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Tome uma Decisão!

O poder de decisão pairava na mente dos três jovens portadores enquanto olhavam para a comandante Ava.

— Eu tô fora — afirmou Tahiko, com um olhar decidido.

Koji se colocou rapidamente no caminho.

— O que tá fazendo? — perguntou ele, com uma preocupação evidente.

— Sai da minha frente, Koji — retrucou Tahiko, empurrando-o levemente.

Saik, que estava sentado, levantou-se abruptamente da cadeira com uma expressão de determinação enquanto se aproximava.

— Não pode decidir nada dessa maneira. Estamos juntos nessa — disse Saik, tentando trazer razão à situação.

— É claro que eu posso — rebateu Tahiko com firmeza, virando-se de costas para a comandante e caminhando em direção à porta. 

Ao abri-la, no entanto, teve suas mãos presas por algemas escuras com pontos vermelhos, aplicadas por um homem que parecia ser um agente da Torre.

— É sério isso? — Tahiko olhou para o agente com um misto de desdém e superioridade.

Com um picolé de morango na boca e um sorriso discreto, o agente respondeu calmamente.

— É uma algema de Nullite S1, a mais avançada. Interrompe todo o sistema de movimentação do corpo ao entrar em contato direto com ela. Ao mesmo tempo, reprime e danifica as ações não humanas… A sorte de vocês, portadores, é que esse modelo ainda não foi repassado para as Forças Armadas.

— Então, eu deveria sentir medo, é? — Tahiko desafiou, menosprezando o homem.

Tahiko desceu ligeiramente sua visão e leu no crachá do agente.

"Tovah, Agente da Unidade Principal da Torre"

Nos alto-falantes do corredor, o aviso firme de Ava ecoou.

— Agente Tovah, leve o Tahiko para a Central de Contenções, por favor. Conversarei com ele ainda hoje.

— O que? O que vão fazer com ele? — Koji perguntou. 

— Se fizerem alguma coisa com ele, não haverá colaboração da nossa parte — afirmou Saik.

Ava manteve uma expressão serena, mas autoritária.

— Se acalmem. Não iremos fazer nada e nem podemos. Ele apenas ficará num local enquanto tratamos de acertar a cooperação entre nós.

Koji e Saik trocaram um olhar preocupado, mas sabiam que deviam continuar a conversa com a comandante Ava. Ela os observava com uma expressão séria, mas calma, esperando que eles se acalmassem.

— Ok — disse Koji, respirando fundo — vamos discutir essa cooperação, mas saiba que estamos atentos a qualquer movimento contra o Tahiko.

Ela gesticulou para que os dois jovens se sentassem novamente.

— A proposta é simples, vocês nos ajudam a combater a Fundação, e em troca, oferecemos recursos, proteção e informações sobre os seus inimigos pessoais.

Saik cruzou os braços, desconfiado.

— E o que exatamente significa combater a Fundação? É matá-los? — ele perguntou.

— Missões de reconhecimento, expedições, sabotagem e, ocasionalmente, combate direto — respondeu Ava. — Sabemos que vocês têm habilidades únicas que podem ser decisivas.

Koji e Saik se entreolharam novamente. Eles sabiam que suas habilidades eram poderosas, mas isso também os tornava alvos valiosos.

— Ajudaremos, mas queremos garantias. Nada de missões suicidas ou de usar nossas habilidades como se fossem armas descartáveis.

Ava compreendia a seriedade da situação.

— Entendo as preocupações. Não esperamos que vocês façam nada sem concordar plenamente. Este é um esforço colaborativo. Queremos que vocês estejam do nosso lado por escolha, não por obrigação.

Saik relaxou um pouco, mas ainda estava cético.

— E Tahiko? Como podemos confiar que estará realmente seguro?

— Ele está sob nossa proteção, não temos interesse em prejudicá-lo. Ele é valioso para nós, assim como vocês — assegurou Ava.

Koji respirou fundo e olhou para Saik, que deu um leve aceno positivo.

