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CHAPTER 2

Depois de um banho de espuma, Lúcia deitou na cama de camisola e escrevera no seu diário.

Querida Rapunzel...

Eu tenho uma má notícia para te dar... O guerreiro espinhoso voltou. E eu que pensei ter me livrado desse tipo de gente. Ele não deveria ter sumido do mapa? Porque está de volta? Afinal ele abandonou seu castelo e seu principal escudeiro de batalha. Agora eu não sei o que o espinhoso pretende aqui, espero que não me atormente como hoje... E aquela Cibelli que se acha? Você não sabe do que ela é capaz? Para minha decepção ela se revelou uma terrível bruxa da ópera do balé. E eu que pensava nela como um "cisne perfeito" ou a cinderela depois de casada com o príncipe, brs... Nada disso, aquela tapa que a Cintia levou também doeu em mim.

Será que vou ter que suportar tudo isso para chegar ao estrelato? Não é possível isso... Mas eu tenho de fazê-lo R, pelo o meu pai. Ele tá ralando duro para pagar meus estudos e realizar meu sonho. Linda! Vou-me... Minha mami chegou finalmente, beijo R!

- Mãe como foi hoje? - Disse descendo a escada.

- O mesmo de sempre! - Disse Clarice bocejando. A mãe olhou que o armário de primeiros socorros estava mexido. - Você mexeu no armário de emergências filha?

- Ah! Foi o Vespa – mentiu.

- O cachorro? Como o Vespa poderia ter alcançado aqui? Você não se machucou na dança né?

- Não mami. Que isso? O Vespa, ele estava gemendo de dor e eu fui ver o que era.

- Deve ter sido aquela orelha dele de novo né?

- Isso mesmo. Nossa como você acertou? O Vespa coçou de novo e sangrou feio, muito feio - Lúcia mentiu.

- Então vamos jantar. Amanhã é meu dia de folga. Só quero saber do meu travesseiro, netflix e pipoca.

Depois do jantar Lúcia ficou a lavar os pratos. Mergulhada nos pensamentos, com o olhar fixado na sua imagem refletida no vidro da janela na cozinha. Lembrou-se da tarde de chuva que passou quando tinha onze anos. O que no começo parecia divertido, passado uma hora depois se tornou apenas frustração. Aquele seu vizinho que era apelidado de espinhoso por dar cotoveladas e por usar uma luva com pequenos pregos que dava a impressão de um porco espinho quando o punho ficava fechado, e, ela, como seu escudeiro. Que era sempre incumbida por ele a ser como um menino, até se vestir como um. Lúcia vagava pela memória relembrando os momentos de aventuras infantis que vivera com o guerreiro espinhoso. Inclusive da vez em que o moleque travesso cortou seus cabelos para que parecesse mais masculino. Chorou por muitos dias com a falta de suas madeixas longas. A mãe teve de arrumá-la de maneira a consertar as falhas do corte mal feito. A chuva grossa que caia tomara forma de lama. O espinhoso lhe dera suas luvas e a espada de madeira que fizera pessoalmente, a surpreendeu com um beijo na bochecha.

"Escudeiro. Eu vou deixar o meu castelo, cuide das armas" - foi o que disse, dando-lhe um empurrão. O espinhoso se foi. Enquanto ela ficara a chorar na poça. Nunca entendera o porquê ele a teria deixado assim. Depois de três dias não o vira mais. Toda tarde olhava do portão de casa para ver se o garoto vinha chamá-la para brincar. Lúcia bocejou se deslocando da nostalgia. Subiu para o quarto. Deitou-se. Pensou no beijo que Marcos roubou. Aquele beijo atrevido que despertou as lembranças escondidas.

***

Marcos tomara uma dipirona para aliviar as dores que ainda insistiam. Olhou-se no espelho para ver como estava o rosto. Apanhara feio. Se livrar de cinco adversários não foi fácil. Os tais não aceitaram a derrota de um deles, e foram buscá-lo a fim de se vingar. Ainda sentia o peso dos punhos deles no peito. Tomara um banho quente. O rosto de Lúcia veio em sua mente, esmurrou a parede - '' Por que você teve que ser uma garota'' - disse alto. Saiu do banheiro. Ao ver a mãe, cobriu o rosto com a toalha para que ela não visse.

