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Prólogo — Lembranças

Após passar por todos os testes, não consegui deixar de suspirar. Só em pensar que poderia ter morrido, isso é realmente assustador. O enorme labirinto mudava sua estrutura com o passar do tempo, minha decepção foi que não pude perceber isso mais cedo.

Talvez se tivesse descoberto isso, poderia ter uma chance de conseguir achar esse lugar bem mais rápido?

Minha própria ignorância me deixou tola, pensando que poderia simplesmente entrar na caverna sem qualquer plano. Senti todo o meu corpo tremer ao perceber haver uma pequena chance de deixar minha filha sozinha no mundo.

Tudo isso foi deixado de lado ao chegar no local. Notei esses símbolos em algumas partes da caverna. Poderiam passar despercebido, mas esse não foi o caso. Depois que descobri sobre os símbolos, me guiei por eles até esse local.

Uma grande porta de metal que poderia facilmente passar dos cinco metros de altura e três de largura estava diante dos meus olhos. Na porta, notei outros símbolos parecidos com os que observei na caverna.

Não pensei que poderia abrir a grande porta, ela parecia realmente pesada, mas não tinha confiança de que conseguiria voltar pelo mesmo caminho. Só me restava tentar abrir a porta.

Decidi verificar se poderia abrir a grande porta, mas ao tocá-la, os símbolos entalhados nela começaram a brilhar em um tom azulado.

crrrr!

A porta mover-se lentamente e pude ouvir o som do metal ranger.

No local não tinham resquícios de luz e a área era completamente escura ao ponto de não conseguir enxergar minhas próprias mãos bem na minha frente.

Decidi pegar a lanterna em minha bolsa, quando um som agudo chamou minha atenção.

Várias tochas acenderam, me permitindo ter uma visão de todo o local: uma câmara grande o suficiente para caber mais de quinhentas pessoas facilmente, e no centro dela estava algo que me deixou surpresa.

Decidi caminhar até o local para me certificar de que não estava enganada, ao me aproximar o suficiente tive certeza do que vi.

Uma pessoa estava sentada no centro da grande sala. Haviam correntes presas no teto, prendiam seus braços mantendo-a no local e impedindo-a de se mover. Em suas pernas também haviam correntes presas no chão.

Em cada corrente tinha um total de quatro pedaços de papel com símbolos parecidos com os que havia no labirinto e na grande porta. Sua cabeça havia algo para obstruía a sua visão. O que parecia ser um pano que ocultava sua face, também tinha os mesmos símbolos…

Esses símbolos estavam em todos os locais, o que me fez perceber que não era apenas para decoração.

Observei a pessoa em minha frente coberta por um manto branco com capuz que ocultava o resto de sua cabeça que ficaria exposta.

"Olá?"

Decidi falar algo, mas sem respostas.

"Você pode me ouvir?"

Novamente, sem respostas.

Não poderia saber ao certo quanto tempo eu estava no local. Esse lugar me deixava uma sensação estranha, como se parte da minha força vital fosse drenada a cada momento que se passava.

Senti um pouco de dor de cabeça, mas não era nada que poderia incomodar.

Aproximei-me e decidi checar a pessoa à minha frente. Movi o capuz de sua cabeça, mas antes retirei o papel o qual estava preso no capuz e em seguida os que estavam em seu rosto.

"********"

Após retirar todos os papéis com símbolos, sua voz fraca chegou em meus ouvidos. Ele parecia estar falando em um idioma diferente.

"Eu não entendi…"

Não pude deixar de suspirar.

"***** Aqui…"

!!?

Consegui entender as suas últimas palavras.

"Como você chegou aqui…?"

As suas palavras ficaram nítidas. Consegui entender cada palavras que saia de sua boca e isso me deixou animada.

"Entrei na caverna e consegui achar esse lugar."

Notei o tom animado em minha voz. Não poderia conter já que demorou um pouco para chegar até o local e fui recompensada com uma descoberta peculiar.

"Você não deveria estar aqui…"

Ele estava balançando levemente sua cabeça, tentando retirar o pano que impedia sua visão.

Decidi que poderia fazer isso. Retirei lentamente o pano que estava obstruindo sua visão.

Sua aparência jovem alegrava meus olhos, sua voz era firme, mas olhando de perto, ele parecia frágil e delicado.

O jovem começou a piscar continuamente, talvez tentando se acostumar com a claridade, mas isso deixou seu rosto ainda mais evidente. Após se acostumar, ele começou a me observar. Ele tinha longos cabelos prateados enquanto seus olhos brilhavam em um vermelho intenso.

Seus olhos vermelhos me observaram como se estivessem me analisando enquanto ele continuou em silêncio.

"Sabe, você até que é bonitinho."

