O Narrador:
Shahanshah tem chamado o Príncipe Mirza para estar ao seu lado durante as reuniões na sala do trono e passa a lhe ensinar um pouco mais a respeito de como governar e de quais decisões devem ser tomadas pelo bem do povo, afinal o menino está crescendo e deve aprender a lidar com o império que deverá reger em breve, já que Shahnaz já não estará aqui para fazê-lo.
Uma sensação de aperto no peito, de uma promessa quebrada, um coração amargurado.
Faz questão de pedir que o general Jahangir treine Mirza pessoalmente em todas as artes de luta e duelos, a fim de que esteja pronto para o momento em que possa guerrear, quando for maior de idade.
Príncipe Mirza tem está crescendo, mas ainda está muito ligado aos mimos da Imperatriz, que sempre faz o que ele deseja, tornando-o um rapaz cruel e injusto, que está sempre a punir os servos, sendo arrogante e estúpido com todos, menos com o general, porque aí quem será punido com treinos bem pesados e duelos bem rígidos será o menino mimado.
Dara observa o harém e mais uma vez vê Atefeh conversando com Azar, isso não é nada bom, essas duas só podem estar tramando algo de terrível, já basta que agora os nove filhos mais velhos do Imperador frequentam a sala do trono regularmente.
— Consegui por Ahriman na sala do trono junto ao Imperador, em breve ele terá um cargo de confiança e depois será seu sucessor. Pena que ainda não consegui que ele fosse o general, mas na próxima guerra, eu mandei que ele o assassine. – Atefeh diz.
— Ahriman terá coragem? – Azar pergunta.
— Eu dei a ele o nome do deus da destruição por quê? Ele vai nos ajudar e vamos conseguir! – Atefeh diz.
— Como ele vai conseguir ficar no lugar do general? – Azar pergunta.
— Se vingará de quem assassinou o pobre general! Fará um ato heroico como seu antecessor. – Atefeh diz e ri maleficamente.
— Qual é a graça? Desejo rir também. – Dara as interrompe e diz.
— Atefeh me contava algo engraçado, Laleh foi dar banho em uma das crianças e escorregou ontem, precisava ver. – Azar diz e ri mais uma vez.
— Andem, há muito serviço nesse harém para as duas estarem paradas conversando. – Dara diz e ambas saem reclamando.
— Alteza, que bom vê-la, está tão abatida. Coma uma fruta pelo menos, por Ahura-Mazda! – o eunuco implora para Shahnaz ao vê-la em sua decisão de não se alimentar, há uma semana, está adoecendo, pelo menos tem aceitado água e chá.
Ela continua se esforçando para cumprir seus deveres e aulas no harém, mesmo que todos tenham preocupação com sua atual situação e fragilidade.
Veem o tempo passar, mas a situação hostil no palácio permanece a mesma, todos os preparativos do casamento sendo preparados, uma grandiosa celebração, decoração, bordados, vestes reais, vestido da noiva... as damas chorando pelos cantos, a Princesa em sua greve de fome há um mês, fraca e deitada em sua alcova.
Todas no harém chamam a Imperatriz e imploram que cancele o compromisso de casamento com Saeed Khani ou a Princesa Shahnaz vai morrer.
— Que ela morra, mas não cancelaremos essa aliança de casamento. Ela irá mesmo enrolada em uma túnica branca e as aves comendo seu corpo. – Vashti diz, furiosa.
Então Vashti vai à sala do trono e conversa com o Imperador.
— Vossa Majestade deve dar um basta nos mimos e frescuras da Princesa. – ela diz.
— Que desejas que eu faça? – Shahanshah pergunta.
— Que imponhas sua vontade de Imperador. – Vasthi diz.
— Eu fiz a minha imposição, o seu casamento em dois meses com Saeed Khani. Shahnaz está nos impondo a sua morte, o que haverei de fazer? – o Imperador pergunta.
— Impeça de morrer e a faça casar! – a Imperatriz diz.
— Como a obrigarei se alimentar e casar? – Shahanshah pergunta.
— Só o Imperador pode fazê-lo! – Vashti diz e sai da sala do trono.
Princesa Shahnaz POV:
Hoje completa um mês que estou sem me alimentar, mas tenho aceitado chás e água, para evitar a desidratação, quero apenas cumprir o meu plano e não seguir para a cova.
Sinto que estou bem emagrecida e fraca, o que lamento porque estou ávida por continuar com meus treinamentos para guerra.
Em todo esse tempo não tenho visto o general Jahangir porque tenho me recusado a fazer as refeições, mesmo que o Imperador exija que eu vá ao salão do banquete, faço questão de nem sequer beber um copo de água diante deles.
