webnovel

21. Souvenir do Alabama.

CECÍLIA

30 de Dezembro — Sábado

Resumo da minha vida: num momento estou no carro com Liz Rodriguez, no outro estou quase contando que secretamente gosto de observá-la e que tenho uma queda (diria até uma paixonite) por ela. E no momento seguinte estou confusa e sem entender nada por Maya ter saído da interestadual, parado o carro de qualquer jeito e saído do veículo.

— O que foi isso, Maya?

Liz pergunta, mas Maya já não está ali dentro do carro; sou a última a sair dali.

Liz está tentando barrar Maya que está com um taco de baseball em suas mãos. Caramba, estou confusa demais. Que merda está acontecendo?

— O que está acontecendo?

— Aquele carro está nos seguindo sabe Deus desde quando, Liz!

Maya segue em frente ao desviar de Liz, me aproximo da líder de torcida na intenção de entender o que está acontecendo afinal. A ideia de alguém nos seguindo não faz muito sentido na minha cabeça quando só estou preocupada com Maya e seu taco na mão e Liz preocupada.

— Maya, está maluca de ir até...

Só faz sentido que Maya vai bater em alguém quando ela está indo furiosa em direção ao carro preto muito familiar.

— Sai da porra desse carro ou...

Estou mais perto e consigo reconhecer de quem é aquele carro. Só não faz sentido no momento estar sendo seguida.

— Não, Maya!

Corro para perto da amiga de Liz e por pouco não consigo impedir Maya de amassar o carro.

— Ficou louca, Cecília?

Maya questiona, Liz chega mais perto de nós parecendo amedrontada. A porta do carro é aberta e demora alguns segundos para o corpo conhecido sair do veículo.

— O que você faz aqui?

— Acha mesmo que eu ia deixar a Cecília vir "nisso" sozinha?

Ingrid responde para Maya, a amiga de Liz parece menos irritada; mas nem tanto. Eu fico feliz de ela ter nos seguido em preocupação comigo.

— Certo, eu também não deixei Liz vir sozinha. — Maya fala, o taco agora abaixado em uma das mãos.

— E para onde vocês vão afinal?

— Nova Orleans. — Liz responde, eu nem se quisesse saberia responder.

— Oh, merda! Vocês são loucas mesmo. — Ingrid sorri um pouco, encostada em seu carro. — Alguém vai ter que me emprestar algumas roupas porque eu vou com vocês.

— Você vai? — Maya pergunta parecendo desconfiada com a informação, mas ao mesmo tempo gostando da ideia.

— Vou, eu posso confiar em vocês agora que sei com quem Cecília vai, mas avisei para minha mãe que ia viajar com ela então é melhor não voltar para casa.

— Isso vai ser ainda mais divertido. — Liz comenta e quando olho para ela está sorrindo enquanto olha para Ingrid.

Um frio na barriga me faz quase tremer, ela tem uma queda por Ingrid, não é?

*****

Ingrid deixou seu o carro no estacionamento do hotel, uma ideia meio louca de sua parte mesmo que o senhorzinho dono de todos os pontos daquele pequeno aglomerado comercial da beira da interestadual tenha permitido que ela assim fizesse.

Nós passamos a noite num quarto só, porque os quartos não eram tão acessíveis para cada uma dar-se ao luxo de alugar um. Maya e Ingrid ficaram com a cama de casal (elas oficialmente seriam as motoristas por isso tinham que dormir melhor), Liz e eu improvisamos camas no chão cada uma do lado da respectiva amiga.

Nós não conversamos muito depois da coisa toda de Ingrid estar nos seguindo, apenas conversamos sobre passar à noite ali e pela manhã seguir o nosso percurso e literalmente é o que estamos fazendo.

— Você avisou a sua namoradinha que estamos mesmo indo, certo?

Maya questiona para Liz, olhando para trás do espelho retrovisor.

Namoradinha? Liz namora, oh merda onde estou me metendo.

Rodriguez bufa ao meu lado, Maya está sozinha na frente ainda porque Ingrid foi ao banheiro (é nossa primeira parada depois do Hotel e ela já estava maluca com isso, acho que Ingrid tem problema na bexiga).

— Rafa não é minha namorada. — Liz fala me olhando, como se me devesse uma justificativa; não posso negar que gosto de sua resposta. — Nunca foi e nunca será.

— Isso não importa... — Maya cantarola, Stelamente achando a justificativa irrelevante.

— Uh, comprei Slim Jim para nós! — Ingrid fala animada demais para o meu gosto para essas salsichas secas em forma de palito.

