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Orenmir, A Traidora

O sol pairou no céu e as criaturas da noite se retiraram em um sono profundo. Nenhum deles se atreveria a sair agora que seu maior inimigo brilhava radiante na imensidão azul, nem mesmo os mais poderosos vampiros.

Sendo o sangue humano a principal defesa contra o dia, era fácil presumir que qualquer um ali se desmancharia em pó assim que colocasse o pé para fora de suas casas.

Mesmo assim, alguém tinha que vigiar a fortaleza.

-Eu mataria por um pouco de sangue agora...-Um dos guardas resmungou do alto de sua torre, a sua esquerda, o guarda responsável pela torre esquerda becejou sentindo o sono o tomar.

-Só tem um portão nesse lugar, eles poderiam colocar qualquer um pra vigiar mas é claro que sempre tem que ser eu...-O sono veio outra vez e o guarda começou a dormir em pé, mas acordou segundos quando quase caiu de cima da torre.-Puta merda, essa foi quase, se eu tivesse caído...

A sombra abaixo dele era minúscula, ele jamais teria sobrevivido se tivesse caído.

Ao longe, uma movimentação estranha chamou a atenção dos dois guardas, alguém se aproximava lentamente do portão, alguém vestindo uma armadura.

Era difícil saber quem era por toda a pele do indivíduo estar coberta pelo aço, mas a julgar pelo design do peitoral, provavelmente era uma mulher. Uma mulher enorme.

O capacete remetia à cabeça de uma águia com um espaço atrás por onde o longo cabelo branco balançava livre com o vento, cada extremidade da armadura era como uma lâmina, até mesmo os dedos das manoplas, no peito, o símbolo de uma aranha estava entalhado.

Os dois guardas já se prontificaram em assumir postura de combate apontando suas lanças para a invasora.-Pare aí mesmo, dê meia volta agora ou não exitaremos em atacar!

Os avisos foram ignorados pela armadurada que continuou caminhando calmamente em direção à fortaleza com a cabeça baixa.

-Esse é seu último aviso, volte agora ou nós...-O guarda parou de falar quando percebeu que ela não estava ouvindo.-Ah foda-se, mata ela!

O outro guarda mirou sua lança firmemente e a arremessou com toda a sua força, a armadurada nem mesmo diminuiu seus passos, com as costas de sua destra ela bateu na lâmina à forçando a mudar sua trajetória, acertando o chão à sua direita, causando um forte tremor e levantando a poeira do chão.

Os dois guardas recuaram com o susto, uma gota de suor vinda da tensão escorrendo por suas testas. Em um segundo a cavaleira ergueu o olhar por tempo suficiente para que os dois pudessem ver duas pequenas esferas brilhando de dentro do capacete, e no outro ela avançou, rápida, muito rápida.

Rápida demais para alguém que usava quilos de aço pelo corpo todo.

Um encontrão com o ombro foi o suficiente para que aquela montanha de metal atravessasse o portão de rocha maciça, um impacto tão violento que acabou derrubando também as duas torres, a última coisa que os dois vampiros viram antes de serem queimados pelo sol foi o cabelo branco da armadurada que provavelmente nem notou suas presenças insignificantes.

No Castelo do Dracula...

V havia sido o primeiro a acordar, os corredores do palácio ecoavam com seus passos à medida que ele explorava o recinto, prestando atenção a cada detalhe, cada móvel, tapete e decoração, cada quadro e lustre. Nenhum detalhe escapou de seus olhos. Nenhum.

Em todos os quadros em que Dracula aparecia, ele sempre era acompanhado por uma mulher, uma dos longos cachos dourados, pele pálida e olhos vermelhos. Era claro que ela era uma vampira.

Se todas as histórias sobre o lorde vampiro fossem verdade, era provável assumir que o mesmo viveu em Spiralla antes mesmo dos mundos se separarem, e aquela mulher talvez compartilhasse esses conhecimentos e se sua teoria estivesse correta, ela deveria estar de volta com o uso da máquina.

-Interessante... Muito interessante...-Inko observava uma das pinturas, as mãos apoiadas nas costas.

-Sabe alguma coisa sobre ela?-V se aproximou em busca de respostas, as órbitas negras e vazias o fitaram, inexpressivas.

-Katharine Siegel, o único e verdadeiro amor de Vlad Dracula Tepes, separados há milênios atrás. Os dois governaram os vampiros de Spiralla juntos. O lorde deste castelo sempre omitiu a verdade sobre ela, os outros vampiros acreditam que ela está morta.

-Mas o destino sorriu para nós e ela, graças a Deus, está viva.-A enorme sombra do Dracula apareceu no corredor, o surpreendendo não só por estar acordado naquela manhã, mas também por ter respondido Inko.

-Você pode vê-lo?

