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01

Quando você está à beira da morte e reflete sobre sua vida, o que vem à sua mente primeiro? Seu trabalho, sua família ou você mesmo? No início, eu pensava na minha família, mas então esses pensamentos se voltaram para mim. Comecei a questionar se realmente era necessária, se eles me odiavam tanto a ponto de tirar minha vida. Tentei encontrar algo que me desse forças para continuar, algo precioso para mim. Tudo em que consegui pensar foi no bebê que me foi tirado pela minha própria família. Sofri muito quando o vi sem vida diante de mim. Foi nesse momento que me tornei uma casca vazia, vivendo no automático.

Minha família fazia de tudo para me manter em casa desde que engravidei aos dezessete anos e perdi meu bebê um ano depois, por algum motivo inexplicável. Eu passava os dias jogando diversos jogos, absorvendo livros, fanfics, músicas e filmes, tentando fazer o tempo passar mais rápido.

Então, chegou aquele dia, um dia que me colocou neste estado de quase morte, refletindo sobre minha existência. Era um dia como todos os outros, monótono e sem vida. Acordei com meu irmão me chutando, como de costume. Esperei que ele parasse. Sempre era acordada assim, sendo derrubada no chão e chutada na barriga repetidamente. De alguma forma, ele me odiava muito, um ódio cuja origem nunca consegui identificar. Mas sempre que olhava em seus olhos, podia ver amor e ódio lado a lado. Então, quando terminava de me chutar, ele pedia desculpas e saía.

Após mais um episódio com o qual me acostumei, voltava-me para o computador para jogar alguns jogos e esquecer tudo, como sempre fazia. Mas, deixando de lado esses fatos, tenho orgulho em dizer que era uma ícone mundialmente conhecida, ou pelo menos o nome que usava em todos os jogos multiplayer competitivos, que era Kassios, que em grego significa "vazio". Adorava línguas e palavras estrangeiras, então aprendi muitos idiomas diferentes. Talvez essas fossem as coisas que mais gostava: jogos e aprender línguas estrangeiras. Talvez as únicas.

. Sempre me perdia nos meus próprios pensamentos, deixando de perceber o mundo só meu redor quando estava focada em algo. Mas lembro-me nitidamente quando os alarmes começaram a soar pôr toda a mansão. Alguém havia invadindo e começado a matar os guardas. Meu pai e meu irmão irromperam no meu quarto, desnorteados e raivosos, balbuciando sobre terem encontrado "eles" e que "eles" não teriam o que buscavam. A próxima coisa que testemunhei foi meu pai atirando na cabeça do meu irmão. Não tenho vergonha de admitir que senti um alívio ao vê-lo cair no chão, seu sangue manchando o tapete do meu quarto. Logo em seguida, ouvi meu pai me chamar, apontando a arma para mim. Ele tremia e chorava, e eu só esperava que ele apertasse o gatilho, para finalmente encontrar paz para sempre.

Lembro-me vividamente das palavras do meu pai, como um eco de desespero e fúria. Ele disse que já não importava mais, que não me entregaria para "eles" porque eu pertencia àquela família, a ele, e não àquelas pessoas desprezíveis e à sua família de víboras. Mas o que realmente fez com que eu desistisse de qualquer sentimento de culpa ou remorso por simplesmente aguardar minha morte foi quando ele mencionou meu bebê, tirado da vida pelas suas próprias mãos.

Meu pai foi o responsável pela morte do meu bebê, a única coisa que eu tenho do amor da minha vida e o que eu mais amava no mundo. Ele ousou alegar, apontando a arma para mim, que meu bebê era uma aberração, que nunca deveria ter nascido, e que eu nunca deveria gerar outra "aberração" como aquela novamente. Então, sem hesitar, ele disparou não uma, nem duas vezes, mas cinco vezes na minha barriga.

Os tiros ecoaram, atraindo os invasores para a nossa localização. Pelo menos consegui testemunhar quando uma mulher armada, estranhamente familiar para mim, entrou no meu quarto. Ela lançou um olhar em minha direção e imediatamente começou a atirar em meu pai, sem desviar os olhos de mim. Naquele momento, senti um alívio com a sua morte. Acredito que não conseguiria enfrentar a morte se ele ainda estivesse vivo. Meus olhos vagaram para o teto do meu quarto, uma bela pintura de um céu com passarinhos voando.

