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Chuva incessável

Segunda-feira chegou fazendo Sarou ficar ansioso para ir ao colégio, mesmo sabendo que provavelmente a maioria pessoas o ignorariam ou fariam fofocas como sempre. Mesmo o diretor da escola não deixando que tudo sobre Sarou fosse à tona, um boato sobre o ocorrido acabou se espalhando. Desde então, todos os alunos costumavam o evitar, uma das únicas pessoas que o salvavam da solidão total era a Misaki. Sarou tinha medo de que ela acabasse se envolvendo, pois conhecia seu passado, apesar de também saber que não poderia ficar sozinho ou isso poderia ocasionar em uma depressão.

— Bom dia, Sarou, como você está?

Sarou não a tinha visto, então ela chegou dando um pequeno empurrão para o assustar.

— Ah! Você me assustou, Misaki!

Sarou estava perdido em seus pensamentos e, por conta disso, levou um belo susto.

— Sempre que você tiver problemas pode contar comigo, tudo bem, Sarou?!

Ela dizia como se soubesse exatamente o que ele estava pensando, sobre como ele era tratado aqui.

— A-ah, claro, Misaki... Eu confio em você, não se preocupe. Mas por que está falando disso agora?

Sarou gaguejou, um pouco impressionado com o modo como ela sempre se preocupava com ele.

— Você parecia preocupado, pensei que fosse por não ter muito com quem falar…

Assim como Sarou tinha imaginado, ela havia facilmente deduzido o que ele estava pensando.

— É verdade. Não sei como esses boatos se espalharam, mas são poucos os que falam comigo, e às vezes é só por precisarem por conta das atividades da escola.

— Não se preocupe com isso, pense no quanto se divertiu com sua mãe no final de semana.

— Obrigado, Misaki…

— Bem, vou indo para a sala primeiro, te vejo lá, ok?

— Eu já vou subindo também, me espere!

Eles então subiram para sua classe, que era a 1-3. Chegando lá, se sentaram em seus devidos lugares, quando Daichi Itou chegou. Daichi era um dos colegas de classe de Misaki e Sarou, que, ao contrário dos demais, ignorava os boatos envolvendo Sarou e sua família, e que sempre dizia para Sarou que se ele precisasse de ajuda em algo, era só o chamar que ele não hesitaria em ajudar. Daichi tinha 1,65 de altura, era ruivo e tinha olhos castanhos, seu cabelo costumava ficar muito bem-arrumado, parecia ser o típico tipo de cara que tentava dar em cima de qualquer garota se tivesse a oportunidade, mas, apesar disso, ele parecia ser gentil. E estava alegre:

— Ei, Sarou, que tal irmos para um Karaokê um dia desses? – Sorriu – Misaki, chame umas amigas também, vou chamar um pessoal que conheço, tudo gente fina. Vocês precisam conhecer mais gente, mas não se preocupem, eles não vão olhar feio para você ou algo assim, eu garanto.

Ele dizia piscando, com um sorriso confiante no rosto, enquanto se apoiava na mesa de Sarou.

— Tudo bem, vou confiar em você. Você não costuma me decepcionar.

— Vou marcar o dia então e depois aviso vocês. Yahoo!!

Ele gritou animado, enquanto cantarolava indo para seu lugar. O professor chegou na sala, pronto para começar a aula.

Após as aulas, Sarou se preparava para ir para casa, quando viu o diretor da escola, Azura Nishimura, o chamando, então se aproximou.

— Sarou, venha comigo até minha sala, por favor.

Sarou então sinalizou para Misaki ir na frente, apontando para o diretor. Ela retribuiu seu aceno, e então saiu da escola sozinha. Quando Sarou chegou na sala do diretor, sentou-se, assim como o Senhor Azura.

