A dor parecia insuportável, e o sangue ainda escorria lentamente de seu abdômen, tingindo suas roupas. Kazuhiko, exausto, saiu cambaleando do rio. Cada passo era uma luta contra a fraqueza que crescia dentro de si. A visão do hospital à frente trouxe um breve alívio, uma chance de sobreviver àquela noite infernal. Ele acelerou o passo, apertando a mão contra o ferimento, na esperança de conter o sangue que parecia não parar de fluir.
Ao alcançar a entrada do hospital, tropeçou e caiu de joelhos, as luzes fluorescentes do hospital piscavam ocasionalmente, lançando sombras irregulares nas paredes brancas e desgastadas. O cheiro de desinfetante misturado ao suor frio de Kazuhiko tornava o lugar ainda mais opressor. Estendendo a mão ensanguentada na direção das pessoas que passavam pelo saguão. Seus lábios rachados gritaram por ajuda.
— A-alguém... por favor... — Sua voz estava fraca, quase um sussurro, mas ele reuniu todas as forças para gritar. — Me ajudem! Estou... morrendo aqui!
As pessoas passavam por ele, conversando, olhando em outras direções. Era como se ele não existisse. Kazuhiko balançou a cabeça, o desespero tomando conta de seu coração. Ele gritou novamente, agora mais alto.
— Eu estou aqui! Não me ignorem! Estou sangrando!
Ninguém respondeu.
— O que está acontecendo comigo? — ele sussurrou, tremendo. Sua voz estava rouca, os olhos arregalados.
Foi então que a voz em sua mente surgiu novamente, fria e carregada de uma estranha certeza.
???: (Você não é mais visto por eles... está no modo espiritual. É o que acontece quando você usa um poder sobrenatural que não pertence a este mundo. Por uma hora, estará preso nesse estado. Não adianta gritar. Não adianta pedir ajuda.)
— Modo espiritual...? — ele murmurou, incrédulo. — Isso não pode ser real... Eu vou morrer assim!
???: (Você voltará ao normal se não usar mais nenhum poder... mas terá que sobreviver sozinho até lá. Encare isso como um lembrete. Nada vem sem custo.)
Kazuhiko rangeu os dentes, levantando-se com dificuldade. Ele sentia os olhos das pessoas ao redor como facas invisíveis, ignorando sua presença enquanto ele cambaleava.
— Não vou morrer... não agora — sussurrou para si mesmo, apertando ainda mais o ferimento com a mão. Ele sabia que precisava se tratar. Pelo menos, por enquanto, estava por conta própria.
Com passos trêmulos, ele forçou seu caminho para dentro do hospital, atravessando portas que ninguém abriu para ele, andando pelos corredores enquanto a dor explodia a cada movimento. Encontrou um carrinho de suprimentos abandonado em um canto e, sem pensar duas vezes, começou a rasgar pacotes de gaze e esparadrapos, tentando estancar o sangue como podia. O trabalho era desajeitado, feito com uma mão, mas ele conseguiu. Não foi perfeito, mas era o suficiente para continuar respirando por mais algum tempo.
Ele finalmente encontrou uma sala vazia, deitando-se em uma cama fria. Fechou os olhos por alguns segundos, tentando se recompor.
???: (Você está mais forte do que eu pensava. Talvez ainda haja esperança para você, afinal.)
Kazuhiko ignorou a provocação. Ele só conseguia pensar em Akiko, na última expressão dela antes de ser tirada dele de forma tão cruel. Quando sua respiração finalmente ficou um pouco mais estável, ele sussurrou para o vazio:
— Por que isso teve que acontecer com Akiko...? Ela ia dizer que me ama... — Sua voz falhou, e ele respirou fundo, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair. — Por que esse mundo é tão injusto...?
A voz respondeu, desta vez mais grave, mais intensa.
???: (O que você diz agora... sobre o mundo... está correto. Ele é injusto. Foi corrompido pela bondade... Os anjos e os arcanjos agora só querem dominar a Terra como se fosse o reino deles. Eles traíram o equilíbrio.)