[Imagem]

Enquanto me perdia na contemplação dos pássaros livres, entre a vida e a morte, ponderava se ainda valia a pena lutar para viver. No entanto, a mulher que acabara de tirar a vida do meu pai se aproximou de mim, ajuelhando-se e tentando estancar o sangue que continuava a jorrar da minha barriga.

A voz da mulher que me socorria parecia distante, abafada pelos murmúrios da exaustão que envolviam minha mente. Tudo o que eu desejava era descansar, reunir-me com meu bebê e meu amor no além. Quando seus olhos encontraram os meus, pude ver a preocupação e a dor refletidas neles.

"Eu... Vou... En... Encontrar meu... Bebê e de... Descansar com... Eles... Em um... Lugar... Sem dor... !", murmurei com dificuldade, minhas palavras mal audíveis.

Os olhos azuis da mulher se encontraram com os meus, e naquele momento, reconheci quem ela era. Um sorriso fraco se formou em meus lábios enquanto proferia minhas últimas palavras antes de me entregar ao descanso eterno.

"Não... Se preocupe... Eu ainda... Não odeio você... Eu... Nunca poderia odiar... Minha gêmea..."

"Mas deveria!" - Foi a última coisa que ouvi antes de me entregar ao sono eterno.

[...]

Escuro e silencioso, esse foi o ambiente que me recebeu quando a dor se dissipou e a paz se instalou. Uma mão gentil acariciava minha cabeça, como se tentasse me confortar e aliviar todo o sofrimento que suportei, transmitindo-me a certeza de que estaria em boas mãos. Foi então que uma voz gentil e serena dirigiu-se a mim.

"Não tenha medo, minha criança. Você está em boas mãos agora e logo encontrará paz definitiva."

Senti um alívio e uma paz inundarem meu ser com suas palavras reconfortantes, mas a angústia ainda persistia. Queria perguntar se logo encontraria meu bebê e meu amor na paz eterna, temendo nunca mais vê-los. No entanto, minhas esperanças foram abruptamente esmagadas quando a voz respondeu.

"Sinto muito, criança, mas não há um lugar específico para as almas se reunirem com seus entes queridos após a morte. As almas simplesmente são purificadas e retornam ao ciclo de reencarnação."

Ao ouvir isso, uma dor indescritível dilacerou minha alma, algo que até mesmo a voz pareceu sentir. Queria chorar e gritar, ansiando desesperadamente por paz ao lado deles. Mas mesmo isso estava além do meu alcance. Estava mergulhada em agonia quando percebi que o gentil tapinha na minha cabeça se transformara em um abraço reconfortante.

"Mesmo que não possa estar com eles agora, nada impede que você deseje estar com eles em outra vida."

Quando questionei em minha mente, "O que você quer dizer... Voz?!", a resposta veio suave, mas firme.

"Olhe, criança, existe um tipo de sistema para as almas, algo que gosto de chamar de 'Desejos do Carma Positivo'. É algo concedido a algumas almas que acumularam uma grande quantidade de carma positivo ao longo de suas vidas. E, por coincidência, você tem carma positivo o suficiente para quatro desejos."

"O único porém é que as almas só podem escolher um desejo por vez; o restante é determinado aleatoriamente, incluindo seu gênero, mundo e raça, caso você acabe em um mundo de fantasia."

"Então, voz, eu desejo ficar com meu bebê e meu amor na próxima vida, para sempre!"

"Tudo bem, criança. Seu desejo será concedido assim que a roleta do mundo e do gênero for determinada, para que seja melhor alinhado com os termos do mundo e do seu pedido."

Embora eu não compreendesse completamente esses termos, afinal, só desejava estar com meu bebê e meu amor, decidi não questionar e permiti que a voz continuasse. "Já que não poderá ver a roleta girar, apenas informarei em qual resultado ela cairá para você, tudo bem?"

Falando em minha mente que sim, afinal, desde que morri, só conseguia perceber a escuridão ao meu redor. Acho que nem tinha mais um corpo para enxergar alguma coisa. Logo, a voz me instruiu a pensar na roleta para fazê-la girar. Assim que fiz isso, comecei a ouvir um som giratório até que se silenciou.

"Ok, criança, seu mundo foi escolhido. Parece ser um mundo paralelo ao seu, onde existem almas gêmeas. Então, seu primeiro desejo não será difícil: basta designar seu namorado como sua alma gêmea e, eventualmente, vocês se encontrarão e terão seu bebê na primeira tentativa."

