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Meu Nome é V!

As vezes eu me pergunto: Por que foi que eu comecei me chamar de V? Eu sei a resposta,aquele dia ainda tá fresco na minha memória,mas mesmo assim,por que exatamente? Sempre que essa dúvida me vem à cabeça as memórias voltam como um turbilhão,um turbilhão do qual eu não posso fugir.

Eu tinha 9 anos quando tudo aconteceu,a idade em que os MBS começam a aprender a controlar sua magia,lembro de ir pra escola muito ansioso porque aquela seria minha primeira aula mágica,eu levantei,tomei um rápido banho,quase arranquei meus dentes fora de tão rápido que eu os escovei,se é que isso é possível,comi como uma flecha e quase me engasguei,no carro,eu não parava quieto,ficava repetindo de novo e de novo: "Hoje eu vou aprender magia!" Meu pai sorria e me dizia que eu seria um grande mago um dia,eu não tinha percebido o quanto tais palavras eram tão mentirosas.

Eu me sentei no mesmo lugar de sempre,junto dos meus amiguinhos,Veronica,Max e Trevis,a gente ria,brincava e nós,os meninos,compartilhamos nossas expectativas pra aula de magia,já Verônica teria sua primeira aula de karatê e sua empolgação era tão grande quanto a nossa,porém,eu lembro de me perguntar: Por que o papai ainda tá aqui?

Quanto mais as aulas chatas iam passando,mais a minha ansiedade ia crescendo,mas uma coisa ainda era a mesma: Meu pai ainda estava ali,observando atentamente a aula como se aquilo fosse a coisa mais interessante que ele havia visto. A aula já estava acabando e ele tinha ficado ali aquele tempo todo,por quê? Ele estava sempre ocupado demais pra brincar comigo,e logo hoje ele não tinha nada pra fazer além de assistir a aula?

Aquilo era estranho,mas eu não deixei aquelas dúvidas me atrapalharem,hoje era o dia em que eu aprenderia magia! Nada poderia dar errado hoje,não é? A aula final tinha acabado,agora era hora!

Quando a professora ordenou,nós guardamos nosso material como pequenos raios e esperamos pacientemente a melhor aula de todas começar. Mas que estranho,sobre o que o papai e a professora estão conversando? Por que ele está me levando pra fora da sala? Por que voltamos pro carro? Por que estamos voltando pra casa? O que aconteceu? Eu fiz alguma coisa errada? O papai está zangado comigo?

Victor: Papai,por que a gente tá voltando pra casa?/ Não obtive resposta.

Victor: Tem alguma coisa errada?/ Mas uma vez,nada,ele apenas dirigia em silêncio,mal olhava pra mim.

Victor: Eu ainda não assisti a aula de magia...

Dessa vez,ele finalmente decidiu falar,mas antes,o carro deu uma freada brusca que só não me jogou pra frente por causa do cinto de segurança,eu olhei pra ele em choque,ele segurava o volante com força,e sua respiração era pesada,sem tirar os olhos da pista,a voz dele me atinge como o vento frio do inverno de Nova York:

Héctor: Sua aula já acabou,nós vamos pra casa.

Diante da frieza de sua voz,nada pude fazer além de me calar o resto da viagem... e o resto do dia também. Eu não conseguia compreender,o que eu tinha feito de errado? Por que meu pai estava tão bravo comigo? Meu corpo se mexia no automático enquanto eu tentava processar tudo,talvez o papai só estivesse de mau humor... Isso! É claro! Como eu pude ser tão paranóico! Amanhã ele estaria com um humor melhor e eu conseguiria ter minha primeira aula mágica!

No outro dia,meu pai não estava mais na sala,isso foi um grande alívio! Como sempre,eu estava pensando demais nas coisas,agora nada iria me atrapalhar! Veronica me falava dos golpes de karatê que havia aprendido enquanto quebrava uma tábua com as próprias mãos,Travis me mostrava uma magia que fazia plantas crescerem instantaneamente e Max jurava que tinha conseguido carregar seu celular usando uma magia elétrica.

Eu assistia tudo com um brilho nos olhos,porém,alguma coisa me incomodava,uma sensação estranha crescendo em mim,apesar de eu estava feliz por meus amigos terem aprendido a fazer coisas tão incríveis,minha eu não conseguia evitar de pensar: Eu poderia ter aprendido algo assim também...

Mas agora não era hora de me sentir mal,meu momento pode ter tardado,mas agora ele estava aqui! Nada me impediria de aprender magia!