— Cale-se... — Kazuhiko murmurou, mas a voz continuou.
???: (Por isso, meu amigo, iremos mudar a história... Iremos voltar à origem dos humanos. Vamos criar algo novo. A nossa Hierarquia dos Pecados!)
Kazuhiko apertou os punhos, o rosto tomado por uma fúria que misturava tristeza e determinação.
— Eu não me importo mais... Só sei que vou vingar Akiko... nem que seja a última coisa que eu faça nesse mundo!
Depois de fazer curativos improvisados, o tempo finalmente passou. Kazuhiko, respirando com dificuldade e suando frio, tentou manter-se consciente, mas a dor era excruciante. Ele checou o relógio pendurado na parede próxima e percebeu que já havia se passado mais de uma hora. Aos poucos, uma sensação estranha percorreu seu corpo, como se fosse sugado de volta para a realidade.
De repente, ele reapareceu em um canto de um corredor mal iluminado no hospital. O som de passos ecoava ao longe, e uma enfermeira que passava com uma prancheta e um copo descartável na mão gritou ao vê-lo.
Enfermeira: — Meu Deus! Tem um homem desmaiado... cheio de sangue no meio do corredor!
A comoção começou rapidamente. Outros funcionários correram até ele, preocupados com o estado do "jovem ensanguentado". Com suas roupas rasgadas e manchadas de sangue, não era possível identificar quem ele era de imediato, mas alguns resquícios — como o emblema parcialmente visível de sua camisa escolar — levaram os médicos a suporem que ele era um estudante da Academia Fujikawa.
Kazuhiko mal conseguia abrir os olhos enquanto o colocavam em uma maca e o levavam para ser tratado. Seu corpo inteiro estava dolorido, mas pelo menos agora estava seguro...
Hospital – 3:30 AM
Algumas horas se passaram, e Kazuhiko abriu os olhos no meio da madrugada. Ele estava em um quarto de hospital pequeno e simples, iluminado apenas pela luz fraca de um abajur ao lado da cama. Suas roupas haviam sido removidas e substituídas por uma camisola hospitalar. Ele olhou para seus braços — agora devidamente enfaixados — e percebeu que, apesar das dores, estava muito melhor.
Uma enfermeira entrou, verificando os equipamentos, mas parou ao perceber que ele estava acordado.
Enfermeira: — Ah, você acordou. Como está se sentindo?
Kazuhiko: — Melhor, eu acho... Eu poderia... pedir o celular? Preciso fazer uma ligação.
A enfermeira hesitou, mas acabou entregando o telefone hospitalar para ele.
Kazuhiko digitou o número de sua mãe e esperou enquanto o som do toque preenchia o silêncio. Finalmente, uma voz preocupada atendeu do outro lado.
Mãe: — Kazuhiko? Meu Deus, filho! Onde você está? Por que não me ligou antes?
Kazuhiko: — Estou bem, mãe. Quer dizer... não tão bem, mas estou vivo. Estou no hospital agora.
Mãe: — No hospital? O que aconteceu? Você está machucado?
Kazuhiko fechou os olhos, respirando fundo antes de responder.
Kazuhiko: — Foi... um acidente, mãe. Eu estava voltando pra casa quando algo aconteceu no caminho. Nada sério. Só algumas escoriações. Os médicos disseram que eu vou ficar bem e logo vou tirar alta, mas...
Mãe: — "Mas...?" Mas o quê, filho?
Kazuhiko: — Akiko... morreu.
O silêncio na linha era ensurdecedor. Kazuhiko pôde ouvir o som abafado da respiração de sua mãe do outro lado, como se ela estivesse processando o que acabara de ouvir.
Mãe: — O quê? Não... não pode ser. Akiko...? Mas como...? Vocês estavam juntos, não estavam? Kazuhiko, me explica isso direito!
