Minha irmã foi gentil por me deixar na entrada da floresta em vez de no centro dela. Me poupou muito tempo com isso, mesmo que parte de mim gostaria muito de testar um pouco do meu treinamento contra os esqueletos, mas tudo bem, o verdadeiro teste vai ser contra aquelas três.
Não é que eu goste de procurar luta ou algo assim, mas com aquelas três vigiando o portão para a entrada da área central do submundo, não tenho escolha a não ser lidar com elas.
Olhando ao redor e vendo que estou sozinho, ando calmamente até o limite da terra, e fico de frente para o rio de fogo liquido, o Rio Flagonte. Da primeira vez que o vi, estava bastante ocupado fugindo. Então não reparei em seus detalhes, o maior deles, o seu cheiro de ovos podres, enxofre. O calor que ele emite também é uma surpresa, normalmente não sinto calor, o clima para mim sempre está ameno, não importa quanto frio ou quente esteja, ainda posso me queimar ou congelar, dependendo da temperatura, mas tem que ser uma temperatura muito baixa ao alto se comparar com o que um humano pode resistir.
Ajoelho-me e movo minhas mãos na direção do rio. Quando estou prestes a entrar em contado com ele, minhas mãos são revestidas por uma camada de energia cinza brilhante, o ectoplasma. Protegido por ele, e com minhas mãos na forma de concha, pego um pouco do rio nas minhas mãos sem me queimar, e com um pensamento, moldo a energia cinza envolvendo a pequena quantidade do fogo liquido brilhante no formato de uma esfera.
Com isso feito, solidifico minha energia. Assim não preciso ficar me concentro nela para que ela não desapareça.
Levanto-me e a pequena bola cinza na minha mão desaparece.
Ela não sumiu, apenas foi guardada. Aonde? Eu também não sei.
Esse foi um pequeno truque de conjuração ensinado por minha irmã. Ele converte o ectoplasma físico em energia e o dispersa, mas quando conjurado de novo, o ectoplasma volta a forma que ele convertido em energia, com o item guardado nele intacto.
Um truque muito útil, e a várias versões dele que os feiticeiros usam para fazer o mesmo, para guardar e conjurar seus itens, mas a dificuldade para realizar a minha versão do truque não é pouca.
Primeiramente, o ectoplasma é gerado pela alma. Então se eu não tiver cuidado, e sofrer qualquer pequeno dano a minha alma, as consequências serão imprevisíveis, já que nem mesmo os deuses podem curar uma alma ferida. E essa situação não é muito incomum, já que essa energia é muito dócil e pode ser manipulada com muita facilidade, isso faz os feiticeiros ou seres que lidam com ela baixar a guarda, e bem, o resultado não é uma surpresa.
A boa notícia, é que a alma é como um músculo, quanto mais eu usar e treinar com essa energia, mais a minha alma vai gerar essa energia, então por segurança, estou usando até oitenta por cento do meu tanque. Uma vez passei dos noventa e cinco, e desmaiei por alguns dias. E minhas reservas não são muito extensas, por exemplo, esse pequeno truque gastou vinte por cento do meu tanque.
Um preço pequeno, para levar uma parte de um dos rios do submundo para casa. Essa pequena quantidade vai me ajudar muito a fortalecer meu feitiço, e talvez me ajudar a criar outro focando dessa vez no fogo, e não na cura.
"Só mais um." Digo, enquanto tomo distancia e corro pulando para a outra margem.
Só encontrei dois rios na minha viagem, então não levar um pouco do rio Estige, é uma perca de oportunidade, já que quanto mais eu avançar na minha aventurara, mais vou me distanciar dele.
Volto a andar, dessa vez na direção do rio Estige, que está a alguns quilômetros de distância. Dessa distância, já posso ver a muralha natural de pedra aonde os portões da área central do submundo se encontram.
Chego então na margem do rio de águas negras poluídas. Faço a mesmas coisas que fiz no rio de fogo, e pego um pouco de suas águas e a guarda para estudo mais tarde.