Nesses últimos dias não tenho tido muitas forças, então passo algum tempo deitada na cama porque tenho tonturas, mas gosto de ir à janela para apreciar a paisagem e ver os pássaros.
Como estou bem-disposta hoje, peço para as minhas damas me levarem para um passeio no jardim, elas me vestem e o vestido antes acinturado hoje fica bem largo em mim, calço as sapatilhas, ponho o véu e as joias. Seguimos juntas.
Sentamo-nos debaixo da sombra de uma árvore e pego algo para ler.
— Alteza, como se sente essa manhã? – ouço uma voz que muito me agrada.
— Bem, obrigada, general. E o senhor? – digo e sorrio.
— Estou um tanto preocupado com a minha amada, sua saúde está fragilizada e em vez de sanar o problema o aumenta. – o general diz.
— Compreendo a questão. Aumentar o problema pode ser solução de tudo, não se preocupe com ela, tenho certeza de que sabe o que está fazendo. – digo.
— Obrigado por se preocupar, Alteza. Temo a morte dela. – Jahangir diz.
— És importante para todo o palácio, general. Não tema, ela viverá e o senhor certamente é sua motivação. – digo.
— Não sei como lhe agradecer por suas palavras gentis, Princesa Shahnaz. Ela é tudo em minha vida. – ele diz e sorri.
— Até breve. – digo.
— Até breve. – o general diz e sai em direção ao seu gabinete.
Minhas damas sorriem sem acreditar na conversa que acabamos de ter diante delas, fico sorrindo de felicidade.
Passamos mais algum tempo nos jardins e depois voltamos ao interior do palácio, desejo ir ao salão de música e nos divertimos até o final da tarde, quando retornamos para a minha alcova.
Sou despertada aos gritos pela grande esposa real, para experimentar meu vestido de noiva, peço que aguarde até que eu me banhe e vista para ir ao harém.
Assim que me arrumo, sigo para o harém e me vestem com o vestido de noiva, que fica simplesmente horrível em mim, precisam fazer muitos ajustes, afinal estou muito magra e feia.
Deve estar em tempo do Sirdar Nasim e seu filho virem para me ver, espero ansiosamente por esse dia.
O Narrador:
Está no prazo da primeira visita do prometido à Princesa Shahnaz e todos estão tensos porque ela está cada vez mais frágil, magra, pálida e feia.
Vasthi recebe o mensageiro dizendo que eles estão chegando e manda avisar ao Imperador, vai à alcova de Shahnaz e a obriga a se vestir e descer para receber o prometido e sua família e ela vai alegremente, deixando a grande esposa real desconfiada.
Uma grande comitiva se forma para receber os Khani, que ficam horrorizados e enojados ao olhar para Shahnaz, adentram o palácio e seguem para suas alcovas para um breve descanso.
— Pai, eu não vou me casar com isso! Seja lá o que for agora. – Saeed diz.
— Ela está um horror, mas você vai se casar sim, nós demos a palavra. – Nasim diz.
— Nossa, o que fizeram com ela? – Sadira diz.
— Irmãozinho, você se deu mal dessa vez. – Roxy diz.
— Nunca mesmo, eu não larguei as outras mulheres para ficar com esse lixo. – Saeed diz.
— Fique com elas e com todas. O que importa são as riquezas e tudo o que você vai herdar. – Nasim diz.
— Isso porque você não vai ter que dormir com ela toda noite e fazer filhos nela. – Saeed diz.
— Te dou um harém para você se divertir, está bem? – Nasim diz.
— Quando? Porque para aguentar isso... – Saeed pergunta.
— Em breve. – Nasim diz.
Todos se arrumam e seguem para o salão do banquete, desta vez até Shahnaz, que bebe apenas chá durante a refeição e todos estranham, conversam sobre os preparativos do casamento e quando encerram, fazem questão de dizer para os prometidos irem dar uma volta no jardim, na companhia das damas.
— Você está bem diferente, Princesa. – Saeed diz.
— Que bom que gostou. – ela diz, cortando o assunto.
— Noite bonita, não é? – Saeed diz.
— Fria demais. – ela diz.
— Que faz de bom por aqui? – Saeed pergunta.
— Nada demais. – ela diz.
— Escute aqui, quando nos casarmos, não vou deixar você me tratar dessa forma. – Saeed diz e tenta pegar no braço dela, mas Shahnaz se afasta.
— Mesmo porque eu farei da sua vida um inferno, você desejará nunca ter me conhecido. – ela diz e sai com suas damas.
— Foi bom o passeio? – Sadira pergunta.
— Proveitoso. Por quantos dias ficarão aqui? – a Princesa Shahnaz diz.
— Apenas três dias, minha querida. – Sadira diz.
