Sentimentos conflitantes

Benício se senta com tamanha surpresa com o que ouviu.

— Filha? Ela é minha filha?— Afundando os dedos entre os cabelos ele sente um misto de sentimentos. — Sério? Você está falando a verdade?

Ela sabia que suas mentiras estavam prestes a serem desmascaradas, mas não podia desistir. Não depois de tudo que planejou.

— Benício, por favor, acredite em mim. Eu nunca planejei ficar com o Pedro. Eu juro que não sei como cheguei ao ponto de me casar com ele.

Benício respira fundo, tentando controlar a avalanche de emoções que o atingia. Ele sabia que existia algo por trás dessa história, algo que Dafne não estava disposta a revelar facilmente. Mas ele não podia deixar suas suspeitas de lado.

— Eu não sei se consigo acreditar em você, Dafne. As evidências estão todas contra nós. Eu quero fazer um exame de DNA para confirmar se eu sou realmente o pai de Clara, se eu for, tentarei recuperar os anos perdidos com minha filha.

Dafne sente uma pontada de pânico percorrer seu corpo. O exame de DNA seria a prova de que suas mentiras não teriam mais validade. Ela precisava impedir isso de qualquer jeito.

— Benício, isso não é necessário. Você sabe que ela é sua filha. Eu cometi um erro ao mentir sobre ela ser filha do Pedro, mas é só isso. Por favor, confie em mim.

Benício fica pensativo por um momento.

— Dafne, eu preciso dessa confirmação. Eu não posso seguir vivendo com essa incerteza. Eu só quero saber a verdade. Se você realmente me ama, vai entender que isso é necessário.

Dafne olha para Benício, seu rosto com um misto de medo e derrota. Ela sabia que não podia impedir essa busca pela verdade. A única coisa que lhe restava era adiar o máximo esse encontro dos dois e torcer para que seus planos desse certo. Convicta que se descoberto as suas mentiras colocaria tudo em risco.

Benício se encheu de esperança em saber que é pai, seu sonho sempre foi ter filhos com Dafne, mas ela sempre adiava, tomando pílulas do dia seguinte, remédios e injeções, fazendo o possível e até o impossível para evitar uma gravidez.

— Amor, diz que acredita em mim? Que não vai me deixa por causa daquela mulher, você não tem ideia do quanto foi difícil ficar sem você, de querer te ver e ser impedida. Por favor, não me deixe agora que te tenho novamente.

— Está tudo tão confuso aqui dentro Dafne. Vou para casa, amanhã a gente conversa.— Ele fala caminhando até a porta. Ela corre até ele e envolve seus braços em torno do seu peito, apertando fortemente.

— Não acredite naquela mulher, ela enfeitiçou todos que você ama. Amor, nossa filha ficará muito feliz por saber que você acordou.— Ele vira de frente sentindo o peso daquelas palavras.— Logo faço o exame e você vai ver que minha filha é sua filha.

Ela puxa ele para um beijo, Benício até tenta corresponder, mas assim que os seus lábios roçam nós dela, ele se sente estranho.

— Tenho que ir, não avisei a ninguém que sai. Se cuida Dafne.— Benício beija o topo da cabeça dela e sai.

O caminho para casa foi longo, caminhando sozinho pelas ruas iluminadas, ele tenta colocar os turbilhão de pensamentos que o atormenta. A chuva já tinha parado, ele aproveitou que estava sozinho e resolveu ver como está a pequena cidade pacata e silenciosa, que hoje é um lugar bastante agitado. Sentado num banco, ele colocou as duas mãos do rosto e bufou frustrado.

— O que tornou a minha vida enquanto estava em coma? Em quem acreditar?

Ao retornar para casa depois de descobrir que tem uma filha com Dafne, Benício estava dividido entre acreditar nas palavras dela e seguir em frente com sua suposta filha ou confiar nos confusos sentimentos que surgiram por Alexia. Ao adentrar o lar que costumava ser seu refúgio, ele encontrou Alexia sentada no sofá, ansiosa e muito preocupada.

Benício parou por um momento para observá-la, tentando compreender seus próprios sentimentos. A atração que estava crescendo em seu coração era forte demais para ser ignorada, mas ele precisava descobrir se tudo que Dafne falou era verdade.

Respirando fundo, ele tomou coragem e aproximou-se de Alexia, decidido a colocar tudo em pratos limpos. Mas antes que pudesse proferir uma palavra, Alexia levantou-se e o surpreendeu com um abraço apertado.

