Nicolas fitava a janela, ele demorou muito para pegar no sono, ele pensava em Amélia e em Dominique, seus sentimentos eram confusos. Quando o céu negro começou a se tornar claro o futuro rei se levantou, sua caçada não era algo planejado na agenda oficial e ele pensava em todo o escândalo de sua família.
Ele se arrumou, deixou sua coroa sobre a mesa e saí discretamente, em frente aos estábulos, Arthur olhou para o futuro rei confuso, sua presença não era esperada e por um tempo Nicolas pensou em desistir de ir.
— Majestade — Arthur fez uma reverência— o que o senhor faz aqui?
— Amélia me convidou para ir caçar com vocês — O futuro rei limpou a garganta, um pouco desconfortável ambos saibam que a verdade era que Arthur não gostava de Nicolas
— Entendo.
Arthur não estava receptivo a presença de Nicolas, na verdade o silêncio era a única coisa que tinha entre eles, quando Amélia chegou Nicolas respirou aliviado.
Nicolas ficou impressionado com os trajes de Amélia, a moça vestia uma calça justa contra o corpo, seu vestido era justo também, os botões iam até altura de seu umbigo, o resto estava aberto, parada era um vestido e quando a jovem andava mostrava suas botas e calças. Nicolas sentiu seu coração disparar e seu corpo ficou tenso.
— Vossa Alteza — ela se curvou a Nicolas — bom dia, meu irmão.
— Bom dia — Arthur disse olhando a cena desconfiado, ele reparou a face ruborizada de Nicolas e o fato do rapaz quase babar pela moça.
— Majestade? — Amélia chamou a atenção de Nicolas que a encarava indiscretamente.
— Amélia, você está linda. — Nicolas segurou a mão dela e a beijou suavemente.
Nicolas solicitou que os servos colocassem a sela um cavalo para ele e outro para Amélia já que Arthur estava com o seu cavalo. Sem nenhuma dificuldade a jovem moça subiu no cavalo surpreendendo a guarda real e o Nicolas. Os três cavalgaram com alguns guardas até o local que Arthur havia definido como o melhor das redondezas para caçar.
Sem nenhuma dificuldade a jovem moça subiu no cavalo surpreendendo a guarda real e o Nicolas. Os três cavalgaram com alguns guardas até o local que Arthur havia definido.
Amélia desceu de seu cavalo com a ajuda de Arthur não que houvesse necessidade ele só se adiantou para que o futuro rei não chegasse perto de sua irmã.
Os cavalos foram amarrados em uma árvore, o local tinha uma vegetação baixa, árvores a uma distância razoável, porém Nicolas julgou o local como algo escuro, ele estava coberto pelas árvores os raios de sol atravessam o lugar com dificuldade.
Arthur e Amélia deviam suas flechas, Nicolas tinha levado os seus, ele arrumava sua aljava, havia contato suas flechas ele observa os irmãos que se provocavam discretamente.
— Quem será que vai ganhar esse jogo? — Amélia provocou Arthur.
— Sabe que eu sou melhor nisso que você.
Eles estavam em silêncio andando com o mínimo de barulho possível, Nicolas viu um cervo ele tinha cerca de 1.30cm, o futuro rei pegou uma flecha em sua aljava colocou no arco e atirou, apesar de muito próximo Nicolas errou o alvo. Assim que o ruminante tentou correr foi acertado pela flecha de Arthur.
— Ponto pra mim — ele se gabou para Amélia.
— Ainda temos um longo dia — a jovem o provocou.
O bicho deveria ter quase 200kg, Arthur via sua caça orgulhoso e Nicolas neste momento se sentiu menos competente do que um homem deveria se sentir. Ele não estava habituado a caçada e estava falhando em impressionar Amélia.
— Lamento pela minha falha — Nicolas pareceu levemente constrangido.
— Vem, vamos procurar um maior que esse — Amélia segurou a mão de Nicolas e eles saíram para dentro da floresta. Nicolas achou a atitude da moça diferente, ela parecia mais livre ao segurar a mão e sair caminhando.
— Se seu irmão nos acertar? Não é melhor ficarmos juntos — Nicolas olhou para a mãe de Amélia que segurava a dele, seu olhar correu por cima do ombro e Arthur parecia furioso.
— se ele te acertar vai ser porque quer. Arthur tem a melhor mira da família. Apesar de ter aprendido a caçar com Pedro — Amélia subia uma pequena colina da floresta com a ajuda de Nicolas — Arthur me ensinou como pegar eles segundo a respiração. Viu como ele foi rápido?
— Sim, fiquei impressionado — Nicolas disse caminhando atrás de Amélia
— Você não costuma caçar né?
— Não muito, um rei não pode se colocar em risco, ainda mais um que ainda não ascendeu ao trono. Eu nem podia sair do palácio. Uma vez um fugi pra ver como era, quase me perdi.