Todos despertam com um grito histérico na alcova de Saeed Khani e correm para ver o que está acontecendo, logo entram e veem que o homem dorme com roupas rosas e está pulando sobre uma poltrona feito uma menina apavorada, mas chamam o general Jahangir.
— Quero saber quem foi que colocou uma cobra na cama de Saeed, deve ser punido imediatamente. – o Imperador diz e o general inicia as investigações, embora conheça a verdadeira culpada, só tentará prolongar o prazo.
Seguem para o banquete e veem que a Princesa Shahnaz é a primeira a chegar, ficam com a esperança de que ela finalmente vá comer alguma coisa, mas novamente só toma um chá e no decorrer da refeição continuam a conversar sobre o casamento, parece que é o único assunto que lhes apetece no momento. Assim que terminam, voltam para suas alcovas.
Shahnaz segue com suas damas para o estábulo, depois vão para os jardins.
Shahanshah segue para a sala do trono e seus convidados vão para as suas atividades no palácio, os Sirdares decidem cavalgar com seus filhos, enquanto suas esposas vão apreciar os animais.
Tempos depois Saeed cai do cavalo, se fere e se lamenta muito, todos se apressam em levá-lo para a alcova e chamar um curandeiro para cuidar de seus ferimentos que são poucos.
Quando sabem do acontecido, os Imperadores se apressam em ir até ele para saber de seu estado e se precisa de alguma coisa. Vasthi obrigada Shahnaz a ir ver seu prometido, que vai até sua alcova e o olha de longe, forçando-se para não gargalhar ao ver o drama do rapaz.
Princesa Shahnaz POV:
Enfim a família Khani chega e sinto o desprezo e nojo deles com a minha nova aparência, após o primeiro jantar sou obrigada a sair a andar pelo palácio com Saeed Khani e corto cada investida sua para conversas, mas de repente acaba mostrando sua verdadeira face me fazendo uma ameaça, que devolvo no mesmo tom.
Então decido cumprir minha promessa desde já.
Peço que um servo me traga uma cobra, entro na alcova de Saeed e a solto na cama. Volto aos meus aposentos, me preparo e vou dormir, muito tempo depois ouvimos um grito histérico dele, todos vão para lá e o acodem, enquanto eu fico gargalhando e ouvindo as notícias sobre sua roupa de dormir rosa e os pulinhos sobre a poltrona.
Essa é só a primeira, espere.
Desperto alegremente, minhas damas preparam o meu banho e me vestem, parece que minha energia está renovada, tomo um bom gole de chá e sigo para o salão do banquete, onde todos parecem ter um único e entediante assunto, o casamento. Assim que eles terminam sua refeição, seguem para suas alcovas, mas nós vamos para o estábulo porque tenho muito o que fazer.
— Qual cavalo o Senhor Saeed usará? – pergunto e o menino responde.
Faço o que tenho que fazer e seguimos para o jardim, enquanto vemos as mulheres passando para ver os animais.
— Princesa, você tem mesmo muita coragem. – Lila diz.
— Tenho ódio! E vontade de me vingar. – digo.
Vemos de longe os homens indo cavalgar e o tempo se passando, enquanto minha paciência se esvai, até que finalmente o esperado acontece e Saeed cai, mas se machuca com pouca gravidade apesar de bater aqueles miolos moles.
Vashti me obriga a ir até ele, vendo-o murmurar e praguejar como uma donzela ferida, tenho vontade de gargalhar, mas me contenho e saio depressa de sua alcova.
Isso ainda é pouco!
Tempos depois, entro discretamente em sua alcova mais uma vez, em seu armário, mais especificamente, enquanto ele está no quarto de banho, saio e volto para a minha alcova.
Vou ao salão do banquete e me sento com toda a família e convidados, quando chega Saeed e vemos que ele se coça todo, muito mesmo, cada vez mais e em todos os lugares, chegando a ser ridícula cada pose, fazendo meus primos e até a sua irmã, mãe, minhas tias e os nobres rirem, de repente todos estão rindo dele, principalmente eu.
Saeed sai tentando andar e se coçando de maneira ridícula até sua alcova e volta para o banho, mas nada o livra da coceira, tem que lavar todas as roupas e usar emprestadas as do seu pai, enquanto as suas secam. Lá se vai um jantar emocionante, agora sou obrigada a dormir.
Desperto antes do nascer do sol, minhas damas preparam meu banho e me arrumam, vou conversar com um servo que é conhecedor dos animais peçonhentos, peço que me arranje muitas aranhas pequenas e não venenosas, ele diz que sabe onde encontrar.
Converso com outra serva especialista em ervas e peço que me faça dois preparados especiais, ela ri quando explico o que desejo, mas diz que fará.