Com nossos materiais guardados,a professora podia finalmente dar início! Batidas,eu escuto batidas,alguém batia na porta da sala. Deve ser a diretora,hoje teríamos uma apresentação do 5° ano e ela deve ter vindo nos chamar para ir ao pátio.

Mas quando a porta se abre,meu corpo inteiro gela,meu pai trocava algumas breves palavras com a professora e logo sinalizava para que eu o seguisse.

Eu não podia acreditar. Outra vez? Ele estava observando a aula de fora,ou tinha chegado agora? Não importava a resposta,eu sabia que eu só tinha uma escolha: segui-lo.

Apesar de já terem sido dois dias seguidos da mesma coisa,eu ainda não desistiria! Eu seria um grande mago! Meu pai provavelmente só queria encontrar um professor particular,isso mesmo! Como pude ser tão paranóico! Meu pai só queria que seu filho tivesse a melhor educação possível! Mesmo que esse padrão se repetisse por mais alguns dias,eu não me sentiria pra baixo! Eu vou aprender magia!

...

Como eu era ingênuo,minha esperança não durou muito,assim como minhas amizades,eu comecei a me distanciar dos meus amigos pois quanto mais eles falavam das coisas incríveis que eles podiam fazer,mais crescia a minha angústia,é claro que eu estava feliz por eles,mas decidi que me distanciar seria o melhor a se fazer,pelo bem deles e pelo bem da minha saúde mental apesar de que,na época,eu nem saber o que era isso. Após um ano disso,minha esperança estava quase se esvaindo,até que um dia recebi uma mensagem de Verônica:

Verônica: Victor nós precisamos conversar,me encontra atras da escola no final da aula de amanhã.

Minha velha amiga queria me encontrar pra ter uma conversa? Eu sabia que era melhor eu não ir,que seria melhor para todos se eu me afastasse,mas mesmo assim uma parte de mim ansiava pela companhia dos meus amigos de novo,e foi essa parte que me fez cometer o erro de aceitar o convite.

Na manhã seguinte,eu já podia sentir que algo estava errado assim que vi Verônica na aula,eu me aproximava dela e,como se eu fosse invisível,ela ignorava tudo o que eu dizia,não só ela como Travis e Max também a acompanhavam nesse gelo coletivo.

Por que eles estavam me ignorando? Principalmente Verônica,por que ela me chamaria e depois fingia que nada aconteceu? Minha cabeça se enchia de perguntas,que não seriam respondidas tão cedo,as horas naquele dia pareciam passar muito devagar e a cada segundo que nosso "encontro" se aproximava,meu coração batia mais rápido e eu parecia ter dificuldade para respirar.

A hora havia chegado,eu estava frente a frente com Verônica,ela me olhava sorridente do outro lado de um corredor.

Veronica: Vem chega mais perto,isso é importante.

Eu obedeço,caminho lentamente até ela e a cada passo minha mente gritava mais e mais alto: Tem alguma coisa errada! Sai daí,agora! Eu devia tê-la escutado,eu devia ter dado meia volta,quando estava a metros de Verônica,Travis,Max e uma garota desconhecida aparecem e me cercam.

Logo,meus braços estavam sendo segurados por meus velhos amigos e a menina misteriosa tentava colocar algo em meu pescoço,e quando sentiu minha resistência acertou um soco na minha barriga,eu não sei quem ela era mas com certeza era a pessoa mais forte que já me bateu,o ar me faltou instantaneamente e logo veio a dor.

Com um clique,o objeto se fechará em meu pescoço,mas ainda não satisfeita,a garota me joga no chão e começa e me dar chutes na barriga,eu gritava de dor a cada um deles. Por que isso estava acontecendo? Por que meus próprios amigos me tratavam dessa maneira? Não tive tempo de pensar na resposta,pois a dor era a única coisa em minha mente.

Veronica: Viram como esse idiota estava desesperado por atenção a aula inteira?

Max: Ainda acho que meus choques seriam melhores Veronica...

Trevis: Por mais que eu não me importe,mas isso acabaria matando ele,aí não ia ter graça.

Verônica: Já chega Fernanda,quero falar com ele um instante.

A garota misteriosa para de me chutar,mas algo me dizia que isso era apenas o começo.

Verônica: Escuta aqui Victor,não,alguém como você não merece ter um nome,vamos te chamar de... V!

Ela tira um pequeno objeto de seu bolso e fica com ele na mão o resto da "conversa".

Verônica: Então V,lembra quando você vivia ostentando as suas roupas chiques e seus brinquedos caros? Tá na hora de te colocar no seu lugar.

