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Luz, quarto e espelhos

O quão longe vocês iriam buscar a lenha de uma fogueira que já está se apagando?

Dante era como normalmente chamavam o triste filho mais velho da família Monteiro. Isso, quando seu irmão mais novo, Davi, não ficava privando-o de paz usando de apelidos como "dente", ou qualquer comparação infantil com "Divina Comédia". Ele era consideravelmente mais velho que seu irmão, tinha 16 anos (e Davi, 12), estava bem próximo dos primeiros dias de faculdade (que, diga-se de passagem, havia perdido os 2 meses iniciais: por uma jogada arriscada dos pais, ele iria entrar na faculdade com certo atraso, mas ganharia tempo pois era novo e não iria perder a vaga, o que para Dante, soava paradoxal), o rapaz se matriculara em Direito, em uma boa faculdade particular no Maranhão, sentia-se um pouco desviado, considerando que toda a família era médica e durante toda sua infância tentou obrigá-lo ao tal, mas Dante sabia que não havia más intenções, era basicamente um reflexo familiar estruturado antes do seu nascimento.

Seja como for, ele resolveu dedicar uma certa parcela do tempo para passar e ingressar no curso de Medicina, e uma vez o feito, decidiu finalmente ir atrás de algo que sempre chamara sua atenção: os debates vívidos do curso de Direito. Dante sempre foi tímido e demonstrava dificuldade em falar com as pessoas, mas ninguém de sua família respeitava isso, ele já havia passado por uma fase de profunda depressão e agora ela voltava de forma descomunal, seus braços marcados lembravam-no a cada segundo da melancolia.

Ele agora chegando na casa nova, que foi vendida por um preço ínfimo, diga-se de passagem, não conhecia muita coisa, era um lugar enorme, quase como um condomínio, um complexo de várias outras casas distantes umas das outras.

Ele entra pela parte da frente. A frente da casa é bem alta e reclusa, parecia uma igreja, as portas eram grandes grades intercaladas, iguais as de um cemitério, as paredes brancas pareciam um pouco acabadas, mas tinham seu charme. Ele sobe um degrau que vai até a porta e rapidamente vai em direção à primeira sala fechada que encontra.

Colocou suas malas no novo quarto cinza grafite, tinha um cheiro estranho, não chegava a ser ruim, mas era úmido, sufocante, provavelmente o mofo de uns bons anos. Era um quarto simples: uma janela grande, uma porta de vidro escura, com fumê preto, uma cama com roupas cafonas e cortinas exuberantes que cobriam parte do armário.

Colocando suas malas de uma forma preguiçosa por cima da cam.a, o garoto começa a questionar o que realmente o teria trazido para aquele lugar, sem resposta, decide conhecer melhor seu novo... "lar". Mas antes, ele sabia que precisava se vestir. Dante é um garoto relativamente baixo, ao menos em comparação aos outros de igual idade. Tinha um físico nada atlético, pele clara e olhos verdes levemente castanhos, seu cabelo agora era comprido, diferente de praticamente toda a sua vida, até então: um pouco abaixo do ombro, com aspecto ondulado e cor castanha não muito clara, nem tão escura, levemente bagunçado. Seu rosto era consideravelmente arredondado, mas mantinha certa harmonia na composição, com suas maçãs rosadas e um lábio bem definido, algo nele lembrava algum personagem desastrado de desenhos animados casuais. Usava óculos, não era seu item de maior necessidade, mas certamente teria problemas se não os usasse. Suas roupas largas eram praticamente uma farda, ele as usava diariamente, em qualquer ocasião: moletons eram seu estilo de vida (por mais que sua família tentasse veementemente mudar seu guarda-roupas).

