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chama os pontos, ruivinha

Lisa, cuja paixão pela rica herança latino-americana era inegável, de maneira infeliz, se deparou com um modesto folheto caído no lustroso chão do renomado Instituto Internacional de Gangnam. Ali, nas palavras impressas com simplicidade, estava a promessa de um torneio de truco, um jogo de cartas profundamente enraizado na cultura latina, de bônus: uma recompensa substancial aguardando a dupla vencedora. Seus olhos brilhavam com desejo de participar do torneio, era intenso só de pensar, o jogo, a ansiedade, a loteria de cartas, as possibilidades, a sincronia da equipe, a tensão... tudo era como uma dança de estratégia e astúcia que desafiava os jogadores a prever os movimentos de seus oponentes e, naquele momento, era como se ela voasse. No entanto, segundos depois da frenesi, Lisa praticamente desabou pois havia um grande problema: ela não tinha dupla, suas poucas amigas não compartilhavam o mesmo entusiasmo e ela sequer conhecia algum possível candidato para ser sua metade. O destino, então, uniu Lisa a Chaeyoung, a enigmática garota da escola, em uma parceria improvável, era como se Raul Seixas e Tim Maia se juntassem para uma música já que aquilo, de fato, era algo estranho e inesperado, mas decente. Juntas, embarcaram em uma jornada desafiadora, onde não apenas as cartas eram distribuídas, mas também o destino delas era traçado, celebrando a cultura latina através do truco.

imbrendssd · Prominente
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5 – o primeiro jogo.

  Mais uma segunda-feira e novamente Lisa estava atrasada para o de sempre: aula de física, mas desta vez, havia a inscrição de participação dos torneios escolares Para isso, não queria atrasar em virtude da importância para si, algo minimamente irônico considerando os eventos da madrugada, ela praticamente não tinha dupla 6 horas atrás e agora mal sabia os horários de inscrição, talvez mandaria alguma mensagem para Chaeyoung, pedindo ajuda.

  Para ela, era um pouco cômico o modo de funcionamento do universo, em primeiro momento ela era apunhalada e envergonhada de diversas maneiras e em outro momento, tinha dupla, a dupla era decente, e decente pra caralho. Sério, muito confuso.

  Mas agora a luta era outra além da inscrição: claro que ela não poderia perder isso, mas o dilema ainda era o mesmo da semana passada, não poderia se atrasar para a aula de física. Então, a rotina apressada que se seguiu foi um borrão de ação, uma dança frenética para se aprontar e chegar à escola. A escova raspava contra os dentes com impaciência, as roupas eram escolhidas com pouco cuidado, e a mochila foi abarrotada às pressas com livros e cadernos. Sabia que seu atraso para a aula de física não seria tolerado, mas ela parecia incapaz de acelerar seu próprio ritmo em função da ansiedade e euforia.

  Quando finalmente chegou à escola, o sinal já havia soado e a aula de física estava em pleno andamento. Lisa entrou na sala de aula com a cabeça baixa, o rosto corado, ciente de que a repreensão do professor e os olhares de seus colegas a aguardavam. Mais uma vez, ela estava atrasada, mais uma vez ela estava diante da matéria que abominava. Teve que pedir desculpas para a sala inteira, mas aquilo não importava tanto pois estava internamente muito feliz.

  Com medo de acabar perdendo o horário das inscrições, por não ter tido muito mais informações sobre no folheto encontrado, Lisa mandou mensagem à Chaeyoung, com esperanças da loira estar no território escolar.

L (7:47AM): oi, consegue, por favor, inscrever a gente?

presa na aula de física agora :/

cheguei atrasada e tive que ir lá na frente e pedir desculpas

 

C (7:49AM) : oi, consigo sim

se ficou tão vermelha igual na sorveteria, tava fofa

boa sorte com essa aula aí

 

  Lisa corou minimamente pelo elogio, nem ligou pelo comentário sobre a sorveteria pois agora parecia mais tranquila, já que Chaeyoung se mostrava uma pessoa relativamente legal. Independentemente da vergonha na sorveteria, ela havia conseguido a dupla, então não importava mais. Estava radiante por dentro.

  A aula se arrastou, a sensação de tempo se distorcendo ainda mais na mente de Lisa. Ela ouvia as palavras do professor, mas seus pensamentos estavam em outro lugar, em um lugar onde ela não precisaria se preocupar com equações intrincadas e lições cansativas. Quando finalmente soou o sinal para o intervalo, Lisa saiu da sala de aula com um suspiro de alívio, sentindo-se temporariamente liberada da prisão da física.

  Comeu algo qualquer no intervalo e quis mandar mensagem para a loira, perguntando se estaria livre, ou se já havia feito a inscrição. Pensou um pouco e acabou mandando.

L (9:27AM): oi, não quero incomodar não, mas conseguiu a inscrição?

