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O Achado

Era uma linda manhã no parque. Em meio a natureza encantadora com pássaros cantando e árvores balançando ao vento, duas irmãs caminhavam em uma trilha floresta acima.

— Cachoeira! Cachoeira!

— Mia, vá com calma, ou você vai acabar tropeçando.

Ambos seguiram por um morro até uma cachoeira que costumavam visitar nessa época, e Mia, como uma criança, não conseguia conter sua excitação. Para tentar chamar a atenção da garota para si, a irmã mais velha tirava uma lembrança de sua mente para compartilharem juntas.

— Mia, lembra quando passamos por aqui uma vez, e ouvimos um barulho naquele arbusto?

— Oh, boa memória! Quando fomos ver, era o papai que foi na frente para preparar um piquenique, certo?

— Sim, mas lembro que você entrou em pânico achando que era um urso, hehe.

— Lilly!

Talvez o passatempo favorito delas fosse relembrar o passado. Apesar de não ter tido muito tempo desde que perderam os pais, as meninas lidam bem com a situação.

Mas era difícil ignorar o vento solitário naquela trilha. Parecia que elas estavam sozinhas no mundo, apesar de terem uma à outra. Este acampamento parecia mais uma coisa para aproximá-las, do que uma simples tradição.

Enquanto caminhavam, também encontravam mais lugares que às traziam lembranças:

— Ah, isso é perto da caverna daquele ano, certo?

— Aquela em que a gente se escondeu quando choveu? Acho que era perto sim.

— Lembro do papai fazendo uma fogueira.

— Sim, e você queimou sua mão, não foi?

— Por que você continua me provocando?!

Depois de mais caminhada, risadas e conversas, finalmente chegaram à cachoeira. O som da água batendo nas pedras, junto com o vento, criava uma bela melodia.

E junto ao sol do meio-dia, parecia mais com uma visão celestial.

— Ufa, finalmente – disse Mia, jogando sua mochila no chão e tirando a camisa.

— Você vai pular assim? E se tiver alguma criatura na água?

— Ah, larga de ser chata! A gente vem aqui todos os anos, e eu nunca vi nenhum animal!

Mia pulou na água sem pensar muito. Sua irmã suspirou, mas acabou concordando em sua mente com o que Mia havia dito.

Será que isso realmente era um parque de conservação? Afinal, parques assim deveriam ter no mínimo algum coelho pulando por aí, não?

— Venha, Lilly! A água está geladinha!

— Você vai acabar pegando um resfriado!

Mia ria e nadava de um lado para o outro na bacia da cachoeira. Enquanto isso, Lilly subia uma pequena colina para ter uma melhor vista da queda d'água. Ao sentar-se, pegou algumas coisas de sua mochila, incluindo um caderno.

Com seu lápis quase no fim da vida de tão gasto, começou a esboçar a paisagem diante de seus olhos. As árvores verdes, pedras cinzentas e a água... cinza? Pra ser mais específico, algo escuro.

Lilly notou que algo se aproximava pela água e rapidamente desceu a colina, deslizando na grama. Ela não sabia o que era, mas parecia pesado e talvez caísse na cabeça de sua irmã.

— MIA! SAIA DAÍ! – ela se aproximava, gritando.

— Hein? Mas o qu-

Mia notou uma sombra na cachoeira.

E quando olhou para cima, viu algo preto caindo e mergulhando, espalhando água para todos os lados.

Depois de poucos segundos, que pareceram minutos, algo submergiu e começou a boiar. Quando Lilly e Mia viram o que flutuava na água, ambas gritavam desesperadamente.

×××

Usando galhos e suas próprias roupas, as garotas improvisaram uma maca para levá-lo ao local onde estavam suas coisas. Felizmente, como agora a trilha era para baixo , foi fácil carregá-lo.

Depois de alguns minutos, elas finalmente alcançaram o acampamento: duas tendas, o carro velho, uma fogueira apagada no meio e algumas bagagens espalhadas pela grama.

— Lilly, a gente não devia voltar para a cidade e levá-lo a um médico?

— Não podemos, pelo menos não por agora. Ele precisa de primeiros socorros.

— É grave?

— Parece grave. Se tivéssemos chegado uma hora ou duas mais tarde, ele poderia estar morto.

Enquanto conversavam, elas o erguiam para colocá-lo em uma das tendas. Foi de fato um trabalho difícil, dado o tamanho corporal do rapaz em comparação com a delas.