— Eu estou sabendo apenas um pouco, mas mesmo após minhas tentativas de evitar que o boato se espalhasse, ele acabou se espalhando. Não consigo entender o porquê, mas não se desanime por isso. Misaki e Daichi são ótimos alunos e devem ser bons amigos para você, então não se importe com os outros, se eles se afastam por conta de boatos assim, não seriam seus amigos de verdade.

Sarou, com o olhar triste, acenou que sim para o diretor, que mesmo sabendo que aquele assunto o deixaria triste, precisava ser falado e era realmente algo necessário.

— Não estou querendo te desanimar mais ainda, Sarou, só espero que entenda, não sou apenas o diretor da escola, mas também sou seu amigo. Você pode contar comigo, pois a muito tempo eu e seu pai fomos amigos, então já que não pude fazer nada para impedir que ele fizesse o que fez, vou tentar fazer você, pelo menos, não ter encrenca aqui. Mas tome cuidado, tem alguns baderneiros que podem querer arrumar confusão com você. Não estou te dando bronca ou algo deste nível, só quero ter que evitar te trazer aqui por coisas relacionadas a confusões.

— Tudo bem, diretor Azura. Vou fazer meu máximo para não te trazer problemas.

— Bem, estamos conversados. Qualquer coisa é só vir me chamar que juro tentar fazer algo por você, Sarou.

Azura o dispensou com um leve sorriso em seu rosto. Sarou deixou a escola logo em seguida. Percebendo que estava atrasado para seu emprego, correu para o metrô.

Misaki chegou em casa e viu que, como de costume, sua mãe não estava em casa. Havia o bilhete de sempre na mesa, escrito "sairei mais tarde do serviço, faça a janta". Elas duas geralmente não se davam muito bem por conta de algumas brigas do passado, então Misaki fazia sua própria janta, preparava seu próprio banho, depois estudava e dormia, para no dia seguinte seguir esse ciclo novamente.

Sua mãe mal ficava em casa, pois se dedicava muito ao seu trabalho, mas Misaki não ficava triste por isso, pelo contrário. Ela ficava feliz e em paz, pois sempre que sua mãe estava em casa trazia algum namorado com ela, e Misaki não era bem tratada pela maioria deles. Sua mãe raramente ficava com o mesmo namorado por muito tempo, pois Misaki sabia que ela era uma perseguidora e beirava a uma "yandere" e os namorados ao longo do tempo, percebendo que ela era assim, logo se afastavam e sumiam sem deixar rastros para que não houvesse a chance dela os perseguir.

Misaki sempre evitava ao máximo ficar perto dos namorados que sua mãe trazia, não só por conta que a maioria a maltratava, mas também por conta de um trauma do passado que teve com seu primeiro padrasto. Para ela, se trancar no quarto e estudar ou até fingir estudar em certas ocasiões era a melhor escolha para evitar a sua mãe e seus namorados.

Terça-feira Sarou acordou atrasado para a escola, por sorte, chegou pouco antes de fecharem os portões. Enquanto descansava depois de ter corrido muito, Kouji e seus capangas, Jun e Kazumi, se aproximaram sem que o mesmo percebesse.

Kouji Ikeda era o líder da gangue dos delinquentes da escola Hoshino, junto com Jun Ikeda e Koichi Endou. Eles frequentemente arrumavam confusão com Sarou, tentando tomar seu dinheiro, apesar dele nunca ter por usar tudo para tentar quitar a sua dívida.

— Oi, Sarou. Eu já sei do segredo que você tenta tanto esconder. Está morando em um certo local, o trabalho da sua mãe é durante a noite, você deve saber do que estou falando… Meu pai disse que já se deitou com ela.

Ele sorria de um modo sádico.

— Tudo bem, e o que tem isso, Kouji?

— Sabe, eu estava pensando que seria uma pena alguém mais saber disso. Eu sei que você usou o diretor para esconder esse boato. Hahaha!

Kouji disse tudo com um sorriso cínico, já sabia que Sarou não ia tentar fazer algo só por sua reação.

— Ora? Sem resposta então?

