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Capítulo 22: Abismo

Depois de treinarmos incessantemente por 6 meses inteiros, ao fim dessa jornada, pudemos desfrutar de um bom descanso. Crzeck me pediu para descansar por uma semana, que ele tinha planos para a próxima, então, fiz como ordenado.

Hoje é o primeiro dia de folga, e estou sem saber o que fazer. Quando você tira um trem dos trilhos, o que mais ele pode fazer a não ser ficar parado? Nessa floresta enorme, não existia nada que pudesse tirar meu tédio, nem mesmo um treino leve com espadas.

Enquanto fiquei olhando para o teto deixando minha mente correr solta, Ravaatra entrou no meu quarto e veio até ao lado da minha cama.

— Mestre, você parece entediado. Quer participar da minha brincadeira?

— É sobre o que?

— Hum… Peça minha mão em casamento e eu digo se esperava ou não.

Franzi minhas sobrancelhas, ao mesmo tempo, minhas bochechas ficaram levemente vermelhas. Não respondi nada, apenas agarrei um livro que estava nos meus pés e lancei em sua cabeça.

— Tá engraçadinha hoje, não é?

Ela somente riu, e murmurou algo que não consegui ouvir.

— Tem uma coisa que quero saber, mesmo eu sendo um amplificador, não tenho nenhuma habilidade que se relacione com isso. Como eu aprendo?

— Você nunca para, tsk tsk.

Ela estalou a língua. Mas no fim, é verdade, sou um maníaco por força e conhecimento.

— Até onde sei, existem três formas de você conseguir habilidades, a primeira, aprendendo de alguém ou de algo. A segunda, descobrindo. A terceira, criando. Por exemplo, a minha habilidade <Mil Perfurações> foi criada pelo meu pai, um exímio lutador de lanças. Ele me ensinou, então a adaptei para funcionar com a minha espada. Já minha habilidade <Quanto mais, melhor> simplesmente aconteceu de eu estar enfrentando três oponentes ao mesmo tempo, e graças a minha força de vontade incrível, liberei ela.

— Isso é mais complicado do que aprender magias. Entre criar, ter um clareamento mental, e buscar alguém pra me ensinar, criar de fato é a mais fácil.

Ela deu de ombros.

— Aliás, por que será que nenhum idiota está vindo se matar mais na floresta? Preciso de mais cobaias de treino.

— Acho que você respondeu sua pergunta enquanto a perguntava.

Suspirei e levantei, tomando a frente, caminhei até o salão central, onde estavam os mesmos de sempre. Nos últimos meses, não tive muitas oportunidades para utilizar minha <Forma Mortal> e isso me fez esquecer de um detalhe, ela pode melhorar de classe também.

— Ei, Crzeck.

— O que foi, garoto?

— Acabei de lembrar uma coisa, você disse que a minha Forma Mortal pode evoluir, mas como? Já faz o quê? Um ano? Ela não saiu do nível básico.

— Você teria descoberto se tivesse coletado as almas na vila.

— Ah, qual é. Esse assunto já ficou para trás, o que passou, passou.

— De fato, e sua chance de melhorar também.

Bresk deu uma risada única, zombando de mim. E Ravaatra o olhou com um olhar aborrecido.

— Por favor, mestre dos mestres, grande Necromante e conhecedor dos caminhos da magia, me diga como melhorar!

Juntei as mãos na frente do rosto e apertei meus olhos fechados.

— Haah… Tudo bem. Assim que você coletar 1.000 almas, vai poder sacrificá-las para subir ao nível intermediário. As pinturas no seu corpo rodeiam seus membros como se fossem uma cobra rastejando até em cima, quando evoluir, será como se tivesse uma cobra do lado oposto. Quando você coletar sacrificar 10.000 almas, irá ao nível avançado, e a partir daí, cada forma mortal começa a tomar uma forma diferente, mas o que é padrão, ela vai tomar todo o seu corpo, aumentar sua massa corporal e te deixar mais alto enquanto ativa. Para os próximos níveis serão 100.000 almas para o nível Grão-Mestre e 10 milhões para o nível Celestial.

Fiquei espantado com os números finais. 100.000 é o tanto de população que uma cidade grande tem, 10.000 geralmente é quantas pessoas vivem em uma pequena cidade que acabou de sair do estágio de vilarejo.

— Não se espante. Se você realmente planeja entrar em guerra, o nível Grão-Mestre será fácil de alcançar.

— Eu gostaria de ter uma confirmação visual de uma Forma Mortal evoluída, você poderia me mostrar a sua, mestre?

Disse essas palavras com uma voz apelativa, querendo atingir os sentimentos do meu mestre. Desde o começo, ele escondeu praticamente tudo dele, então, talvez, eu possa ganhar essa.

— Tudo bem.

Admito que não esperei um retorno positivo, mas aconteceu. Crzeck era uma pessoa baixinha, ele tinha 1,65m, mas logo isso mudou. Uma fumaça negra começou a sair de dentro dele, se espalhando para todo lado e preenchendo-o, em pouco tempo, o homem que estava de pé na minha frente media 2,15m. Seu corpo estava enorme, facilmente seus bíceps ultrapassam os 75 cm, seu tronco era grosso e parecia resistente, sem contar suas pernas, que pareciam dois pilares que suportariam a maior das pressões.

Ao longo de seu corpo, como os ombros, antebraços, cintura, coxas e panturrilhas, tinham longos espetos curvados, que imagino que sejam para ataque. Suas mãos eram enormes e tinham garras que pareciam poder cortar aço mágico como se fosse papel, e por fim, no topo, apenas um gorro escondendo um rosto numa escuridão sem fim.

A pressão que ele exercia foi algo que nunca senti antes, minhas costas tiveram espasmos tentando aguentar a pressão de não sucumbir a sensação da minha coluna perdendo as forças para sustentar meu corpo. Bresk, que estava encostado na parede, foi lançado ao chão e obrigado a se prostrar perante aquela figura que parecia ser a própria Morte em pessoa.

Ravaatra, por estar mais atenta, conseguiu forçar o corpo a se manter de pé por mais tempo, mas não o suficiente, ela também caiu, sendo obrigada a baixar a cabeça para aquela existência.

Mesmo que meu corpo estivesse sendo esmagado, me forcei a não sucumbir. Cada segundo que passava, parecia que ele iria me engolir, aquele poder oculto parecia estar pressionando cada parte do meu corpo, obrigando meu corpo a obedecer. E no último momento, quando minha cabeça abaixou e meu corpo perdeu as forças, pude ouvir uma voz no fundo da minha cabeça.

̶"N̶ã̶o̶ ̶s̶e̶ ̶a̶t̶r̶e̶v̶a̶.̶"

Rapidamente acordando do que parecia ser um transe, meu corpo foi tomado por sombras negras, e sem demora, elas se fecharam em meu rosto, formando meus chifres e tapando meus olhos. Levantei meu queixo e orgulhosamente encarei o centro daquela existência mortal que queria me pressionar. Vendo isso, pude ver uma leve mudança no comportamento de Crzeck, ele parecia surpreso.

A cena era digna de épicos contados por Bardos. Uma existência desconhecida e demoníaca encara o que está abaixo, menosprezando aqueles que enfrentaria, enquanto isso, o Nobre Guerreiro se mantém de pé, olhando o perigo na face sem recuar um passo. Comparando a força de ambos, seria como um Plebeu levantar a Cabeça ao enfrentar um rei, improvável.

Os subordinados de Lunan, assistindo a isso, puderam sentir que a presença sobre eles foi consideravelmente diminuída, e ali, sentiram dentro deles, quem era o verdadeiro Pai da Morte.