Ele era estranho. Sua aparência se assemelhava à de uma adolescente como Mia, mas seu corpo parecia o de um adulto que provavelmente frequentava a academia. Seus cabelos eram pretos, e tinham mechas azuis muito bem pintadas.

E suas roupas pareciam no mínimo exóticas. Uma espécie de sobretudo preto com suas extremidades pontudas, que claramente não combinavam com o clima quente daquele local. Se o rapaz não estivesse morrendo de frio, estaria morrendo de calor.

Depois de examiná-lo um pouco, Lilly percebeu que ele talvez não tivesse se afogado, ou se tivessem, não seria só esse o motivo de sua aparência quase morta. Suas vestimentas também pareciam intactas até certo ponto.

— Isso faz parte da roupa? – Mia perguntou.

— Não... parece um...

Lilly levantava um pouco a peça do sobretudo que cobria o abdômen do homem e que parecia cortada, revelando uma ferida aberta.

Estranhamente, estava limpa, talvez devido à água do rio.

Mas não era apenas isso... era um corte perfeito. Sem serrilhados ou rasgos, quase como se o homem tivesse sido cortado com um bisturi. Da linha do umbigo até poucos dedos abaixo da linha de seu peito, totalizando uma fenda de quase 15 centímetros.

Como estudante viciada em aprender, Lilly lutava contra a vontade de abrir a ferida e dar uma espiadinha lá dentro.

— Que horrível... – Mia reagiu, com as suas mãos sobre a boca.

A irmã mais velha usou todo o conhecimento adquirido em aulas de anatomia para tentar reduzir as chances de morte. Ela montou uma nova fogueira na frente da tenda, enquanto cobria seu corpo, na tentativa de tentar esquentá-lo, já que ele estava frio até demais.

"Provavelmente por ter ficado sei lá quanto tempo no rio, não?"

Por sorte ou preparo, ela tinha trazido um kit médico de emergência. Seu plano era, pelo menos, costurar a superfície da pele do homem para que a ferida não ficasse exposta. Quanto mais tempo aberto, mais chances de contrair uma infecção ou bactéria mortal.

— Espere irmã... parece... que o machucado tá fechando?

Ao observar mais de perto, Lilly notou algo bizarro.

Não era como se a pele do homem estivesse só se unindo novamente, mas parecia estar se regenerando. Um líquido prateado parecia estar fazendo o trabalho de manter os dois lados do corte juntos.

— Que merda é essa? Alguma habilidade especial?

Sendo quase que obrigatório para uma das matérias de sua faculdade, ela tinha pesquisado centenas de informações sobre o assunto. Desde pessoas que podiam produzir "poções de cura" com suas técnicas, ou até mesmo um Transformado capaz de curar pessoas por completo.

Por que alguém, encontrado em um rio no meio do nada, teria uma habilidade tão avançada em seu corpo? Quem era esse cara?

— Lilly! Ele tá acordando!

×××

Rei sentiu uma mão suave passando sobre sua cabeça, que o lembrava de tempos muito bons. Tempos em que sua única preocupação era brincar e ser feliz com sua família.

Tempos em que ele não precisava treinar, tempos em que nem sabia o que era guerra. Rei pensava que "batalha" era algo comestível e queria experimentar, sem saber o quão horrível era seu gosto.

Esses eram os dias que Rei passava no jardim da mansão Azure, coberto por uma estufa, brincando com plantas móveis, junto à sua amiga, sua irmã e seu pequeno irmãozinho. Quando cansado, ele tranquilamente deitava no colo de sua...

— ...mãe...?

Rei abriu os olhos e percebeu que não estava em nenhum jardim.

— Ele acordou! Irmã, ele não tá morto!

— Claro que não tá, eu senti o pulso dele!

— ...droga... eu fui... capturado?

As duas mulheres olharam para ele, confusas.

Ao perceber que mal conseguia se mexer, ele olhava ao redor com suas íris azuis.

"Uma habitação dobrável? Um acampamento de batalha?!""

— ...me tornei... um prisioneiro de guerra?

— Mia, acho que ele tá delirando.

— Eu também... ouça, senhor. Qual é o seu nome?

Um nome? Desde quando se perguntam nomes aos prisioneiros? Os humanos são estranhos.

— Meu... nome é Azure Rei...

— Oh, então como devo te chamar? Azure? ou Rei?

— Rei... agora... você poderia me libertar?

— Hã, do que você está falando? Você não tá preso aqui.

— Não estou?... e quanto a essas amarras? São redes?

No final, Rei não sabia o que eram cobertores.