No caminho, vejo algumas árvores-brancas, e isso me faz rir me lembrando de algo.
Quando cheguei no submundo, fui sobrecarregado com as memórias dos fantasmas, mas usei um galho da mesma arvore para os afastar, e achando ter encontrada algo magico, guardei o galho na minha mochila, e quando contei isso para Melinoë, ela riu de mim por muito tempo.
Acontece que essa é uma árvore muito comum, sem nem um efeito magico, a única coisa especial nela, é que os choupos-brancos, são um dos símbolos de Hades, e os fantasmas de alguma forma sabem disso e se afastam deles, mas tirando isso, ela não passa de uma árvore comum, para meu constrangimento.
O caminho começa a ficar mais fértil, e finalmente chego ao cais caindo aos pedaços, aonde vejo minha mochila largada no chão intocada a alguns metros a frente do cais, na grama. Levanto ela e a limpo tirando um pouco da poeira, vejo que tudo está dentro dela e nada foi mexido, claramente minhas inimigas não têm nem uma vontade de roubar meu estoque de comida ou água.
"HAIIAAAAAAAAAAAAAA!"
E como antes, o grito do meu inimigo faz meu ouvido doer, mas não sou tão afetado quanto da primeira vez por conta dos tampões de cera enfiados no meu ouvido, cortesia de Melinoë.
Volto a colocar minha mochila no chão e saco minha espada, ficando de frente para às três mulheres morcegos que vem voando na minha direção no horizonte.
Erínias, mas conhecidas como Fúrias. São três irmãs nascidas das gotas do sangue de Urano que respingaram no solo quando ele foi morto por Kronus, no momento em que nasceram, seu único instinto foi a vingança, então cada irmã ficou responsável por punir certos crimes que os mortais comentem no submundo. Não tinha as reconhecido antes, mas depois da minha descrição, minha irmã me deu um belo relatório sobre elas.
O motivo de seu ataque anterior também foi explicado. Acontece que elas são incrivelmente leais a Hades, e quando a notícia que eu vou me tornar seu sucessor se espalhou, elas ficaram loucas, e mesmo sendo seu filho, elas me consideraram um inimigo do seu senhor que deve ser destruído.
A três mulheres usando apenas uma peça de roupa suja e velha com grandes asas de morcego, unhas do tamanho de lâminas e uma pele seca semelhante às múmias continuam se aproximando em alta velocidade.
Comparar essas três como entidades separadas é um erro, elas lutam juntas desde que nasceram a milhares de anos, seu trabalho em equipe é tão perfeito, que vai ser como lutar apenas contra um. Fora suas unhas, que impediram minha cura natural, e o veneno nas suas presas, que podem matar qualquer ser mortal, como minha irmã me avisou, elas também tem esse grito sônico, que pode ser fatal.
Ou seja, não vai ser uma luta fácil.
"HAIIAAAAAAAAAAAAAA!"
"HAIIAAAAAAAAAAAAAA!"
"HAIIAAAAAAAAAAAAAA!"
Às três gritam juntas mais uma vez antes de me atacar, por conta da proximidade, sou um pouco afetado pelo grito que deixa meus ouvidos zumbindo, nada grave.
Então às três ficam uma atrás da outra enqunto mergulham na minha direção. Todas com suas garras prontas.
Defendo a primeira colocando a minha lâmina negra na frente do meu corpo, e jogo ela para minha esquerda, a tempo de ver a segunda logo atrás e a terceira atacando juntas. Me teleporto para esquerda delas e tento arrancar a cabeça da segunda, mas a outra defende sua irmã com suas garras, puxo minha espada dou um pulo e chuto uma delas no rosto a fazendo se chocar contra a outra e rolar no chão.
A primeira que atacou, subitamente apareceu na minha frente com suas unhas mirando meus olhos. Abaixo-me esquivando, mas a unha passou raspando acima da minha sobrancelha me cortando levemente. Com minha mão livre, seguro o pulso dela e a giro para depois a jogar no chão de costas. Antes dela conseguir se levantar, piso no seu peito e levanto minha espada.
