidade vermelha, fomos posicionados. Trombetas tocaram avisando o início do evento, portões foram abertos e dezenas de escravos correram como se não houvesse amanhã, porque de fato, não haveria.

Alguns decidiram se juntar para tentar lutar contra os monstros, outros subiram em árvores, enfim. Cada um tomou uma decisão conforme achou melhor. Pelo menos eu, não corri aleatoriamente. Procurei incessantemente por um galho longo ou algo do tipo. Eu já havia coletado vinhas e uma pedra, se juntasse essas coisas com um galho, poderia ao menos fazer uma arma primitiva para me defender.

Novamente, as trombetas tocaram, anunciando a libertação dos animais selvagens. Quando as ouvi, meu coração batia como louco. Felizmente, achei um galho que parecia resistente. Amarrei a pedra na ponta, como ela não era cortante, usarei essa arma como um porrete, para contundir os animais.

Caminhei cuidadosamente pelo local, com o machado em mãos. Também procurei outros materiais que pudessem ser usados a meu favor. Misturei lama em meu corpo para disfarçar meu cheiro e rolei em um arbusto para aumentar a efetividade. Já se passaram três minutos desde que os animais foram soltos, não imaginei que já estivessem tão próximos. Escutei um grito de um rapaz a algumas dezenas de metros, não foi muito alto, mas isso me deixou novamente em estado de pânico.

Me agachei sobre um joelho e fiquei parado. O vento soprava na direção contrária, não pensei que eles seriam atraídos para mim. Um cachorro selvagem pulou de um conglomerado de arbustos à minha frente. Saltei desesperado e com uma mão me agarrei em um galho acima da minha cabeça.

O cachorro tentou pular para morder minha perna e seu focinho encontrou com um golpe do meu calcanhar. Ele provavelmente havia sido ferido, seu choro era alto. Fiquei preocupado de que outros viessem, fiz força para subir na árvore. Após estar seguro, o cachorro estava correndo ao redor da área com dor e sem se importar comigo, então eu pensei.

'E se eu tentar matá-lo?'

Saltei da árvore como um guerreiro, com os dois braços segurando o machado primitivo que eu havia feito e fui de encontro ao cachorro. Com toda a força que eu poderia exercer, dei um golpe no topo da cabeça do animal, ele começou a andar lentamente e a cambalear, não muito tempo depois, ele caiu.

'Consegui? Eu matei meu primeiro animal!'

Não era hora de comemorar. O sangue que o animal derramou pelo ferimento no focinho estava espalhado pelo local. Por estar me preocupando somente com o que estava na minha frente, esqueci onde eu estava. Três cachorros vieram dos arbustos, eles estavam ensandecidos.

Graças a adrenalina correndo em meu sangue, usei toda minha força restante para retornar a árvore, porém, no momento que me agarrei aos galhos, minha panturrilha direita foi mordida por um deles. Meus braços não poderiam aguentar meu peso e o de um cachorro ao mesmo tempo, logo, outro mordeu minha perna esquerda. Esse era meu fim, soltei o aperto de minhas mãos nos galhos e aceitei meu destino.

Eles me mordiam e me mastigavam violentamente, fechei meus olhos, o choque e a adrenalina fizeram seu trabalho de entorpecer a dor. Mas, algo inesperado aconteceu, uma voz horripilante soou em minha cabeça.

' ̶V̶o̶c̶ê̶ ̶q̶u̶e̶r̶ ̶v̶i̶v̶e̶r̶?̶'

' ̶V̶o̶c̶ê̶ ̶q̶u̶e̶r̶ ̶m̶a̶t̶á̶-̶l̶o̶s̶?̶'

' ̶V̶o̶c̶ê̶ ̶q̶u̶e̶r̶ ̶d̶e̶s̶t̶r̶u̶i̶r̶ ̶t̶u̶d̶o̶?̶'

Abri meus olhos, e assustado, olhei ao redor. Mesmo quase desmaiando por causa da dor e perda de sangue, consegui ver uma figura vestida totalmente de preto. Essa coisa também tinha um capuz negro. Não era possível ver nada que estava ali dentro. Então antes de perder minha consciência, fechando os meus olhos e dando meu último suspiro, pensei.

'Sim.'