 

C (9:27AM): oi, consegui sim

fiz assim que mandou a mensagem

 

L (9:28AM): obrigada, Chaeyoung

C (9:28AM): ta de boas ruivinha. tá livre agora? dá pra meter um truquinho

L (9:30AM): to livre sim, quer ir pra onde?

 

  Ela não estava livre não, tinha aula de geografia no próximo período, mas deu sorte já que ia bem na matéria e qualquer coisa, Jisoo e Jennie poderiam passar as anotações para ela. Não havia nada que Lisa não faria por um truco (e uma mulher gostosa).

  Combinou de encontrar a loira no pátio da escola, um lugar praticamente vazio naquele horário. Visto que muitas turmas estavam em aulas, poucas pessoas interagiam no pátio, em geral pessoal do comitê dos torneios ofertados pelo Instituto, Lisa se perguntou se Chaeyoung não teria aula já que estava indo jogar truco, mas esqueceu qualquer pensamento banal quando viu a Park se aproximando.

  Alta, loira, linda, incrível, elegante, jogadora de truco, tudo de bom nesse mundo. Lisa pensou. Era minimamente engraçado o fato dela nunca ter nem ligado para a existência da loira até certo tempo, mas após a descoberta do que a loira sabia fazer em um jogo, tudo havia mudado. Lisa queria ser como ela quando crescesse, ousada, astuta e desconfiada. Chaeyoung praticamente era sua musa só por existir e saber de truco.

  Ali estavam as duas, uma em frente da outra, separadas por um baralho e uma mesa. Chaeyoung quis saber o que Lisa sabia fazer. Aquilo era pra ser tranquilo, afinal as duas não se disputariam no torneio, se auxiliariam, então, era importante estudar a química que tinham na jogatina e também a combinação de sinais caso os adversários fossem de índole duvidosa.

  Chaeyoung embaralhou, aquele era o mais perfeito riffle shuffle, nada muito novo, mas surpreendente se bem executado, aquilo era algo admirado por Lisa, que mal sabia embaralhar direito sem acabar derrubando uma carta. Será que a loira sabia jogar poker? Provável. Entregou o baralho para Lisa fazer o corte e então, se pôs a distribuir as cartas.

  Que jogo de merda, pensou. 5 de espada, 11 de copas e um 7 de bastos. Era a vez da ruiva começar. Como todo jogador desesperado por pontos quando tem um jogo ruim, Lisa chamou o Envido. Chaeyoung pensou, não sabia e nem poderia julgar qual seria a estratégia de Lisa, se blefava ou se era sincera, então, ao invés de dizer "Quero", ou "Não quero", deu início a uma conversa, para, secretamente, entender Lisa.

— Então, gosta tanto do truco por qual motivo?

— O início da minha paixão pelo jogo começou pela paixão pela cultura da América Latina. Meu pai sempre viajava a trabalho para diversos lugares e o que mais o cativou foi o povo latino americano. Então, meio que essa paixão passou pra mim, amo tudo sobre eles e um dia quero muito poder viajar e conhecer cada cantinho das Américas. — Fez uma pausa para respirar, e continuou — O truco foi uma maneira mais interativa de conhecer o jeito latino. Ninguém ia querer ouvir eu falando sobre as coisas que gosto, mas se falar sobre o jogo, se torna um motivo mais 'escutável'. Dessa maneira eu aprendi a amar, também nunca odiei, só me sentia mais contida no início. Vai aceitar o envido?

— Vou é aumentar. Real envido.

— Quero. E você?

— Eu o que? 5x0 para mim

— Por que gosta do truco?

— Tenho 24 de pontos. Longa história, Lisa.

— É bom, bom. 5x0 pra você. Pode contar sua história, eu tenho tempo. — Sorriu enquanto jogava o 5 de espada — Tô ruim de jogo hoje

— Bom, acho que a minha paixão sobre o truco tem muito a ver com quem eu sou e quem eu me tornei hoje. Creio que nada tão profundo quanto a sua história.

  Chaeyoung, que em mãos tinha um 11, 10 e um 4, rebateu com um 11 de ouro, havia feito aquela rodada. Tornou para a segunda, jogou o 4 de ouro. A rodada estava dada para Lisa, se ela tivesse todos os três 4 do jogo, certamente já teria gritado a flor espanhola! Era certo que sua jogada não fazia sentido, pois poderia ter deixado o 11 para a última, por ser uma carta maior, mas igual queria conhecer Lisa, saber seu raciocínio, sua estratégia, ler ela pelo jogo e talvez compreendê-la, por isso, era melhor ter jogado uma mais alta no início, indicando a possibilidade de ter algo maior que 11.

— Se quiser contar, eu escuto sem problemas. Quero muito conhecer você.

