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Capítulo 4. A cachoeira - parte 2

Capítulo 4

A cachoeira - parte 2

"Certa vez ele sugou

Com um longo beijo, toda a minha alma através

Dos meus lábios, como a luz do sol bebe o orvalho."

Alfred, Lord Tennyson

Como poderia negar algo àqueles lindos e enormes olhos, cor de avelã? Aceitou o convite apanhando a mão dele que ainda estava estendida, ela arrancou a blusa e juntos pularam em direção à água, os dois caíram em perfeita sincronia, Dêvora deu cinco longas braçadas e mergulhou. Renné segurou em sua mão puxando-a mais para o fundo, ele a abraçou deixando rente ao seu corpo, rodopiaram três vezes antes de romperem a superfície. Ele a fitava furtivamente, procurando alguma brecha, Dêvora foi a primeira a quebrar o silencio.

– Acho que esse seria um daqueles momentos em filmes, que os nossos olhos se encontram e nossas respirações se aceleram gradativamente, você de um jeito fofo se aproximaria e colocaria a mão em meu rosto e me beijaria. – houve uma breve aproximação que fez Dêvora oscilar – ainda bem que isso só acontece em filmes!

Renné jogou a cabeça para trás e gargalhou, Dêvora não se conteve e gargalhou também, ficaram assim durante um bom tempo. Ela estava rindo, e rindo de verdade, uma risada que já não dava fazia um bom tempo.

– Você anda assistindo filmes demais! – exclamou Renné enquanto tentava se livrar dos risos, suas faces estavam levemente rubras de tanto rirem.

Saíram da água e sentaram na grande pedra vermelha, Dêvora encostou a cabeça no ombro de Renné e se permitiu admirar aquele paraíso, afinal Márcia não ia querer que ela ficasse chorando por ela, isso só mostrava mais uma vez o quanto Dêvora era egoísta, Márcia seria a primeira a dizer que deveria aproveitar cada momento. Sendo assim prometeu a si mesma que não choraria mais por Márcia, e sim lhe desejaria toda a sorte do mundo.

– Eu não te entendo! – disse Renné.

– Por quê?

– Ontem você queria me matar e logo após aceitou o meu convite, e agora...

– Vamos dizer que sou um pouco complicada! – disse com um sorriso no rosto.

– Então tá!

– Você não é daqui!

– Como? – perguntou Renné, confuso.

– Você não é de Marataízes.

– Por que pensa assim? – ele a indagou.

– Você é menos idiota que os rapazes dessa cidade. Ou sabe disfarçar bem!

Renné riu como se fosse a melhor piada que já ouviu em toda a sua vida. – Está enganada, minha família é daqui, eu nasci em Marataízes porem fui criado em outro lugar.

– E que lugar seria esse? – Dêvora não queria parecer enxerida, mas tinha que descobrir um pouco mais sobre Renné.

– New York!

– Uh! Estou conversando com um gringo, –Brincou Dêvora – mas se você não foi criado aqui, então como conhece esse lugar?

– Todos os verões vinha a esta cidade, eu e minha família, para passar as férias, em um desses verões meu pai me apresentou este lugar. É muito especial para mim, este lugar quero dizer, é o meu cantinho secreto, mas acho que agora não é mais só meu.

–Porque e tão especial? –Disse retornando o assunto para Renné.

–Pois foi aqui que meu pai pediu minha mãe em casamento. –sua voz continha um traço de angustia.

– Ela tem sorte em ter seu pai como marido, ele parece ser um bom homem.

–Meu pai que teve sorte em tê-la como esposa!

Ele abaixou a cabeça refletindo no que acabará de dizer, seu maxilar estava tensionado, parecia estar nervoso ou simplesmente contendo palavras que não queria falar para Dêvora, não agora. Ele fitou profundamente a cachoeira e sorriu, voltou o rosto para Dêvora com a expressão mais leve, seus olhos avelã adquiriram um tom avermelhado quando fitaram Dêvora.

–E a sua família?

–O que tem? – Indagou Dêvora.

–Me fala sobre a sua família. – Instigou Renné.