— Que lástima, Vossa Alteza.
— Foi ótimo, pode me sentir uma pessoa de verdade — subimos ao ponto mais alto da floresta e Nicolas estava quase sem fôlego — não está bom.
— Sim — Amélia sorriu pra Nicolas — vou te ensinar a usar o arco e a flecha você não sabe bem
— Está dizendo que não sei? — Nicolas tentou parecer ofendido mas achou engraçado.
— Sim, Vossa Alteza. Fique na posição que está acostumado para atirar — Muito confiante Nicolas se posicionou como foi ensinado e parecia um pouco torto na opinião de Amélia — você tem uma ótima mira para acertar um alvo nesta posição. — Com um sutil chute no pé de Nicolas — deixe seus pés na largura do ombro, assim fica mais seguro.
Amélia se posicionou atrás do corpo de Nicolas. Ela colocou sua mão sobre a de Nicolas — Puxe em direção ao seu rosto, não mexa as pernas — Nicolas seguia os comandos dela, — o ombro deve estar paralelo ao chão — Amélia tocou suavemente no ombro de Nicolas para ajudá-lo, ela puxou os ombros de Nicolas — isso é para dar espaço para o arco — Amélia disse perto do ouvido de Nicolas o que fez ele sentir um arrepio pelo corpo — respira fundo, mire na árvore e solta.
Nicolas estava embriagado pelo cheiro de Amélia, sua voz escorria como mel e fez o coração de Nicolas disparar, seu toque gentil e suave, ele tentou recobrar a consciência e controle de seu coração, mirou na árvore e acertou seu centro..
— Parabéns, Vossa Alteza — Amélia aplaudiu o tiro certo de Nicolas.
— Obrigado, foi mais fácil desta forma.
Ambos se olharam por um instante, os corações deles batiam na mesma intensidade. Amélia sentia suas pernas fraquejarem na presença dele, seu coração batia freneticamente, ela sentia a respiração do futuro rei tão próxima, sua boca se encheu e sua garganta ficou seca. Aqueles olhos azuis como pedras safiras e deixou Amélia sem logo, o brilho dos olhos dele poderia causar inveja as estrelas do céu.
— Então — Amélia deu um passo pra trás já que eles estavam perigosamente perto — existem outras coisas que você deve saber na hora de caçar.
— Como o que? — Nicolas sorriu, ele estava com o coração cheio do jeito que Amélia o olhou o deixou tão feliz, ele desejou beijá-la e teria feito se não fosse a possibilidade de tomar uma flechada de Arthur.
Ambos caminharam pela floresta, Amélia explicou que Nicolas deveria saber a velocidade dos bichos para saber o percurso que eles vão se eles forem pra longe, todas as dicas foram valiosas. Nicolas acertou uma grande ave na caçada, ele a carregou orgulhoso quando voltaram ao encontro de Arthur.
— Parabéns, Majestade é uma bela ave.
— Obrigado
— Você ficou com zero Amélia? — Arthur sorriu vitorioso
— Primeira vez das últimas três que você ganha, não se gabe muito
— Devemos voltar a corte então. — Nicolas falou de forma séria
— Pensei que podíamos cavalgar um pouco mais. — Amélia pareceu decepcionada em ter que voltar.
— Eu acho chato ter que ser seguido enquanto cavalgo, mas se você quiser dar uma volta, posso te acompanhar.
— Não majestade, se não te agradar, eu vou com meu irmão.
— Meu dia foi programado pra você, Amélia. Não se preocupe
Nicolas ajudou Amélia a subir em seu cavalo, o rapaz amarrou a caça sobre seu cavalo e voltou para o castelo andando enquanto Nicolas e Amélia foram cavalgar pela floresta, Arthur sabia que era um lugar então mesmo em relutância de suas emoções deixou eles sozinhos.
O rapaz presenciou o quase beijo deles, ele sentiu vontade de flecha-lo mas por outro lado ele viu o brilho nos olhos de Amélia, sua menina havia virado uma mulher e ele não notou.
Quando chegaram perto do portão encontraram Arthur entrando pelos portões da corte, havia pessoas preocupada com o Nicolas já o que rapaz apenas deixou um bilhete sobre mesa escrito "fui caçar".
Olavo chegou correndo até os estábulos, Nicolas segurou a cintura de Amélia e ajudou a descer, ele sentiu novamente seu corpo ficar tenso e seu coração acelerar, mas foi despertado pela voz de Olavo, ele segurou seu casaco bravo.
— Foram aonde sem mim? — o menino perguntou ao irmão, seus braços estavam cruzados e seus olhos visivelmente magoados.