— Precisamos de um aliado, e esse é o melhor momento para aceitar se tornar um aliado — pensou Koji.

Então, Koji deu a resposta.

— Certo, vamos colaborar. Mas se algo acontecer fora do tratado, o acordo é cancelado.

— Vocês têm minha palavra.

Após o acerto entre as partes, Ava conduziu os pelos corredores da imponente sede, levando-os para os quartos de agentes localizados em andares inferiores. O elevador era moderno e elegante, com paredes de metal brilhante e um painel de controle sofisticado. Enquanto desciam, o alto-falante do elevador anunciou uma notícia.

— Repassada informação da Torre Estadunidense para a Torre Brasileira. Em Portland, Estados Unidos, um ocorrido totalmente anormal aconteceu em um parque da cidade nesta manhã. As demais informações e detalhes ainda serão dados à nossa inteligência.

Ava, percebeu a curiosidade dos dois, e iniciou uma conversa.

— O que acham desse incidente em Portland? — perguntou ela, franzindo a testa levemente.

— Parece algo fora do comum — comentou Saik, com um olhar pensativo.

— Concordo — disse Koji, com suas sobrancelhas arqueadas.

Ava fez um aceno afirmativo e então o elevador parou no andar designado. Eles saíram e foram direcionados para os quartos.

Ao entrar, Koji e Saik encontraram um ambiente espaçoso e bem decorado, com duas camas grandes e confortáveis. O ambiente estava preparado para receber os novos hóspedes, e eles não perderam tempo em se sentar nas camas para uma rápida "testada".

— É, parece bem confortável aqui — falou Saik, dando uma leve risada enquanto se jogava na cama.

— Muito. Bem melhor que as camas dos motéis — concordou Koji, com um sorriso discreto.

Ava, que estava observando atentamente, fez um gesto para que se preparassem para o que estava por vir.

— Amanhã pela manhã, conversaremos sobre assuntos importantes, é crucial que acordem cedo.

Enquanto Ava ia fechar a porta, Cole Fuller, o jovem estagiário da equipe de inteligência da Torre, apareceu segurando um papel. Ele se dirigiu a Ava e entregou.

— Ava, recebi mais um relatório sobre os mortos em Dynami. O Capitão Williams foi oficialmente encontrado sem vida nas bases militares no sul da cidade.

Ava, com seu profissionalismo exemplar, recebeu a notícia sem alteração em seu comportamento. Ela fez uma leve inclinação de cabeça para Cole, agradeceu e virou-se para Koji e Saik.

— Boa noite — disse ela, fechando a porta.

Koji sentou na beira da cama, olhando para o chão com uma expressão inexpressiva. Saik, notando o comportamento, deduziu que ele já sabia do ocorrido com Williams.

— Você sabia, não sabia? — perguntou Saik, olhando para Koji.

Mantendo o olhar sério para o chão, Koji respondeu.

— Tahiko estava derrotado quando cheguei nas bases, ele tinha perdido para um portador da Fundação. O único humano que sobreviveu foi um garotinho chamado Riley, que Tahiko tentou proteger. Mas o mesmo portador inimigo que matou os civis e o Capitão Williams levou Riley também.

Saik respirou fundo, seu semblante se misturou em frustração e raiva.

— Eu imaginei que tínhamos conseguido salvar aquelas pessoas… Como fui idiota.

Koji levantou, andou até a grande janela do quarto, e olhando para a vista, disse ao seu parceiro.

— Eu acho que nunca senti tanta responsabilidade na vida quanto agora, mas isso não importa. Infelizmente vamos ver mais pessoas morrendo, só não podemos deixar que isso vire uma normalidade. Acho que tá chegando a hora de consertar o mundo.

— Hm. De fato — respondeu Saik, com um sorriso triste.

Nas bases militares totalmente destruídas no sul de Dynami.

Caminhando sobre o solo devastado das bases e um céu escuro, estava Nikki Williams, um soldado atlético e disciplinado das Forças Especiais da Torre, além de ser filho do falecido Capitão Williams. 

