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Capítulo 8

Capítulo 8

Parado na Chuva

Gabriel:

Estou deitado em minha cama, me sentindo sem ânimo nenhum para fazer qualquer coisa. São nove horas da manhã, e ainda nem escovei meus dentes. Simplesmente acordei a mais de uma hora atrás e tudo que fiz foi abrir meus olhos.

Eu estou confortavelmente olhando pro teto. Inferno.

Na verdade, quase não consegui dormir a noite passada.

Depois que saí do apartamento do Alex , vim direto para casa e como sempre, contava somente com a presença dos empregados. Nada novo sob o sol. Meus pais raramente ficavam em casa, meu pai vivia para sua empresa e minha mãe que era uma ex modelo aposentada, ainda convivia com todo o glamour da fama.

Passei o resto da tarde e boa parte da noite de ontem me remoendo com o que deixei acontecer entre Alex e eu.

Droga. Mil vezes droga.

Por que eu me deixei levar? Qual a parte do "Eu não quero perder meu melhor amigo' eu deixei passar? Eu estava louco? Perdi o juízo? O que realmente tinha acontecido comigo?

Por que não era possível que apenas ver o Alex bebendo uma coca-cola idiota me fizesse esquecer desse importante detalhe.

Irritado, chuto meu cobertor sentindo meu corpo todo se aquecer com as lembranças do que fizemos naquele sofá. Sinto que estou ficando duro, só de lembrar da sensação de ter o Alex em minhas mãos.

Porra. Que loucura era tudo isso? Como eu iria me sentar naquele sofá novamente, e não me recordar de estar tão intimamente ligado ao Alex , como naqueles poucos momentos em que nos agarramos ali?

"Você é um tremendo idiota, Gabriel Bianchi", penso enquanto me levanto e vou direto pro chuveiro. Sou um tremendo de um idiota. Não era culpa do Alex o que aconteceu ontem. Era culpa estritamente minha. Eu era o cara movido apenas pelos hormônios... Eu devia ter me controlado, porra.

Alex poderia usar de desculpa que os sentimentos dele por mim o fizeram se deixar levar por aquele breve momento de descontrole. Mas e eu? Que desculpa eu tinha para ter começado aquilo? Eu não conseguia me entender e pensar muito nisso estava apenas me dando uma baita de uma dor de cabeça.

Droga. Eu ferrei com tudo.

Alex :

Conversei bastante com o Kao, por mensagens, na noite anterior. Ficamos até tarde batendo papo e falando coisas aleatórias sobre filmes e músicas. Ele é realmente um cara legal. Mas mesmo assim eu me sentia totalmente inseguro para me encontrar com ele hoje a noite.

Faltam menos de vinte minutos para dar o horário de eu ir embora da doceria, e toda hora levo meu olhar para a mesa em que o Gabriel sempre senta para me esperar. Mas hoje, depois de quase dois anos contando com a carona dele pra me levar pra casa, ele não viria. Claro que não viria... Não depois de ontem.

No fim, todo nosso esforço para que o tal plano de não prejudicar nossa amizade por causa dos meus sentimentos por ele estavam indo pelo ralo.

Eu ainda podia sentir a maciez dos lábios dele sobre os meus e tudo que ele me fez sentir em questão de minutos. Eu daria tudo pra voltar atrás e não ter deixado aquilo acontecer.

Não sou hipócrita de falar que não tinha gostado. Não era isso. Gostei, até demais. Mas o fato é que aqueles breves momentos de luxúria, podem ter feito nossa amizade de anos ter chegado ao fim. Prova disso, foi ele não ter aparecido hoje para me buscar.

Olho meu celular e penso em mandar uma mensagem pra ele. Perguntando apenas se está tudo bem. Mas desisto, pois na verdade sou um covarde. Se ele não queria mais me ver, então era melhor eu ir me acostumando a ir embora sozinho. Era apenas uns poucos minutos a pé. Nada demais...

Antes de ir me trocar, embalo o pedaço de torta que havia separado quando percebi que ela estava quase acabando na vitrine. Eu era um idiota, eu sei. Mas enfim...

Me despeço dos outros funcionários e quando saio da doceria, percebo que uma garoa fina estava caindo. Perfeito. Acho que o cenário não poderia ficar pior. Eu iria andar debaixo de chuva, com esse humor negro e ainda por cima a maldita torta embalada em uma sacola de papel.

Provavelmente estaria encharcada em poucos minutos, fazendo com que o doce se estragasse. Foda-se. Talvez eu jogue a sacola no primeiro contêiner de lixo que eu encontrar.

Dou alguns passos e quando os primeiros pingos de chuva gelados caem sobre mim, fecho meus olhos sentindo uma vontade imensa de chorar. Eu realmente o perdi?

Ahhh Gabriel... Me desculpe por te amar. Eu juro que não queria que isso acontecesse. Eu juro que ...

- Você está louco? - abro meus olhos ao escutar a voz dele a centímetros de mim. - Por que está parado na chuva?

- Você? - será que ele estava realmente na minha frente ou era uma peça que a minha própria mente estava me pregando?

- Vem. - ele me puxa pela mão, me levando para o lugar onde o seu carro estava estacionado. - Eu vi quando você saiu da doceria. Eu te chamei, mas você não me escutou. Droga Alex , você me obrigou a me molhar. - ele reclama ao abrir a porta para mim e me empurrando para dentro do carro. - O que há com você? Parece um zumbi.

Quando estamos os dois dentro do carro, o encaro chocado ainda sem acreditar que ele estava à minha frente.

