A estrada parecia interminável, uma linha cinzenta serpenteando entre sombras. Dentro do carro, o silêncio era pesado, quebrado apenas pelo som do motor e das respirações contidas. Aurora dirigia com firmeza, seus olhos fixos na estrada, enquanto Ernesto ajustava os detalhes do plano em sua mente, repassando mentalmente cada possibilidade. Vicente, sentado no banco de trás ao lado de Maria Augusta, tentava afastar o nervosismo que crescia a cada quilômetro percorrido.
— Chegaremos em menos de meia hora, — disse Ernesto, quebrando o silêncio. — A partir daqui, seguimos a pé.
Ramirez, que ocupava o banco do passageiro, soltou um suspiro carregado de ceticismo.
— Espero que esse seu contato tenha informações confiáveis. Não temos margem para erros.
Aurora lançou um olhar rápido, mas penetrante, na direção dele.
— Ele tem. E, mesmo que não tivesse, não estamos exatamente em posição de questionar.
Ramirez abriu a boca para retrucar, mas Ernesto levantou a mão, interrompendo a discussão antes que começasse.
— Foco. Não temos tempo para conflitos internos.
Maria Augusta, que até então estava em silêncio, olhou para Vicente. Ele parecia absorto, os olhos fixos em um ponto qualquer fora da janela.
— O que está pensando? — ela perguntou, a voz suave, mas cheia de preocupação.
Vicente demorou a responder.
— Estou tentando imaginar como isso vai acabar.
— E o que vê? — insistiu ela.
Ele virou-se para ela, seus olhos refletindo a dúvida e a determinação que lutavam dentro de si.
— Não sei. Mas sei que, quando isso terminar, nada será como antes.
Maria Augusta segurou a mão do filho, um gesto simples, mas que carregava todo o amor e a força que ela ainda tinha para oferecer.
A Caminhada
Quando o carro parou, o grupo desceu em silêncio. A noite estava fria, e a escuridão parecia mais densa ali, longe das luzes da cidade. Aurora liderou o caminho, carregando uma mochila que parecia pesar tanto quanto o destino que os aguardava.
— Daqui em diante, nenhum som desnecessário, — avisou Ernesto. — Rodrigo deve ter homens patrulhando a área.
O terreno era acidentado, cheio de pedras e arbustos baixos que dificultavam a passagem. Vicente ajudava Maria Augusta a manter o equilíbrio, enquanto Ramirez seguia logo atrás, sua expressão tensa.
Depois de cerca de vinte minutos de caminhada, chegaram ao topo de uma colina. Aurora gesticulou para que todos se abaixassem.
— É aqui, — disse ela, apontando para baixo.
Lá embaixo, uma construção simples, mas claramente reforçada, estava parcialmente escondida por árvores. Algumas luzes fracas escapavam das janelas, mas o lugar parecia quieto demais para ser seguro.
— Quantos homens? — perguntou Ernesto, enquanto ajustava os binóculos.
Aurora analisou o local com atenção antes de responder.
— Pelo menos quatro do lado de fora, possivelmente mais dentro. Rodrigo nunca deixa seu perímetro desprotegido.
Ramirez resmungou algo inaudível, mas que parecia um insulto.
— Vamos mesmo seguir com isso? Parece suicídio.
Vicente olhou para ele, sua voz firme apesar do nervosismo.
— Você tem outra ideia?
Ramirez não respondeu, mas o silêncio dele foi suficiente para deixar claro que não.
O Início da Ação
Depois de elaborarem os passos finais, o grupo começou a se mover com cuidado. Ernesto e Aurora foram na frente, assumindo a liderança do ataque, enquanto Ramirez ficou para trás como suporte. Maria Augusta insistiu em ficar ao lado de Vicente, apesar dos protestos dele.
— Não vou ficar para trás, Vicente. Não agora, — disse ela, carregando uma arma que parecia pesada demais para suas mãos, mas que ela segurava com determinação.
— Só... fique perto de mim, — respondeu ele, resignado.
Conforme se aproximavam da construção, os sons ao redor pareciam se intensificar: o farfalhar das folhas, o bater suave de um galho contra outro, até mesmo o som de suas próprias respirações.
Aurora sinalizou para que todos parassem.
— Dois guardas à direita. Vamos neutralizá-los silenciosamente. Ernesto, comigo.
Os dois se moveram como sombras, desaparecendo entre as árvores. Vicente observava com atenção, admirado pela precisão e pela calma que Aurora exalava, mesmo em uma situação tão tensa.
Alguns minutos depois, um assobio baixo indicou que o caminho estava livre.
Dentro do Covil
A entrada foi rápida e meticulosa. Ernesto abriu a porta lateral com habilidade, e o grupo entrou em silêncio absoluto. O interior era exatamente como Vicente imaginava: frio, impessoal, com paredes de concreto e móveis mínimos.
Eles avançaram pelos corredores, Aurora liderando o caminho com um mapa mental que parecia infalível. Em determinado momento, Ramirez parou, levantando a mão.
— Ouviram isso? — sussurrou ele.
Todos congelaram. Um som distante, como passos apressados, ecoava pelo corredor. Aurora gesticulou para que se escondessem em uma sala lateral, enquanto o som ficava mais próximo.
Dois homens passaram correndo, conversando baixo.
— Eles disseram que Rodrigo quer que todos fiquem em alerta. Alguma coisa está acontecendo.
— Será que descobriram a localização dele?
Os passos desapareceram no corredor, e Aurora sinalizou para que continuassem.
— Estamos sendo observados, — murmurou Ernesto. — Eles sabem que estamos aqui.
— Sabem ou suspeitam, — corrigiu Aurora, mas seu tom não era de otimismo.
O Encontro
Finalmente, chegaram a uma porta grande e reforçada. Ernesto inspecionou a fechadura, mas Ramirez balançou a cabeça.
— Isso vai fazer barulho, seja o que for.
— Não temos escolha, — disse Aurora. — Rodrigo está lá dentro.
Vicente sentiu seu coração acelerar. Ele sabia que esse momento chegaria, mas nada poderia tê-lo preparado para o que estava prestes a acontecer.
Maria Augusta tocou seu ombro.
— Lembre-se do que eu disse. Seja quem você quer ser.
Ele assentiu, respirando fundo enquanto Ernesto começou a trabalhar na fechadura.
Quando a porta se abriu, o cenário do outro lado os deixou imóveis. Rodrigo estava sentado em uma poltrona, um sorriso tranquilo no rosto. Ao redor dele, pelo menos seis homens armados.
— Estava esperando vocês, — disse Rodrigo, com um tom que era tanto de boas-vindas quanto de ameaça.