  Chaeyoung achou aquilo sincero e engraçado, afinal ela também queria conhecer a ruiva que, de maneira geral, não parecia ser uma pessoa ruim ou desagradável. Lisa rebateu o 4 com seu 7 de bastos, havia garantido a segunda rodada. Como julgava estar ruim no jogo, nem pensou em chamar truco, apenas lançou seu humilde 11 na mesa, revelando a sua última carta.

  A Park, que segurava seu 10, não se preocupava, afinal, seus 24 pontos já estavam em mesa representados pelo 11 e pelo 4. Era certo que se Lisa tivesse chamado o truco, a loira perderia. Então, já que a derrota já era garantida se depositasse sua última carta na mesa, a Park resolveu arriscar.

— Truco. — Cantou.

  Lisa pensou na possibilidade de ser blefe. Não sabia o que fazer, então correu.

— Não quero.

— Fez bem — disse a loira. — Me deu 1 ponto. Você ganharia. — Revelou o 10.

  Lisa riu. Chaeyoung era boa em jogos psicológicos, aparentemente.

— Caí no seu blefe. Nessa rodada eu cuidarei mais.

  Pegou o baralho e se pôs a juntar tudo e embaralhar. Enquanto embaralhava, Chaeyoung começou.

— Sobre a sua pergunta, em relação a minha paixão pelo jogo. Não é uma história tão longa, se ainda quiser ouvir.

— Quero, pode contar. — Deu o baralho para Chaeyoung cortar e iniciou a distribuição de cartas.

— Enfim, você deve saber que eu ando praticamente sozinha né. Essa parte eu deixo pra outra hora. Tem um pouco de relação sobre o porquê eu gosto do jogo.

  Cartas dadas. Lisa estava com um jogo decente agora. 7 de ouro e 6 de ouro. 33 de pontos. Mais um 1 de copas. Aquele sim seria um jogo tenso para a loira.

— Sua vez de começar.

  O placar estava 6x0 para Chaeyoung.

— Então, eu gosto do truco por simples motivos que definem e me ajudam a entender demais as ações e postura de uma pessoa. Mas antes, Envido.

— Real envido — Lisa mandou.

— Quero, cante.

— 33 é os meus.

— Bom demais. 6x5 para mim. Vamos até 24? — Jogou um 12.

— Pode ser. — Lisa rebateu com o 1 de copas. Jogou seu 6 de ouro.

— Enfim, — Jogou um 10. — Truco.

— Retruco

— Vale 4.

— Quero. — Lisa aceitou, ficou com medo porém obviamente não correria com um 7 de outros, a 4ª carta mais alta do jogo. Respirou fundo e esperou Chaeyoung jogar. Era certo que, pelos seus 33 de pontos e o 6 de ouro na mesa, a loira sabia do 7 nas mãos da ruiva. Aquilo seria um teste, uma tentativa de susto ou realmente a Park estava melhor?

  Chaeyoung jogou, era um 7 de espadas.

— Pensei que não fosse aceitar o meu Vale 4, afirmou. Tava querendo ver até onde você iria. — A loira disse.

— Justo, mas eu não correria com o 7. Mas também pensei que fosse só ameaças.

— Certo. 10x5 para mim. É bom que você não pareça muito intimidada por mim, só mais insegura quanto às suas táticas, ao meu ver. — Pegou o baralho e iniciou a organização — Continuando, por diversos motivos eu amo truco, acabo por descobrir muito sobre as pessoas através do jogo. Se blefam demais, se são sinceras, se roubam cartas do baralho, se são soberbos perante a vitória e sensatos perante a derrota. — Entregou a Lisa o baralho para o corte — Isso reflete muito nas ações da vida. E eu fico feliz por poder evitar estresse através de uma análise assim. Claro que isso não vale para todos né, mas independentemente, em alguns indivíduos esses desvios de personalidade são bem notáveis. — Sorriu sem graça.

  Lisa refletiu, aquilo fazia total sentido. Como Chaeyoung disse, não refletia em todos, mas igualmente, se a pessoa tem uma índole meio duvidosa, certamente aplicar golpes era uma tarefa mais fácil se comparado com alguém sereno e ingênuo. Pensou no que ela precisou passar para chegar nesse ponto de análise. Recebeu as cartas.

— Sabe, Lisa. Mal joguei com você, mas não acho que caí em uma enrascada não. — Respirou como se estivesse prestes a fazer a maior confissão de sua vida — Obrigada por ter posto seu número naquele guardanapo.

— Obrigada por ter me mandado mensagem e por ter aceitado a proposta, Chaeyoung.

  E continuaram a jogar.

  Obviamente a loira acabou ganhando, Lisa ainda era insegura quanto a sua estratégia de jogo, mas era bom poder aprender com a Park algo tão importante para si.

  Talvez aquilo fosse o início de um vínculo mais definido entre as duas.