- Tudo bem filho? - Indagou Mayara reparando em Marcos que permaneceu com a testa contra a parede. - O que você tem Marc? - Ele não queria que sua mãe visse seu rosto, não esse rosto esborrachado de murros. Entrou de volta no banheiro. - Não é nada mãe. Eu estou ok... - Respondeu.

- Hoje seu primo ligou.

- E daí?

- Acho que ele quer tentar alguma coisa mesmo com você - Mayara tentara induzir o filho para se relacionar com alguém do lado biológico paterno.

- Maya você não me disse qual primo ligou? - Disse Marcos, apesar de supor de quem se tratava quis deixar a mãe pensar que tinha algum interesse.

- Ricardo. O de Brasília - Confirmou a mãe.

- Mas que guri insistente, não quero nada dele.

- Ele não quer te dar nada filho.

- Outro motivo que não me interessa - a mãe ficara na porta do quarto do filho, enquanto ele havia se refugiado no banheiro.

- Olha filho! Eu só quero que... - Mayara respirou fundo, ela tinha medo de não poder resistir a mais uma cirurgia e desejava que de alguma forma o filho ficasse seguro. Marcos percebeu a respiração forte da mãe, não queria irritá-la persistindo na conversa.

- Mãe, mãe... Eu não quero falar mais. Certo? Quando o Ricardo ligar de novo dá o número do meu celular para ele ok.

- Tudo bem filho, vou tomar meu remédio e dormir. Você vai sair hoje?

- Não. Hoje não.

A manhã não veio bem para os três amigos. Jânio sentia-se deprimido pela discussão que teve com seus pais. Rafaela pintara o cabelo de vermelho e colocara piercing no lábio inferior acompanhado de uma tattoo próximo ao lábio superior. O que era nada menos que uma simples pinta preta, mas foi o suficiente para deixar seus pais desgostosos. E Lúcia estava abatida por ter mentido para sua mãe sobre o cachorro.

O elogio de um colega punk fez Rafaela se sentir radiante abrindo-lhe um sorriso malicioso no rosto. No intervalo no canto do pátio, Jânio fora mais uma vez a chacota de alguns colegas. '' Você é uma bicha. Só anda com aquelas garotinhas sem graça'' isso acrescentou mais ainda seu grau de depressão. Rafaela tentou rebatê-los, mas foi em vão. O grupinho formado por oito alunos do 3° ano davam sempre um jeito de mostrar sua dominância sobre qualquer um que eles marcassem para massacrar com insultos violentos. Lúcia não estava de fora da lista deles, na qual os denominava bullyngaticos.

Os três amigos foram apanhados pelo o grupo que os cercaram em um círculo de covardia perto do banheiro, onde o olhar de algum professor não pudesse alcançá-los. Dentro do banheiro o eco de suas vozes agressivas aquietou Marcos e alguns poucos que também lá estavam, subiu no vaso sanitário e pode vê-los pela fresta da janelinha. Observou bem seus rostos. Desceu. Saiu do privado para lavar as mãos, no entanto encostou um dos colegas que tentara se desviar para sair do banheiro.

- Me fala o nome de cada um deles! - Marcos pediu grosseiramente.

- Não sei.

- Cara... Fala ou então vou arrancar teu fígado fora - mostrou ao rapaz pressionado por ele contra a parede, um punhal tailandês que ganhara do seu tio Gilberto.

- Ok mano. Adonis, Hayden, Gurgel e... Olha, os dos outros eu não sei... Juro! - Disse o garoto tremendo ao encarar o punhal.

- De que ano eles são? - Marcos o forçou mais.

- Terceiro... São do terceiro ano.

- Vai! Vaza daqui Mané.

Marcos contornou por fora na intenção de confrontar o tal grupo, quando se aproximou pode ver que um deles assediava Lúcia com uma das mãos. Mas o sinal tocara neste momento, então os malfeitores se dispersaram rapidamente sem dar chance de alguém repreendê-los. Os olhares dos três amigos afundados em amargura davam a impressão de conformismo. Já tinham passado por essa agressão outras vezes, apesar de já terem feito algumas denúncias. Os bullynaticos os apanhavam de alguma forma.

- Como podem deixar esses babacas fazerem isso com vocês? - Indagou Marcos em tom irritante.