Claro que antes de conseguir finalizar, sou mais uma vez interrompido pelas outras duas.
"Επικαλούμαι το κρύο της θλίψης του ποταμού Cocyte!" {Eu Invoco o Frio da Tristeza do Rio Cócito!}
Assopro uma grande quantidade de névoa negra como piche mirando nas duas. Como já usei esse truque antes nelas, às duas bateram suas asas e voltaram para o alto se livrando do meu ataque.
"Haaa!" Grito de dor olhando para baixo.
Aquela que estava presa no chão pelo meu pé, cortou meu tornozelo com suas garras. Furioso e com dor, levanto meu pé e chuto a cabeça dela a mandando rolando para longe de mim.
Uma das duas que estavam voando me ataca, não ligo para ela, em vez disso seguro minha espada virada para baixo e me teleporto para trás daquela que está flutuando a alguns metros do solo esperando sua chance de me atacar.
Quando apareci atrás dela, sem poder voar, movo-me rápido mirando sua asa, só que ela também é rápida e conseguiu desviar, mas não antes deu conseguir segurar seu pulso, e a Fúria, começa a voar para o alto.
Por conta da subida rápida, sem querer solto minha espada, mas agora com uma mão livre, consigo agarrar o outro braço dela, e quando aperto com força seus pulsos, ela gira no ar tentando me fazer a soltar. Aproveito isso, e quando seu giro estava quase completo, a solto e a gravidade faz seu trabalho me lançando sobre ela e me possibilitando envolver seu pescoço com meus braços e sua cintura com minhas pernas.
Ela não gostou nada disso, e ela deu várias piruetas no ar tentando se livrar de mim, mas estou bastante seguro apertando o pescoço dela com toda minha força.
"Shiii!"
Foi aí que escutei um barulho nas minhas costas e vi algumas faíscas. Uma das fúrias me atacou acertando meu escudo. Por sorte, o voo louco da que estou segurando está atrapalhando bastante as chances das outras me atingirem de novo.
Vendo que ela estava se aproximando demais do rio Estige, e não querendo dar um mergulho nele, solto um dos meus braços e seguro a membrana de uma das suas asas interrompendo o voo dela e nós fazendo entrar em queda livre. Para que ela não me de trabalho de novo no futuro, puxo a membrana e facilmente ela se rasga.
"HAIIAAAAAAAAAAAAAA!"
Grita ela, dessa vez de dor.
Com o meu trabalho feito, olho para os lados enquanto caímos. E me solto deixando meu corpo reto indo para esquerda.
Enquanto uma das Fúrias caia sem poder voar, outra foi a ajudar sua irmã, enquanto a última, veio voando na minha direção com os braços estendidos e boca aberta. Boca que soco com toda minha força. Mas não permito que ela se afaste segurando seu cabelo e a puxando para perto mim, faço o mesmo que diz com a primeira ficando nas suas costas e segurando um de suas asas.
Não tive tempo de a rasgar como fiz com a outra, porque o chão veio primeiro.
"BLOMMMMM!"
No meio da queda, consegui virar o corpo da Fúria para baixo, mas o choque no chão, me fez solta ela e meu corpo quicou algumas vezes no chão antes de eu conseguir ficar de pé. Levanto minha mão, e minha espada volta para ela.
Uma queda dessa altura não é o bastante para me ferir gravemente, semideuses conseguem absorver danos desse tipo facilmente. Infelizmente, às duas Fúrias que caíram no chão também são bastante resistentes e não ficaram feridas gravemente, pelo menos a que caio junto comigo teve uma de suas asas quebradas na queda, assim duas delas agora estão presas no chão comigo.
Só mais uma. Penso olhando para a última que está voando.
Ela foi experta e não se aproximou sozinha, as outras duas, não muito acostumadas a lutar no chão, estão andando lentamente na minha direção. E eu apenas fico as esperando.
