Não consigo, não agora.

O sol mal despontava no horizonte quando Alexia acordou naquela manhã. Ela sabia que precisava tomar uma decisão. Após passar praticamente a noite em claro refletindo sobre tudo o que havia acontecido, ela decidiu que era hora de dar um passo para trás. Estava ferida e com um sentimento de traição angustiando seu peito, por isso sabia que precisava ir embora, pois se continuasse ali, só iria se machucar ainda mais.

Benício passou a noite acordado, pensando incessantemente em como consertar as coisas, enquanto Alexia começou a fazer as malas, disposta a se afastar do Benício por um tempo. Ela precisava de espaço para clarear suas ideias e decidir o que seria melhor para ela.

Quando Alexia finalmente abriu a porta para ir embora, encontrou Benício em pé do lado de fora. Seus olhos cansados revelavam o quanto ele havia passado a noite em grande angústia emocional.

— Alexia? — Seus olhos passearam pelas malas e voltaram a encarar os olhos dela. — Por que essas malas? Para onde você vai?

— Eu vou embora! — Ela falou sem demonstrar o quanto estava sofrendo.

— O que?

— Eu preciso me afastar por alguns dias, Benício. São demais coisas que aconteceram nos últimos tempos e nosso relacionamento tem mais baixos do que altos. Eu estou cansada disso. Por favor, me entenda.

— Amor... por favor, eu não dormi um só minuto. Só consegui pensar em como te magoei. — Benício deu um passo para frente se aproximando dela. Alexia olhou em seus olhos sem desviar. — Eu preciso que você saiba que entendo se precisar de um tempo, mas por favor, não se afaste de mim nem da minha família. Não quero perder você e sei que ainda temos muito o que conversar. Por favor, me dê uma chance de consertar isso? — Com a voz embargada, Benício falou rapidamente, desesperado por vê-la tão decidida.

Alexia desviou por um segundo seus olhos dos dele, mas logo os encarou fixamente, vendo o genuíno arrependimento estampado em seu rosto. Ela sabia que ele estava sendo sincero, mas também sabia que precisava de um tempo para processar tudo o que havia acontecido.

— Benício, eu entendo o que você está dizendo. Não vou me afastar. Hoje tem a inauguração do seu escritório e estarei lá te prestigiando, nem me afastarei da sua família. Mas eu preciso de um tempo para mim mesma, para pensar, para me reestruturar. Não é só sobre você, é sobre mim. Por favor, entenda isso. — Disse ela, firme em sua decisão, mas com a mágoa soando em cada palavra.

Benício assentiu, compreendendo a necessidade de Alexia. Ele não queria pressioná-la, mas ao mesmo tempo, o medo de perdê-la o consumia. Estava disposto a respeitar o desejo de Alexia, com a esperança de que esse tempo pudesse trazer o perdão que ele precisava.

— Não vai se despedir dos meus pais? Da vovó? — Ele perguntou tristemente.

— Não consigo, não agora. De tarde venho conversar com eles. Peça desculpas em meu nome, por favor.

Eles se olharam por um momento, compartilhando suas dores, inseguranças mútuas da situação delicada em que se encontravam. Então, Alexia partiu, deixando Benício com um misto de tristeza e angústia em seu coração. Ele seguiu cada passo incerto de Alexia até a porta, sua vontade era de correr atrás dela e implorar para que ela ficasse, porém seus pés estavam fixos no chão como se estivessem presos.

Enquanto Alexia dirigia em direção ao apartamento, ela sabia que o tempo que estava buscando traria clareza para o que ela estava sentindo. Ansiava por encontrar seu equilíbrio interior e descobrir o que queria realmente para sua vida.

Em sua decisão de se distanciar, Alexia não sabia o que o futuro reservava, mas sentiu uma sensação de alívio ao perceber que, pela primeira vez, estava tomando as rédeas de sua própria vida.

Ao longo de 15 dias, ela optou por morar no apartamento junto com Lorena e o pequeno Brayan, procurando distância e tranquilidade para processar seus sentimentos.

No entanto, para Benício, esses 15 dias foram marcados por tentativas incansáveis de se reaproximar de Alexia. Ele enviou flores, cartas e mensagens, mas a resposta de Alexia era sempre escassa, deixando-o consciente de que reconquistar sua confiança seria um desafio árduo.

Sem muito o que fazer em relação a Alexia, Benício se dedicou a assumir a paternidade de sua filha com Dafne. Mesmo sem acreditar no resultado positivo do DNA, ele sentia uma necessidade de proteger a menina. Fez questão de estar presente na vida dela e de oferecer o amor que ela tanto precisava, demonstrando seu compromisso em corrigir os erros do passado. Benício ficou tão arrasado com o afastamento de Alexia que se obrigou a buscar aconselhamento terapêutico para entender suas próprias ações e trabalhar para ser uma pessoa melhor. Desde que Alexia saiu da casa, ele não é mais o mesmo: emagreceu bastante, mal sente apetite para comer, seu sono não lhe traz descanso, como se sua tranquilidade só existisse com Alexia ao seu lado.

Já Alexia se viu confrontada com seus próprios dilemas. Ela passou noites em claro, refletindo sobre o relacionamento com Benício e tentando visualizar um futuro no qual suas feridas pudessem cicatrizar. Assim como ele, ela fingia felicidade que não tinha. Perto das pessoas, eles davam o máximo para mostrar que estava tudo bem, mas no escuro do quarto, a saudade doía, a vontade de ligar e pelo menos ouvir a voz estava machucando.

Hoje, Alexia sorriu com facilidade; Brayan perdeu seu primeiro dentinho desde que Alexia o tirou das ruas. Com o instinto materno aflorado, ela quis comemorar, levou-o para comer o que ele queria, até a fada dos dentes veio visitá-lo. Depois de alguns dias lutando na justiça para que Brayan fique com ela, enfim, o juiz permitiu que ela fique com a custódia dele até o julgamento.

Benício sempre a vê com Lorena e Brayan. Ele admirava a mulher que ama, e a cada dia se via dependente do perdão e do retorno de Alexia. Hoje finalmente decide dar um passo à frente. Ele se dirige ao apartamento de Alexia, sem flores ou presentes, apenas com seus sinceros arrependimentos estampados em seu rosto.

Ao bater na porta, é Lorena quem atende. Ela olha para Benício com um misto de pena e incerteza, mas o deixa entrar. Alexia está sentada à mesa da cozinha, concentrada em um quebra-cabeça que Brayan pediu para ela ajudar a montar. Ao ver Benício, uma mistura de emoções se agita em seu peito.

— Be...— Ela sussurra.— O que faz aqui?

— Alexia, eu sei que errei. E entendo que não posso esperar que você me perdoe imediatamente. Mas estou disposto a lutar por nós, se você me der essa oportunidade. Eu quero reconstruir sua confiança, mas para isso precisamos estar juntos, e estou disposto a fazer o que for preciso para merecer o seu perdão — Benício fala sem dar tempo nem para respirar. Cada palavra proferida tinha muita sinceridade transbordando. — Eu não consigo viver sem você, amor. Por favor, volta pra mim?