— Dar uma volta no reino e caçar — Nicolas se aproximou do cavalo de Amélia segurou em sua cintura e a ajudou a descer do cavalo
— Eu gostaria de ter ido.
— Depois que você aprender a usar a flecha — Nicolas disse enquanto afagou o cabelo do irmão gentilmente. — poderia matar alguém com sua mira ruim.
— Obrigada pela companhia Majestade.
— É, você abrilhantou nossa caçada — Arthur sorriu para Nicolas, ele e Amélia se curvaram
— Da próxima vez irei trazer o cervo.
— Duvido muito Alteza — Arthur disse sabendo das habilidades ruins com o arco e flecha de Nicolas
— Você verá — Nicolas sorriu para nós, saiu acompanhado do jovem príncipe e eles foram conversando enquanto Nicolas respondia as milhares de perguntas
— você verá.
O futuro rei aceitou o desafio de tentar impressionar o irmão de Amélia apesar de seus olhos estarem mais tranquilos. Nicolas sorriu para eles, saiu acompanhado do jovem príncipe e eles foram conversando enquanto Nicolas respondia as milhares de perguntas
Arthur acompanhou Amélia até seus aposentos
— Vi que você o ensinou a atirar.
Amélia sabia que seu irmão jamais deixaria ela sozinha com um rapaz, sua face ruborizou quando ela se lembrou daquele momento e dos olhos de Nicolas.
— Eu notei que estava vendo, você parecia muito calmo pra alguém que não estava vigiando. — A moça respondeu tentando desviar do assunto.
— Ele me parece alguém gentil — Arthur olhou para sua irmã, buscou em seus olhos algo, no fundo ela concordava com ele.
— Acha que devo me casar com ele?
— Amélia, isso quem decide é você. Sabe que a família vai te apoiar, como sempre fazemos.
— Acredita que posso me casar com o rei sem contar minha situação anterior?
— Acredito que deva esclarecer a situação antes de casar com o rei.
— e a Dominique?
Arthur ficou em silêncio com a pergunta de Amélia, ele deu de ombros o que dizer para moça? Ele não sabia a profundidade do relacionamento de Dominique e Nicolas. Ele descobriu pelas servas que o colar apesar de Dominique contar que foi um presente do rei era algo dado por seu pai, descreveram ele como ambicioso e que venderia a filha a qualquer preço.
Uma das mulheres comentou a inexperiência do rei, ele apenas conhecia aquela moça e dizem que por isso ela o envolveu. Não que isso tivesse relevância, o que era importante era apenas a felicidade de Amélia.
Nicolas foi seguido por Olavo até seus aposentos, o pequeno tagarela deve ter feito um número bem grande de perguntas. Ele se despediu de irmão quando chegou no quarto, se sentou em sua poltrona um sorriso bobo surgiu em seus lábios, ele se lembrou de Amélia, como quando estava perto dele ela pareceu tão perturbada quanto ele.
A rainha entrou nos aposentos de Nicolas, ele não notou sua presença, o sorriso de Nicolas fez o coração da rainha se apertar, seu filho estava feliz.
— Como foi sua caçada?
— Ótima, minha mãe. Amélia é uma moça doce e gentil, acho que ela se destaca pela sua ótima personalidade. — Nicolas cobria a moça de elogio com um sorriso nos lábios, tudo o atraia, sua pernas, sua boca, seus cabelos, seu sorriso, sua gentileza, ah sim o rei estava apaixonado apenas não tinha notado
— Pensa em se casar com ela?
— Não disse isso, o pai de Dominique deve responder sobre o dote.
Isso não deixava de ser verdade, Nicolas esperava a resposta sobre o fato do esposo de Catarina iria pagar o dote de Dominique, além de precisar de autorizações para se casar com Dominique já que a jovem ainda não estava em idade. O futuro rei não sabia o que sentir em relação a isso, apesar de os momentos com a Amélia serem incríveis ele sentia que tinha uma responsabilidade com Dominique.
— Eu tenho um presente para você — A rainha caminho até Nicolas e entregou alguns cadernos — são diários do seu pai, da época da coroação. Pode te ajudar e escrever para os seus filhos também para que eles tenham o que consultar. Talvez seu pai tenha resposta para ao seu dilema. — ela beija o rosto do filho eternamente — e sobre a família de Dominique, eles não têm condições de pagar seu dote, nem se quer metade do que pedimos. O marido de Catarina não irá pagar, já que a moça não está na idade de casar.
— Dominique tem me assustado ultimamente. Ela anda possessiva, estranha e faz com que eu me sinta culpado por tudo. Sem contar os comentários maldosos que faz sobre Amélia, a moça nem responde. — Nicolas se sentia confuso em relação a isso, por muitas vezes Dominique ataca Amélia com palavras, Olavo disse que viu ela expulsar Amélia da biblioteca.
