A luz doce e acolhedora do sol invade o teto do saguão do Departamento de polícia de Bluedhaven através da clara boia de vidro temperado e está iluminando todo o lobby, incluindo a prancheta na qual Dick está escrevendo apoiado em um balcão da recepção.
Ele está com uma calça poliéster de cor preta e uma blusa social azul marinho de manga longa, suspirando e secando a testa úmida com o dorso de sua mão direita, cansado após passar muito tempo escrevendo. Ao lado dele, está Sthepanie, também escrevendo um caderno aberto na mesa larga e cumprida, ao lado de Dick. Ambos estão concentrados e focados, uniformizados.
— Vocês também estão cheios de tarefas e patrulhas? Sinto que minha cabeça vai explodir nessa primeira semana de estágio. — aproximou-se Helena, atraindo os olhares deles. Uma jovem de cabelo moreno, pele parda e que geralmente possui postura dominante e intimidadora, mas, naquele momento, aparenta estar leve, porém cansada, se posicionando ao lado de Dick e colocando outro caderno azul em cima do balcão, com a respiração pesada e com a fadiga expressa em seus olhos.
— Isso é normal. Eles vão pegar no nosso pé enquanto houver estagiários no hospital por causa da radiação, gente. Alguém precisa cobrir as funções deles. — alegou Sthepanie tentando ser empática e tentando ter uma visão holística da situação. — Mas, acho que a situação do Dick é a mais crítica. — brincou Sthepanie olhando para ele, que retribui com um olhar sério e opaco. — Lucius acha que ele é detetive. — concluiu, captando a atenção de Helena, que levanta a cabeça e olha para Dick curiosa e imersa na conversa.
— Eu não sou! Eu vou conversar com ele. Vou esclarecer tudo. — disse Dick sendo envolto dos olhares das duas que o cercam com empatia.
— Talvez você deva pedir um remanejamento. O pessoal da perícia é legal e acho que tem a sua cara, nerdizinho. — disse Helena voltando-se de frente para a mesa do balcão, segurando e abrindo seu caderno, pressionando a caneta.
— Foi o que eu disse. — concorda.
— Detetive? — questionou ele com um olhar irritado, cruzando olhares com as duas estagiárias — Nope! — negou dando as costas para as duas e tentando se retirar do local. Todavia, uma idosa, sargenta experiente, com rugas no rosto, porém, formidável, de peitoral erguido, coluna ereta, posiciona em sua frente, com os olhos mirados nos três.
— Dick Grayson, Stephanie McGonagall e Helena Bertinelli. São vocês? — aponta a sargenta encarando os três friamente, com seu olhar vívido e cheio de experiências os envolvendo com intimação e inquisição, enquanto Dick dá passos para trás voltando a sua posição original e os três engolem a seco.
— Uh, sim. Somos nós, sim. — respondeu Stephanie um tanto insegura, mordendo os lábios.
— Ótimo. — disse a sargenta anciã, dando alguns passos para frente com suas botas pretas de couro. Passos estes, que pareciam esmagar o solo do saguão de tão poderosos e impositores, com seu olhar cravado nos três. — Vocês crianças estarão no caso do meta-humano radioativo, sob a tutoria do oficial pleno Marcus Smith e do detetive sênior Lucius Fox. Geralmente, o capitão do departamento delegaria essa função a vocês. Mas, com a maioria da estafe está no hospital de atestado devido a exposição a radiação, como todos sabem. Ele está ocupado agora resolvendo questões administrativas e coube a mim informa-los sobre isso. — justificou a senhora esperando os três se movimentarem para sua função. Todavia, eles continuam encarando-a, inseguramente. Dick por sua vez, fecha o punho de sua mão, com os dedos cerrando a palma de sua mão para esconder sua sudorese. — Por quê estão parados aí? Vão atrás deles! Andem! Andem! — ordenou ela assustando os três, que instaneamente saem correndo do saguão, sem olharem para atrás. — Novatos. — sorriu.
Eventualmente, Dick, Stephanie e Helena timidamente encontram Lucius Fox e Marcus Smith na sala de escritório do detetive Lucius, após perguntarem para outros oficiais do departamento sobre onde eles estariam, considerando que havia inúmeras salas para eles estarem.
Todavia, mesmo os tendo encontrados, os três ainda estão nervosos, apenas encarando eles de costas. Dick abraça sua prancheta de madeira observando o escritório de Lucius, se surpreendendo com a quantidade imensa de estantes de metal, cheias de pastas pretas e alguns envelope amarelos entre eles. No centro da sala há uma mesa simples de madeira, porém, elegante, com alguns papéis e uma cadeira giratória. Apesar disso, Dick e as outras garotas percebem que o foco do oficial e do detetive estão com os olhos voltados para um um desenho em forma de cartaz, um esboço facial colocado em um mural, atrás da mesa.
— Pra quê estamos olhando, exatamente? — indagou Helena, trazendo os olhares e a atenção de Lucius e Marcus para o trio, que nota a presença dos três instantaneamente.
— O retrato falado do nosso meta com habilidades de radiação. — respondeu Marcus com os olhares fixos no desenho, mas ainda assim, com certa diligência, cumprimenta Sthepanie e Dick levantando alguns de seus dedos indicadores da mão direita, sorrindo, brevemente. Sthepanie, apenas sorri de volta, retribuindo gesto. Dick, por sua vez, está centrado no cartaz sob o mural no centro do escritório.
