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Desejo e Poder, O Império de Han

Há um rumor em toda a Capital do Reino de Han de que não há nenhum descendente da família real que seja capaz de superar a Primeira Princesa. Entre todos os príncipes, isso é um grande problema. Li Hua, a primeira filha da Rainha do Reino de Han, tem todo o direito de lutar pelo trono. Pelo seu trono. E seus apoiadores são aqueles que ela menos espera, seus maridos.

MyraNLacerda · Historia
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10 Chs

O Príncipe Marionete

Reino de Shendu, Palácio Real de Shendu

Tudo deu errado. Os alvos foram trocados e ele não entendia o porquê. O Segundo Príncipe de Shendu estava calmo apesar de tudo. Suas vestes reluziam glória em um preto profundo — contrastando com sua pele pálida — que se estendiam por seus pés e bordados vermelho sangue agarravam seus ombros e braços. Os cabelos ondulados prateados escorriam por suas costas em uma paz sem fim e não havia nenhum acessório sobre eles. E em sua testa uma marca vermelha de uma espada curta e de lâmina fina — marcas eram comuns pelo povo de Shendu, mas não aquela especificamente — um sinal utilizado apenas pela realeza.

A corte estava em desordem. Com uma simples pergunta do Rei todos os ministros queriam comentar algo, um sempre sobrepondo o outro, era quase como estar nas ruas próximo ao horário de almoço.

O príncipe pigarreou, chamando a atenção de todos que estavam presentes e o silêncio aos poucos foi instaurado naquela reunião matinal.

— Aconteceu como deveria acontecer, não há necessidade de procurar por um culpado, Pai Real — curvou-se respeitosamente ao responder ao Rei e manteve os olhos baixos.

O Rei à sua frente bufou irritado, não era o que ele gostaria de ouvir. As vestes negras que ele utilizava eram como a própria tempestade no meio de uma noite sem estrelas e sem lua. Seu trono era tão escuro quanto suas vestes — uma paixão cega pela morte e o que ela oferecia, caos — um metal escuro o formava, e quando o sol atravessava a abertura do teto da corte e tocava suavemente o trono, era possível ver um lampejo das raspas de ouro que foram esfregados naquele trono com delicadeza. O homem se ergueu do trono e suas roupas tremeluziam com uma leveza real. Os olhos do Rei fitaram o Segundo Príncipe que permanecia de cabeça baixa.

— Está dizendo que era para acontecer desta forma? — Ergueu as sobrancelhas em descrença.

O Segundo Príncipe ergueu levemente a cabeça apenas para olhar nos olhos do Rei, seu pai.

— Não, não era para acontecer dessa forma, mas já que ocorreu assim, devemos seguir em frente e voltar a planejar.

O Rei enrugou a testa.

— Agora que a maior ameaça ao nosso reino permanece viva, Segundo Príncipe, qual a sua sugestão para lidar com o problema?

Era um teste do próprio Rei, ele queria saber onde estava a lealdade do príncipe se era com a Nobre Consorte — sua mãe — ou com o Reino de Shendu.

— Envie a mim. Eu posso me infiltrar no reino inimigo e usar minhas próprias mãos para fazer o que é necessário.

O Rei conteve o sorriso, o que ele mais queria naquele momento era enfraquecer o Segundo Príncipe, o rapaz havia crescido e amadurecido muito nos últimos anos e os ministros estavam cada vez mais e mais inclinados ao Segundo Príncipe para o tornar Príncipe Herdeiro. O Rei não podia tolerar aquela ideia grosseira.

— Segundo Príncipe, ouça meu decreto.

O rapaz ajoelhou e se prostrou com a testa recostada contra o mármore frio e a voz que se seguiu era como o próprio trovão.

— O Segundo Príncipe falhou em sua primeira tarefa, e como misericórdia de seu Rei ele terá a chance de invadir os territórios inimigos e os destruir. Mate e retorne ao Reino de Shendu para obter sua recompensa. Não retorne enquanto não houver concluído o seu dever para com o seu reino. Eu ordeno.

— Muito obrigado, Vossa Majestade. Que Vossa Majestade viva por mil anos! — O Príncipe se curvou três vezes e se levantou — Irei me retirar agora mesmo e me preparar para a viagem — abaixou a cabeça e ainda de frente para o Rei ele saiu de costas pelo longo corredor da corte com passos curtos e rápidos. Seu rosto estava inexpressivo, mas por dentro ele era consumido pelo ódio.

Do lado de fora da corte, Tseu o aguardava. O rapaz estava esperando desde o início da sessão matinal junto de outros servos. Seus cabelos estavam arrumados em um coque alto com um acessório prateado masculino, que o cobria por completo, e o fixava no topo de sua cabeça. As vestes simples, finas e escuras escondiam bem seus músculos.

O rapaz aguardava pacientemente, até que as grandes portas de mármore foram abertas por eunucos do palácio real, e do centro do corredor pintado de vermelho por um longo tapete de seda, seu príncipe se retirava de costas para ele e de frente para o Rei.

O Segundo Príncipe girou sobre os calcanhares para então virar o corpo para a saída da corte, seus olhos encontraram o rapaz em uma saudação respeitosa e então o ouviu dizer:

— Quais são os planos, Vossa Alteza?

Ele não se permitiu parar e muito menos responder, seguiu seu caminho até os aposentos de sua mãe, a Nobre Consorte, a única abaixo da Rainha. A segunda mulher que possuía maior prestígio. O rapaz, que era apenas alguns anos mais velho e mais experiente, se calou e o seguiu com a cabeça erguida, afinal, entre tantos servos que serviam o palácio ele não era de uma hierarquia baixa e inferior.

