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QUINTA E SEXTA ERAS

V

Tupã ficou satisfeito por um tempo, mas se entristeceu novamente ao ver que os entes tratavam de dominar os humanos, fazendo-os de escravos e objetos de diversão, o que desaprovou profundamente, visto que se afeiçoara àquelas criaturas esguias e portentosas. Tomando os homens para si resolveu, então, dar-lhes a mágica mais poderosa, que guardava tão ciosamente pelo perigo que representava, pois que podia consumir toda a sua criação, apesar da esperança que acalentava de que aquelas novas criaturas poderiam dar-lhe o significado que tanto procurava.

Então Tupã os tomou e, um a um, outro nome seu, um de grande poder, escreveu em suas testas, nome que apagava rapidamente para que não os destruísse. Foi assim que o homem adquiriu a brilhante inteligência de Tupã, o que o fez suspirar satisfeito ao ver como aquelas criaturas de corpos frágeis eram altivos e soberbos, e como logo se punham a criar e a modificar tudo em que tocavam, tal como ele com os espaços infinitos.

E tão satisfeito ficou, pela independência e inovação que os dominava, que não se preocupou quando os entes, os anjos e os demônios, passaram a procurar os homens, gerando meio-humanos que foram chamados de nefelins. Muitos nefelins foram gerados, e muitos eram bons e muitos eram abominações. Muitos deles foram os maiores vilões ou os maiores heróis que já caminharam pela terra, como também os maiores sábios, demônios e santos que inspiraram as criações.

Foi nessa era, também, que a união entre suas criações atingiu um novo nível, com o surgimento dos poderosos dahrars, fruto do cruzamento de anjos e demônios com as pessoas.

Porém, o Trovão estava tão satisfeito que também com eles não se importou.

Talvez fosse a própria evolução do mundo animado que tenha convulsionado a criação. Não demorou e logo rebentou uma violenta guerra de toda a criação contra os dahrars, motivado principalmente pela frieza e ferocidade desses últimos.

O Trovão observou e aguardou, esperando brotar nos corações de suas criaturas um nível de amor que a tudo pudesse equilibrar.

Mas os homens começaram a evoluir muito rapidamente, impulsionados pela inteligência depositada por Tupã em seus espíritos. Olhando a si mesmos e ao mundo, nas perguntas que se faziam começaram a adquirir identidade própria. A tudo davam nomes e significados que os ligava fortemente aos mundos que sentiam, até que começaram a se perguntar quem eram, de onde vinham e até onde poderiam ir.

Foi nessa tomada de consciência de si mesmos que a guerra entre homens e pessoas também eclodiu, da qual se aproveitaram os dahrars. Na força da mágica e na inteligência se bateram os entes e os homens, auxiliados ambos por nefelins, por anjos e por demônios e dahrars. Essa guerra foi tão grande que quase causou a destruição total dos homens, salvos no último momento pela intervenção firme de poderosos anjos e demônios enviados por Tupã, e por algumas poucas e valorosas pessoas que não queriam a destruição dos homens. Porém, o coração de Tupã estava pesaroso com o uso que as pessoas e alguns anjos fizeram dos homens, mostrando o desejo de destruir totalmente sua criação, motivados por sentimentos errados.

Aos anjos que participaram da guerra contra os homens, a muitos deles o Trovão puniu, não por terem entrado em guerra, mas por terem tido enorme prazer nela e por terem buscado a destruição dos homens. Tupã os lançou para a terra, desejando que, vivendo entre os homens que tanto abominavam, conseguissem evoluir, o que marcou a segunda queda.

As pessoas, Tupã castigou com a perda do poder de criar outras criaturas, o que deixou as pessoas ainda mais inconformadas com os humanos, o que fez recrudescer a guerra.

Quando a guerra for fim acabou, restou um sentimento ambíguo de algo não resolvido, tanto nas pessoas quanto nos homens e nefelins, pois as pessoas disseram que estavam muito magoadas, porque haviam percebido algo extraordinário e terrível, tão cheio de poder que poderia representar sua expulsão dos olhos do mundo: o deus não havia dado aos homens apenas sua inteligência ou uma alma como a deles; ele também os havia dotado com parte de seu próprio ser, com almas tão poderosas que nunca iriam morrer.

Por um bom tempo as pessoas se mostraram magoadas com o deus Trovão e se recusaram a comparecer à sua presença. Tupã compreendeu e os reconfortou, dizendo que, se os humanos tinham tal distinção apenas na força da alma, as pessoas também possuíam a imortalidade da alma dada e que, ainda, em compensação, era deles a distinção de possuir poderes que, para os humanos, eram vistos como magia.

Então, mais tranquilos, sorriram e fizeram as pazes com os homens e os nefelins, e o mundo voltou à normalidade.

Olhando para trás os entes deram o nome de "a era dos entes e dos homens infantis" para essa quinta era que findava, que durou 325 mil revoluções de Aden em torno de seu sol.

VI

Foi no início da sexta era que os anjos começaram a construção de Thiahuanaco, na borda de um grande lago no alto de uma cadeia de montanhas portentosas, pouco importando a eles que aquele fosse o lago onde os dois grandes demônios, Trevas e Escuridão, foram aprisionados, e isso porque acreditavam nos grilhões impostos aos demônios pelo arquianjo. Então chamaram os homens e a eles deram a cidade como presente, porque viam que essas frágeis criaturas portavam a mais forte essência de Tupã que haviam visto em toda criação. Foi a partir desse dia que os anjos se tornaram seus abnegados protetores, porque viram que os demônios e alguns poucos anjos tinham ciúmes deles e maquinavam sua destruição.

