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Luxúria

O som das máquinas de hospital roubadas das El Clonado criavam um ambiente mórbido naquela cabana. Astrid sentava-se inquieta na sala de espera com os eventos de horas atrás ainda frescos em sua mente, correndo no meio da chuva com Ragnar nos braços, o medo que sentiu de ser tarde demais e agora ter que esperar notícias do estado do macho.

Astrid sabia muito bem quem fora a culpada e, por saber que aquilo não passava de uma maneira de a atingir, sentia uma raiva incontrolável dentro de si, ela conseguiu lembrar que encontrou Ragnar aos prantos segundos antes do macho desmaiar pelo cansaço.

O nome de Clysine fora a única coisa a sair de seus lábios antes de apagar nos braços da prima.

Astrid sabia... Mas não tinha provas, "A discípula da rainha atacou uma beta inocente!", seria isso que diriam caso ela atacasse agora, ela deveria agir com cuidado ou a única criminosa a ser punida seria ela.

Mas como fazer isso? Como resistir ao instinto? A raiva que a queimava por dentro?

Como ela havia dito, ela jamais se perdoaria se deixasse um garoto passar pelo que Ragnar havia passado e, apesar de distante, aquele macho era sua família.

Sua mente a forçava a reviver a cena várias e várias vezes a colocando nos olhos da culpada, mais que isso, ela não conseguia evitar de trocar Ragnar por seu pai, seu irmão... Suas expressões de medo e seus corpos frágeis sendo forçados a...

Quem passava pela fêmea teria medo de se aproximar, suas órbitas brilhando em pura fúria, sua mão apertando o braço do banco com força suficiente para estourá-lo em pedaços, a respiração pesada...

A maldita visão outra vez, porém dessa vez... 

Aquele rosto... 

Aqueles olhos...

Aquele corpo...

"A-Astrid...?" A voz soou em mente, seguida de um grito de medo e dor quando a mesma avançou em sua direção como uma criatura alucinada movida apenas pelo instinto. Quando a visão chegou ao fim e ela pôde ver aquele rosto claramente... encontrou V caído a sua frente, ferido, quebrado... Claramente chocado e traumatizado demais para sequer deixar cair uma lágrima sequer...

Sua fúria apenas aumentou, ouviu a própria mente gritar: FOI VOCÊ! VOCÊ O MACHUCOU! ISSO É CULPA SUA! ELE SÓ ESTÁ FERIDO POR SUA CAUSA!

Viu a si mesma como uma fera incontrolável, fazendo mulheres em pedaços e estuprando seus maridos e filhos, Clysine era o alvo de sua raiva, então por que ela assistia a si mesma cometendo tamanhas atrocidades?

—PORQUE VOCÊ É IGUAL A ELA!—Se assustou quando a sua versão naquela visão terrível avançou contra si, seus olhos brilhantes fitando-a furiosa, Astrid tentou se afastar mas as mãos dela em seus braços a mantinham no lugar.—NÃO IMPORTA O QUANTO VOCÊ NEGUE, NO FUNDO VOCÊ É IGUAL A TODAS DAS FERAS NESSA SELVA, VOCÊ SÓ QUER SACIAR SUA LUXÚRIA, NEM QUE TENHA QUE SEJA À FORÇA!

—Não, eu jamais faria uma coisa dessas, eu jamais faria...

—"JAMAIS"!? VOCÊ JÁ FEZ! OU VOCÊ ACHA QUE FEZ COM O V ANTES DELE SAIR EM MISSÃO NÃO FOI NADA MENOS QUE ESTUPRO!?

—E-Eu...—Astrid sabia, ela sabia muito bem que não tinha feito o certo naquela noite mas não conseguia aceitar que fizera algo terrível.

—ELE PODE ATÉ TER TE DADO CONSENTIMENTO MAS FOI PORQUE VOCÊ O OBRIGOU A ISSO! ACEITE...—Astrid viu sua forma corrompida se transformar em Clysine bem diante de seus olhos, a fêmea possuía um sorriso sádico em seu rosto, o mesmo que dava toda vez que vencia.—VOCÊ E EU SOMOS IGUAIS!

O som de uma explosão a despertou daquela terrível cena, o braço acolchoado da cadeira havia finalmente explodido, espalhando espuma pelo chão, lentamente viu o brilho de seus olhos se apagando e deixando seus olhos normais no lugar. Não havia mais ninguém no hospital naquela hora.

Astrid apoiou a testa em sua mão e deixou um suspiro cansado escapar de seus lábios, aquela situação estava mexendo com sua cabeça, ela sentia que sua sanidade estava prestes a ficar igual ao braço explodido daquela cadeira, aquilo estava acabando com ela, talvez não merecesse mesmo ser rainha...

Viu alguém chamando seu nome e se obrigou a levantar, dando de cara com um macho vestindo um jaleco branco, provavelmente um médico mas as roupas que o mesmo usava deixaria qualquer profissional da saúde abismado, além de deixar o peitoral à mostra o mesmo usava um short legging preto bastante colado à pele, talvez pelos "hospitais" de Temiscira conseguirem seus recursos dos vários ataques das feras às bases das El Clonado, era o motivo de tamanha precariedade, ou talvez porque estavam no meio de uma floresta quente e úmida, mas mesmo assim, até o médico mais desleixado sabia que deveria usar o uniforme de maneira correta...

—A condição dele está estável, o corpo provavelmente vai se regenerar em questão de horas devido ao fator de cura das feras mas eu não diria o mesmo da mente dele, os casos de estupro estão nas alturas ultimamente e a maioria sai com muitas sequelas...

O médico não parava de falar o que estava anotado em sua prancheta, mas Astrid não ouvia um única palavra, assim que seus olhos caíram sobre o homem sua mente focou apenas no pescoço exposto do macho, algo dentro de si a impedia de desviar o olhar, os músculos em seus braços se contraíram, sua respiração pesou outra vez, suas unhas tornaram-se garras, ela mordeu o lábio inferior...

Quando o médico finalmente percebeu já era tarde demais, Astrid o agarrou pelo pescoço com pura luxúria no olhar...