Passado restrito

 Tive uma pequena e bem curta conversa com a minha primeira paixão, que por sinal, hoje em dia somos amigos. Eu não cheguei a contar isso, mas naquela época, na época dessa paixão. Onde eu era ocupado demais com mil e um esportes e outras coisas do estudo. Nesse tempo. Nesse tempo eu... Me sentia bem, eu me sentia como o sol, agora eu vejo isso, antes eu não conseguia ver, no entanto é isso mesmo. Eu era bom nos esportes, razoável nos estudos e por mais que minha aparência não fosse das melhores coisas eu ainda conseguia arranjar algumas qualidades.

 Eu me sentia bem. Eu conseguia ver que eu tinha um valor, mesmo que ainda fosse meio estranho. Como associar minha presença e minhas relações com a de um posto de gasolina nas BRs onde quem precisava parava para abastecer, se limpar, pousar uma noite, todavia no momento seguinte partia. Você tinha dito que era triste, mas era assim que eu via a relação das pessoas, de interesses e passageiras. Assim como a nossa foi.

 O baque que eu levei. Quando aconteceu o que aconteceu. Deixou-me de cabeça pra baixo, desanimado. Toda essa situação foi o gatilho chave pra mudar como eu penso. Foi radical? Foi. Necessário? Também. Eu me sentia intocável e só você podia me tocar. Quem diria, você me tocou. Mais precisamente, me empurrou.

 Ainda assim, ainda conta. Lembro de você pedir para eu não usar boné. Por algum motivo fiquei triste. Talvez eu tivesse sofrido um pouco mais se nada disso tivesse acontecido. Ou não. Nem sei. Eu era, querendo ou não, orgulhoso e até mesmo um pouco arrogante. Cabeça dura demais pra entender que existem variantes e variáveis. E agora sou um "cabeça mole", confuso. Só o que vejo são variáveis, futuros e hipóteses do que não aconteceu. Tornei-me excelente no que eu era péssimo. Continuei medíocre em todo o resto.

 Era orgulhoso o suficiente para acreditar que eu não precisava de uma lua. E hoje incapaz de acreditar que sequer mereço ser uma luz velha de um lampião muito usado. Sabe, penso muito sobre isso. Arrependo-me por sempre ter pensado demais, mas nem uma única vez eu estive errado quando se tratava de pensar demais.

 Nem uma única vez.