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Desfecho Teatral

— Vamos, descanse também. Se o Colosso chegou, já perdemos — disse Ana, resignada.

— Como assim, já perdemos? — exclamou a garota pálida, franzindo a testa. Confusa e indignada, ela avançou em direção ao gigante com sua espada em punho.

Ana e a Bruxa riram enquanto a Sombra atacava o Colosso. Parecia que os grãos de terra que compunham sua aura amarelada se solidificavam sempre que o ataque chegava, impedindo qualquer dano. O Colosso continuou caminhando calmamente em direção ao altar, ignorando os ataques da Sombra em um intenso silêncio.

— Foi o mesmo ano passado — explicou Ana, ainda rindo. — Draven não liga para o público. Ele apenas ordena que esse cara vença. O Colosso não luta, só se defende com essa aura absurda. Nem mesmo aquela louca tenta lutar contra ele.

Com um último passo pesado, o Colosso chegou ao altar e pressionou o botão enquanto a Sombra continuava a atacá-lo inutilmente. Os 15 segundos se passaram, e o narrador anunciou o fim da prova.

— E o vencedor é... o Colosso! As equipes de Lysandra e de Cassandra ficam empatadas em segundo lugar, com dois altares cada!

A Sombra parou de atacar, ofegante e frustrada. Ela olhou para Ana, que deu de ombros com um sorriso triste.

— É assim que funciona, Sombra. Ele é quase um monstro, mas não um gladiador.

A Sombra bufou, mostrando uma irritação pouco usual, mas não pôde deixar de admirar a estratégia simples, mas eficaz, do homem. O labirinto começou a descer no chão, desmontando-se e deixando apenas o último andar visível. Assim que os sobreviventes saíram, o labirinto terminou seu deslize para baixo, sumindo como se nunca tivesse aparecido ali.

— Quero que o próximo evento seja imediato! — A Bruxa, furiosa com o final anticlimático, gritou com o apresentador. Sua raiva era evidente. — Uma luta de todos contra todos!

— Eu... não posso mudar o roteiro… — murmurou o apresentador, sem graça e hesitando.

A Bruxa olhou ao redor, até seus olhos pararem na sala alta dos chefes de arena. Draven observava a cena toda lá de cima, e pondo firmemente as mãos na cintura, a mulher começou a encará-lo. Finalmente, após certa ponderação, o homem levantou o polegar, permitindo a mudança no evento, mas logo fez um segundo sinal, usando o mesmo dedo para imitar um largo corte no pescoço.

— Muito bem… — disse o narrador, levemente surpreso, mas aceitando a decisão. — Senhoras e senhores, atendendo ao pedido de nossa bela Bruxa, anuncio um evento especial! Uma luta entre todos os sobreviventes… Até a morte!

Feliz, a mulher ensanguentada de cabelos loiros piscou para Ana e para o Colosso, pulando feliz enquanto se dirigia a um dos cantos da arena. Quando um alto sinal soou, o evento começou.

— Se não querem morrer tão rápido, fiquem ai. Tenho uma surpresa exclusiva para esse maldito preguiçoso — suas palavras ríspidas foram dirigidas para Ana e para a Sombra, que apenas observaram o espetáculo até agora.

A Bruxa ergueu sua lança, e uma onda de vento comprimido começou a girar ao redor da ponta. Finos fios de ar fizeram pequenos cortes em seus braços, e o sangue que escorria também se juntava à preparação do ataque. Suas vestes começaram a voar loucamente com a força devastadora. De repente, com um forte impulso que usou seu corpo por completo, ela disparou para frente. A pressão aumentada do ar ao redor da lança gerava um som agudo, como um trovão prestes a romper.

— Vamos ver como você lida com isso! — gritou a mulher ensanguentada, desferindo um golpe que parecia quebrar o próprio ar.

O Colosso apenas observava toda a cena, sem se mover um único passo desde que tudo começou. Apesar disso, a poeira já se reunia à sua frente, pronta para o que estava por vir.

Um sorriso sutil surgiu no rosto da bruxa em meio a sua fúria, e sua lança estranhamente dispersou a aura amarela, acertando o gladiador diretamente no estômago. Com um forte estrondo, o grande corpo foi lançado para trás, batendo pesadamente no portão de ferro as suas costas. O público aplaudia intensamente, com a animação cada vez maior ao ver uma rara luta até a morte entre elites.

— Mas que porra foi essa — murmurou Ana, observando a luta com olhos atentos.