Conscientes da curiosidade insaciável que consumia os homens, na praça central da cidade os anjos construíram um grande portal de pedra, um portal mágico que poderia se ligar a outros mundos, funcionando como portal por onde seres poderiam transitar e onde os homens poderiam satisfazer sua curiosidade divina. Admirando o que fizeram abriram mais doze portais, que esconderam e ocultaram no interior das terras, nas faces das montanhas, porque temiam que os demônios deles pudessem lançar mão.

As que construíram no interior eram portas de menor capacidade, que apenas mentes poderosas poderiam usar, enquanto que, a da cidade, era uma porta de grande poder.

Mas viram que a porta principal precisava de muito mais energia do que supunham, porque esse mundo ainda era muito pequeno em poder. Assim, tomaram as onze caveiras de poder e de vontades independentes que as velhas pessoas haviam esculpido e nas quais o deus trovão havia se inspirado para criar os homens, juntamente com as outras duas criadas pelo próprio Trovão, e delas lançaram mãos, porque elas poderiam fornecer a energia de que o portal precisava.

Só que o deus Trovão sentiu a falta das caveiras, e viu que os anjos as haviam pegado.

Indo até eles viu os portais. Preocupado os alertou sobre mundos que não deviam ser tocados, porque lá colocara os que criara pela sua face sombria, como também os alertou sobre as caveiras, as mutas, porque elas tinham vontade própria e muito senso de independência, especialmente duas delas, as que criara por vontade, uma que chamava de Maestra, porque essa era a central, a que canalizava e concentrava a energia das outras, e que podia dominar e devastar uma vasta região do multiverso criado; e a Volitora, uma caveira de alto poder e independência que às outras podia dominar e suas vontades consumir, fazendo-as trabalhar para satisfação de sua própria vontade, com exceção da própria maestra. Por um momento ficou em silêncio, pensativo. Por fim, vencendo o silêncio disse que o perigo maior seria quando as treze estivessem unidas, porque seu poder seria monumental, tanto que poderia determinar os rumos do mundo ao elevar um vencedor que a tudo dominaria se houvesse alguma guerra em andamento, ou destruir a criação ou parte dela, se não lhes visse valor, motivo pelo qual as deixara afastadas.

Mas os anjos ignoraram seus alertas.

Então abriram seis nichos retangulares nas costas do portal e dois na frente, para poderem colocar as caveiras. As duas de maior poder, Maestra e Volitora, colocaram nos nichos da frente, enquanto as outras seis instalaram nos nichos que abriram às costas do portal, arrumando as outras cinco em locais determinados ao redor do monumento, fechados como uma estrela.

Eles sorriram, satisfeitos com o presente que haviam feito para os humanos.

Só que eles foram enganados.

Foram algumas delas, sob a influência de Volitora, que, utilizando a energia reunida, sem que os anjos se dessem conta do perigo, libertaram os dois demônios de suas prisões no lago, porque a eles se afeiçoaram e deles haviam ficado penalizadas.

Sem que os anjos se apercebessem, em surdina os demônios aproveitaram o portal e o ligaram a um dos mundos de que Tupã havia alertado os anjos, e muitos demônios se esgueiraram por ele e invadiram essa terra, porque eles queriam tomar posse da essência divina que Tupã dera aos homens, se alimentar dela, se fortalecer com ela, para assim poderados destruir aqueles a quem Tupã amava mais do que a eles.

Surpreendendo os anjos deles conseguiram tomar três caveiras num primeiro momento, Danação, DosVivos e Alegoria, porque elas queriam com eles se unir.

Sob os olhos pesarosos de Tupã uma grande guerra envolveu tudo o que se conhecia. Foi durante essa guerra que uma quarta caveira, Canhestra, traiu um anjo e se aliou a um dos demônios.

Ao cabo de um curto tempo os anjos acabaram sitiados em Thiahuanaco e, após um cerco cruel e violento, eles foram batidos e obrigados a abandonar a cidade e as montanhas. Para as terras baixas se encaminharam, levando consigo as nove caveiras restantes, que trataram logo de ocultar.

Essa era foi uma era triste, onde o UM se sentiu amargurado. A maldade que sentira, a escuridão que vira o entristeceram profundamente. Nessa era viu os dragões partindo da dimensão dos homens e pessoas, e viu a onda terrível de destruição que os dahrars se mostraram capazes de produzir. Foi por isso, pela dor que fora lançada em seu peito, que chamou para o mundo um imenso e global dilúvio, desejando pôr a termos a experiência naquele mundo, zerando a criação para que recomeçasse. No entanto, ouviu seu coração, perguntando-se se não era aquela a natureza da experiência proposta quando iniciara a espiral do tempo. Ouvindo a si mesmo então providenciou a salvação de muitas espécies, e com elas ele fez um pacto que estendeu como um anel sobre os horizontes de Urântia, que os que olharam chamaram de arco-íris.

Assim terminou a sexta era, chamada de "a era da segunda guerra demoníaca", porque os demônios haviam entrado novamente no mundo e promovido a guerra. Essa era teve duração de 115 mil revoluções de Aden em torno de seu pequeno sol.