Como já era de se esperar, ele veste seu conjunto de moletons rosa e preto com um símbolo de águia na parte de trás, uns chinelos que julgava ser confortável e se direciona a porta de saída do quarto, para explorar o local onde passaria os dias mais estranhamente curiosos de sua vida. Com a mão no trinco em formato de "L" e pronto para abrir a jaula dos leões, um raio de sol convenientemente forte se estrutura pela janela em direção a cama (uma de solteiro, simples), e, por algum motivo, reflete no seu rosto.

-Como? Como um raio de sol bate na cama e reflete no meu rosto? Dante falou em voz baixa com uma expressão de dúvida quase decisiva.

O garoto se direciona a cama e percebe onde o Sr. Raio de sol estava dando uma festa: um espelho pouco menor que sua cama, embaixo dela. Tinha um formato oval suas extremidades eram ornamentadas com aspecto medieval, rebatia com muita força o brilho do sol.

O espelho parecia antigo, algo entre 10, talvez 15 anos? Dante não conseguia mensurar com precisão. Era magicamente leve, até demais, considerando seu tamanho. Ele o vira lateralmente e em seguida, analisa a parte de trás: era incrivelmente bonita, tinha uma espécie de ornamento tribal, alguns detalhes em relevo que lembrava alguma escrita antiga e a figura do que parecia ser uma silhueta de um humano, mas de cabeça para baixo: Dante deduziu que o espelho estava de ponta cabeça. Após analisar cada detalhe (inclusive a corrente que supostamente serviria para pendurar o espelho em alguma superfície em relevo, provavelmente um prego), ele coloca o espelho por cima da cama e o deixa lá, virado para cima, como se estivesse dormindo após longos anos de dor nas costas deitado no chão. Mas logo Dante argumenta contra a própria consciência:

-Eu não posso simplesmente deixar isso aqui, não é? Preciso devolver. Pensa Dante.

Andando de um lado para o outro do quarto, ele começa a debater contra si, gesticulando.

-Para quem? Ninguém veio buscar por anos e parecia muito bem escondido. Também disse Dante.

Sem mais delongas, ele resolve deixar o espelho encima da cama, e se afasta lentamente, mas ao se distanciar um pouco, o reflexo torna a voltar para seu rosto. Dante decide cobrir o espelho com uma toalha que rapidamente tira de sua mala (uma toalha um pouco velha estampada com uns filhotes de cães e alguns ossos), cessando os reflexos inesperados a garantindo a ocultação perfeita de espelhos, se é que existe um parâmetro para se julgar o quão boa é a ocultação de um espelho. Dante finalmente deixa o quarto, retorna parcialmente a porta, olha em direção ao espelho, e por último, vai de vez, embora.

Passando pela porta, ele escuta seus pais. Pensou que por desencargo de consciência, deveria oferecer ajuda e assim o fez. A mala da sua mãe pesava muito, com toda certeza Dante não queria abri-la, provavelmente encontraria um corpo. Uma mala grande, alcançava alguns centímetros acima de sua cintura, era preta e parecia arranhada, o que não tirava seu charme, em outrora teria tido seus dias de glória. O rapaz pega a mala e arrasta de forma desastrosa e com a força que pode, à coloca próxima a cama do casal. Dante vira o corpo alguns centímetros para buscar a mala do pai mas percebe que ele já havia arrumado... Na verdade, seu pai já estava dormindo. Ele se despede e torna a conhecer o lugar. Saindo do quarto dos pais (que por sinal fica ao lado do dele), ele anda por uma espécie de corredor estreito com marcas de encanação na parede, que o leva para a sala.

A sala é um lugar escuro, mesmo com uma enorme janela, tem paredes brancas e cheiro de terra, ela é cheia de objetos antigos, e o garoto conclui que aquela casa é uma viagem no tempo. Nada chamava muito sua atenção, além do enorme tapete que cobria quase todo o cômodo, ele tinha figuras que pareciam as marcas de escrita antiga do espelho. O tecido era confortável, era como pisar em um travesseiro.