— Amor... onde esteve? Fiquei tão preocupada.— Ela fala ainda com a cabeça encostada no peito de Benício.— Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

— Não aconteceu nada Alexia. Não se preocupe.— Ele a olha e ela faz o mesmo, seus olhos ficam nos dela.— O que faz acordada?

— Acordei e não te vi na cama. Pensei que tinha acontecido algo grave.

— Só precisava pensar. — Ele mente, omitindo que esteve com Dafne.— Alexia?

— Oi?

— Qual é a sua relação com os gêmeos?

— Você os conheceu?

— Não, não. Eu só ouvi falar deles. Quem são eles na sua vida?

Eles se afastam lentamente e com os olhos brilhando de admiração ela fala dos seus amigos.

— Eles são como meus irmãos. Acredito que não tenho um, mas se tivesse, com toda certeza os amaria como amo eles.— Benício ouve aquilo com um certo desconforto talvez um tanto enciumado.— Fred é o mais brincalhão, com tudo ele faz piada.— Já Julio é o mais sério e centrado. Ambos com um coração enorme.

— Eles são tão importantes para você assim?— Benício fala um tanto desconfortável.

— Sim, Benício. — Ela sorri pensando nos dois.— Eles são parte da minha vida, história que criei aqui nessa cidade. Nos conhecemos assim que acordei, lembro o quanto estava apavorada sem saber nada do que vivi antes, eles chegaram e trouxeram alegria no momento que mais precisei e desde então somos inseparáveis. Estivemos juntos em momentos bons e ruins, e eles sempre estiveram ao meu lado, acreditaram na minha capacidade e investiram o pouco que tinham para nos tornar o que somos hoje.

— Entendo... — Ele fala estrelando os dedos nervoso.— É bom ter amigos assim, não é?— ele tenta parecer despreocupado, mas sua expressão revela uma certa insegurança.

— Benício, por que você está preocupado? Por que a pergunta sobre eles? Eles são apenas meus amigos, nada mais.

— É que...— Benício hesitante em fala, acaba dizendo o que realmente está acontecendo.— Dafne mencionou algo sobre vocês serem mais do que amigos. Ela disse que você tem um relacionamento com os gêmeos. E a cidade toda comenta sobre você estar me traindo.

— O quê?— Ela fala surpresa, pois em três anos nunca ouviu nada referente a essas insinuações.— Isso é loucura! Dafne está mentindo, eu jamais teria um relacionamento com nenhum deles, Fred e Julio são meus melhores amigos. E também... se isso fosse verdade, por que ficaria ao seu lado durante todos esses três anos?— Ele a olha sem saber exatamente o que está sentindo.— Eu te amo, Benício!

— Alexia... — Naquele momento ele decide falar a verdade, de que ele não a conhecia, que foi tudo uma confusão.

— Fala amor? O que está acontecendo. — Ela fala se pondo de pé, um pouco nervosa.— ainda não acredita no meu amor? Se está confuso e não quiser mais ficar comigo, eu saio da sua casa, você está se portando estranho des que acordou, agora vendo você enfim de pé, pensei que iria falar sobre nós, mas tudo que faz é me deixar confusa. Desvia o verdadeiro assunto que tento esclarecer. Dafne falou que íamos nos casar e apesar de não saber realmente como era nossa relação eu fiquei por você. Mas não se sinta obrigado a continuar comigo por isso.

Quando ela ameaça de sair ele segura na mão dela e a coloca sentada em seu colo.

— Fica... eu só precisava ouvir isso de você, mas a insegurança falou mais alto. Não ligo para o que as pessoas falam, só quero ficar com você.

— Benício, se tiver assim pelo que Dafne falou, saiba que eu jamais faria isso com você. Eu jamais esconderia algo assim de você. Sei o quanto confiança é importante em um relacionamento. Dafne está tentando nos separar, ainda não consigo entender qual é a dela com essas mentiras, mas peço que se ainda exista algum sentimento por mim, não acredite nas mentiras dela.

— Desculpe. Eu deixei que a dúvida tomassem conta de mim.

—Está tudo bem, amor. — Ela fala acariciando o rosto dele. — Eu entendo que a situação é complicada. Só peço que se não quiser ficar comigo, seja sincero. Não suporto mentiras e ser enganada, muito menos que me acusem de algo que não fiz...— Benício fica em silêncio encaram os olhos dela— Está chegando o dia da festa que o prefeito vai organizar para você, estou tão animada.— Alexia fala encarando os olhos do seu amado. Ele sorri com o brilho que se forma em seus olhos claros, com um movimentos ágeis, ele desliza seus dedos entre os longos fios de cabelos de Alexia e a beija intensamente.