25 de Dezembro - 347 depois do baile de inverno.
Os pais de Cecília resolveram adiar a ida do Natal para Cuba, pelo menos a dela e a minha, deixando assim que minha namorada passasse o Natal na minha casa conhecendo toda minha família.
Meus primos não são tão chatos quanto os de Cecília, pelo que ela diz deles ao menos, além disso sempre tenho Joana por perto para manter a sanidade. Os irmãos da minha avó falecida, Juan e Janice, não paravam de criticar tudo que meu pai fazia, mas ele como é muito bondoso e paciente não ligava. Minha mãe já havia espalhado para família toda que minha namorada viria para o Natal e todos os mais velhos que não viam minhas fotos no Instagram achavam que eu iria trazer uma legítima estadunidense loira para casa ou uma ruiva da Europa. Eu não sei qual teoria me fazia rir mais, e minhas risadas ficaram ainda mais altas quando apareceram Maya e Madelaine logo de manhã.
Cecília só chegaria depois das duas da tarde, basicamente na hora do almoço, já que ela estava passando a noite na casa de Ingrid.
— Qual de vocês... — Meu tio Juan se esforça no inglês, enquanto tem os olhos arregalados para minhas amigas. — É namorada da Liz?
— Nenhuma, senhor. — Madelaine explica e Maya revira os olhos. — Somos apenas amigas.
— O senhor sabe que sou a melhor amiga dela, tio Juan. — Maya tem um olhar julgador até para tia Janice, logo atrás dela está Joana segurando o riso.
Os outros familiares estão todos na varanda da parte de trás da casa tentando escutar a conversa e fingir naturalidade.
— Minha namorada vai chegar ainda. — Essa frase sai naturalmente e com pouco mais de ansiedade do que eu achei que conseguiria, tendo em vista que sempre tive uma barreira com isso.
— Não é nada do que estão esperando. — Scoot aparece dizendo e soltando um risinho breve.
Meus irmãos assim como meus pais apostaram para ver qual dos nossos parentes ficarão apaixonados por Cecília, por ela ser uma mulher cubana e criada conforme essas tradições. Obviamente achei algo muito bobo da parte deles, mas de certa forma fez com que eu ficasse mais calma porque isso mostra que todos já aceitaram e não viram problema na minha orientação.
— Vocês são a pior família. — Falo dramaticamente.
O almoço estava quase pronto e nada da minha namorada aparecer, todos ficam olhando para mim. Fico realmente preocupada de que ela tenha mudado os planos e minha família fique perguntando sobre Cecília. Desconfio que todos nem acreditem que realmente tenho uma namorada, apesar de quase todos presentes estavam aqui quando fugi no ano anterior e acabei me assumindo lésbica.
Minha família começa a se reunir na mesa, do lado de fora, está bem fresco por ser inverno, mas nem tanto afinal é Miami. Cecília envia uma mensagem dizendo que irá se atrasar, o que aumenta minha frustração e ansiedade mil vezes. Eu só queria exibir ela para toda minha família logo.
— Vai ficar aí? — Lyra questiona numa falsa preocupação e sem que eu consiga responder algo ela me olha debochada. — Ah, é bom que sobra comida, fica mesmo!
— Só porque falou eu já vou! — retruco rapidamente pulando do sofá. Lyra tenta apressar os passos, mas sou mais rápida que ela e a ultrapasso na porta da cozinha para a área de trás da casa.
Fico surpresa ao encontrar não só a minha namorada, mas os pais e a irmã dela também entrosados numa conversa com a minha família, como se fossem conhecidos há tempos. Cecília parece muito concentrada em roubar pequenas fatias de carne ao lado do meu pai, que está cuidando da churrasqueira.
Cecília pega mais uma fatia de carne e é cutucada por meu pai, que aponta para atrás dela, onde estou descendo a curta escada para a área de lazer.
Daise passa por mim e estende a mão para bater rapidamente, correndo para dentro da minha casa, os pais de Cecília acenam e até a avó dela balança a cabeça em minha direção com um sorrisinho, acho que ela enfim me aprovou.
— Hey! — Cecília fala toda sorridente ao se aproximar, ela usa uma camisa aberta florida de cor Stela e por baixo um cropped, com um short jeans preto. Eu amo o jeitinho que ela se veste, ela é perfeita em tudo.
Nem percebi que estava sorrindo, só quando ela me nega um beijo e logo um bico contrariado nasce na minha boca.
— Estou suja, Lo. — Cecília responde rapidamente, apoiando a lateral das mãos em meus ombros com medo de me sujar.
— Não me importo. — Reclama e beijo o rosto dela, fazendo-a tirar as mãos dos meus ombros para que eu pudesse chegar mais perto de seu corpo. — Por que mentiu dizendo que ia demorar?
— Foi ideia do seu irmão, ele disse que você só ia vir pra cá quando eu chegasse... — Cecília tem um sorrisinho travesso nos lábios, ela e Maya são farinha do mesmo saco e vivem de conspiração contra mim. — Então apostamos que você viria quando a comida fosse servida, comigo aqui ou não.