Kazuhiko segurou o telefone com força, sentindo um nó na garganta. Sua voz tremeu ao responder:
Kazuhiko: — Nós estávamos juntos, sim... Ela estava... ela estava tão animada, mãe. Tinha algo que queria me dizer. Mas... do nada, algo aconteceu. Nós fomos atacados. Eu... eu tentei protegê-la, tentei de tudo...
Ele parou, sentindo o peso das palavras que vinha evitando dizer em voz alta. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.
Kazuhiko: — Mas não foi o suficiente.
Mãe: — Atacados? Por quem?! Kazuhiko, isso não faz sentido. Como assim atacados? Quem faria isso com vocês?
Ele respirou fundo, tentando manter a calma, mas a culpa parecia sufocá-lo.
Kazuhiko: — Eu... não sei, mãe. Eu não vi direito... tudo aconteceu tão rápido. Ela estava na minha frente e...
Sua voz quebrou, e ele precisou de alguns segundos para se recompor.
Kazuhiko: — Eu falhei com ela, mãe. Akiko confiava em mim... e eu falhei.
Do outro lado, a mãe de Kazuhiko parecia estar tentando se segurar, mas ele pôde ouvir o choro abafado começar a escapar.
Mãe: — Meu Deus... a Akiko... ela era como parte da nossa família. Eu ainda falei com ela semana passada... ela estava tão feliz. E agora...? Kazuhiko, você está bem mesmo? Você... você se machucou tentando protegê-la?
Kazuhiko: — Eu estou bem, mãe. Quer dizer, não realmente... mas estou vivo. Isso é o que importa agora, não é?
Mãe: — Não fala assim... você fez o que pôde, filho. Tenho certeza de que você tentou.
Kazuhiko: — Não foi o suficiente.
O silêncio voltou a reinar entre os dois. Kazuhiko fechou os olhos, tentando afastar as memórias do momento em que perdeu Akiko, mas tudo parecia tão vívido.
Mãe: — Eu vou aí agora. Não quero nem saber. Você precisa de mim, e eu preciso ver você com meus próprios olhos.
Kazuhiko: — Não, mãe. Por favor, fica em casa.
Mãe: — Como você pode me pedir isso? Depois de tudo o que aconteceu? Você está sozinho, ferido, e agora...
Kazuhiko: — Mãe, ouve o que eu estou dizendo. Por favor. Fica. Já está tarde e... pode ser perigoso.
Mãe: — Perigoso? Perigoso como? O que mais você não está me contando?
Kazuhiko apertou os olhos, tentando conter o turbilhão de emoções. Ele sabia que, se ela continuasse pressionando, ele poderia acabar dizendo algo que ela não deveria saber. Então, antes que ela pudesse continuar:
Kazuhiko: — Eu vou ficar bem. Eu prometo.
Ele desligou o telefone rapidamente, antes que sua mãe pudesse protestar mais. Com as mãos trêmulas, devolveu o celular à enfermeira.
Enfermeira: — Está tudo bem?
Kazuhiko forçou um sorriso fraco, tentando disfarçar a dor que o consumia.
Kazuhiko: — Sim... está tudo bem.
Antes que ela pudesse terminar a frase, Kazuhiko desligou o telefone. Ele suspirou novamente, sentindo o peso de ter que esconder tudo dela. Ele devolveu o celular à enfermeira.
Kazuhiko: — Obrigado.
Enfermeira: — Eu sei que não é dá minha conta...mas tem certeza que está tudo bem, tipo...pelo que eu ouvi, parece que tu perdeu alguém importante.
Kazuhiko: — Bem...pra ser honesto contigo, eu não consigo ficar bem com isso, foi muita coisa que tive que passar de uma vez...mas eu prefiro passar um pouco de tempo sozinho, preciso pensar e refletir um pouco.
Enfermeira: — Tudo bem, mas não se esqueça... estou aqui para o que for precisar, então se estiver algo que posso fazer, só me camar que estarei disponível.
