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Prólogo - Nascimento

— Está vindo, faça força novamente, majestade!

Hadrya se esgoelava e se contorcia na cama, com dores fortes nas costas e pontadas intensas na região íntima. Seu sofrimento parecia interminável durante o nascimento de seu filho. Suada e cansada, fez força mais uma vez e pôde sentir seu bebê deslizando de si.

A criança berrou.

— Ela veio ao mundo! — a parteira anunciou ao enrolar a pequena em panos limpos. — É uma menina tão linda, majestade.

Um grande "oh!" entusiasmado ecoou pela meia dúzia de mulheres presentes na sala, ao mesmo tempo que a rainha sentia uma anciã cortar o cordão que a unia a sua filha.

— Menina? — ela perguntou chocada.

Quando soube que concebia um bebê em seu ventre, implorou aos deuses que fosse um menino, pois um homem se encaixava melhor no papel de príncipe herdeiro do seu reino e seria mais aceito pelo seu povo. Embora, em seu íntimo, Hadrya nunca tivesse como prioridade ter criança alguma em sua vida.

Ela aceitou a proposta de gerar o filho de Drazhan porque ele a convenceu de que os deuses dariam um unigênito, mesmo quando o rei era considerado estéril. Era prometido um menino que fosse abençoado com força e poder para dizimar todos os demônios que coexistiam com o seu povo.

Hadrya queria os malditos demônios mortos e ansiava pelo dia em que as criaturas se tornassem apenas lendas que um dia pisaram em Arcádia. No entanto, não tinha poder para destruí-los, nem força.

Nenhuma serpente do seu povo tinha.

Então seria sua filha que faria o que era para ser feito. A mesma que estava nos braços da parteira e que a encarava com lágrimas caindo em cascata pelo rosto redondo, pálido e pequenino.

Agora, Arcádia, o Reino das Serpentes, estaria nas mãos daquela pequena menina herdeira do trono. Ela poderia sangrar até a morte, mas ainda assim mataria todos os demônios um dia.

Hadrya riu do que os deuses trouxeram ao seu povo.

— Sim, uma menina — disse uma das mulheres. — Como a chamará, Majestade?

O seu sorriso morreu e o cômodo se encheu de silêncio. Hadrya podia dizer que estava decepcionada e que não havia se preparado para ser mãe ainda, pois essa era a verdade, mas as mulheres não entenderiam. Elas não viram o mesmo que havia visto quando foi revelada sua gravidez, nem sabiam o que fez com o rei para conseguir aquela criança. Então não adiantava se explicar.

A anciã que limpava a sujeira restante do parto refletiu. — O Rei não esperava ter uma menina.

A rainha se ergueu pelos cotovelos e a afastou com um gesto, depois ordenou solenemente. — Tirem a criança daqui!

— Não irá segurá-la? — perguntou a parteira, surpresa, acalentando o bebê nos braços.

Hadrya desviou o olhar para a parede.

Em poucos instantes, as mulheres continuaram conversando, ignorando o pedido dela.

— Olhem os olhinhos dela, que lindos!

— São azuis iguais aos da senhora, Majestade, porém, eles diferem dos nossos!

— Olhem a testa dela, tem um triângulo de sangue desenhado!

Com escândalo, as anciãs, parteiras e acompanhantes de parto correram para espiar.

— Ela é a escolhida!

As vozes se misturavam no cômodo, enquanto a rainha observava com curiosidade e chateação, desejando por um momento tocá-la, senti-la nos braços e descobrir mais sobre sua filha, mas o sentimento desapareceu tão rápido quanto surgiu.

— Suma com ela! — Hadrya cessou todos os sorrisos largos com sua voz elevada. — Levem-na até o rei.

A mulher que segurava a princesa não discutiu e retirou-se rapidamente.

Não havia tempo para sentimentos, não para a rainha. Aquele triângulo significava algo? Sim, mas Hadrya descobriria isso depois. Quando não estivesse desejando ficar só e não tivesse raiva apenas ao olhar para a criança.

Ela sabia que não era culpa da menina as consequências de suas escolhas, mas ainda assim, não conseguia ser a mãe que sua filha precisava, mesmo se quisesse.

As mulheres continuaram conversando entre si e às vezes a incluíam na conversa, mas Hadrya apenas se calou e ignorou a presença de todas.

— Senhora, irei limpá-la rapidamente. — disse a anciã paga por Drazhan enquanto fazia seu trabalho.

Se suas visões estivessem certas… os planos que haviam sido feitos para sua filha seriam falhos em alguns anos de toda forma.