- Ah! É o idiota que quase nos derrubou na escada da outra vez né... - Insultou Rafaela.

- Agora você me agride em vez deles? - Replicou Marcos.

- Não precisamos de você aqui - Expôs Lúcia.

- Por mais que tentamos, esses bullynaticos não param, nunca vão parar - Falou Jânio em profunda melancolia.

- Aha. Não precisam de mim aqui? - Disse Marcos encarando Lúcia. - Não precisam de ninguém, que se ferrem - Marcos os deixou como estavam, recostados na parede atrás dos banheiros do colégio. Ele se sentira invadido pela injustiça pela qual Lúcia e seus amigos passavam, ficara inquieto com isso, não conseguia refletir no que poderia fazer quanto a essa questão. A raiva o consumia até a garganta.

Após saírem do colégio, Jânio, Rafaela e Lúcia foram abordados novamente por Adonis e seus companheiros em uma das ruas que cortavam a Treze de Maio. Dessa vez Jânio não se segurou. Na tentativa de acertar a mochila em um deles só piorou a situação complicada em que se encontrava. O celular de Rafaela fora quebrado subitamente por Hayden.

- Porque não chama o papai Janinha? - Debochou Hayden.

Inesperadamente Marcos apareceu e sem nenhuma cerimônia esbofeteou Adonis no rosto, fazendo o nariz sangrar. Apertou com uma das mãos o pescoço de Hayden e fez um risco com a ponta do punhal na face dele. O restante não tentou revidar, mas prometeram revanche, então se foram.

- Então venham! Venham fazer a revanche agora, panacas - disse Marcos enfurecido.

- Valeu cara! - Agradeceu Jânio a Marcos.

Antes que Marcos se fosse Lúcia segurara seu braço.

- Espera. Desculpa eu ter sido grossa com você antes. Obrigado! - Expressou Lúcia com olhar de culpa.

Marcos voltara seu olhar para ela.

- Só não espere se apaixonar por mim depois dessa, gatinha. E, isso vale pros seus amigos também.

- Metido! - Disse Rafaela

- Ei Jânio. Aparece na academia de boxe do meu tio - Convidou Marcos estendendo um cartão de visita para Jânio, que o aceitou.

- Eu vou mesmo cara - Confirmou Jânio.

Virou-se determinado a ir embora, enquanto os três amigos se separaram e partiram para direções diferentes. Lúcia chegara atrasada ao ensaio de dança isso lhe custou um sermão de Cibelli.

- Nem pense em subir no étape sua ratazana! - Gritou raivosa Cibelli.

- O que? Você me chamou de ratazana? - Replicou Lúcia.

- Sim - Respondeu. - Foi isso mesmo. E chamarei quantas vezes eu quiser - implicou Cibelli.

- Eu admirava tanto você? Mas agora você se demonstrou como uma cadela no cio.

- Como você é capaz de me desrespeitar assim? Sou sua maîtresse! - Cibelli enfureceu-se de tal maneira que as veias do rosto se revelaram como ligas grossas de borracha pálidas, uns poucos cabelos ruivos estamparam sua testa, seu corpo se esguichou para cima apoiando-se nas pontas dos pés, fez um escarro imperceptível na boca, cuspiu e atingiu o ombro de Lúcia.

- Aaarrrs! Como pode? Sua rata vadia! - Declarou Lúcia com a raiva estourando entre os dentes.

Subiu no palco com determinação e levou a mão direita com voracidade na face de Cibelli. Os outros bailarinos sorriram discretamente comemorando o feito, o que no fundo alguns gostariam de fazer o mesmo.

- Estou deixando esta companhia, perdi o prazer de fazer parte dela, tenho nojo da sua cara ratazana vadia... Bya! Bya! AU REVOIR! - Lúcia saíra em disparada. Limpou a saliva com a echarpe. Caminhou o restante da tarde pela rua XV de Novembro. Entrou numa lanchonete e encheu-se de x-burgueres gordurosos, refrigerantes e sorvete. Chegara a casa com mal estar, seu estomago sensível não suportara digeri tanta proteína animal depois de três anos sendo vegana. Correu para o banheiro e vomitou tudo que comera. Ligou a torneira e entrou na banheira relaxando na espuma. Depois ficara só de roupão na cama escrevendo no seu diário.