- Você veio.- Digo, idiotamente.

- Claro que vim. - ele olha para frente, fugindo do meu olhar. - Eu sempre... - ele abaixa o tom de voz. - Quando foi que eu não vim?

- Obrigado. - Era por isso que nossa amizade sempre foi especial. Não importa o que aconteça entre nós, sempre podemos contar um com o outro. Mesmo que seja apenas para uma droga de carona num dia de chuva. Ele sempre estaria ali por mim. E eu sempre estaria aqui por ele.- Toma.

Entrego a ele a sacola um pouco úmida, mas felizmente nada que pudesse estragar seu conteúdo. E o sorriso aberto dele, todo bobo e infantil me aquece de dentro pra fora.

- Minha favorita. - com os olhos brilhando ele vê a fatia de torta e quando me olha de volta é como se tudo que houve ontem, não tivesse importância. Estávamos juntos e isso era o que contava. Sabe, quando se é criança e você discute com seu melhor amigo por algo sem importância e acha que nunca mais irão se falar de novo? Mas daí quando se encontram novamente, é como se nada tivesse acontecido? Era assim que eu me sentia agora ao lado do Gabriel. Éramos melhores amigos e parece que nem os beijos quentes no meu sofá poderiam atrapalhar isso. E porra, eu estava tão aliviado que não conseguia parar de sorrir.

Não demora muito e logo estamos no meu apartamento. Estávamos bem, mas ao mesmo tempo o clima tenso ao olharmos para o sofá se instalou no ambiente.

- Bom, vou me trocar. - digo, tentando ganhar tempo. Sei que nossa conversa agora não poderia ser adiada mais do que isso.

- Certo. - ele diz e para minha completa surpresa se senta no sofá menor. Claro que as coisas não iriam continuar exatamente as mesmas, não é?

Vou pro meu quarto e me troco, descartando a roupa úmida e colocando algo quente e confortável. Respiro fundo e tento adquirir um pouco de coragem para retornar a sala.

Quando o vejo ele está comendo a torta, calmamente.

- Eu adoro isso. - ele diz, saboreando quase o último pedaço.

- Eu sei.

- Me desculpe, por ontem. - ele solta do nada, sem me olhar. Continua encarando a torta.

- Me desculpe, também.

- Eu não sei por que eu fiz aquilo eu só... Droga Alex , eu não sei o que aconteceu.

- Gabriel, apesar de você ter começado aquilo eu não posso apenas te culpar. Por que no fim das contas eu não tive forças para lutar contra. E acabei deixando o que eu sinto por você me dominar e não consegui parar...

- Hey... - ele se levanta e fica de pé em minha frente. - Não se culpe, ok? Eu não deveria ter te beijado. E prometo que não vou deixar acontecer de novo.

As palavras dele fazem meu estômago despencar, por que no fundo isso era o que eu não queria. Mas sei que pra nossa amizade dar certo, teria que ser naqueles termos.

- Ok. - digo, sem vontade nenhuma.

- Ok. - ele responde, mas olha insistentemente para minha boca, fazendo um calor se centralizar pouco abaixo da minha cintura.

Ficamos assim meio hipnotizados um pelo outro, até o celular dele começar a tocar. Ele franze a testa e atende com uma cara feia no viva voz.

- Oi, mãe.

- Gabriel, onde você está? Você tem uma sessão de fotos daqui a pouco. E nem está em casa.

- Mãe, isso é só às três da tarde. - ele revira os olhos e eu sorrio de volta.

- Gabriel Bianchi, você sabe que precisa chegar com antecedência.

- Eu já estou indo, mãe. - e então ele desliga. - Os únicos momentos em que ela se lembra de mim, são quando eu tenho algum trabalho.

- Então vai antes que ela venha aqui te buscar, igual da última vez. - insisto o empurrando porta afora, tendo arrepios só de lembrar desse ocorrido.

- Medroso.

Gabriel:

Uma das poucas coisas que eu me orgulhava em fazer bem, era a modelagem. E sentir orgulhoso disso era algo que eu adorava. Foram mais de duas horas que passei no estúdio, posando fazendo caras e bocas, mas eu me divertia então, nem sentia a hora passar. Apesar de algumas sessões serem cansativas, ver o resultado depois e a equipe contente com o trabalho me deixava realmente feliz.

Então se eu levar essa história de modelo realmente a sério eu poderia facilmente me profissionalizar nessa área.

Minha mãe sempre me acompanhava, e na maioria das vezes me fazia passar raiva. Mas eu me segurava para não discutir. Não valia a pena.

Quando enfim consigo me livrar dela já é noite. Ela ficava me rodeando, com um papo esquisito sobre eu ir estudar fora do país. E isso estava fora de questão.

Depois de um banho demorado, desço para jantar e enquanto espero ser servido, sozinho, já que com certeza minha mãe estava fazendo algum tratamento de beleza e isso inclui nunca jantar, papai estaria preso no escritório, fingindo que a gente não existe como sempre. Pego meu celular e fico vendo minhas redes sociais. Já fazia tempo que eu não olhava nada.

Do nada paro na foto que faz meu estômago dar uma pequena reviravolta. Ele era lindo e eu sempre soube disso. Mas apesar de me perder brevemente na beleza daquele olhar, foi a localização da foto que me fez perder o raciocínio.

Alex Cooper: em Red Moon Bar.

A postagem tinha menos de dez minutos.

Mas que merda. Eu me esqueci da porra do encontro.