A rainha não sabia o que fazer enquanto pensava. Se fosse um menino, o destino mudaria? Talvez sim, talvez não. Era tão incerto.

Ela então tentou imaginar como seu povo reagiria ao descobrir que uma menina seria responsável pela paz em Arcádia. Talvez alguns teriam as mesmas reações das mulheres, ficariam encantados e fascinados, mas estava certa de que os outros iriam odiá-la com o tempo, mesmo se não fizesse nada…

Chegou à conclusão de que, se tivesse um príncipe, seria provavelmente melhor para Arcádia.

Por breves segundos, Hadrya desejou que a criança desaparecesse como fumaça. No entanto, pensou que deveria ser otimista e acreditar que a princesa conseguiria destruir os demônios um dia, mesmo que isso custasse caro.

Quando a velha terminou o último ponto em sua região íntima, a rainha suspirou de alívio, pois o incômodo e a dor haviam acabado também.

— Foi bem rápido, Senhora. Agora descanse.

— Traga meu irmão aqui, Anciã! — Hadrya mandou, ignorando tudo o que a mulher havia dito.

— Sor Andreas? — perguntou confusa.

— Tem outro?

— O chamarei imediatamente. Com sua licença, Senhora.

A velha se curvou e saiu apressada de sua vista.

— Quero que todas vocês se retirem imediatamente! — Hadrya exclamou nervosa.

Ela precisava ficar sozinha para usar o poder que havia dominado com sucesso há alguns anos, pois era uma das poucas que possuía habilidades entre os outros de sua raça e nenhum deles poderia saber de seus segredos.

Todas as mulheres presentes na sala fizeram o que foi ordenado, deixando para trás a rainha. Quando finalmente ficou só, esforçou-se para ter uma visão sobre o futuro, limpando a mente para conseguir se concentrar.

A ardência em suas partes ainda a incomodava por conta do esforço que fizera no parto, o que comprometia significativamente sua capacidade de manifestar seus poderes. No entanto, ela se esforçou ao máximo para obter as visões.

— Chamou-me, irmã?

Hadrya ouviu Andreas chamá-la, mas não pôde prestar atenção quando se concentrava em suas visões. Observando anos se passando diante de seus olhos, nos quais dor, catástrofes e desastres aconteciam em seu reino.

Quando voltou, suspirou ofegante e suada, sem saber quanto tempo havia passado, mas pôde ver a preocupação nos olhos do irmão gêmeo. Um reflexo de sua própria aparência.

— Uma visão?

— Sim.

— O que viu? — Andreas questionou preocupado.

— Guerras, — Hadrya disse assustada. — Muitas guerras. Temos que nos preparar!

***

Enquanto isso, o rei admirava o céu que deixava cair incontáveis estrelas no horizonte, maravilhado com a chuva de luzes ao longe e com o brilho da bela lua.

Todos os quatro reinos deveriam estar admirados com a vista daquela noite. O povo serpentiano esbanjava felicidade, comemorando com farras e bebidas, sabendo que aquele era o anúncio da chegada do herdeiro do trono, trazendo a promessa de acabar com a era de dor, caos e ataques que os demônios traziam.

Encantado, Drazhan não se importou de seu filho ser uma menina, decidindo chamá-la de Maeve Fermi Escarlate. Nas terras de Adira o nome Maeve significava a guerreira escolhida para lutar. Fermi era firmeza, enquanto Escarlate era o sobrenome da família real.

Ao pegá-la no colo, observou pelas janelas arcadas do seu aposento a vista das estrelas. Seu bebê apreciava com ele, acalmando-se um pouco em seus braços.

Em algum momento, o rei recebeu um aviso dos deuses em sua mente.

Era uma voz doce que falava, mas o recado não tinha o mesmo tom.

"Sua filha será a mais poderosa que existirá para lutar contra os demônios. No entanto, grandes poderes necessitam de grandes responsabilidades, e isso fará com que ela possa trazer amor e paz ou fazer com que seu reino seja completamente devastado pelo ódio e pelas guerras. Não será nossa culpa, nem um final nem o outro".

O aviso o deixou mortificado a princípio. Sua testa franzia à medida que pensava demais naquelas palavras. Porém, ao olhar para sua pequena Maeve, percebeu o quão maravilhado estava com sua bela menina.

Ele a apertou contra o peito e cheirou seus cabelos ruivos, que ainda tinham um odor de sangue. Na testa dela, a marca do triângulo a declarava a escolhida, como a mensageira havia avisado.

Enquanto sorria, disse — Maeve, minha filha, confio em você para salvar nosso povo.

Olá! deixem o incentivo se estiverem gostando.

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