Ele andava entre inúmeros corpos sem vida e num cenário onde a vida, paz e esperança foram desesperadamente abandonadas pelas pessoas que morreram.

Com uma metralhadora em mãos e passos lentos, ele olhava para os lados e via um horizonte de casas varridas e sangue por todo lado.

— Isso é um inferno — disse ele, olhando friamente para o cadáver de uma criança desfigurada e com os membros decepados.

— Eu acho que sempre foi — afirmou um outro soldado, mais parrudo, barbudo e limpando as lentes do seu óculos escuro.

— Luke? — Nikki se virou e cumprimentou seu colega e amigo, perguntando — Como acha que vão conseguir levar todos esses corpos? São milhões pela cidade, isso me parece loucura.

— Mas ninguém acha que o governo vá fazer algo — disse Luke, sorrindo enquanto colocava o óculos escuro.

Ainda olhando para baixo, Nikki voltou a caminhar, dessa vez se distanciando das bases e se aproximando das residências desmoronadas. Luke o acompanhou e, com uma leve pausa, ele disse.

— Me falaram do seu pai… O Sr. Williams era sensacional, cara. Eu sinto muito.

— Meu pai não morreu, ele foi morto. 

Nikki continuou.

— E eu sei de quem é a culpa, mas não preciso ter pressa — falou ele, parando em frente a um cômodo de uma casa ainda em pé — E Luke, por acaso sabe o nome do portador que estava com meu pai aqui nas bases?

— Tahiko. É o nome dele. Parece que ele está lá em Brasília, na sede. Me disseram que vão tentar fazê-lo cooperar com a gente.

— Tahiko… Eu espero que ajude, não vai ser justo matar aquelas criaturas sozinho.

Nikki estava apático, seus olhos piscavam menos que o normal e não expressava nada além de uma frieza intensa. Ele parou e ficou olhando para o cômodo que, admiravelmente, ainda não tinha cedido. Luke se reaproximou e estacionou ao lado, com seus olhos também voltados para o cômodo.

Na parede do fundo do compartimento residencial, havia várias pichações com letras tortas que sinalizavam o desespero das pessoas que escreveram.

"Vamos pro Oeste" 

"Socorro!"

 "Deus está voltando"

Luke, em tom cômico, disse.

— A pessoa precisa estar muito louca para escrever "Socorro!" dentro de uma casa e não no chão da rua.

Mas uma pergunta pertinente foi feita em seguida por Nikki.

— Luke, as criaturas… Gyakus, comprovam que Deus existe? — perguntou Nikki, com a voz calma, mas num tom de genuína curiosidade.

— Claro que sim. É a maior comprovação de todas — respondeu Luke, com um sorriso de satisfação e alegria.

— Mas por quê? Qual é a ideia por trás disso? Uma pessoa devota provavelmente morreu por perder tempo escrevendo sobre a volta de Deus, mas nada mudou.

Nikki estava pensativo, sua atenção encontrava-se completamente na pichação. Luke, pelo contrário, olhou para seu amigo e respondeu.

— Nós humanos sabemos muitas coisas, mas também não sabemos muito. Vai de coisas simples como o bocejo até as mais grandiosas. São muitas coisas regadas por teorias, somente. Não sabemos todos os comportamentos e significados de tais ações dos animais, insetos, pragas, vírus, bactérias, pois não conseguimos pensar exatamente como eles pensam, é impossível. Nem mesmo mensurar nada do espaço, o nosso cérebro não tem essa capacidade. Deus é a mesma coisa.

Nikki refletiu sobre as palavras de Luke.

— Então, estamos apenas tentando entender algo que está além de nossa compreensão — murmurou Nikki, mais para si mesmo do que para Luke.

— Exatamente. E no meio disso tudo, fazemos o melhor que podemos — Luke deu um tapinha no ombro de Nikki — Vamos lá, ainda temos muito o que fazer aqui.

Com um último olhar para as pichações, Nikki assentiu e seguiu Luke, determinado a continuar, mesmo que as respostas não fossem claras.