Kouji olhava para seus capangas fazendo um sinal, que Sarou interpretou que seria para se prepararem para brigar.

— Desculpe, mas não tenho condições, como já sabe. E não quero me meter em confusões, Kouji…

Sarou falou um pouco intimidado pelos três estarem o encarando.

— Há uma coisa chamada dinheiro, ela serve para me manter calado.

Jun e Koichi começaram a rir atrás da pequena discussão.

— Não vou conseguir dinheiro agora, pode me revistar caso queira…

Sarou tentava recuar devagar, mas os três andavam em sua direção.

— Parece que alguém está querendo levar uma porrada hoje, não é?!

O sinal da escola tocou para que os alunos fossem para suas classes. "Que sorte!" Sarou pensou, enquanto deduzia que conseguiria ir para a sua aula e escapar daquela confusão. Sem pensar muito, Sarou correu, mas Kouji era mais rápido e o agarrou, o jogando no chão, enquanto seus capangas avançavam.

Então, os três começaram a bater em Sarou no meio do pátio da escola. Jun chutou Sarou, que tentava reagir e se levantar, mas Koichi segurou seus braços.

— Vocês três são tão covardes a ponto de prenderem meus braços?

Sarou deu uma cotovelada no rosto de Koichi, enquanto o mesmo vinha em sua direção e lhe dava um soco, Jun aproveitou a oportunidade e deu uma joelhada no estômago de Sarou.

— Acabem logo com ele! Ele é um só, se vocês se unirem ele vai cair uma hora!

Enquanto isso, Koichi tentava novamente prender os braços de Sarou, mas Sarou segurou o braço direito dele, apoiou-se nas axilas e se virou, jogando-o em cima de Jun, que estava na sua frente, logo fazendo um Ippon, seoi-nage quase perfeito e derrubando ambos.

Kouji, que estava parado desde o primeiro golpe, se surpreendeu vendo a cena, mas, mesmo assim, avançou na direção de Sarou para tentar o golpear novamente. Kouji ameaçou um soco, mas chutou o lado direito da costela de Sarou.

— Toma essa!

Sarou quase perdeu o equilíbrio e, no mesmo instante, Koichi e Jun se levantaram furiosos. Koichi acabou dando um soco no estômago de Sarou e Jun um soco em seu rosto. Conforme a dor tomou conta dos pensamentos de Sarou, ele não teve tempo de raciocinar e muito menos reagir.

Nesse momento, muitos dos professores vieram para separar a briga, então todos os três foram levados para a diretoria, enquanto Sarou foi levado imediatamente para a enfermaria, pois seu nariz estava sangrando.

O diretor Azura em pessoa veio para a enfermaria para ver Sarou e o questionar. Azura pegou uma cadeira e se sentou perto da cama.

— Sarou, o que houve? Você está sangrando muito.

Azura falou calmamente, apesar de parecer preocupado.

— Kouji e os outros dois idiotas descobriram sobre tudo e vieram me extorquir.

Enquanto isso, Sarou pegou o pano que a enfermeira da escola havia deixado na cama e limpou o sangue de seu rosto.

— Desculpe, mas não posso ficar te protegendo como eu havia dito. Vou ter que dar uma suspensão a todos vocês, mas não se preocupe, você não está com tantas faltas. Se esforce para não faltar e você não terá problemas com suas notas no final do ano.

Azura dizia com um olhar amigavelmente triste, provavelmente por ter que lhe suspender, e principalmente por Sarou não ter o escutado.

— Sem problemas, diretor, você sabe que quero mudar a situação em que me encontro.

— Bem, como seu pai e eu éramos velhos amigos, e eu sempre cuidava dele mesmo, e como eu havia dito, não custa eu cuidar um pouco de você também. Agora vou dar um jeito naqueles três, e não se preocupe, eles não vão mais te perturbar. – Ele falou, sorrindo. Pouco tempo depois do diretor deixar a enfermaria, Misaki entrou desesperada.

