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Capítulo 14: Passado

Com Bresk ao meu lado, caminhamos até o cômodo central, onde Crzeck sempre estava.

─ Bom dia, garoto.

─ Bom dia para quem? Estou empacado. Esses humanos medrosos têm medo de vir até a floresta.

─ Era sobre isso que eu queria falar. Pensei em fazermos uma incursão e atacar a vila aqui perto.

─ Hm. Gostei, mas como vai funcionar?

─ Calma. Essa operação é uma lâmina de dois gumes. Os humanos não entram mais na floresta porque o monstro está aqui, mas o que aconteceria se o monstro atacasse eles primeiro?

─ Eles iriam querer caçar o monstro.

─ Sim. Porém, conforme você for matando os que entram aqui, a recompensa por sua cabeça irá aumentar e cada vez mais pessoas mais poderosas irão vir atrás de você. Se estiver de acordo, nós iremos atacar e se ficar perigoso… Ou você foge ou morre.

─ Crzeck, você me ajudaria a fugir ou me abandonaria?

─ Obviamente eu te ajudaria. Eu não te treinei por um ano para deixá-lo morrer em vão.

─ Fico feliz com isso. Aliás, quando aprendemos outras magias?

─ Você mal tem capacidade de aumentar a classe das atuais, não pense nisso por agora.

***

Hoje é o dia em que iremos atacar a vila. Ficamos uma semana montando o planejamento. Crzeck nos informou de como a vila era e formamos o plano de ataque. Somente eu e Bresk faríamos a ofensiva, Crzeck irá observar de longe.

─ Tudo pronto?

─ Sim.

Acenei com a cabeça e Bresk respondeu. Nós dois tínhamos máscaras de ossos feitas pela habilidade de manipulação óssea do Crzeck.

'Espero que ele me ensine isso.'

Deixamos a caverna por volta das 8 horas da manhã, seria uma caminhada de quase 2 horas até a vila.

'Ir até lá quieto vai ser um saco.'

─ Crzeck, por que você não conta uma história do seu passado para nós?

─ Por que eu deveria?

─ Ah. qual é. Estamos nessa há um ano, acho que mereço ouvir um pouco.

Crzeck suspirou.

─ Irei contar a história do meu primeiro assassinato.

─ Oba!

─ Já havia passado um ano desde a minha ascensão, e como eu já disse anteriormente, o tempo de treinamento da Forma Mortal era um ano inteiro. Na fronteira do Sul, a guerra estava acontecendo e era brutal, nós, meras crianças, éramos moldados como máquinas de matar para batalhar por nossas terras.

Ele parou de falar por um momento, então retomou a história.

─ A guerra era um prato cheio para magos focados em maldições e rituais. Diversos líderes e generais inimigos foram mortos por devastadoras maldições que cairam sobre eles. Fui responsável pela missão de matar um grande general. O nome dele era Haseid.

─ Havia um grande mago que praticava rituais na academia, ele preparou tudo. Os oficiais da academia fizeram todo o terreno para eu aprender a mais potente das maldições. A <Maldição da Alma>. Após matar o hospedeiro, a pessoa que lançou a maldição poderá participar de um ritual para tomar o corpo da pessoa que morreu.

─ No dia do ataque, os nobres estavam fazendo uma festa, e o Grande General Haseid estava lá também. Eu invadi o lugar de forma tenebrosa, quando o portal abismal abriu, alguns nobres fracos desmaiaram, outros vomitaram. E poucos, contando o General, se mantiveram de pé.

─ Com a minha Forma Mortal e Aura da Morte ativa, eu e o General éramos os únicos de pé naquele local. Ouso dizer que aquela foi uma das melhores lutas que já estive em toda minha vida. Haseid era um amplificador, porém, ele tinha um cajado especial que lançava magias de fogo. Perto do fim da luta, metade do meu rosto estava queimado e quase desfigurado pelo fogo, assim como algumas outras partes do meu corpo.

─ O General estava sem um braço, e tremendo, por causa dos efeitos negativos que as minhas habilidades deram a ele. Mas no fim das contas, quem você acha que ganha? Um general amplificador com anos de experiência ou uma criança que recém aprendeu a usar seus poderes? A resposta é óbvia.

─ Ele estava de pé na minha frente, com o braço que ele ainda tinha totalmente carregado de mana, eu iria ser esmagado. Para minha sorte, um portal roxo abriu atrás dele e uma mão gigante e grotesca puxou o General. Dentro do portal, pude ver seu corpo ser destroçado. Por mais que eu estivesse acostumado com a morte e com coisas nojentas, não pude deixar de vomitar assistindo aquilo.

─ Daquele portal saiu um homem, ele já estava na terceira idade, mas tinha uma feição gentil. Aquele senhor colocou a mão na minha cabeça, disse que iria ficar tudo bem e que eu não precisava mais lutar. Tirando o dia em que ele morreu, essa foi a outra única vez que chorei.

─ Pelo visto você já passou por poucas e boas, Sr. Crzeck.

Disse Bresk. Me mantive calado em respeito a história do Crzeck. Ele provavelmente passou por tanta coisa antes e durante a guerra, mesmo depois dela, ele ainda está aqui, de pé. Essa situação só me deixou com mais raiva ainda.

─ Crzeck, tenho uma dúvida sobre a guerra.

─ Fale.

─ Pessoas como nós, que podem criar um exército imortal, por que perdemos a guerra?

─ Lembra quando contei sobre as condições para uma Afinidade florescer em um mago? Antes da guerra, o Norte era calmo. A Afinidade mais comum de se ter, era a das sombras. Para ter acesso a bênção da morte, você precisa conviver com e desejar a morte. Isso não era um requisito fácil de se cumprir.

─ Quando a guerra começou, muitos adeptos à Afinidade da Morte apareceram, só que o treinamento leva quase uma década, além do fato de que a ascensão matava 2/3 dos alunos. A guerra durou muito, muito tempo. O suficiente para algumas dezenas de pessoas como nós aparecerem e mudarem o ar das batalhas.

─ Mas o que acha que veio após isso? O autoproclamado Semi-Deus. Ele tinha algum tipo de bênção ou resistência que deixava ele imune a todo tipo de maldição e efeito negativo, e além disso, ele conseguia dar bônus de força para as pessoas que lutavam com ele. A partir daí, o Reino de Luria começou a encontrar seu trágico fim.

─ Crzeck.

─ Diga.

─ Juro que vou fazer eles pagarem.

Crzeck parou e eu também. Fiquei encarando a escuridão sem fim que escondia seu rosto dentro daquele robe. Ele colocou a mão em minha cabeça e acariciou meus cabelos.

─ Você não precisa.