Recebendo a informação da voz, senti uma onda de felicidade e esperança em reencontrar meus amores. Então, pedi para ela adiantar os outros desejos, pois queria estar com eles o mais rápido possível.

"Haha... Calma, criança, eles não fugirão. Mas entendo seu entusiasmo. Vamos continuar. Basta pensar na roleta rodando para finalmente ela escolher qual gênero você terá, afinal, parece que esse mundo tem três deles."

Curiosa com esse fato de um terceiro gênero, mas não querendo prolongar o tempo perguntando, decidi rolar a roleta logo, ouvindo-a girar com uma certa ansiedade. Logo, ela parou e a voz anunciou meu gênero nesse novo mundo.

"Olha que interessante, caiu no terceiro: Hermafrodita, ou também conhecido como Afrodita. Parabéns, criança. Não terei que fazer seu namorado renascer mulher caso caia no gênero masculino", brincou a voz no final.

Embora eu não soubesse o que era um Hermafrodita, pensei em perguntar para ele. No entanto, logo mudei de ideia. Queria ir embora logo, para reencontrar meus amores na próxima vida. Afinal, minhas dúvidas sobre meu gênero logo seriam esclarecidas quando renascesse.

"Muito bom, criança. Agora que os mais importantes já foram, posso escolher as últimas três roletas para seus desejos aleatórios... Normalmente, uma alma comum do seu mundo só conseguiria dois desejos: um feito por ela mesma e outro aleatório da roleta de habilidades divinas."

"Muito bem, criança. Como os desejos mais importantes já foram concedidos, posso agora escolher as últimas três roletas para seus desejos aleatórios... Normalmente, uma alma comum do seu mundo só conseguiria dois desejos: um feito por ela mesma e outro aleatório da roleta de habilidades divinas."

Curiosa sobre por que eu tinha mais desejos do que uma alma normal, e se eu realmente tinha feito algo para merecer carma positivo em minha vida passada (ou, pelo menos, não me lembrava de tê-lo feito), decidi guardar minhas dúvidas para mim mesma e continuei a ouvir.

"Então, criança, peguei a liberdade de rodar a roleta divina duas vezes e também a roleta dos deuses. Portanto, sinta-se honrada, criança, por ter o privilégio de rodar a roleta que somente um igual a mim pode realizar."

Em resposta, declarei em minha mente:"Eu me sinto honrada, voz, mesmo achando que não é necessário usar algo tão grandioso comigo."

"Claro que é necessário. Você é a primeira alma em seu universo a conquistar o direito de ter três desejos por mérito próprio. Então, rode a roleta e vamos descobrir quais de seus talentos serão aprimorados para o nível divino, criança."

Pensando em rodar a roleta divina, logo escuto-a girar. Desta vez, girou por um longo tempo até parar, e a voz expressou surpresa e entusiasmo. "Criança, parabéns! Você conquistou algo que nunca antes foi feito: a roleta caiu no meio de duas habilidades. Não sei se isso é permitido, mas vou deixar você ficar com as duas. Então, fique feliz, criança!"

"Você não sabe se é permitido? Tem certeza de que está tudo bem?", questionei em minha mente.

"Claro que está tudo bem, criança. Ninguém vai reclamar... Afinal, uma habilidade para preservar suas memórias gravadas de filmes, jogos, livros, músicas e similares em sua memória fotográfica, que você ganhará, não é grande coisa para as divindades acima. Assim como sua segunda habilidade, que permite saber se alguns filmes, jogos, livros, músicas e similares dessa categoria de entretenimento existem ou existirão no mundo para o qual você irá. Então, não se preocupe, criança, e fique feliz por continuar a lembrar das coisas que você ama, além do seu bebê e amor da sua vida."

"Voz, você realmente acha que isso é pouca coisa e insignificante? Para mim, é verdadeiramente um privilégio reter esses conhecimentos... E até mesmo acho um exagero uma alma pequena e insignificante como a minha obtê-los."

"Não se ache insignificante, criança, pois você não é. Não se preocupe com essas coisas, afinal, para divindades como eu, essas habilidades não são nada", a voz disse de forma reconfortante, acalmando minha ansiedade com o assunto.

Em seguida, a voz pediu que eu rodasse a roleta novamente. Então, fiz o que foi pedido, e mais uma vez a roleta girou por um longo tempo. Quando o barulho cessou, a voz anunciou:

"Olha que interessante! Essa habilidade nunca foi obtida antes. Você é a primeira a adquiri-la, criança... Bom, não é propriamente uma habilidade, mas uma escolha para você. Você pode escolher um talento seu para ser aprimorado até o nível divino, ou pode escolher uma habilidade que não possui, que será convertida para o nível divino e será sua", disse a voz, animada com a expectativa da minha escolha.