— Sarou! O que aconteceu?! Olhe para o seu rosto! Eu ouvi uma gritaria fora das salas, todos falando que você e Kouji tinham brigado e olha como te encontro!

Ela gritou enquanto se aproximava e deu um abraço em Sarou, começando a chorar em seu ombro.

— Não se preocupe, Misaki. Eu estou bem, apenas alguns arranhões.

Sarou tentava evitar expressar dor, mas era quase inevitável pois ela estava o apertando exatamente em sua costela, onde havia levado o chute.

— Arranhões?! Seu rosto está todo roxo e seu nariz está sangrando, e você ainda tem coragem de dizer que foram só arranhões? Sabe o quanto me preocupo com você?

Ela dizia mesmo depois de tudo que eles passaram juntos, e Sarou sabia que ela realmente se preocupava com ele.

— Tudo bem, já passou. O diretor prometeu dar um jeito neles.

Sarou tentava acalmá-la dizendo calmamente enquanto a abraçava.

— Mas afinal, o que foi que aconteceu que aqueles três te bateram?

Ela começou a questionar Sarou, mas foi direto ao ponto.

— Então, parece que eles descobriram sobre a minha situação atual e esta-

Sarou é interrompido por Misaki.

— Mas o diretor não deixou isso só entre você e ele? Como Kouji descobriu isso e por que estava te ameaçando?

— Também quero saber como ele descobriu, sendo que o diretor não falou nada e nenhum professor ou qualquer outro aluno além de você e o Daichi saberem sobre isso…

Sarou estava realmente preocupado, afinal, já tinham alguns boatos ao redor da escola, e ele precisava saber quem havia o espalhado.

— Bem, vou voltar para a sala antes que eu acabe me complicando também.

Misaki disse triste em ter que deixar o amigo sozinho daquele jeito.

Sarou sabia que o diretor havia falado com Kouji e os outros, mas, claro, aquilo só ia piorar tudo.

Após alguns minutos esperando, a doutora chegou e disse que mandariam Sarou para casa para tratar melhor de seus ferimentos, então foi o que fez. Mesmo depois de tudo aquilo, ainda tinha o trabalho, então aproveitou para pegar alguns ingredientes em uma loja perto da escola para fazer obentô. Sarou entrou na loja e começou a olhar alguns legumes, já que estavam em promoção, procurou também por arroz e outras coisas para comparar o preço com outros mercados.

Enquanto isso na escola colegial Hoshino…

— Misaki, o que houve com Sarou? Ouvi falar que ele, Kouji e seus capangas brigaram, você sabe o que realmente houve?

Assim que Misaki chega em sua sala de aula, a representante da turma a questiona.

— Bem, – Deu uma pausa de alguns segundos – Não sei muito bem o que houve, mas parece que Kouji estava tentando tirar dinheiro do Sarou, mas como ele não tinha nada, começou uma briga.

Misaki tentava disfarçar para não contar o que realmente havia acontecido.

— Mas aqueles três – Disse indignada – Eu vou conversar seriamente com eles quando saírem da suspensão.

— Parece que o diretor já está fazendo algo sobre isso, representante.

Misaki dizia com um certo tom de esperança em sua voz.

— Mas não é o suficiente! Já não é a primeira vez que isso acontece, então preciso dar um jeito neles para não mancharem a reputação da nossa escola.

— Certo. Sobre a cópia das lições de hoje, pode deixar que eu entrego, tudo bem? Eu já pretendo ir visitar Sarou para ver se ele está bem.

Misaki disse esperando que a representante aceitasse para que ela não soubesse sobre a situação de Sarou.

— Sem problemas, deixo isso com você então. Mas me diga como ele está, certo?!

A representante parecia estar um pouco preocupada, apesar dos boatos.

— Bem, o professor parece ter chegado, então vou me sentar.

A representante disse enquanto o sinal começou a tocar, e então foi se sentar. Logo o professor estava na sala. Depois das aulas, a representante chamou Misaki, e a deixou entregar as anotações das aulas na casa de Sarou.