— Você apostou com minha família? — questiono fingindo irritação, Lyra se aproxima toda risonha e entrega alguns guardanapos de papel para minha namorada.
— Sim. — Cecília me responde, rindo, enquanto pega os papéis da mão da minha irmã. — Obrigada, Parceira.
— Quanto você perdeu? — pergunto desconfiada, observando Cecília limpando a boca assim que minha irmã se afasta rindo.
— Nada, Lyra e eu apostamos que você viria sem que eu tivesse chegado. — A resposta prova que Cecília me conhece o suficiente para saber o quanto amo comer.
— Lyra trapaceou indo me manipular com uma provocação, você sabe...
— Eu divido o dinheiro se você não contar. — Cecília termina de se limpar, passando nos dedos, então encosta a boca na minha em um beijinho rápido.
— Minha oferta era em troca de beijos, mas como já tenho de graça, acho que a metade do dinheiro...
— ¿Esa es tu novia? — Tio Juan parece espantado, mas de uma forma boa, ele fala até falar na língua materna.
— Pelo menos alguém na família sabe escolher! — Tia Janice está logo ao lado fazendo um comentário que poderia ter ficado sem ser feito, mas que todos sabemos que é direcionado aos meus pais e ao mal uso do meu pai com a churrasqueira. — Essa menina é muito gente boa!
— Eu disse que iam amar a Cecília! — meu irmão praticamente grita para meu pai, que logo tira alguns dólares do bolso e balança no ar para Scoot.
Olho para minha família, passando os olhos devagar em cada um deles, apenas para intimidar. Eles estão usando meu namoro para obter apostas...
— Nessa aposta eu não estava. — Cecília se adianta em explicar. Ela está um tanto sem graça por nós duas de algum momento para o outro viramos o foco de todo o aglomerado de parentes meus.
— Tudo bem, Ceci. — Respondo, pegando a mão dela e puxando-a para longe da minha família. — Seus pais não iam para Cuba? Eu não estou preparada para receber eles.
— Preparada?! — Cecília leva as mãos ao meu rosto passando com carinho. — Você está linda!
— Psicologicamente... — reviro os olhos, respondendo. Ela sorri, negando com a cabeça.
— Oh, não seja boba. — Cecília ergue um pouquinho, se inclinando para me beijar rapidinho. — Todos te amam, até minha avó!
Apesar de ser brincadeira sobre a avó dela, tenho medo daquela senhora.
— E Cuba...?
— Ah... — Cecília morde o lábio inferior de forma nervosa e parece sem graça, o que me deixa ansiosa de imediato pois não é algo normal de Cecília ficar nervosa ou sem graça por algo. — Então... E-eu...
— Vai contar pra ela? — Daise passa pela porta da minha casa, questionando Cecília. Parece igualmente ansiosa pela irmã.
— Contar o quê?
— Vocês estão me deixando nervosa, eu nem ia falar nada agora.
— A CECÍ VAI FALAR COM A LIZ AGORA!
— Você vai para Cuba? Para sempre? Não acredito que logo agora que nós estamos juntas você vai embora, não sei se manter uma relação tão distante assim pode dar certo, você sabe que sou inseg...
— O quê? Não! Nada disso! — Cecília coloca as mãos sobre meus ombros e balança sutilmente para que eu deixe de falar. — Vou estudar em Nova Orleans no próximo ano também e pensei que pudéssemos morar juntas...
— Oh, uau... Isso, isso é incrível! — apesar de um pouco desnorteada ainda, consigo pensar de forma racional e ficar feliz. — Por que não me contou antes que conseguiu passar?
— Queria fazer uma surpresa, mas você não deixa que eu faça nada com calma. Então aqui estamos... — Cecília implica com um sorrisinho costumeiro brincando nos lábios.
— Desculpa, Ceci.
— Oh, ok... Agora você tem que pensar com calma sobre e avaliar se...
— Óbvio que quero morar com você. — Respondo rapidamente, mal deixando que ela fala. Não só ela como nossas famílias pareciam estar segurando a respiração e quando dou minha resposta todos soltam o ar.
Cecília sorri antes de me beijar e em seguida me abraçar com força.
— Tudo ficou bem... Podemos ir almoçar! — Eu não sei qual dos meus tios gritou isso, mas a comoção em seguida foi geral e todos deixaram de olhar para Cecília e eu, se dispersando para a refeição.
— Alguém fez uma aposta sobre isso? — Questiono rindo enquanto Cecília deixa beijinhos no meu rosto e me abraça animada.
— Acho que Mad e Maya fizeram, mas não tenho certeza. — Cecília responde meio em dúvida, claro que aquelas loucas sabiam e se meteram até nisso na minha vida.
Puxo Cecília para ir almoçar, meus pais estão sentados perto dos pais de Cecília, parece que eles se deram muito bem. Há pouco menos de uma no eu não poderia pensar que seria aceita dessa forma, nem que teria uma namorada tão maravilhosa. Agradeço por ter sorte de ter pessoas assim na minha vida. Eu nunca acreditei de fato que tudo poderia dar tão certo, mas Cecília acredita e sou grata por poder confiar nas palavras dela.