Alexia chega na casa de Benício, decidida a pôr um ponto final na relação dos dois. A falta de confiança de Benício estava deixando-a esgotada. Ele a encontra na porta do quarto e a abraça apertado. Alexia não corresponde por alguns segundos, mas logo retribui o abraço. Sua decisão parecia tão certa algumas horas atrás, mas agora, de frente ao homem que ama, ela não tem reação.
— Vamos conversar. — Alexia fala, cheia de incertezas.
— Vamos, amor. Senta aqui. — Benício segura suas mãos e a coloca sentada na cama. — Por que saiu sem avisar? Eu fiquei muito preocupado.
— Tem certeza de que não sabe, Benício? — Ela fala, frustrada. — Parece que você só consegue enxergar as minhas atitudes e ações, mas as suas são invisíveis diante dos seus olhos.
— Amor, eu...
Nesse momento, Vanusa, que estava preocupada com Alexia, entra correndo no quarto.
— Filha, eu te procurei por todos os lugares. — Vanusa fala, e Alexia vai de encontro com a sogra. — Você está bem?
— Estou sim, não se preocupe. — Ela fala, abraçando a senhora que está visivelmente abatida. — Fica calma que estou aqui.
— Seu irresponsável. — Vanusa fala, saindo dos braços de Alexia e encarando o filho. — Que merda tem na cabeça? Vai ficar até quando indo atrás daquela vagabunda?
— Mãe, do que está falando?
— Se eu perder a Alexia, saiba que será por sua culpa. Você não a merece, diz que a ama e corre para os braços de outra. Que raiva, Benício, que raiva. — Vanusa fala sem dar pausa para respirar. Ela olha para Alexia, que não sabe o que fazer. — Perdoa esse idiota, filha, ele está confuso com toda essa situação.
Mesmo com as incertezas que surgiam no coração de Alexia, ela sorriu, grata por ter uma mulher como Vanusa sempre apoiando-a.
— Mãe, eu não fiz nada de errado e para de paranoia. Dafne é só minha amiga. Nada mais que isso. — Ele fala, sem conseguir encarar o olhar da mãe e da Alexia.
— Amiga é uma ova, você sabe muito bem as intenções daquela mulher. — Vanusa resmunga alto. — Vou deixar vocês conversando. Filha, eu te amo.
A mãe de Benício sai com o coração apertado. Ela não quer perder a menina que aprendeu a amar tão intensamente. Entrando em seu quarto, ela faz uma oração, como todas as noites.
No quarto de Benício, Alexia está encarando seu reflexo no espelho da parede. Ela ensaia tudo o que quer falar para Benício, mas encarar seus olhos está sendo um desafio imenso.
— Amor, sei que está tarde, mas vamos dar um passeio? — Benício fala, sentindo o peso das palavras da mãe soando em sua cabeça.
— A essa hora?
— Sim, por favor, aqui não vamos conseguir conversar.
— Tudo bem! — Ela vê ele pegando uma manta e colocando numa bolsa. — Para que isso? — Ela pergunta, curiosa.
— É para sentarmos onde vou te levar.
O luar brilhava intensamente sobre a pequena cidade, enquanto Benício e Alexia caminhavam de mãos dadas pelas ruas. Era a primeira vez que eles saíam sozinhos desde que Benício acordou. A atmosfera estava carregada de expectativa e emoção. O som do vento suave soprava como se fosse uma trilha sonora perfeita para esse momento especial.
Eles encontraram um lugar isolado, longe dos olhares curiosos, e se sentaram em uma manta estendida embaixo de uma árvore. Esse lugar era especial para Benício, quando pequeno ele sempre vinha para pensar e fazer planos para o futuro. Ele nunca trouxe ninguém aqui, era um lugar perto das casas, mas longe de qualquer movimento.
O céu estava repleto de estrelas, como se estivessem testemunhando o amor entre aqueles dois jovens.
Benício olhou nos olhos de Alexia, seu coração batendo acelerado.
— É lindo, né? — Alexia pergunta, desviando o olhar e encarando o céu.
— Sim, simplesmente a mais linda. — Benício fala, ainda olhando para Alexia, que ao perceber, sorri envergonhada.
— Por que está fazendo isso? — Ela pergunta, pois ele mudou a forma como vinha agindo ao longo dos meses.
— Me escuta, eu sei que fui um babaca com você. Estava confuso com tudo o que aconteceu. Mas quero que saiba que vou fazer tudo diferente daqui pra frente. — Ele fala, segurando as mãos de Alexia.
— Por que agora? Por que não fez isso quando acordou?
— Porque eu sei que você quer terminar comigo. Eu vi nos seus olhos quando chegou em casa. Mas saiba que não vou desistir jamais de você. Quando disse que eu te amo, é a mais pura verdade.
Alexia não sabia o que responder. Toda sua certeza de que terminar com Benício seria a coisa certa a se fazer foi colocada em dúvida.
— Eu não consigo te entender, de verdade, eu não consigo.
— Me dê uma chance de mostrar que é você quem eu quero, é você que eu amo. Alexia, tudo que eu peço é só mais uma chance.
— Aceito... se fizer algo por mim.
— Qualquer coisa, é só pedir.
— Se afaste da Dafne! — Ela pede. Benício a olha e desvia o olhar. De tudo o que ele pensou, jamais imaginaria que ela pediria isso. Alexia olha para ele e suspira pesadamente. — Bom... — Ela se levanta e o encara. — Você quer ficar comigo... mas não está disposto a abrir mão de uma mulher que a única coisa que faz é atormentar minha vida desde que a conheci. Eu não aguento mais, Benício. Realmente não aguento. Aguentei essa confusão que você disse estar sentindo pelo tempo que ficou em coma, mas hoje estou começando acreditar que não éramos nada além de dois estranhos.