Kazuhiko: — Muito obrigado, com certeza farei isso, desculpa qualquer incoviniente que causei.
A enfermeira acenava com a cabeça, olhando para ele com um sorriso leve, ele retribuia o sorriso. Assim quando ela saiu, Kazuhiko recostou-se na cama, olhando para o teto enquanto murmurava para si mesmo:
Kazuhiko: — Desculpa, mãe... Isso é algo que só eu posso resolver.
Ele fechou os olhos, tentando ignorar a dor no corpo e na alma, enquanto os eventos da noite continuavam a ecoar em sua mente.
Ele mal teve tempo de apreciar a quietude. Aquela voz retornou à sua mente, cortando o silêncio com a intensidade de um trovão.
???: (Moleque... até quando vai ficar aí, jogado nessa cama? Você sabe muito bem que o nosso tempo é limitado. Temos que começar logo a colocar a primeira marca, ou todo o plano será desperdiçado.)
Kazuhiko: — Por mais que eu esteja furioso pela morte de Akiko... eu não posso simplesmente abandonar minha mãe só por causa de um desejo cego de vingança. Estou cansado disso.
???: (Você não está entendendo. Se não fizermos nada sobre os anjos, eles vão dominar o mundo, e o caos que isso causará será inimaginável. Quando você matou aqueles dois, você se tornou alvo oficial do "Senhor". Sua família também. Ah, como eu odeio aquele miserável. Só porque ele tomou o trono primeiro, acha que pode fazer o que quiser com o universo. Ele foi corrompido por aquela ideia patética de "bondade", "paz", "virtude". Tudo o que ele diz é uma mentira conveniente, apenas para manter os fiéis leais. É por isso que precisamos eliminar as peças mais poderosas dele. E para isso, temos que começar agora.)
Kazuhiko: — Isso tudo é demais... Era para ser só mais um dia normal, indo para a escola. Você acha que sou como você? Eu sou apenas uma pessoa normal, sem poderes ou habilidades.
???: (É exatamente por isso que temos que começar o treinamento agora! Você precisa parar com essa enrolação e agir. Vamos restaurar este mundo corrompido. Começaremos voltando ao local onde os anjos te atacaram.)
Kazuhiko: — O quê? Voltar pra lá? A polícia deve estar investigando o lugar, e o corpo da Akiko ainda... Eu não quero nem pensar nisso.
???: (Confie em mim. Verifiquei o local e os policiais já foram embora. Agora, vamos imediatamente!)
Kazuhiko: — Tá bom... Mas isso precisa valer a pena.
Relutante, Kazuhiko abriu a janela e, com um salto, escapou do hospital.
Kazuhiko: — Pronto. Estamos aqui. E agora?
???: (Simples. Vá até os corpos dos anjos. O bom que seres mortais jamais podem ver cadáveres celestiais. Enfim, agora vou querer que você se concentre em uma esfera, a mais brilhante que puder imaginar. Deixe o resto comigo.)
Kazuhiko: — Certo... Não sei como isso vai me afetar, mas acho que posso confiar em você, já que me salvou antes.
Kazuhiko se aproximou dos corpos, hesitante. Quando começou a imaginar a esfera mencionada, uma estranha sensação de formigamento tomou conta de seu corpo, percorrendo-o em ondas. Atrás dele, a figura do ser desconhecido se manifestou momentaneamente, desenhando um grande heptagrama luminoso em suas costas. Na ponta de cada estrela, o ser gravou o kanji "貪欲さ" (Gula).
Kazuhiko sentiu seu corpo começar a se transformar. A dor era intensa, mas antes que ele pudesse reagir, o ser retornou ao seu interior, desaparecendo.
???: (Agora que imaginou a esfera, engula.)
Kazuhiko: — Engolir? E se eu engasgar?
???: (Engula logo! Isso é só na sua cabeça, moleque.)
Kazuhiko: — Tá bom, tá bom!