— Carne no palito arrasou, garota! — Maya fala animada, Liz sorri para a animação das duas. Seus olhos demorando um pouco demais, na minha humilde opinião, em Ingrid.

— Elas são praticamente amigas de infância. — Liz me confidencia baixinho e sorri como uma criança sapeca, Maya com certeza falaria alguma gracinha caso escutasse o comentário.

— Ei coladoras de velcro, vocês não querem salgadinhos de carne?

— Vai se foder, Maya! — Liz rebate instantaneamente. Ingrid não entende direito porque Maya usou aquele termo e vejo isso no seu rosto, ela não sabe que Liz é lésbica ainda e deve achar que ela está fugindo só porque é uma garota mimada. — Aceito os salgadinhos sim, obrigada.

Não resisto e começo a rir de Liz, pensei que ela fosse negar e que realmente estivesse brava com a amiga. Maya gargalha e "ofende" Liz mais uma vez com algum tipo de brincadeira.

*****

Eu sempre me achei meio livre demais, alguns me passam como até louca, mas Maya e Ingrid juntas são outro nível de tudo que eu sou.

Como elas são as MMGS's (Motoristas mais gostosas e sexies) segundo elas, são as próprias que decidem as coisas e com esse poder todo as duas malucas escolheram acrescentar mais 3 horas de viagens passando pelo Alabama (sim, a porra do estado do Alabama).

Agora temos 15 horas de viagem, incrível a capacidade do ser humano de ser louco.

— Estou com frio. — Liz fala do lado oposto ao meu do carro, ela está de moletom assim como eu, e da mesma forma ainda não se sente agasalhada suficiente.

Nos já dormimos no ombro uma da outra (eu até comecei a babar nela de tanto dormir), Maya cochilou aqui atrás enquanto Liz dirigia um pouco ao lado de Ingrid.

Eu dirigi também, só um pouco antes de entrar no Alabama, nesse estado o carro era das MMGS's (Maya e Ingrid, Liz também não quis fazer parte do clube delas assim como eu, apesar de ela preencher os requisitos necessários).

— Quer um abraço? — Abro os braços de forma teatral, imaginando que ela não vá aceitar pois Liz é praticamente uma criança vergonhosa.

Ela balança a cabeça de forma afirmativa, tira o cinto e se joga em mim fazendo meu corpo inteiro se aquecer com o cheiro gostoso dela tomando conta de mim.

Ingrid olha para trás, o movimento deve ter chamado sua atenção e logo volta para sua função de piloto. Maya está olhando para fora, quase com o rosto no vidro tentando ter uma boa visão por conta da chuva caindo contra ele e sua respiração fazendo-o embaçar um pouco.

— Ingrid! Eu quero parar ali! — Maya nos assusta = e aponta para a direita animada feito uma criança na manhã de Natal. — Edwards, tem uma loja de souvenirs!

— Calma, Maya, vamos parar. — Ingrid responde na maior paciência do mundo. Elas foram feitas para ser amigas não tem como não ser, isso porque nem falei da paixão pela Beyoncé que ambas compartilham.

Liz ri baixinho da cara de frustração de Maya, ela está animada demais enquanto Ingrid está toda calma. A chuva parece aumentar um pouco, quase como se fosse como o ânimo de Maya Turner, que está praticamente batendo palmas de animação.

O carro para e Liz gruda mais em mim, sorrio e aperto ela nos meus braços.

— Vocês não vêm? — Maya pergunta ao abaixar a música que eu nem ao menos estava prestando atenção, ela está a ponto de abrir a porta. Ingrid nos olha também, ela parece desconfiada, mas apenas de mim.

— Estou com frio, Maya. — Liz fala, a cabeça em meu peito e os braços envolta da minha cintura. — Pode ir se quiser, Cecília.

— Não estou afim, já tive muito do Alabama na lanchonete que paramos. — Faço uma tentativa de brincadeira e apenas Liz ri um pouquinho.

— Ok, então vamos. — Ingrid fala e logo abre a porta, saindo correndo na chuva em seguida.

— Vocês vão ficar sem suvenires do Alabama, bobas. — Maya berra saindo atrás de Ingrid logo depois de falar com Liz e eu: — Espere por mim, Edwards!

Liz sai de cima de mim e se estica toda para aumentar o volume do som e roubar o cobertor fino que Maya estava tampada antes.

Me viro totalmente no banco e ajeito o travesseiro que não sei de quem é, assim ficando melhor para Liz me abraçar também.