Às duas no chão finalmente me atacam. Uma delas tenta acerta minha garganta com suas unhas, giro meu corpo para esquerda desviando por alguns centímetros e corto a coxa dela com minha lâmina.
"HAAAAAAAAAA!"
Um ferimento profundo, que a força a cair de joelhos no chão. Não consegui acerta a cabeça dela, já que a segunda quase acertou meu coração. Segurei o pulso dela me protegendo e o torce o quebrando, quando a Fúria se contorceu de dor, pisei no joelho dela o quebrando, e quando ela se abaixou, enfiei meu joelho no seu rosto.
Foi quando me virei para quase ser atingido pela última Fúria voadora. Mas ela ainda conseguiu me agarrar com seu corpo e me arrastou pelo chão por alguns metros tentando morder meu pescoço, ainda bem que me move rápido e segurei ela pelo pescoço a afastando de mim.
"BLAMM!"
Bato de costa num tronco fazendo a árvore tremer.
"Hahhaha!"
A Fúria continua tentando me morder, com todas suas forças.
"Επικαλούμαι το κρύο της θλίψης του ποταμού Cocyte!" {Eu Invoco o Frio da Tristeza do Rio Cócito!}
Encho meus pulmões com ar, e a Fúria, sendo um ser inteligente, já sabe o que vai acontecer e me solta batendo suas asas tentando se afastar de mim. Só que isso foi um blefe.
Não usei feitiço nem um, e quando ele se afastou um pouco de mim, me teleporto para atrás dela e corto uma das suas asas para depois a chutar nas suas costas a mandando na direção do tronco da árvore que ela bate de cara. Antes dela conseguir se virar, dou uma estocada perfurando seu ombro e o tronco.
"HAIIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!"
Gritou ela de dor explodindo os meus tampões de ouvido. Por um segundo, tampei meus ouvidos com minhas duas mãos fazendo de tudo para me proteger do seu grito. O grito não parou, e minha dor só aumentou. Num momento de pânico, segurei o cabelo dela e bati a cabeça dela com tanta força contra o tronco, que seu rosto ficou enfiado na madeira.
Então o grito dela parou.
Senti minhas mãos molhadas, olho para elas e vejo um pouco de sangue, sangue que não é das fúrias, e sim dos meus ouvidos.
Maldito grito sônico.
Com raiva, e morrendo de dor, arranco minha espada do ombro e do tronco, mas a Furia não caio no chão, ainda desmaiada em pé presa por conta do seu rosto no tronco.
"Menos um." Digo em voz alta, para testar como minha audição está, não escuto nada.
Deixo a fúria desmaiada para trás, e olho para últimas duas chegando perto de mim. Dessa vez, elas estão um pouco temerosas olhando para sua irmã desmaiada.
Por que não a matei? Por que isso não me deixa confortável e também é inútil. Monstros gregos não ficam mortos por muito tempo.
Quando são mortos, as almas dos monstros gregos vão para o Tártaro, aonde seus corpos são reconstruídos, quanto mais fortes são os monstros, mais rápido eles ressuscitam, e como o Tártaro não liga para nada, esses monstros facilmente voltam para o submundo.
Então se eu mata-se a Fúria, ela provavelmente vai ressurgir em pouco tempo, levando em conta como o tempo aqui corre de forma diferente. Então com certeza, depois voltar a vida, Ela vai procurar vingança.
Não, é melhor as deixar inativas.
Às duas últimas estão mais cautelosas, o que não é uma coisa boa, prefiro meus inimigos me subestimando e atacando como feras loucas. Por sorte, às duas demoraram demais para agirem dessa forma, e agora seu trabalho em equipe foi destruído. Tenho tanta certeza disso, que pela primeira vez, sou eu quem ataco.
Corro até elas e chuto uma pedra que estava no meu caminho, como uma bola, a pedra do tamanho de um coco gira no ar e acerta uma delas no peito explodindo em poeira que deixa a que foi acertada confusa.