Sorri tentando parecer alguém legal, mas isso não mudou a expressão em seu rosto.

"Você é do tipo que gosta de brincar? Tenho um amigo que gostará de você."

"Sério? Ele é casado?"

Notei um pequeno sorriso aparecer no canto de seus lábios.

"Oh? Você sabe sorrir?"

"Você não deveria estar aqui. Saia antes que eles notem…"

Não sei se é algo incomum, mas esse garoto não parece ser alguém que causaria mal, então só resta uma pergunta:

"Por que você está aqui?"

Algo que estava me corroendo por dentro enquanto tentava ao máximo descobrir a resposta.

Os resquícios de um sorriso desapareceram de seu rosto como se nunca estivesse lá em primeiro lugar.

"Você acreditaria se contasse que machuquei um deus?"

Não consegue ocultar a surpresa em meu rosto, mas o tom de sua voz pareceu sério. O suficiente para me fazer acreditar, ao menos decidi entender melhor sua situação.

"Oh! Isso é sério? Espera! Deus realmente existem?"

"Sim, Mas não estamos falando do mesmo deus, eu presumo. O deus responsável por me prender aqui é difere do deus que você conhece…"

Apenas machucar um deus é o suficiente para receber esse tratamento? Esse deus é alguém egocêntrico, ou talvez não foi apenas um "machucar" como ele fala. Qualquer opção é válida…

Aproximei-me. Ele era apenas um garoto com bela aparência. Usando meu próprio julgamento, pensei que ele não parecia ser alguém que machucaria uma pessoa sem motivos. Poderia estar equivocada em minha maneira de pensar, mas de alguma forma, não consegui pensar o contrário.

Forcei as correntes em seus braços, mas elas não se moviam. Não importa quanta força usasse, parecia estar tentando mover uma pedra.

"O que você está fazendo?"

Ele me olhou perplexo com minhas ações, porém não tinha intenção de parar. Meu único pensamento era de retirar as correntes.

"Não é uma resposta simples? Estou te libertando."

"Não! Você não deve. Se fizer isso, vai apenas sofrer…"

Sua voz se manteve séria, porém a tristeza também era evidente.

Notei que ele não queria estar aqui, mas não tinha maneiras de sair do local por conta própria.

"Você machucou um deus, certo? Então você pode me proteger."

Sou a única adulta no local, então devo mostrar para essa criança que tenho alguma confiança, mesmo que essa confiança seja no próprio garoto preso diante dos meus olhos.

"Você me pergunta isso, mas não tem uma habilidade derivada do tempo?"

Inclinei minha cabeça um pouco para o lado, tentando ao máximo entender suas palavras, mas não consegui ocultar minha ignorância sobre o assunto.

"Você sabe que palavras difíceis para pessoas leigas deveriam ser consideradas crime?"

"..... Você tem a habilidade do'Conhecimento' derivada do'Tempo'. Deveria ter todas as respostas que busca."

Então é isso.

"Desculpe, mas não lembro de ter algo assim…"

Foi a vez do garoto ficar confuso.

"Suspiro… Deixaremos assim então…"

Tentei novamente retirar as correntes, mas sem sucesso.

Não deveria ser tão pesada, na verdade, as correntes eram finas por esse motivo não fazia sentido. O peso não é compatível com a aparência.

"Você deveria retirar os selos."

Foi quando finalmente entendi. Quando retirei o manto de sua cabeça, esse manto estava com vários símbolos.

Pensei que isso não faria sentido, apenas alguns papéis poderiam deixar correntes tão pesadas? Sei que não sou a pessoa mais inteligente, mas até pensar nisso, não faz sentido.

Nada do que presenciei até agora fez sentido, por isso decidi apenas realizar minhas ações, baseando-se no que ele disse, retirei os papeis com símbolos das correntes e como em um passe de mágica, as correntes caíram.

Nesse ponto não poderia me surpreender facilmente, já aceitei que o mundo não funciona como pensava.

"Isso poderia ser usado em algumas brincadeiras. Me lembre de pegar o contato do responsável por criar essa coisa, eu precisarei…"

Minhas palavras saíram como um murmuro enquanto o garoto apenas levantou de seu lugar.

Ele começou a esfregar seus pulsos no local onde as correntes estavam, elas aviam deixado algumas marcas já que o garoto poderia estar aqui por bastante tempo.

Senti que o garoto estava com dificuldades em ficar de pé, devido ao seu físico fraco. Observando melhor, notei sua pele pálida causada pela falta de luz do sol.

Ele parecia não estar se alimentando corretamente. Seu corpo estava bem fraco, isso era evidente para qualquer pessoa que o visse.

"Obrigado…"

Suas poucas palavras transmitiam tristeza, alegria, confusão, descrença. Várias emoções que não poderiam ser descritas, mas eu sabia melhor do que ninguém que sentimento era esse.