— Porque tão surpresa? Não é o mesmo que ela fez no labirinto? — perguntou a Sombra, intrigada.

— Não estou falando do ataque. Esse cara… saltou para trás — seus sussurros chegaram discretamente aos ouvidos de sua companheira. — Eles estão fingindo! 

Uma nova explosão foi ouvida, cortando as palavras finais da mercenária. Cada impacto da lança da Bruxa fazia uma explosão de sangue se espalhar para todo lado, pedaços de pedra caiam das paredes e o portão tremia intensamente.

— Vamos ver como essa porcaria de defesa vai te proteger disso! — vociferou a Bruxa, desferindo um novo golpe que fez o homem voltar a ser lançado.

O Colosso, aparentemente cansado, usava sua enorme mão para proteger o local exato onde a Bruxa direcionava seus ataques. Ana observava a cena, percebendo que havia um padrão nos ataques que, apesar de espalhafatosos, claramente não causavam dano nenhum. Um estalo veio a sua mente ao ouvir um estranho rangido, e desembainhando sua espada, ela correu em direção a luta.

— Me siga, vamos aproveitar a distração — gritou Ana, chamando a Sombra para seu lado, sua mente trabalhando rápido para entender o plano.

O Colosso olhou na direção das duas mulheres, e vendo a ação, a Bruxa também virou levemente o rosto.

— Isso, aproxime-se, vai facilitar meu trabalho quando eu acabar com esse aqui — seus gritos acompanhavam um novo ataque em preparação, ainda maior que os anteriores.

"Ela atua muito mal", pensou Ana, vendo as falas estranhamente forçadas.

Os pés não pararam de correr nem um instante, e em segundos já estavam a poucos metros do local. Ana observou mais de perto a estrutura do portão, notando que o metal estava quase cedendo. De repente, os olhos da Bruxa encontraram os dela, indo em seguida sutilmente em direção a lança, uma discreta indicação do que deveria ser feito.

— Corra em direção ao portão. Não pare.

A Sombra arregalou os olhos ao receber a ordem, finalmente entendendo o que estavam prestes a fazer, e logo acelerou o passo. A espada de Ana desceu em um grande golpe de forma teatral, atingindo o cabo da lança onde partículas ainda se reuniam.

No instante em que a trajetória da afiada arma foi alterada para baixo, a Bruxa disparou a mana acumulada, fazendo uma enorme nuvem de terra subir na arena ao atingir de forma explosiva o solo. Aproveitando a falta de visão repentina, o Colosso se jogou contra o portão em uma pesada investida, fazendo o metal finalmente romper por completo com um grande estrondo, abrindo a passagem.

— Vamos! — gritou a Bruxa, gesticulando freneticamente.

Os quatro começaram a correr juntos pelo corredor escuro, suas respirações pesadas e passos rápidos ecoando nas paredes de pedra. O som da luta e dos aplausos do público ficava para trás enquanto avançavam em direção à liberdade.

— Qual é o plano agora? — perguntou Ana, mantendo o ritmo ao lado da Bruxa.

— Fiz um acordo — respondeu a mulher, sua voz ofegante mas determinada. — Todos os portões externos vão ser abertos em poucos minutos. Se conseguirmos sair antes dos guardas nos alcançarem, estaremos livres.

— E por que nos ajudou?

— Era um plano só meu e do Colosso, mas foi conveniente termos vocês vivas e na mesma arena — explicou a Bruxa. — Assim temos mais chance de fugir dos guardas ao nos separarmos.

A Sombra olhou para ela, ainda desconfiada, mas sem tempo para questionamentos. O grupo continuou correndo até que, em certo momento, vários guardas apareceram ao longe, bloqueando o caminho.

— Foram mais rápidos do que pensei — exclamou Ana, preparando-se para lutar.

— Acho que isso é um adeus — disse a Bruxa, pegando a mão do Colosso. — Vocês vão para a esquerda, nós para a direita. Não sei por quanto tempo vão conseguir manter a saída livre, então recomendo que corram.

— Boa sorte! Se o destino desejar, nos reencontraremos — gritou o grande homem em sua monótona voz, desaparecendo na escuridão.

Ana viu os dois acenando de forma animada em um rápido tchau, e sem perder tempo se virou, voltando a correr enquanto alguns guardas começavam a se aproximar.

— Meu galpão não é longe daqui, vamos ver se aquelas coisas tem alguma utilidade.

— Os lobos? — perguntou a Sombra, após ponderar sobre o que Ana estava falando, ainda levemente confusa.

— Sim, os lobos.