— Uh, nariz gelado. — Brinco quando ela esbarra seu rosto no meu pescoço, Liz ri e faz de propósito encostando o nariz no meu pescoço quente outra vez.

— Você é tão quente... — Liz diz sem duplo sentido evidente, mesmo assim eu poderia fazer uma piada ou algo do tipo, mas deixo passar. — Ainda bem, porque sem você eu morreria de frio.

— Exagerada.

Nós ficamos em silêncio por algum tempo, escutando as músicas e a chuva batendo contra o carro, enquanto nos abraçamos.

— Essa música é um pouco triste...

Liz sussurra após os primeiros segundos de The Night We Met, de Lord Huron.

— Mas acho ela linda. — Sussurro de volta, sinto o corpo de Liz travar por alguns instantes. — O que foi?

Liz se afasta do meu tronco, continuando entre minhas pernas, ela fica ainda mais de frente para mim do que antes. Ela me olha, o carro está parcialmente iluminado (quase nada na verdade, as luzes do lado de fora não influenciam muito ali), mas ainda assim vejo um pouco de nervosismo nas íris verdes.

Sento direito, ficando ainda mais perto de Liz. Meu estômago parece que vai sair do meu corpo de tanto nervosismo, nós sabemos o que vai acontecer porque a forma que ela me olha não dá para negar o óbvio.

Liz chega mais perto como se testasse a minha reação, e quase como uma de polaridades divergente eu me a próximo mais, apenas alguns centímetros separam nossos rostos no escuro daquele carro.

— Merda... — Liz alisa as mãos no moletom, ela estava bem dizendo tremendo de frio minutos antes e agora estava suando? — Eu me sinto como uma garotinha assustada, Cecília.

Sorrio e me inclino para encostar minha testa na sua, Liz sorri também quando eu puxo suas mãos ainda frias, mesmo que um pouco suadas para dentro das minhas.

— E eu sinto como se fosse ficar sem meu estômago. — Admito, eu não faria isso se ela não tivesse admitido que estava com assustada antes ou talvez se fosse qualquer outra pessoa. Não faria com medo de que a pessoa pudesse zoar minha cara com isso, mas sei que Liz não faria isso de qualquer forma.

— Só não vomite em mim porque eu nunca mais vou pensar em te beijar. — Liz brinca e afasta seu rosto do meu sorrindo.

Liz pensa em me beijar, assim como eu penso nela, uau! Quem diria isso, hein?!

Quando me dou conta de que ela tirou suas mãos das minhas, sua boca está encostando na minha. O nariz dela ainda gelado me faz ter vontade de rir, mas não iria tirar minha boca de perto de Liz Rodriguez apenas para rir, não mesmo!

Mas então ela se afasta rapidamente, apenas alguns centímetros e me olha. Eu não sou resistente o suficiente para ficar olhando seu rosto bonito e sua boca que agora sei que é milhares de vezes mais beijável do que imaginei.

Os lábios macios e quentes contra os meus. Estou no paraíso quando ela me puxa para mais perto tremendo um pouco, eu não sei se é de frio, mas prefiro acreditar que eu a faço sentir algum tipo de arrepio pelo corpo todo.

Seguro em sua cintura com uma das mãos e com a outra puxo-a pelo moletom contra meu corpo. Liz encosta seus dedos gelados no meu pescoço e rosto quando passa a exigir mais do nosso beijo com sua língua.

Eu não sei da parte de Liz, mas eu não precisava comprar souvenirs nenhum no Alabama. O meu souvenirs eu tinha acabado de receber ali, eu nunca esqueceria esse beijo com ela, digo... Esse souvenir.

Quando Liz finaliza o beijo eu suspiro, nunca fui tão refém de alguém como fui dela.

— Uau. — Liz ri com vergonha e me abraça, não sei o que ela faria se eu não tivesse dito nada; talvez morresse de vergonha. — Liz Rodriguez... Uau!

— Cecília...

Liz arrasta sua voz para me "repreender" e encosta seu nariz no meu pescoço me fazendo arrepiar, ela me beija no pescoço e se afasta parecendo estar com vergonha de ter feito isso.

— Desde que não encoste esse nariz gelado no meu pescoço você tem acesso livre para qualquer outra atividade. — Não sei se Liz entendeu meu tom baixo com segundas intenções, mas ela poderia ter certeza que tinham muitas intenções nele.

De propósito passa o nariz na minha pele e quando tremo sua risada de bebê preenche o ambiente.

— Hmm, Cecília... — Liz cutucou minha barriga por cima do moletom e me fez olhá-la. — O que acha de sair e comprar algo para que possamos lembrar ainda mais desse dia?