Ao caminho da casa dele, Misaki o viu saindo do mercado.

— Sarou!

Misaki foi em sua direção o surpreendendo, pois o mesmo achou que não a veria tão cedo.

— Olá, Misaki. O que faz por aqui?

Sarou estranhou de a ver ali.

— Estava indo a sua casa para entregar as anotações da aula de hoje!

Dizia ela meio ofegante. Parecia que tinha corrido um pouco até ali, então Sarou percebeu que devia ter sido por isso que as aulas mal tinham acabado e ela já tinha chegado ali.

— Tudo bem, obrigado.

Sarou pegou as anotações e se curvou um pouco, como se estivesse se desculpando pelo trabalho que deu a ela por vindo até aqui.

— Se quiser posso ir até a sua casa ajudar a fazer comida ou algo assim, com esses machucados pode ser meio complicado, é bom você descansar um pouco.

Aparentemente ela estava realmente preocupada com o que tinha acontecido.

— Pode ficar tranquila, eu consigo preparar sozinho.

Sarou olhou para o céu, parecia que choveria, então ele se apressou com as palavras para chegar logo em casa.

— Preciso ir antes que comece a chover. Até mais, Misaki!

Ela o olhava com uma expressão triste.

— Tudo bem, nos vemos outra hora, então. Passarei na sua casa amanhã para entregar as anotações novamente, okay?

— Tudo bem então, conto com você!

Ela abriu um pequeno sorriso e se foi.

Sarou foi para a sua casa e preparou seu obentô. Com ele feito, deixou um pouco para sua mãe guardado na geladeira, para quando ela chegasse, e foi em direção ao serviço na biblioteca.

No serviço, o tempo parecia não passar, mas felizmente foi a mesma coisa de sempre: nenhuma novidade ou coisa do tipo, recebeu o pagamento e aguardou até o horário de ir para a loja de conveniências.

Quando percebeu, estava sendo seguido. Dois homens encapuzados o abordaram com uma faca cada e levaram seus pertences, junto com todo o dinheiro que tinha em mãos, só ficaram as compras que eram para a semana.

Na loja de conveniências foi mais um dia comum e estressante: clientes lerdos e mais estoque pesado para carregar. No fim do dia Sarou estava exausto, sua sorte é que não iria para a escola por causa da suspensão, então teria mais tempo para descansar.

Indo para casa, sentiu novamente como se alguém estivesse o seguindo, mas não tinha mais nada, então não se preocupou. O caminho até sua casa foi tranquilo, e, quando chegou, se deparou com sua mãe dormindo. Sarou abriu a geladeira e percebeu que a comida que havia deixado para sua mãe não havia sido tocada.

— Ei, mãe, acorde! Aposto que ainda não comeu nada desde que chegou, você não pode ficar assim. Não vai demorar muito, só vou esquentar o que eu havia preparado antes, tudo bem?

Aproveitando que estava esquentando para ela preparou um pouco para si também, e com tudo pronto colocou na mesa improvisada que eles usavam para comer.

Enquanto Sarou e Hiromi jantavam, ele resolveu falar sobre o incidente.

— Ei, mãe, enquanto eu ia da biblioteca para a loja de conveniências fui assaltado, não pude reagir, pois estavam com facas e não queria me machucar…

Ela continuou comendo em silêncio e quando terminou disse:

— Não tem problema – Parecia exausta – só temos que arrumar algo para dar para Miyaki se ela vir, pois eu também fui assaltada, mas não como você, simplesmente roubaram minha bolsa sem que eu percebesse.

Enquanto eles jantavam, os dois ouviram alguém batendo na porta.

*Toc* *Toc* *Toc*

Sarou abriu a porta e viu Miyaki, cobradora da dívida do seu pai.

— Oi, Sarou. Vim pegar o dinheiro do mês com vocês.