Ignoro ela e fica na frente da outra, que tenta me morde assim como sua irmã, e da mesma forma, ela não consegue. Antes dela conseguir se aproximar, coloquei minha lâmina de lado na frente da boca dela, e a Fúria a morte tirando faíscas da minha arma. Enfio então um dedo no olho dela, não forte ou fundo o bastante para explodir seu olho, apenas o bastante para a fazer recuar e colocar sua mão cobrindo seu rosto.
Quando ela deu alguns passos para trás, pulo, giro no ar e chuto a temporal dela, na parte lateral do crânio, com toda minha força, e a segunda cai no chão.
Não perdi a última de vista, então ela não conseguiu me acertar de surpresa, mas suas garras arranharam todo o peitoral da minha armadura quando dei um passo para trás para desviar.
A armadura foi ferida, eu não.
Quando comecei essa aventura, fiquei preocupado com o dano a minha armadura que aconteceu na batalha anterior, preocupação que desapareceu, já que durante meu treinamento, minha armadura se "curou" sozinha. Melinoë me explicou que os ferreiros do submundo encantaram minha armadura assim, desde que ela não seja completamente destruída, ela pode se alimentar de um pouco da minha energia e se consertar sozinha.
Como só falta uma, tiro meu escudo das minhas costas. Lutar com ele seria um erro no início, já que as três poderiam usar meu ponto cego que ganho quando o levanto.
Coloco meu escudo levantando na minha frente e minha espada na lateral sobre ele e dou pequenos passos na direção dela, me aproximando, e ela, da alguns passos para trás.
"Não seja tão tímida agora." Digo, aumentando um pouco minha velocidade.
"HAIIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!"
E mais uma vez, a maldita grita com todas suas forças.
Ainda sem escutar nada, meus ouvidos quase explodem, e isso me deixa completamente furioso.
Deixo a cautela para trás e corro tentando corta a cabeça dela num golpe amplo.
A Fúria escapa abaixando sua cabeça e tenta perfurar meu estomago, giro para esquerda, mas as unhas dela passam cortando levemente meu corpo, e quando ela passa por mim, acerto com o pomo da minha espada na parte de trás do pescoço dela.
Ela cai de joelhos, ainda consciente. E para acabar tudo, fico do lado dela e chuto seu rosto e ela cai de costas no chão, com as penas ainda dobradas.
Respiro fundo algumas vezes para recuperar meu folego. Foi uma batalha curta, mas intensa.
Limpo o sangue que está escorrendo pela minha bochecha do corte na minha sobrancelha, por sorte, o sangue não escorreu no meu olho, ou as coisas poderiam ser muito mais difíceis. Após guardar minha espada e escudo, seguro o pé da Fúria próxima a mim e começo a arrastar no chão na direção da outra.
Arrastando às duas no chão, e sinto o cheiro delas pela primeira vez, e não é nada agradável.
Os meus ferimentos também começaram a me incomodar, principalmente o da minha perna. Tenho que resolver todas as coisas no submundo primeiro, depois de voltar para Terra vou ter tempo de me curar.
Solta às duas Fúrias na frente daquela que está presa na árvore. Arranco ela do tronco, e a coloco às três deitadas uma do lado da outra encostadas no tronco.
"Υπνος!" {Durma!}
Antes de começar, coloco um feitiço simples nas três, que caem em sono profundo facilmente, já que estão desacordadas.
Tomo então um pouco de distância, e começo meu plano para lidar com às três.
Confesso que não foi nada fácil chegar a uma solução para essas três. Passei dias pensando sobre isso, até que uma ideia veio até mim durante meu treinamento. Não a tive tempo de a testar, e a uma grande chance de falha. Se isso acontecer, vou jogar todas às três no Rio Estege, isso vai matar elas, e esperançosamente, aumentar e muito o tempo de ressurreição.
Levanto minha mão com um dedo estendido. Na ponta do meu dedo indicador, uma pequena chama cinza brilhante aparece.
Abaixo-me e começo a desenhar grandes letras do antigo alfabeto Africano Ocidental da região de Gana no chão, ao redor do corpo delas. O ectoplasma tingia o chão como tinta neon, e cada letra adicionada ao redor das três, mais brilhante o ectoplasma ficava.