Sem alternativas, ele engoliu a esfera. Seu corpo começou a mudar completamente. Ele sentiu um peso estranho nas costas e, ao se virar, percebeu algo se mexendo. Um par de asas brancas e majestosas emergiu de suas costas.
Kazuhiko: — Isso são... asas?!
???: (Ah, parabéns, gênio. Se ainda não percebeu, aquela esfera que você engoliu era a alma do anjo. Agora, você literalmente é ele. Embora, claro, sua inteligência continue deplorável.)
Kazuhiko: — Então... eu posso voar? Controlar a luz? Isso é incrível!
???: (Santos do inferno, me dê paciência. Meu receptáculo tinha que ser tão... entusiasmado.)
Antes que Kazuhiko pudesse se aprofundar nas possibilidades, uma aura negra se aproximou, pesada como a pressão de uma tempestade.
???: (Merda... Parece que ela veio. Aquela ali é Miyako, a Executora dos Santos. Uma especialista em execuções rápidas. Ela não tem lado; só faz o que quer. E pelo visto, o que ela quer agora é você.)
Miyako: — Ora, ora... Um passarinho perdido? Quebrou a asinha, foi?
Antes que Kazuhiko pudesse responder, Miyako avançou com velocidade supersônica, suas lâminas de chamas negras apontadas diretamente para seu pescoço.
???: (Se defenda, seu imbecil! Agora você é mais rápido que ela, use isso a seu favor!)
Em pânico, Kazuhiko instintivamente criou uma barreira de luz. Miyako colidiu contra ela com tanta força que o impacto gerou um deslocamento de ar, lançando Kazuhiko longe.
Kazuhiko: — Calma aí! Tem um engano! Eu não sou um anjo, sou só uma pessoa—
Miyako: — Um anjo caído, então? Parece que o "Senhor" cansou de você. Não se preocupe, vou arrancar cada pedaço seu com prazer.
Ela saltou para o lado, desviando da barreira de luz, e avançou com ainda mais velocidade. Kazuhiko, confuso e assustado, fez a única coisa que pensou: alçou voo.
Miyako: — Fugindo? Típico de anjos. Volte aqui, seu pedaço de lixo!
Ela deu um salto, alcançando-o em segundos.
???: (Crie uma espada de luz, rápido!)
Kazuhiko formou uma espada de luz, mas mal teve tempo de se preparar antes de bloquear o golpe das adagas flamejantes de Miyako.
Miyako: — Hmm... Finalmente resolveu reagir. Talvez você me divirta um pouco antes de morrer.
A batalha seguiu intensa, mas a experiência e a força de Miyako prevaleciam. Em um momento crítico, ela lançou uma rajada de chamas negras, atingindo uma das asas de Kazuhiko.
???: (Corte a asa agora! Ou as chamas vão te consumir!)
Sem pensar, Kazuhiko obedeceu, amputando sua própria asa. Ele perdeu o controle do voo e caiu, mas Miyako não perdeu tempo: com um chute devastador, ela o lançou contra uma casa próxima, reduzindo-a a escombros.
A Determinação de Kazuhiko
Deitado entre os destroços, Kazuhiko mal conseguia se mover. A chuva começava a cair, misturando-se ao sangue que escorria de seu corpo.
Kazuhiko: — (Isso de novo... Eu sinto que vou morrer. Mais uma vez. Por alguém ainda mais forte que os anjos que enfrentei. Sou mesmo um fracasso...)
???: (Cale-se! Você não é um anjo qualquer, Kazuhiko. Você tem mais potencial que qualquer um deles. Agora use o que você tem ao máximo!)
Miyako: — Pronto para morrer, corvo?
Kazuhiko: — Não...
Miyako: — O quê?
Kazuhiko: — EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊ ME MATAR TÃO FÁCIL ASSIM, SUA VADIA!
Levantando o braço, ele invocou um raio gigantesco que caiu diretamente sobre eles, criando uma explosão que vaporiza tudo ao redor. Quando a poeira baixou, ambos estavam caídos.