Cheguei perto o suficiente e o abracei. Talvez por ter uma filha pequena, consiga pensar, não como uma mulher, mas como uma mãe que observa uma criança indefesa.

"Está tudo bem agora. Você não precisa se preocupar."

Senti sua respiração pesada enquanto ele tentava conter suas emoções, mas não era possível ocultar tudo, senti lágrimas caindo em meus ombros enquanto me apertava cada vez mais forte.

Não sou eu quem deve falar essas palavras, mas estou aqui nesse momento. Confortar uma criança é o trabalho de um adulto. Não sei que conflitos ele se envolveu, ou o que ele presenciou, mas sei que ele, precisa de alguém nesse momento.

"Vamos, eu vou te levar até minha casa. Será bem melhor conversar em um local confortável."

Não tenho a menor ideia de como sair do local, mas senti tanta confiança em minhas palavras que acreditei. Pode ser chamado confiança excessiva?

"Isso me lembra, ainda não sei seu nome."

Ele se afastou. Após passar a mão em seu rosto, senti seu olhar em minha direção. Sua presença não parecia cansada como antes.

"Verdade… Meu nome é–"

***

"Az!!"

Olhei em direção ao teto, ainda sonolento. Guiei meus olhos até o local onde estava a voz e notei a presença de uma criança que aparentava ter pouco mais de seis anos.

_Foi um sonho…?

Seus longos cabelos negros amarados em um rabo de cavalo caiu sobre meu rosto e seus grandes olhos violeta observaram minha face como uma mãe que observa seu filho… Apenas seu sorriso era suficiente, mas esse sorriso estava envolto em preocupação.

Sempre achei seus gostos para roupa interessante, e atualmente ela estava usando um vestido curto no estilo Lolita gótica.

Mesmo aparentando ser apenas uma criança, seus olhos demostravam sabedoria.

"Az!!"

"Sim, sim. Eu já acordei."

Levantei, mas fui impedido pela garota que deitou em meu peito me puxando para baixo sem qualquer aviso.

"Ela chegou."

Com suas palavras lembrei do assunto que deveria tratar hoje. Deveria receber a irmã de um amigo. Ela estará comigo por um ano e eu deveria ser o responsável por seu treinamento.

Nesse momento deveria estar presente para recebê-la, mas não tenho intenção de ir ao local. Na verdade, eu nunca concordei com a escolha feita por minhas costas. Rejeitarei qualquer outra maneira de me aproximar dela em um futuro, mas como descobri depois que tudo já havia acontecido, não ouve chance de rejeitar.

"Noir, Alice sabe onde eu estou?"

Noir balançou a cabeça lentamente.

Isso já era esperado. Cheguei a pouco tempo e não contei sobre minha localização. Talvez eu possa aproveitar um pouco de paz antes de ela descobra onde estou.

"Você não receberá Eriel?"

"Não tenho intenção de fazer."

Noir me observou enquanto parecia um pouco triste.

"Eu queria saber como ela está atualmente…"

Acariciei sua cabeça.

"Não se preocupe, você terá um ano para fazer isso."

"Se depender de você isso não acontecerá, certo?"

Sorri amargamente já sabendo a resposta.

"Isso é verdade, mas… Não tenho opinião, sabe? Tudo foi decidido sem meu consentimento de qualquer maneira."

Observei o local onde estava. Era a estufa localizada na parte de trás da mansão. Uma área com várias flores de diferentes espécies escolhidas a dedo por uma pessoa especial.

Cada flor aqui tem um significado que não consigo descrever. Esse era o motivo de ficar tão calmo nesse local. Sentir o cheiro das rosas, enquanto estou deitado debaixo de uma árvore que me proporciona uma sombra agradável, não consigo pensar em uma situação melhor.

"Az, eu estou com fome."

"E eu surpreso pelo tópico da conversa ter mudado repentinamente."

Noir, deitada em meu peito, levantou. Ela começou a caminhar em direção à saída da estufa.

"Não exagere."

"Entendido!"

Ela saiu do local deixando-me com meus pensamentos.

Deveria descansar um pouco mais…

Senti meus olhos fechando lentamente. Só tive esse momento para dormir antes de Alice me encontrar. Não demoraria muito… Zenith logo entrará em contato com ela.

Pergunto-me o que o futuro espera…

Notei haver dormido novamente sem perceber. Logo acordei ao notar que Noir volto.

Ela não estava só…, uma pessoa estava ao seu lado.

Um rosto que não observei há vários anos, mas que estava presente em minha memória, sendo quase impossível esquecer esse rosto.

Nossos olhos se encontraram por um momento, foi quando lembrei de um passado distante, algo que lutei para esquecer…

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