— O capitão nos delegou vocês? — questionou Lucius Fox com o olhar voltado para Dick, que o nota e mantém uma postura firme e semblante confiante.
— O capitão está meio ocupado. Então a McGonagall que chamou a gente. — afirmou Sthepanie com um tom de voz amigável e gentil, trazendo os olhares de todos da sala para si e fazendo Dick e Helena concendirem com sua afirmação, acenando com a cabeça lentamente.
— Interessante. — alegou Lucius, esboçando um leve sorriso em seu semblante esnobe em direção ao Dick que desvia o olhar de maneira ríspida, comprimindo sua boca irritadamente.
— Lucius Fox entrevistou os homens que estavam no bar no dia da exposição, todos entre trinta e cinquenta anos. E de acordo com os relatos deles, o homem que procuramos parece com esse cara. — apontou o policial Marcus com o rosto fixo nos contornos e rabiscos do suspeito, que embora fosse bem desenhado, era escasso em detalhes. Pois os olhos do suspeito estão cobertos pelo boné, sendo visível apenas seu nariz afilado e esguio juntamente com sua boca larga e cumprida.
— Ele é bonito. — disse Helena, mordendo seus lábios, enquanto todos a encaram e a deixam nervosa. — Ok...bonitamente perigoso. — corrigiu ela pigarreando e com os olhos fixos no chão, fazendo Stephanie acenar a cabeça para as laterais, desapontada.
— Como todos os meta-humanos que são atípicos nessa cidade suspeitamos que ele seja advindo de Central City. O lar dos metas. Até o momento não compreendo a razão e nem o por quê dele ter usado esses poderes naquela taberna. — disse o oficial pegando algumas folhas de cima da mesa do escritório e entregando-as para os três estagiários, contendo informações médicas das vítimas, documentadas, rapidamente. — Porém, Fox conseguiu os registros médicos das vítimas da catástrofe, como podem ver nessas folhas que entreguei. Elas sofreram de fadiga, vômito, confusão mental, hemorragia interna, problemas neurológicos e em alguns casos, dermatite de contato. — gesticula enumerando com os dedos indicadores enquanto os três estagiários mantêm os olhos cravados em suas respectivas folhas de papel nas mãos. — Ele ainda está a solta e é nossa prioridade encontrá-lo, antes que ele envenene a nossa cidade. — concluiu ele colocando as mãos nos bolsos.
— É, ou pior. — afirmou Sthepanie com os olhos fixos no papel, erguendo as sobrancelhas e criando rugas em sua testa enquanto todos miram os olhos nela.
— Do que tá falando? — questionou Helena confusa e cruzando os braços, genuinamente curiosa acerca da afirmação da jovem loira.
— Se esse meta é capaz de causar esses efeitos nas vítimas, ele tem uma composição similar a de uma bomba nuclear, um núcleo de uma máquina de fusão em estado crítico. Ele poderia... — disse ela sendo interrompida.
— O seu estagiário de licença médica, Duke Thomas, disse que havia detectado energia atômica no local, através de um aparelho. — reelembrou Marcus brevemente olhando Lucius Fox, que não consegue responde-lo, apenas esboça um semblante reflexivo, com os dedos da mão esquerda sob o queixo.
— Óh meu Deus! — exclamou Helena com a boca aberta e olhos arregalados, franzindo a testa, angustiada. — Uma explosão assim seria catastrófica em níveis nunca antes vistos nem mesmo em Gotham. — afirmou ela com olhos voltados para o chão, suspirando.
— Vamos acionar a SWAT. Temos que colocar prioridade máxima no caso. Não podemos deixar Bluedhaven virar uma nuvem de cogumelo. — afirmou Lucius com as duas mãos na cintura, cruzando olhares com Marcus Smith. Segundos depois, a atenção de todos é desviada para o pager situado na cintura de Lucius Fox, que começa a apitar incessantemente. Ele segura o aparelho eletrônico e lê o visor do mesmo. — Reunião de departamento no quarto andar. Precisam de mim. — disse ele olhando para o oficial Marcus Smith que compreende com um leve aceno de cabeça. Em instantes, Lucius posiciona o pager na cintura novamente e caminha em direção a saída de seu escritório. Dick por sua vez, o acompanha e segue andando atrás dele até a porta. Todavia, os outros continuam com os olhares imersos nos registros médicos e no desenho do suspeito colado no mural.
— Você está errado. Eu não sou detetive e você sabe disso! — argumentou intrigado. Lucius se volta para Dick, compassivo e com um olhar determinado.
— Não é detetive, ainda. — contrariou olhando diretamente nos olhos dele, deixando-o sem palavras. — Você tem potencial. E pelo que conheço de sua história de vida, você seria um detetive e tanto aqui. Teria respeito. Seria admirado. Respeitado. Renomado. É isso que você quer? Você poderia ser um, em bilhões. Ou quer ser medíocre? — apontou seu dedo indicador para Stephanie e Helena, fazendo Dick olhar para as duas que estão atentas ao cartaz do suspeito, deixando-o sem respostas. — Pensa nisso, Dick. Seja detetive. — ele dá as costas para o jovem que suspira lentamente e está com os ombros caídos e reflexivo. — A escolha é sua. — concluiu saindo do escritório com a sua sombra sendo esvaída pelos corredores.