Na minha memória,eu não consigo lembrar de um só dia em que eu "ostentava",mas nessa hora minha mente trabalhava pra tentar encontrar algum momento em que eu tivesse os ofendido e... Eu não sei,pedir desculpa?

Veronica: Um lixo como você,que nem ao menos sabe usar magia,se achando a última bolacha,você não é um "tecelão",você é um cachorro vira-lata que teve a sorte de nascer em berço de ouro,até seu pai sabe disso,por que você acha que ele te proibiu de treinar?

Essas palavras sussurradas em meu ouvido me faziam tremer,a quanto tempo eles pensavam isso de mim? Teria a magia os subido à cabeça ou nossa "amizade" nunca sequer existiu? Antes que eu pudesse pensar sobre isso,uma forte onda elétrica toma meu corpo,um grito excapa de meus lábios,e Max logo o abafa com sua mão,aquilo no meu pescoço era uma coleira elétrica e o controle dela estava nas mãos de Verônica.

Verônica: A partir de hoje,nós vamos fazer questão de te lembrar o que você é: Um vira-lata!/ Agora todos eles começam a chutar.

Verônica: Levantem ele.

Max e Trevis obedecem e me levantam pelos braços,minha visão estava enbaçada por conta das lágrimas então eu não sei bem,mas Verônica parecia esfregar alguma coisa dentro de sua calça,o que ela estava fazendo? Aquilo significava que ela gostava de me ver daquele jeito?

Eu ainda tinha minha inocência naquela época,então eu não sabia,mas aquela doente estava se masturbando com a visão do meu sofrimento,eu não quero nem pensar no que ela teria feito comigo se não estivesse acompanhada.

Verônica: Você não faz idéia o quão excitante é ver essas lágrimas...

A promessa dela havia se concretizado,todos os dias dali em diante era a mesma tortura mental e física,fotos foram tiradas e eram usadas como chantagem todos os dias,pra que eu não dissese pra alguém.

Lembro de cada tortura como se fosse ontem,choques,chutes,cortes,talvez até abuso sexual eu tenha sofrido por parte da Verônica,eu não sei,em quase todas elas eu acabava desmaiando de dor.

Dessa vez,eu afastei minha própria família,meus pais se perguntavam de porque eu não respondia nada além de "uhum","sim" e "não" mas eles nunca realmente descobriram o motivo,até que uma hora,eu parei de me importar,parei de reagir a dor,era como se eles estivessem torturando um cadáver,eventualmente,eles perderam o interesse e me deixaram em paz.

No meu aniversário de 14 anos,após anos de paz,recebi um presente misterioso,numa caixa colorida e enfeitada deixada no meu quarto com o remetente misterioso,estavam todas as fotos das sessões intermináveis de sofrimento e angústia que passei nas mãos de meus "amigos" com um pequeno bilhete,e nele,uma mensagem feita pra me atormentar uma última vez: Nunca se esqueça :).

Naquela noite,alimentei as chamas da lareira com aquele "presente". Eu havia queimado as únicas provas do meu sofrimento,eu já não me importava,só queria que aquela página da minha vida se acabasse,que queimasse junto com as fotos e levassem as memórias com elas.

O ódio pode mudar qualquer um,até mesmo fisicamente,eu dormi a noite toda naquele dia,e quando me olhei no espelho no outro dia percebi que as escleras de meus olhos,antes esbranquiçadas,eram negras como a noite.

Eventualmente,meu avô me tornou seu pupilo,e eu acabei voltando à luz,mas eu não poderia me enganar,eu jamais seria aquela criança sorridente de novo,eu agora era uma fagulha do que eu já fui,uma fagulha que se tornava cada vez mais poderosa.

Um ano depois,eu acabei encontrando um deles: Verônica. Ela não havia mudado,sua brincadeira favorita ainda era a tortura,e que jeito melhor de satisfazer seu desejo sádico do que abordar uma antiga vítima?

Colocando uma faca em meu pescoço e com um sorriso sádico ela dispara:

Verônica: Victor! Logo quem eu precisava! Por que não me acompanha? Tô afim de relembrar os velhos tempos.

O jeito como aquela doente me tratava como um velho amigo me enojava,eu não passaria nem mais um minuto perto daquela psicopata,mas eu também não a mataria,não iria dar esse gostinho a ela. Dou um passo a frente,meu pescoço atravessando sua faca sem se ferir e sem olhar para trás deixo minha "velha amiga" com um olhar de pura confusão:

V: Vocês mataram Victor a muito tempo...

Meu nome é V.