Saí para andar.
Correto, saí para andar.
Assim como escrevo quando é preciso.
Quando me sinto perdido, percorro as ruas da cidade, procurando algo.
Uma parte desse algo eu sabia o que era.
A outra parte, relutava em aceitar.
O que eu sabia? Eu queria encontrar um lar.
Um lugar onde me sentisse verdadeiramente em casa.
Como quando escrevo, repleto de eu mesmo.
Sinto-me sem lar.
Como um estranho.
Chegou ao ponto de meu próprio quarto me expulsar, como se estivesse rejeitando uma visita indesejada.
Meu quarto cheirava mal.
Ou era eu?
De qualquer forma.
Saí para caminhar, sem rumo.
Percorri os cantos da cidade e beirei o mar.
Estava procurando por um lar.
Um lugar onde eu pudesse me encontrar.
Alguns me olhavam com medo.
Cruzavam a rua e se distanciavam, fingindo estar ocupados ao telefone.
Refleti sobre muitas coisas enquanto caminhava.
Até sobre o próprio caminho.
No caminho, caminho refletindo sobre o caminho.
Meus pés doíam e minha barriga roncava de fome.
Também buscava alguém.
Alguém que nunca encontraria, assim como o lar.
Pois não estão nos planos malditos da graça divina.
Sim, correto.
Não há um lar para alguém como eu, que reclama constantemente, insatisfeito com tudo.
Em qualquer lugar, eu me sentiria incomodado.
Porque o problema é que estou vivo.
O problema é que amo alguém que não me ama.
Quero expressar coisas ocultas nos cenários.
Descrever sentimentos e futuros através dos objetos ao redor, das cores das roupas, dos pratos na mesa ou da iluminação do ambiente.
Mas parece ser infrutífero, pois ninguém tentará entender.
Ninguém sequer se importaria com algo do tipo.
No caminho, além de pensar no caminho, refleti sobre outras coisas.
Chovia fortemente, como se tudo não dito e não feito pesasse na alma.
Como arrependimentos.
O vento também era intenso.
Estava tarde.
Saí por volta das sete horas do quarto.
Minha roupa estava encharcada.
Caminhava solitário pelas ruas.
A sujeira da terra e da areia manchavam meu calçado e a barra da calça.
No bolso esquerdo, o celular conectado aos fones de ouvido, ligados às minhas orelhas.
No bolso direito, um isqueiro e um maço de cigarros.
Encostei-me observando a rua.
Algo dentro de mim estava quebrado.
Memórias terríveis retornavam em flashes. Pessoas me insultando, diminuindo-me de todas as formas possíveis.
O cigarro queimava com esforço.
Mesmo com chuva e vento.
O cigarro queimava.
Tão disposto a encerrar minha vida quanto eu. Por isso ele queimava, infiltrando-se em meus pulmões.
Estou desanimado.
Que gosto ruim, talvez seja o cigarro molhado.
Velhos romances... Cada um trazia uma dor, fosse a dor do amor, da perda ou do próprio amor.
Em cada um dos meus amores, posso dizer que foram únicos.
Alguns amei tanto que adoeci.
Mas nunca me arrependi de amar.
Arrependi-me de não ter feito o suficiente.
Mas não de ter amado.
Porque acredito que o eu de agora é capaz de te tratar com compreensão.
Claro, mais traumas, mais feridas.
Talvez, por todo amor que já tive.
Posso dizer que te amo.
Mas meu desejo de ser amado ainda não mudou.
Não me importo se não me amar agora.
Apenas queria ter a chance de fazer você gostar de mim.
...
Já são mais de doze horas.
Hora de voltar para o quarto.
Mesmo que não me queiram lá.
Mesmo que lá não seja meu lar.
Um oceano sem ondas.
Um fogo sem calor.
O problema é:
Estou subindo um prédio.
Sempre sonhei com o décimo andar.
Não precisar mais trabalhar.
Não ter de me preocupar com o preço da comida.
Mas...
Eu tenho medo de altura.
Tenho medo.
Eu não sei voar.
Cada queda machuca muito.
Cada queda assusta.
Não posso falar sobre meus sonhos.
O texto é apenas uma cidade.
Com seus prédios e construções.
Mudando de assunto...
Você acreditaria se eu dissesse que escrevo isso faz uma semana?
Ouvir uma música romântica em inglês (não importa qual) me faz lembrar de você.
E, assim, tenho desejos alucinantes, impossíveis de se concretizar.
Desejo ver um pôr do sol ao seu lado.
Melhor!
São meus desejos, é o meu amor. Você não pode impedir, você não consegue impedir que esse amor aconteça ou aumente.
Então, eu desejo ver dois pores do sol e, entre eles, quero ver um nascer do sol.
Ao seu lado.
Vendo você sorrir.
Quero que me chame na calada da noite para ver o mar e as estrelas.
Quero o mundo ao seu lado.
Quero o mundo quando estou ao seu lado.
...
Queria estar ao seu lado...
Acho que cheguei ao meu quarto. Hora de deitar.
Hora de dizer boa noite.
Hora de chorar pelos sonhos e desejos não realizados.