-Posso, a energia que ele emana é inconfundível, as outras pessoas podem até não vê-lo, mas certamente poderão sentir sua presença quando ele se manifestar para você.

-Espera...-Ele percebeu onde o lorde dos vampiros estava, bem na frente da janela, banhando-se na luz do sol.-Como você...

-Vampiros que não compartilham do sangue real precisam consumir sangue para se proteger do sol, mas eu não sou qualquer vampiro, o nascer do sol é um evento ao qual eu já presenciei muitas vezes.

-Se você não pode ser morto pelo sol...-V engoliu em seco, aquele homem era o exato oposto de um MB convencional, alto, forte. Se ele não compartilha da única fraqueza dos vampiros então...

-Acho que deveria agradecer por eu não estar contra você, não é?-Os olhos rubros do vampiro o encaram de maneira sombria, mostrando que o que ele dizia era verdade.

Por um instante V sentiu medo pela primeira vez em muito tempo, mesmo sendo poderoso, perto daquela criatura ele não era nada. Mas então o medo desapareceu tão rápido quanto havia chegado. Ele tinha algumas perguntas ao vampiro.

-Você já esteve em Spiralla?-A mensão ao nome daquele que um dia foi seu lar acabou travando o lorde vampiro, que o olhou em misto de surpresa e descrença.-Entendo que pode ser um choque eu saber dessa informação, mas saiba que eu apenas busco mais informações sobre isso.

Dracula nada disse, talvez estivesse chocado demais para dizer qualquer coisa.

-Talvez você não ache justo compartilhar uma informação assim do nada. Que tal eu compartilhar um pouco do que eu sei?

"Quando a guerra contra os Tecelões encontrava seu fim, meus antepassados tentaram usar as humanas na busca pela vitória, quando não obtiveram sucesso em convencê-las a lutar por eles, eles usaram medidas um pouco mais... Drásticas... Escravidão. Isso não durou muito na verdade, logo as humanas descobriram as atrocidades deles e interviram, mas o estrago que eles causaram já estava feito. Apesar disso, uma mulher, ex-escrava, acabou se apaixonando por um príncipe Tecelão, seu nome era Orenmir. Uma bela guerreira da pele morena marcada pelos anos de escravidão e os longos cabelos brancos, ela era uma guerreira formidável e de grande renome, mas nem mesmo isso protegeu ela e seu amado, os Insecter e Aracna a viam como uma traidora, "Depois de todo o nosso sofrimento, ela ousa se rebaixar ao inimigo!?".

-Ela ficou conhecida como "Orenmir, a traidora", ela e seu amado foram vítimas de vários ataques pelos Insecter e Aracna, seus outrora aliados a atacavam como se ela fosse o maior monstro do mundo, no último desses ataques, em seu próprio casamento, ela desapareceu, deixando apenas sua armadura para trás, o príncipe, agora rei dos Tecelões, derreteu a armadura de sua amada e a partir dela nasceu Orenmir, a maior relíquia do meu povo, forjada com o objetivo de proteger a linhagem Valentine. Amargurado pela perda de sua amada, o irmão mais velho do meu bisavô Aegeus, tirou a própria vida, em seu túmulo a espada foi cravada como uma lápide... E uma lembrança eterna...

Dracula ouviu tudo sem proferir uma só palavra, talvez não por choque, alguém que vive para sempre, aquela história deveria ser apenas um grão de areia no oceano de tragédias presenciadas por aqueles olhos, mesmo assim, até mesmo ele sabia que o silêncio era a coisa mais respeitosa a se fazer naquele momento.

Silêncio que teve que ser quebrado quando sentiu a presença nova em seu castelo.

-Alguém abriu a porta da frente.-Ele começou a caminhar na direção do invasor com V logo atrás.

-Ótimo, ela chegou.-O Tecelão disse, fazendo Drácula arquear uma sobrancelha.

-Ela quem?

-Você logo verá.

Longe dali...

Astrid atingiu o chão, algo que ela já começava a se acostumar. O treino de Leona era bastante intenso.

Um dia. Um dia em Temiscira foi todo o tempo que ela havia passado alí e já parecia uma Fera padrão, as roupas de academia que ela sempre usava deram lugar ao estilo tribal dali, seu busto era coberto por simples faixas brancas deixando sua barriga tanquinho à mostra, as calças negras feitas com couro de javali revestida por uma malha feita com a pele de um urso presa com um cordão branco amarrado por um nó, nos pés ela usava botas simples feitas apenas com algumas tiras de couro e pedaços madeira lisos.

-Agora está vestida como uma fera eu sinto que já vi alguém muito parecida com você...-Leona diz-lhe oferecendo a mão, que ela logo aceita.

-Não existe muita gente com cabelo branco, quem era ela?

-Não sei bem, ela era da época da minha predecessora, uma ferreira incrível, acho que o nome dela era...

Orenmir...