***

Os aposentos da Nobre Consorte eram diferenciados e mais especiais do que os de qualquer outra mulher no harém do Rei. Seu palácio era colorido e perfumado por especiarias que outras mulheres apenas sonhavam em ter um vislumbre. As servas não eram belas, além de serem horrorosas e defeituosas, eram obrigadas a utilizar um véu transparente preto. Uma estratégia. Se o Rei visitasse os aposentos da Nobre Consorte, os olhos dele seriam fixados somente nela e sua beleza suntuosa.

As servas anunciaram a chegada do Segundo Príncipe no Palácio da Juventude, onde sua mãe residia. O ar perfumado o golpeou, era forte e ele odiava.

— Saudações, Nobre Consorte — a cumprimentou com uma reverência, a mão direita fechada em punho sobre seu peito esquerdo e a cabeça baixa e os olhos mirando seus pés.

— Não há ninguém aqui, Segundo Príncipe. Pode muito bem me chamar de mamãe — ridicularizou.

Ainda em reverência, disse mais uma vez:

— Saudações, Mãe Real.

— Muito, muito melhor. Venha aqui — as mãos da mulher, pálidas e macias, suavemente tocaram o assento ao seu lado — Sente-se ao meu lado, amado filho.

Ele inspirou e expirou. E repetiu duas, três vezes antes de seguir para o lado da mulher. O cheiro de rosas o inundou, aquele odor parecia lhe queimar a garganta. Ele odiava aquilo. Os longos cabelos prateados de sua mãe estavam soltos sobre seus ombros e deslizavam sobre as vestes finas e transparentes que não escondiam sua nudez em nada. Sua mãe lhe trazia alguns sentimentos conflitantes, amor e ódio eram os principais.

— Conte-me como foi a corte hoje — ela ergueu suas pernas e as repousou no colo do Segundo Príncipe.

Ele trincou os dentes, era quase impossível manter a calma e agir de acordo quando ela se tornava uma lunática de merda.

— Foi tudo como planejado. Fui enviado para o norte.

A mulher esboçou um sorriso largo e farto e gargalhou de prazer, sua risada, nada contagiante, percorreu todo o corpo reverberando até encontrar as coxas do príncipe — Muito bom, muito bom. E então, o que mais?

— Os ministros queriam culpar alguém pelo massacre no outro reino, mas não os deixei que comentassem e nem investigassem o caso. Assim como desejou.

Ela esticou as pernas sobre suas coxas, e aos poucos deslizou o corpo para baixo, deitando-se sobre o estofado macio de seu assento longo. O corpo esbelto da mulher estava mais amostra e o Príncipe virou o rosto para o outro lado, desconfortável. A mulher sorria maliciosamente.

— Conte-me mais, Shen Yan. Estou tão excitada em saber como aquele estúpido Rei lidou com isso — e riu se deliciando da desgraça que o reino em breve cairia.

— Bom, com a tentativa de assassinato falhando, é improvável que iremos guerrear este ano. Porém, os reinos irão assumir uma posição defensiva por conta do nosso erro, e aquilo que Sua Majestade, o Rei, deseja poderá ser adiado. Apesar de que o melhor investimento seja em Han, o reino fraco.

A mulher sorria como o próprio Deus da Morte, seus olhos reviraram em um prazer para além deste mundo. Ela desejava o caos.

— Certo, por isso, ele o enviará para aquele reino inferior.

Ele assentiu.

— Sim, para me infiltrar e os destruir.

Ela o encarou com aquele sorriso cruel e cheio de desejos ocultos. Com os pés ela o violava, tocando-o onde ele odiava.

— Diga-me, príncipe, o que fará? Quais os planos?

Ele tentou se desvencilhar de seu toque, sem sucesso.

— Ouvi dizer que a princesa gosta de ter homens bonitos por perto — disse e seus olhos encontraram o da mulher que o gerou. Ela se ergueu abruptamente, discordando de qualquer coisa que encontrara em seus olhos.

— Não ouse!

A voz da mulher o assustou. O ódio que refletiu nos olhos dela o deixou curioso. O que ele poderia fazer para ver o ódio dançar em seu olhar? Ah, ele iria descobrir.

Shen Yan, o Segundo Príncipe, se inclinou na direção da mulher. Nariz com nariz e a respiração sendo usada e reutilizada por ambos. Os olhos do príncipe reluziam em algo que a mulher não soube explicar. Ela não gostou. Sua mão ergueu e foi tão rápido que sua única reação foi encará-la com a boca aberta. Ela lhe deu um tapa. Seu rosto ardeu e um leve formigamento se instalou em sua bochecha esquerda.

— Quem você pensa que é? — Vociferou ela.

Estava realmente fora de si.

— Farei com que este reino caia e outros sucumbam. Assim como Vossa Majestade deseja.

Ela ergueu o queixo para encará-lo com superioridade. Ela estava abaixo da rainha, mas dentro de seu aposento, se comportava como a soberana do continente. A mulher exigia ser tratada de forma diferente, não era atoa que ele precisava chamá-la de "Vossa Majestade", sendo que aquele título pertencia apenas à Rainha e ao Rei.

— Eu quero ver o que você pode fazer, Shen Yan.

Ele a reverenciou com um leve inclinar da cabeça.

— Sim, Vossa Majestade.