Como nada o prendia em potencial, o garoto sai da sala quadrada e chata, por uma portinha minúscula de estreita que leva ao banheiro. "O banheiro é enorme". Dante reflete, inconformado. Parecia muito mais conservado do que o resto. A pia parecia uma banheira de bebê, e o chuveiro era elétrico e era acompanhado por uma banheira com seu exato tamanho, um verdadeiro milagre, levando em consideração o aspecto antigo da casa. Mas ainda assim, era bem simples, não tinha muito o que se ver, era apenas um banheiro. Saindo do banheiro há um quartinho quase de frente, um pouco mais posicionado à esquerda. Estava trancado, isso fez Dante tremer em curiosidade, ele precisava ver o que tinha lá dentro.

Volta para o quarto da mãe, correndo, pede um molho de chaves, alegando que não tinha a do seu próprio quarto. Ele sai do quarto dos pais de forma nada discreta e atípica, e vai andando em passos largos até o quarto que causou sua curiosidade. Ele coloca a chave e abre a porta: olha ansioso para dentro... "Ah, oi, Davi", diz Dante. O irmão mais novo olha brevemente para o mais velho, esboça um sorriso sem quaisquer sentimentos genuínos e torna a jogar vídeo-game.

Ele sai do quarto um tanto decepcionado, tinha esquecido que o irmão precisava de um lugar pra dormir, os mistérios de uma sala secreta em uma casa ainda desconhecida pareciam bem mais atraentes, mas o irmão ainda precisava de um quarto para dormir, ele crê.

Logo em frente ao quarto e também mais posicionado à esquerda, há uma dispensa: uma grande dispensa, armazenaria suprimentos por bastante tempo caso um apocalipse zumbi resolvesse dar as caras, era completamente rodeada por prateleiras de madeira, totalizando 4 camadas até o teto, paralelamente. O teto tinha uma espécie de "tampa" de vidro com fumê preto, ele provavelmente dava acesso ao telhado da casa que um de seus pais havia dito ser acessível, quase como uma casa na parte de cima, o problema, claro, eram os insetos (Dante odiava insetos desde que seu tio Lucas, na qual ele não lembrava o sobrenome, encheu uma vasilha de todos os insetos que havia encontrado e colocou próximo ao garoto, que, indefeso, começou a chorar), e o fato de não ter iluminação e não receber luz direta de nenhum corpo celeste.

Saindo da cozinha ele se direcionou mais à frente, novamente em um corredor estreito, mas mais iluminado que os demais, que dava lugar à cozinha: era uma cozinha bem equipada, tinham todos os materiais que uma cozinha casual precisava e até alguns mais estranhos que Dante adorava mexer, como o termômetro de ovo cozido que a amiga da sua mãe havia dado para ela no dia do seu aniversário (Dante achava aquele o pior presente que alguém poderia dar, talvez porque não gostasse de ovos cozidos).

Tinha uma geladeira de duas portas, que convenientemente portava um filtro de água, cheia de produtos processados e venenos comercializados como comida, logo ao lado, um micro-ondas (com toda certeza o aparelho mais usado daquele recinto), um outro filtro de água (pois ninguém, além de Dante, reconhecia a praticidade daquele filtro na geladeira), um fogão genérico com uma coifa ligada ao teto e uma bancada com duas pias para que fossem preparada as comidas mais exóticas e questionáveis que o mundo tinha a oferecer.

Dante passa pela cozinha relembrando do espelho em seu quarto e aquele pensamento têm sido recorrente, lhe incomodava ter que pensar no destino daquele misterioso objeto. Saindo da cozinha, há um quintal aberto, enorme, uma piscina suja, um galpão ao lado e uma área coberta, com cadeiras de praia e uma ventilação muito confortável.

Dante vai direto ao galpão, lembrou da sua caixa de bonecos antigos e pensou que provavelmente seus pais haviam guardado lá, o garoto se aproxima. Em uma distância não maior que três metros, ele ouve um barulho que certamente viria de dentro do galpão.

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