Miyako: — Heh... belo truque. Se eu não tivesse me defendido naquela hora, tenho certeza de que seria uma mulher morta. Mas... — ela respirou fundo, ofegante, enquanto observava Kazuhiko. — Isso foi praticamente um golpe de suicídio. Você sabia que também seria afetado drasticamente por aquele trovão. E olha só pra você agora... todo queimado, tostado feito uma galinha! Hahahaha!
Kazuhiko, em silêncio, fitou-a por alguns segundos, os olhos carregados de determinação. Ele mal conseguia manter-se de pé, mas reuniu suas últimas forças, estendendo a mão para o céu enquanto murmurava em um tom baixo:
Kazuhiko: — ...Suba... ó luz...
Do chão atrás de Miyako, uma lança brilhante de pura luz emergiu repentinamente, atravessando sua barriga com precisão. Ela arqueou o corpo, olhos arregalados, enquanto uma golfada de sangue escapava de sua boca. De joelhos no chão, Miyako ofegava, pressionando o ferimento enquanto sua força começava a abandonar seu corpo.
Kazuhiko, com passos vacilantes, levantou-se, cada movimento uma batalha contra a dor. Ele parou em frente a ela, olhando-a de cima, seus olhos frios, mas ao mesmo tempo exaustos.
Kazuhiko: — E parece que o anjo mais fraco que você já enfrentou... acabou ganhando.
Miyako tentou falar, mas a dor era grande demais. Entre gemidos e tosses, ela balbuciou:
Miyako: — Não... como pude ser tão descuidada...?
De repente, a voz misteriosa ressoou na mente de Kazuhiko, impaciente, quase gritando.
???: (Mate-a! Agora! Essa é a oportunidade perfeita! Se você fizer isso, poderá pegar a alma dela e dominar as chamas negras! Elas vão ser indispensáveis para nossa missão! Faça isso agora, Kazuhiko!)
Kazuhiko permaneceu parado, seus olhos fixos nos de Miyako. Ele parecia procurar algo, uma verdade, uma faísca de humanidade dentro dela. Enquanto a chuva diminuía e os primeiros raios do sol iluminavam o cenário, algo inesperado aconteceu: a metamorfose de Kazuhiko começou a se dissolver. Sua aparência angelical derretia lentamente, revelando seu verdadeiro rosto.
Miyako arregalou os olhos ao vê-lo.
Miyako: — Então... você não era um anjo esse tempo todo...?
Kazuhiko: — Não... eu tentei explicar isso, mas acho que foi culpa minha. Não foi uma boa ideia me transformar num anjo do nada no meio da rua... assustei todo mundo, né?
Ele riu fracamente, uma risada quase trágica. Com esforço, ele abaixou-se ligeiramente, estendendo a mão para acariciar a cabeça de Miyako, como um gesto de reconciliação inesperada.
Kazuhiko: — Mas está tudo bem... eu te perdoo.
Miyako, ainda confusa e envergonhada, olhava para ele sem saber o que dizer. Ele se virou lentamente e começou a se afastar, cambaleando, mas mantendo-se firme o suficiente para caminhar.
???: (O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO??! Essa era a oportunidade perfeita, seu idiota! Você deixou as chamas negras escaparem!)
Kazuhiko riu, debochado, ainda caminhando.
Kazuhiko: — Eu sei... mas decidi que não preciso disso. Essas chamas negras nem parecem ser tão legais assim. Hahaha.
???: (Seu maldito! Eu juro que, se você não fosse o meu receptáculo, eu faria questão de te matar agora mesmo!)
Miyako permaneceu sentada no chão, observando-o se afastar. Mesmo depois de tudo o que ela havia feito, ele simplesmente... perdoou. Era um comportamento tão estranho, tão distante do que ela esperava, que não pôde evitar rir de si mesma, com um leve rubor no rosto.
Miyako: — Que cara esquisito... Bem... não seria ruim se a gente pudesse se encontrar de novo.
Fim do Capítulo