Ela se encostava na porta, como se estivesse bloqueando o caminho.

— A-Ah, claro…

Preocupado, Sarou começou a pensar em alguma desculpa para falar para Miyaki os perdoar e deixar o pagamento para o próximo mês. Enquanto isso, Sarou e sua mãe começaram a cochichar.

�� O que faremos agora, mãe?

— Eu vou conversar com ela, não se preocupe.

— Certo.

Apesar de Hiromi falar firme, Sarou não conseguiu deixar de se preocupar.

Hiromi pediu para que Sarou ficasse ali e foi conversar com Miyaki. Sarou ouviu Hiromi conversando em um tom baixo com a cobradora, mas não conseguiu entender muita coisa, quando ela começou a gritar.

— Eu não quero saber! Eu quero o dinheiro!

— Calma, senhora Miyaki, prometo que mês que vem pagaremos sem mais atrasos…

— Meu chefe bem que falou que vocês me enrolariam, eu vou levar Sarou comigo se você não me dar a porcaria do dinheiro agora!

Miyaki olhou e apontou para Sarou.

— Não, Sarou, não! Por favor!

Miyaki foi na direção de Sarou e o agarrou, puxando sua arma, mas Hiromi correu desesperada na direção de Sarou e entrou na frente dele.

Enquanto isso, Sarou sentiu seu peito doer, sua cabeça e seus olhos começarem a latejar, e sentiu como se algo ruim fosse acontecer. Desesperada, Hiromi tentou empurrar Miyaki, mas ela em reação acabou disparando em Hiromi duas vezes.

— Sarou, corre!

Gritou, cuspindo sangue. Pelo que Sarou conseguiu ver, uma das balas havia perfurado o estômago, outra o braço.

Miyaki em reação correu, antes que alguém chamasse a polícia por causa do barulho de tiro, apesar de Sarou duvidar que alguém realmente se metesse naquilo.

Naquele momento tudo parecia estar em câmera lenta para Sarou, vendo sua mãe sangrar. "Tudo… Está acontecendo tão rápido… Eu não tenho tempo… Ela está sangrando… Eu preciso buscar ajuda, agora." Ele pensava quando decidiu a carregar nas costas e tentou chamar ajuda, mas ela acabou desmaiando. Sarou ainda sentia os batimentos cardíacos, então deu prioridade a tentar salvá-la.

"Para onde vou? Não temos telefone, pense rápido, quanto mais tempo você perde mais ela sangra, pensa… Pensa…"

Sarou começou a andar com Hiromi nas costas, batendo em algumas casas por algumas centenas de metros e chamando por socorro, mas como era de madrugada não havia ninguém na rua, até porque Sarou duvidava que alguém sairia a essa hora. Havia ocorrido o barulho dos disparos, mas as pessoas que estavam acordadas, ou que acordaram com o barulho pareciam fingir que não ouviram, ignoraram e algumas até apagavam as luzes vendo Sarou chegando perto da porta delas.

– Me ajudem! Por favor! Assim ela vai morrer! Por favor!

Como ninguém atendia e nem Sarou, nem Hiromi estavam com dinheiro e nunca tiveram condição de comprar celular, Sarou começou a tentar procurar por telefones públicos, mas não via nenhum por perto.

A chuva que já devia cair, começou.

— Ótima hora para começar a chover!

Sarou falou como se tivesse alguém perto dele o ouvindo, e enquanto isso sentiu Hiromi escorregando de suas costas. Ela era um pouco pesada e a água da chuva não ajudava muito, então Sarou já não conseguia mais aguentar o peso dela e a deitou em seu colo no chão, enquanto a chuva aumentava a cada minuto. Decepcionado consigo mesmo por não a conseguir mais carregar, ela despertou e disse:

— Fuja para onde Miyaki não consiga te achar, por favor.

A dor de cabeça de Sarou só aumentava conforme seus pensamentos também aumentavam, tentando achar alguma esperança, alguma solução para que sua mãe ficasse bem.