— Hoje ela está ainda pior.
— Como assim? — Nicolas olha para sua mãe confusa.
— Na corte só se comenta da sua entrada no quarto da Amélia e seus gritos pelos corredores
— Que exagero, não foram gritos só queria falar com ela. — Nicolas tenta fingir que a história tinha sido aumentada. Ele sabia que existia plausibilidade nos comentários dos servos, até ele se incomodou com sua própria cena.
— Aí você sai no dia seguinte e passa o dia todo fora com ela
— E o irmão dela — ele completa
— Dominique está brava. Eu a acalmei e expliquei a situação, mas creio eu que ela esteja chateada pela carta do pai e pelo casamento de vocês está cada vez mais longe. Deixe ela quieta por enquanto, ela precisa pôr a cabeça no lugar.
Nicolas não respondeu, tudo que ele tem feito é tentar acalmar a moça porém não conseguia mais e estava tão cansado de discussões. Ele tinha um dever com seu povo e seu reino e esse era maior que qualquer outro. A rainha saiu do quarto do futuro rei que no impulso se sentou para ler o que seu pai tinha a dizer. Seu pai era um bom rei, melhor rei do que pai pelo que Nicolas se lembrava. Nicolas sabia de suas obrigações com o reino já que todas as conversas com seu pai era sobre isso, seus deveres.
" Dia 07 de Janeiro
Em breve será a minha coroação, resolvi fazer esse diário para contar aos próximos reis que a cabeça que carrega a coroa é mais pesada do que se imagina.
Eu nasci com a obrigação de ser o rei, sempre tive uma educação diferente dos meus irmãos, fomos separados quando jovens. Ninguém gostaria de correr o risco de colocar no poder alguém que não esteja preparado.
Meu pai, o rei Júlio escolheu dentre belas moças uma jovem inteligente e educada, ela parecia ser uma grande mulher. A escolha dele não foi apenas para a futura rainha, mas aquela que iria educar os próximos a reinar. Eu não a conheço direito, mas ela demonstrou ser gentil comigo e entender as necessidades que um homem pode ter.
Parece que como fui criada para ser rei e ela foi criada para ser rainha, todas as nossas conversas são estimulantes, interessantes e divertidas. Essa noite meu pai decidiu que deveria me casar em duas semanas. Elizabeth foi informada também que devemos gerar os próximos herdeiros do trono o mais rápido possível. É inédito um homem que vai abdicar ao trono sem ser por sua morte. O rei disse que desejos simples como brincar com seus netos e caçar as vezes, eu espero que ele tenha uma vida tranquila."
"dia 21 de janeiro.
Hoje é o dia do meu casamento com Elizabeth, passamos a noite anterior a esse dia juntos conversando. Falamos que poderíamos selar nossa aliança com uma amizade baseada em honestidade. Ela entende que o nosso caminho não será sempre feliz mas está disposta a seguir comigo."
"dia 24 de janeiro.
Após a festividade passeamos pela corte como um casal, Elizabeth preferiu ter seu aposentado ainda separado de mim, eu entendo que ela queria seu espaço real. Ela conseguiu encantar a todos com seu jeito, e vamos começar a produzir os herdeiros o mais rápido que conseguirmos, estamos ansiosos e o rei disse que se isso não ocorrer talvez seja melhor procurar uma nova esposa ou companhia."
Antes que Nicolas pudesse continuar lendo os relatos de seu pai, ele foi chamado com urgência na corte para definir um novo pedido dos nobres. A leitura começou a ser interessante apesar de ser um pouco decepcionante ver que seus pais não se casaram apaixonados, ele entendeu isso com clareza. Escolhas do coração não são as mesmas do reinado, isso deve ser sempre bem apontado pelo rei, seu pai falava isso "amor é uma construção". Nicolas podia ver o quanto seus pais se amavam, mas pelo visto nem sempre foi assim.
— Então, sua majestade já decidiu sobre o casamento? — um dos ministros perguntou avaliando a posição do futuro rei.
— Ainda não.
— Avaliamos todas suas opções alteza e realmente Amélia parece ser a solução para nós.
— Vocês estão falando de uma pessoa e se ela não desejar casar com o rei? — Nicolas disse quase irritado
— Não é uma decisão dela e sim da família.
— Ele está pensando sobre isso — a mãe de Nicolas sorriu para os ministros gentilmente — e temos outras propostas
— Nenhuma chega aos pés do pai de Amélia. Ele representa nossa melhor opção.
— Estou avaliando a opção de um noivado — Nicolas disse para colocar fim ao assunto
Todos ficaram em silêncio após o posicionamento tão firme de Nicolas, ele saiu da sala do trono e foi até seus aposentos novamente estava tarde e ele desejou descansar depois da caçada com Arthur e Amélia.