Finalmente, depois de alguns minutos, consigo escrever em volta da árvore todas as letras.
Ergo minha mão de novo, dessa vez, toda minha mão e envolvida pelo ectoplasma. Escolho uma direção aleatória e aponto para ela. O ectoplasma cinza dispara serpenteando pelo ar mais veloz que um raio até eu não mais poder o ver.
Poucos segundos depois, a energia faz o caminho contrário até mim, e uma bola de energia cinza quase transparente com três pontos brancos dentro dela para na minha frente flutuando, pego a bola e a jogo no chão, a esfera se quebra como se fosse feita de vidro.
Os três pontos brancos, se transformam em três espíritos na minha frente, dois homens e uma mulher.
Os retirei a força do caminho deles, mas não cortei a conexão que eles têm com o submundo, só por isso eles ainda não despertaram.
"Bem, vamos ver se funciona." Digo, ficando entre as Fúrias e os espíritos.
Levanto meus braços, e duas linhas de ectoplasma que saemdas minhas mãos se dividem no ar tocando a cabeça de todos.
Fecho meus olhos, e começo a entoar uma longa maldição que aprendi enquanto estudava os livros da Zatanna.
E a cada palavra, o círculo escrito no chão brilhava cada vez mais, até o ponto de encobrir a visão das três Fúrias.
Maldiçoes não são algo que uso geralmente, já que é preciso uma certa preparação para serem usadas, preparação impossível de ser feita durante uma luta. Claro que a maldições poderosas que podem ser usadas sem rituais como esse, mas essas cobram um preso muito alto, e os feiticeiros normalmente não têm coragem de as usar a não ser como último recurso, por exemplo, a maldições que podem ser colocadas no inimigo usando sua alma, muitos as usam quando estão próximos da morte.
Maldições sempre tem um preço maior, e o preço para que estou usando agora está sendo pago, nas costas das minhas mãos, um círculo com as mesmas letras que desenhei no chão está sendo gravada na minha pele por uma faca invisível.
A dor é muito desagradável, mas suportável. Ela me fez intender porque a maioria dos bruxos usa sacrifícios de animais para escapar disso. Talvez eu deva comprar alguns hamsters para serem usados, não, provavelmente vou me apegar a eles e os criar.
Finalmente, as luzes desaparecem. E tudo volta ao normal, menos as minhas mãos, que estão pigando sangue no chão.
Não ligo para isso, e foco minha atenção nas Fúrias para saber se tudo deu certo. Se não tiver dado certo, tenho que agir rápido no momento em que elas derem sinais do contrário.
Então, mecanicamente, às três Fúrias se levantam. Mas elas não me atacam, apenas ficam paradas, como se estivem olhando para algo no horizonte.
Tudo bem até agora.
E depois de alguns segundos assim, os fantasmas atrás de mim se movimentam, e elas fazer o mesmo, andando no mesmo ritmo, passo a passo.
Sucesso.
A maldição que usei vem da feitiçaria voodoo, a tradução para o nome complicado dela seria maldição do espelho. Um nome que explica tudo, já que ela liga duas pessoas obrigando uma delas a fazer tudo que a outra faz, como um reflexo.
Normalmente, os fantasmas não podem ser amaldiçoados, mas o ectoplasma tem uma forma única de tornar o impossível possível para seres como eles. E como os espíritos do submundo estão numa espécie de transe os forçando a andar até o centro dele. As Fúrias também foram afetadas por esse efeito as tornando da forma que são agora.
Elas vão continuar andando assim, até o julgamento dos três juízes. Em qualquer lugar, essa solução não daria muito certo, já que vou sair do submundo e o tempo aqui corre muito mais rápido que na Terra, eu espero. Só que no submundo, como minha irmã falou, ninguém liga para o tempo, por esse motivo, a literalmente espíritos que estavam vivos na Grécia antiga ainda na fila.