Sigo para o salão do banquete com o primeiro preparado e ponho no meu copo, logo em seguida todos chegam e me cumprimentam, faço de conta que vou tomar meu chá, mas Saeed levanta a mão e troca de taça comigo, bebendo o meu chá e eu bebo o dele. Conversamos normalmente e logo depois todos retornam para suas alcovas.
Tolo! Eu o peguei de novo!
Saio da minha alcova e observo o ambiente, continuo sem me alimentar, mas esses dias de vingança tem me renovado as forças.
Passa o tempo e Saeed não vem para o salão do tabaco com os homens, Sirdar Nasim decide ir ver o que se passa com filho.
— Princesa, precisa ver, Sirdar Nasim encontrou o Senhor Saeed em uma situação lamentável no quarto de banho. – Zena diz e gargalhamos juntas.
— Vamos, tenho que voltar para a alcova para planejar o próximo passo. – digo
Dessa vez tenho os Imperadores me vigiando, preciso ser mais cautelosa, muitas coisas estão acontecendo ao meu prometido e só eu tenho amplo interesse nisso, então talvez eu o deixe livre na refeição da tarde.
Sigo para o harém e fico lá por um tempo, mas não resisto, pego a caixa de aranhas que o servo vem me trazer e passo rapidamente na alcova de Saeed, aproveitando que as mulheres estão no jardim e os homens na sala do trono e deposito todas nas túnicas dele.
Corro para o jardim e me assento com as mulheres.
— Onde estava Shahnaz? – a Imperatriz pergunta.
— Fui me aliviar. – digo.
— Você precisa comer, menina, está muito magra. Por que estás sem comer?
— A proximidade do casamento me tirou o apetite. – digo.
— Está assim tão apaixonada pelo meu Saeed? – Sadira pergunta.
Quando vou responder, a Imperatriz me interrompe.
— Claro que está. – ela diz.
— Vejam os pássaros. – Bibiana diz.
Todas se distraem e apreciam a paisagem e as aves, retornamos para o palácio apenas na hora o banquete, alguns homens insistem em ir para suas alcovas, querem se refrescar, aguardamos e todos retornam e enfim o banquete é servido, tomo o meu chá com tranquilidade, quando ouço Sadira e Roxy gritarem que existem várias aranhas saindo da túnica de Saeed, então ele começa uma dança esquisita e frenética diante de nós e a se despir, o que é repreendido no mesmo momento pelo Imperador, afinal tem donzelas no ambiente!
Ele que leve suas aranhas para outro lugar!
Eu venço de novo! Com um olhar reprovador de Vasthi, mas ninguém pode provar nada.
— Não sei o que está acontecendo, tudo de mal acontece com meu filho aqui. – Sadira diz.
— Será que o deus da escuridão o está tentando? – Roxy diz.
— Vamos amanhã no templo fazer oferendas. – Sadira diz.
Façam oferendas para a deusa Shahnaz se acalmar também, porque quando eu estou furiosa, não vejo ninguém em minha frente.
Seguimos normalmente com a nossa rotina, vou ao harém para as minhas aulas e Dara acha que estou com mais vigor e ânimo, atribui a estadia do prometido e de certa forma tem razão.
Passo a tarde toda empenhada com as minhas aulas de como cuidar de um marido, palácio, filhos, harém, esposas secundárias. Logo depois dança, instrumentos musicais e canto.
Então finalmente chega o momento de jantar, pego o preparado e penso em qual taça vou depositar, como ele é previsível já sei e ponho na da Roxy. Todos chegam e são servidos, como previsto, Saeed avança sobre a taça da irmã e as troca, bebendo todo o conteúdo de uma vez, está mesmo sedento e apressado, minutos depois os alimentos começam a ser servidos, mas a cabeça cai sobre seu prato, Sirdar Nasim chama o filho e nada de resposta, puxa-o para trás pelos cabelos e o que se vê é uma cena cômica, restos de comida por toda a sua face, então quando soltam seus cabelos sua cabeça volta a cair pesadamente sobre a comida, fazem o teste pelo menos cinco vezes, eu tenho que segurar a gargalhada, mas os nobres não, estão rindo há um bom tempo.
— Alguém sabe o que está acontecendo aqui? – o Imperador pergunta.
— Só pode ser sono, Majestade. – o Príncipe Mirza diz e gargalha.
— Alguém o leve para sua alcova. General, cuide disso, por favor. – Shahanshah pede.
Jahangir levanta da mesa e vai cuidar disso, enquanto Vasthi me repreende pelo olhar.
— Meu pobre filho, deve estar cansado de tudo isso. – Sadira diz e Roxy concorda.
Seu filho vai estar cansado quando eu terminar com ele!
Terminamos a refeição, nos despedimos e os mais velhos vão para o salão do tabaco ou de música, enquanto eu sigo para a minha alcova comemorando os feitos do dia de hoje.