— Mas eu não conseguiria reconstruir tudo sozinho, e eles vão me achar mais cedo ou mais tarde, além do mais não fale assim, vai ficar tudo bem.

Enquanto isso, Sarou agarrando a mão de sua mãe, sentiu a força de suas mãos indo embora e percebe que algum órgão vital teria sido atingido, e ela estava perdendo muito sangue, então Sarou começou a gritar, enquanto suas mãos tremiam de medo e desespero:

— Mãe! Mãe!! Mãe!!! Aguenta firme!! Alguém!! Uma ambulância!!

Em meio a tudo aquilo, Sarou começou a gritar cada vez mais alto, mesmo quase sem voz e ficando sem ar.

— Alguém! Uma ambulância por favor!

Tudo parecia estar em câmera lenta novamente. Sarou tentou mais uma vez colocar Hiromi em suas costas, mas caiu com ela no chão, e ouviu um barulho de arma sendo destravada atrás dele, enquanto suas mãos tremiam ainda mais de medo e sua voz saia trêmula.

— Desculpe por isso, mas não posso me dar ao luxo de deixar você como testemunha ou meu chefe me mataria.

Era Miyaki quem estava atrás dele, e parecia que estava mesmo com intenção de o matar.

— Calma! Eu posso pagar a dívida, só me dê mais algum tempo… – Dizia com a voz ainda trêmula – Salve minha mãe e não precisaremos chegar a esse ponto, por favor.

Sarou disse começando a chorar, mas Miyaki não o ouviu e disparou uma bala que o atinge no braço esquerdo.

— Isso não vai ser possível, já recebi ordens para lhe matar, sinto muito.

Ela disparou outra bala e Sarou tentou desviar rolando para o lado, mas ela acertou em sua perna.

— Aaai!!! – Grita – Me deixe fora disso. Eu juro que não falo para a polícia nem para ninguém sobre isso se você salvar minha mãe!

— Você não entendeu ainda, Sarou? Isso não vai ser possível…

— Pare, Miyaki!! Deixe pelo menos ele viver!!!

Hiromi gritou cuspindo sangue tentando parar Miyaki, se arrastando em uma poça enorme de sangue.

— Você ainda não morreu? Incrível a resistência de vocês dois.

Sarou ouviu no fim da rua o barulho da sirene da polícia e da ambulância. Miyaki ficou entre duas opções: matar Sarou e sua mãe ou correr. Sendo uma pessoa inteligente, decidiu correr dando um último tiro em Hiromi, Sarou então se desespera e tenta ir em direção a sua mãe, se arrastando pelo chão.

— Mãe!! Não se mexa nem fale mais, por favor. – Falou em um completo desespero – Nós ainda vamos sair dessa.

Sarou gritava enquanto continuava se arrastando, chegando onde Hiromi estava e a olhando atentamente, ainda chorando desesperadamente quando ela começou a falar:

— Não chore... Por... Favor... Sarou...

Com a voz falhando e os olhos se fechando, lentamente Hiromi terminoude dizer suas últimas palavras.

— Mãe! Mãe!! MÃE!!!

Sarou gritou enquanto deitava o corpo dela em seu colo, e nisso a dor nos seus braços e pernas atingidas pelos disparos piorou e sua visão começou a ficar turva. Sua cabeça começou a latejar mais ainda e a dor que tinha antes no seu peito voltou pior e era tão forte que chegava a ser sufocante.

A dor ficou tão sufocante que Sarou fechou seus olhos para tentar recuperar ao menos sua visão, enquanto ouviu o barulho das sirenes ficando cada vez mais perto. Pouco tempo depois já não sentia o corpo frio e pesado de sua mãe, nem ouvia o barulho da chuva que lavava o sangue que tinha em seu corpo. Apenas sentiu sua cabeça atingir o chão rapidamente, e quando acordou já não estava no mundo onde se acostumara a viver.