Então se ninguém vier procurar e ajuda as Fúrias, elas vão ficar assim por um longo, longo, longo tempo.
E assim, me sento numa pedra e fico vendo os seis andando lentamente pela planície na direção do portão.
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Me dei o luxo de curti um pouco o submundo em paz por alguns minutos andando calmamente em direção do portão.
No meio do caminho, até mesmo procurei algumas joias ou ouro espalhados pelo chão, e tive alguma sorte, encontrei duas esmeraldas não muito grandes. Mesmo andando calmamente, ainda fiquei prestando atenção nas Fúrias, queria ter certeza que a maldição estava funcionando perfeitamente.
Finalmente, cheguei ao início de uma estrada, ela está tão cheia de espíritos enfileiradas, que não consigo ver o chão em que eles estão pisando. E todos estão andando na mesma direção, para a enorme cadeia de montanhas no horizonte que tem um portão esculpido no centro dela.
O portão está aberto, e mais próximo agora, posso ver claramente o que foi a grande massa negra que vi pela primeira vez de longe. Um insanamente cachorro grande.
Um cachorro que está deitado no chão confortavelmente, e mesmo deitado, posso comparar ele a um caminhão em tamanho. Seu pelo é negro como a noite, seu corpo magro e forte, e suas três cabeças, assustadoras.
Às três cabeças são parecidas com a raça grega colosso-de-epiro, fora os olhos deles, que são vermelhos e brilhantes. No pescoço de cada cabeça, a uma coleira de ferro bruto com uma corrente de apenas alguns centímetros penduradas.
Cérbero, o guardião das portas do inferno. Ele não parece muito animado, mas com três cabeças, cada um olhando para um lado diferente, me faz acreditar o contrário.
A ideia original para essa primeira aventura era chegar até aqui, já que para ter total certeza de ficar vivo passando os portões, é preciso certas providencias. E após viver no submundo por algum tempo, é certo que preparação é muito necessária.
Então puxo minha espada. A chave para o portal ficou disponível para ser usada a muitos dias atrás.
"Άνοιξε, διατάζω!" {Abra, eu ordeno!}
Com um movimento do meu braço, uma ferida no espaço aparece na minha frente, dela, o portal se abri.
Puxo o ar do submundo mais uma vez para sentir esse lugar familiar e nada acolhedor, e mesmo sabendo desse fato, tenho total certeza que vou voltar em pouco tempo.
Faço isso por mais algumas vezes, até me dar por satisfeito, então atravesso o portal.
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O portal me deixou no mesmo lugar aonde entrei na primeira vez, na parte de trás da Torre, aonde só a gramado e espaço aberto.
Já era noite, e o céu desse pequeno planeta continuava sem nem uma estrela a vista por conta das nuvens.
Olho ao redor, e vejo que tudo parece normal, já que a Torre não estava em chamas ou destruída, o que é sempre um bom sinal, já que estamos no universo DC.
Vou até à entrada e depois até o elevador, que me leva até o andar da sala comum, aonde praticamente todos os residentes do lugar ficam. Quando o elevador estava subindo, olho para a tela acima dos botões dele, nela estava escrito a data e hora.
"Duas semanas!" Digo em voz alta.
Estava esperando ficar apenas uma semana no submundo, mas o tempo lá me deixou confuso. Sou muito sortudo até, poderia ter se passado anos.
Tenho que falar com Vanessa imediatamente, depois me atualizar sobre o que os Titãs estão fazendo.
Quando a porta se abri, percebo que o local está vazio. Vou correndo para a parte de cima do andar, aonde ficam os quartos, e quando chego na frente da porta do meu, vejo um bilhete claramente escrito por Ravena preso na porta.
{Saímos em uma missão sem você.} Simples, sem detalhes.
Arranco o bilhete da porta e sinto os feitiços que coloquei nela, ninguém entrou no meu quarto.
Entro nele e vou diretamente para meu telefone em cima da minha cama.
Antes de saber onde estão meus amigos, tenho que levar uma longa bronca da minha irmã.