–Eu não conheço os meus pais biológicos, fui criada por uma ex-amiga da minha mãe. –Suspirou, era difícil falar de algo que não gostava nem de ouvir.

Foi difícil passar sua infância sem ao menos saber quem eram seus pais, apesar disso nunca se interessou em saber, porque aquilo não tinha a menor importância, pois não mudaria o fato de ter sido abandonada por sua mãe e seu pai nem ao menos saber de sua existência. Desde o dia que Margarete lhe contou que não era sua verdadeira mãe, Dêvora jurou para si mesma que nunca mais falaria no assunto, Mar e Márcia havia respeitado sua escolha, mas agora um estranho a fazia lembrar de tudo, lembrar da dor que sentiu quando descobriu que era adotada, da dor que foi descobrir que para sua mãe biológica Dêvora não passava de mais um peso nas costas que tinha que se livrar, ele a fez lembrar de tudo que não queria ter descoberto.

–E você nunca quis saber quem são eles? – Renné a Indagou.

–Isso não me interessa, – sua voz estava embargada por um sentimento irreconhecível. –Agora se importa em mudarmos de assunto?

Dêvora não compreendia o porquê aquele assunto devia ser tão interessante, se seus pais não se importam com ela, por que ela deveria se importar com eles?

–É estranho! –Disse Renné mais para si mesmo do que para Dêvora. –Como uma pessoa não se interessa por suas próprias origens?

Dêvora estava começam a se irritar. –Se você acha que minhas origens são tão importantes assim, então vá buscá-la você mesmo… E, por favor, se encontra-las não me informe!

–Me desculpa, não queria te irritar, só queria descobrir mais de você. – seus olhos a analisavam.

Como ela poderia continuar zangada estando naquele lugar com ele, ela se virou para Renné e lhe enviou um sorriso sacana.

–O que estava fazendo na praia ontem?

–Estava te perseguindo!

Por um breve momento Dêvora acreditou que ele estava falando sério, e seu coração disparou e uma vontade de súbita de sair correndo a tomou, então Renné gargalhou diante a expressão de espanto de Dêvora. – É brincadeira! Estava passando pelo calçadão quando vi você sendo carregada por aquele brutamonte.

–Ele não é nenhum brutamonte, ele me salvou! – ela lançou um sorriso malicioso. – Espera aí! Você esta com ciúmes?

–Eu? Com ciúmes? – Ele franziu a testa em ato de indignação. –Você deve ter batido a cabeça quando mergulhou.

–Sei… – instigou-o.

–Por que eu estaria com ciúmes?

–Oras é você que tem que saber, é você que esta com ciúmes! – Dêvora estava adorando provocá-lo.

Ele apanhou uma mecha do cabelo castanho escuro de Dêvora, e pois a admirá-lo, segurou o rosto dela com suas fortes mãos e fitou seus olhos por alguns segundos, com um sorriso maroto ele encostou seus lábios nos dela, dando-lhe um beijo com um leve gostinho de cachoeira, ela tentou lutar para não corresponder, mas os lábios de Renné eram como dois imãs que atraiam os seus para um beijo mais profundo, até estar totalmente entorpecida. Dêvora sentiu as mãos de Renné deslizarem para a sua cintura puxando-a mais para si, ela podia sentir todo o calor que exalava do corpo de Renné, sentir seu coração acelerado e não tinha duvidas que ele também pudesse sentir o seu coração, que batia insanamente.

Seu beijo era doce, mas havia um toque imponente nele, era suave e ao mesmo tempo avassalador, um pouco receoso, entre tanto confiante, era uma sensação incrível, penetrante, Dêvora pôde sentir um calor inexplicável inundar o seu corpo – aquele beijo não se parecia nenhum pouco com o seu primeiro, que havia sido desajeitado e sem graça, não era um simples beijo – mas no meio de toda aquela confusão de sentimentos e sensações, um calafrio percorreu sua coluna, não era um calafrio agradável, era agonizante, ela sabia o que viria acontecer depois disso, sabia que devia sair dali naquele instante.

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