Nas Profundezas de Eldoria

A escuridão envolvia Maddy, Kael e Selior enquanto desciam pelos estreitos túneis sob Eldoria. As paredes eram cobertas de musgo, e o ar cheirava a umidade e decadência, dando a sensação de que estavam descendo para o próprio coração do mundo. Pequenos focos de luz de tochas e cristais antigos iluminavam o caminho à medida que avançavam, mas as sombras persistiam, quase como se estivessem vivas, observando e aguardando.

Selior liderava o caminho com confiança, suas passadas silenciosas ecoando nos corredores de pedra. "Esses túneis foram construídos há séculos", explicou em voz baixa, como se as próprias paredes tivessem ouvidos. "Poucos em Eldoria sabem de sua existência. A maioria dos mapas da cidade não inclui essa rede de passagens subterrâneas, o que nos dá uma vantagem, pelo menos por enquanto."

Maddy andava logo atrás, seus pensamentos misturados com o medo crescente. Não sabia exatamente o que esperava encontrar nas profundezas, mas o peso do destino parecia mais pesado a cada passo que dava. O que Kael e Selior haviam revelado sobre o Alcance e a Ordem de Lorthar ainda rodava em sua mente como uma tempestade.

"Quanto mais temos que descer?" Kael perguntou, sua mão sempre perto da espada.

"Estamos quase lá", respondeu Selior sem se virar. "O local que buscamos está escondido nas profundezas da cidade, mais antigo do que Eldoria propriamente dita. Um santuário construído pelos primeiros magos, aqueles que selaram a entidade e usaram o Alcance para manter o equilíbrio em Mysteria."

Maddy não conseguia afastar a sensação de que algo estava errado. A cada passo que davam, ela sentia uma presença cada vez mais forte, como se algo estivesse os observando, algo que não era humano. Era uma sensação de medo primitivo, o tipo de medo que surgia diante de forças que não podiam ser compreendidas.

"Você sente isso?" sussurrou Maddy para Kael, que caminhava ao seu lado.

Ele assentiu, os olhos atentos às sombras. "Há algo aqui… algo antigo."

Finalmente, depois de uma longa descida, o túnel se abriu em uma vasta câmara subterrânea. As paredes de pedra eram adornadas com símbolos antigos, entalhados profundamente na rocha, e no centro da sala havia um altar de pedra, cercado por colunas quebradas e pedaços de estátuas caídas. Era um local de poder, mas também de destruição. O ar estava carregado de uma energia pesada e sufocante, como se o tempo em si tivesse parado naquele lugar.

"Este é o Santuário do Alcance," disse Selior, a voz carregada de reverência. "Foi aqui que os antigos magos selaram a entidade. E é aqui que o destino de Mysteria será decidido novamente."

Maddy aproximou-se cautelosamente do altar, seus olhos examinando cada detalhe da sala. Sentia uma atração estranha pelo lugar, como se algo dentro dela ressoasse com a energia da câmara. Era uma sensação desconcertante, mas também reconfortante, como se de alguma forma ela soubesse que pertencia ali.

Selior se aproximou do altar, retirando um pequeno frasco de vidro de suas vestes. Dentro dele havia um líquido escuro que parecia pulsar com vida própria. "Este é o primeiro passo para selar o poder do Alcance novamente. Precisamos realizar o ritual aqui, mas isso exige mais do que simples palavras. Você, Maddy, precisa se conectar com o Alcance, como seus antepassados fizeram. Apenas então poderemos evitar que a Ordem liberte a entidade."

Maddy deu um passo para trás, surpresa. "Eu? Eu não sei como fazer isso!"

Selior olhou para ela com seriedade. "Você sabe. O poder está em você, adormecido, mas presente. O Alcance é parte de quem você é, parte de sua linhagem. Tudo o que precisa fazer é se concentrar. Deixe que o poder flua através de você."

Kael colocou uma mão reconfortante no ombro de Maddy. "Estamos aqui com você. Não importa o que aconteça, você não está sozinha."

Ela respirou fundo, fechando os olhos por um momento, tentando afastar o medo. As palavras de Selior ecoavam em sua mente. Ela sabia que algo dentro dela estava mudando, crescendo, mas a ideia de liberar esse poder a apavorava. E se ela perdesse o controle? E se algo desse errado?

Selior começou a entoar um cântico em uma língua antiga, o som reverberando pelas paredes da câmara. A cada palavra, a energia no ar parecia aumentar, como se o próprio santuário estivesse respondendo ao chamado. Maddy podia sentir o poder do Alcance pulsando ao seu redor, e era assustadoramente forte.

Ela deu mais um passo em direção ao altar, seus olhos fixos no frasco que Selior segurava. "O que é isso?" perguntou, apontando para o líquido escuro.

"É a essência de um antigo feitiço", explicou Selior, sem interromper o cântico. "Serve para abrir o caminho entre o poder do Alcance e o espírito do Guardião. Quando você estiver pronta, deve beber isso."

Maddy hesitou, mas sabia que não tinha escolha. O destino de Mysteria estava em suas mãos, e o tempo estava se esgotando. Com um último olhar para Kael, ela pegou o frasco da mão de Selior e, com um suspiro profundo, o bebeu.

O líquido era amargo e gelado, escorrendo por sua garganta como se fosse feito de puro gelo. No instante em que o engoliu, algo dentro dela despertou. Uma onda de energia percorreu seu corpo, fazendo-a cambalear para trás. O poder do Alcance estava se manifestando, e era muito mais intenso do que ela imaginara.

Maddy sentiu sua visão se turvar, e por um momento tudo à sua volta desapareceu. Ela estava em um vazio, cercada por sombras e luzes cintilantes. No centro desse vazio, uma figura apareceu – um homem velho, com uma longa barba branca e vestes antigas.

"Você finalmente chegou", disse o homem, a voz ecoando no vazio. "O último dos Guardiões. O destino de Mysteria repousa sobre seus ombros."

"Quem é você?" Maddy perguntou, tentando se manter de pé no vazio.

"Eu sou o primeiro Guardião", respondeu ele. "Aquele que selou o poder do Alcance e a entidade. E você… você deve completar o que começamos."

Antes que Maddy pudesse responder, o vazio começou a desmoronar. Ela sentiu-se sendo puxada de volta para o santuário, para a câmara onde o ritual continuava. Mas agora, algo havia mudado dentro dela. O poder do Alcance estava desperto, e ela sabia o que precisava fazer.

Maddy abriu os olhos, que agora brilhavam com uma luz dourada intensa. A energia do Alcance fluía através dela, conectando-a ao santuário, ao mundo ao seu redor. Ela ergueu as mãos, sentindo o poder se manifestar, e com um grito, lançou essa força em direção ao altar.

O santuário tremeu, as colunas racharam, e o chão começou a vibrar. A luz dourada se espalhou por toda a câmara, criando uma barreira que Selior e Kael observaram com admiração.

Mas então, um som terrível ecoou nas profundezas. Algo havia acordado – algo que nem Maddy, nem Selior haviam previsto.

A entidade estava desperta.