"Então, voz, eu vou escolher um talento que sempre desejei mas nunca tive oportunidade de aprender. É um talento que eu precisaria para realizar um sonho meu que nunca pude concretizar em minha vida passada."

"Nesse novo recomeço, você terá a chance de realizar os sonhos que não pôde concretizar antes. Então, criança, não hesite e peça o que deseja!"

"Voz, eu quero uma habilidade que me faça capaz de criar jogos incríveis, até mesmo um jogo de realidade virtual realista. Além disso, desejo escrever livros e roteiros incríveis, e também cantar maravilhosamente bem, como um cantor e compositor excepcional... Algo que complemente minhas outras duas habilidades.", disse, envergonhada com meu pedido que parecia um tanto exagerado.

"Não se sinta envergonhada, criança. Algumas das coisas que você pediu já estão dentro de você. Eu só vou aprimorá-las um pouco mais. Além disso, farei com que seus outros pedidos se realizem. Não é nada demais... Será tudo combinado com suas outras habilidades adquiridas", disse a voz, calma, apaziguando meu constrangimento pelas coisas que pedi.

"Não se sinta envergonhada, criança. Algumas das coisas que você pediu já estão dentro de você. Eu só vou aprimorá-las um pouco mais. Além disso, farei com que seus outros pedidos se realizem. Não é nada demais... Será tudo combinado com suas outras habilidades adquiridas", disse a voz, calmamente, apaziguando meu constrangimento pelas coisas que pedi.

Fiquei surpresa ao saber que já tinha algumas das coisas que pedi dentro de mim. Estava curiosa para saber quais seriam esses supostos talentos em mim. Mas só faltava uma roleta para poder me reunir com meus amores, então pedi à voz que rodasse a última roleta para que eu pudesse renascer finalmente.

Quando finalmente rodei a roleta dos deuses, ela não fez nenhum barulho. Fiquei em dúvida se estava rodando ou não, mas a voz assegurou que sim, então esperei ansiosamente... Até que a voz anunciou o que ganhei da roleta dos deuses.

"Criança, você ganhou uma alma divina imortal. É algo bom e também ruim, dependendo da perspectiva de alguns... E acho que a sua é a última."

Diante da revelação da voz sobre ter uma alma divina imortal, senti um pressentimento ruim se formar em meu peito. Perguntei com apreensão: "Como assim ruim, voz?"

"Criança, ter uma alma divina imortal significa que, quando ela morre, renasce, mas suas memórias são apagadas. A única coisa que se mantém são sua personalidade e habilidades gravadas em sua alma divina", explicou a voz com cautela e compaixão, tentando evitar que eu entrasse em desespero. "Além disso, toda vez que uma alma divina imortal dá à luz um bebê, esse bebê se torna um remanescente da divindade, o que faz com que seja alvo de almas malignas em busca do renascimento, levando à sua destruição."

Compreendi com horror que, tecnicamente, não lembraria dos meus amores, e que qualquer filho que tivesse estaria em perigo de ser caçado por almas malignas e possivelmente morto. Meu desespero cresceu.

Mas a voz tentou me acalmar: "Criança, não se desespere. Um remanescente da divindade só começará a ser caçado aos dez anos e parará de ser caçado aos vinte. Além disso, toda alma divina imortal tem um guardião das sombras ligado à sua alma, que protegerá tanto ela quanto seu remanescente. O remanescente é uma parte da alma divina imortal e será protegido até que seja capaz de se defender sozinho, criando uma cúpula que esconderá o resquício da divindade até a sua morte natural."

Essas palavras me acalmaram um pouco. Saber que meu filho estaria seguro com alguém protegendo-o e a certeza em minha mente de que nos encontraríamos novamente, mesmo que eu não fosse capaz de me lembrar dele, me deram alguma paz. Então, disse à voz que estava pronta para ir.

"Criança, espero que tenha ótimas vidas pela frente, e espero que demore para nosso próximo reencontro", disse a voz gentilmente em despedida, enquanto eu começava a sentir o sono me envolver.

Então, tudo ficou escuro, e eu apaguei, sem saber que uma vida difícil e emocionante me aguardava.

Continua...