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Capítulo 11

Capítulo 11

O Destino e a Bruxa

Gabriel:

Eu estava em uma inconsciência muito confortável. Sem nem abrir meus olhos, começo a sentir meu corpo despertar. Sinto dois braços me prendendo por trás e o calor do corpo colado ao meu, fazia eu me sentir estranhamente seguro.

Me aconchego mais, como se estivesse com receio daquele momento terminar. Mas então, minha consciência acorda de vez e eu me sinto tenso. Abro meus olhos, tentando não entrar em pânico ao me dar conta de que a pessoa atrás de mim é meu melhor amigo, e que passamos a noite fazendo o sexo mais louco e intenso da minha vida.

Certo. Preciso controlar meus batimentos cardíacos, controlar minha respiração e não pensar em fugir desesperado para as montanhas. Era Alex aqui comigo. Caralho! ERA ALEX AQUI COMIGO!!

Sempre soube que ele tinha o sono mais pesado de todos, e que ele apenas acordava automaticamente quando era hora de se levantar, sem precisar de despertador. Sempre achei essa façanha incrível.

Ainda devia ser de madrugada porque ele não havia acordado, e além do mais, ainda estava muito escuro para já ter amanhecido. Me viro devagar, mas não estou preocupado em acordá-lo, ele realmente era uma pedra quando dormia. Mesmo com meus movimentos ele continua apagado, apenas dando um leve resmungo sem me soltar em nenhum momento.

Meus olhos já acostumados com a escuridão do quarto, conseguem distinguir toda a feição do Alex. O que me leva a ter absoluta certeza de que ele era a pessoa mais linda que já vi dormindo. Sério.

Nossos rostos estão tão próximos agora que consigo sentir sua respiração calma e apaziguadora sobre mim. Sua boca levemente aberta, tinha um formato tão delicado e ao mesmo tempo tentadora. Seus olhos fechados exibindo cílios perfeitos, sua pele sem nenhuma mancha ou algo que a prejudicasse.

Sem pensar, levo uma de minhas mãos e tiro uma mecha de cabelo que caía em sua testa. Por mais que eu me esforce meu coração ainda continuava acelerado. Fico uns minutos assim, apenas o encarando, tentando entender toda aquela gama de sentimentos malucos que passavam por mim agora, até que ele me aperta mais ainda e sussurra:

- Gabriel? - seus olhos ainda estão fechados.

- Hum?

- Não deixe a janela da cozinha aberta. - ele resmunga parecendo preocupado. - Os pássaros...

Uma ruga de preocupação aparece em suas feições. Mas ele continua dormindo. Sorrio. Então ele é do tipo que fala enquanto dorme?

- O que tem os pássaros? - pergunto, achando que ele não responderia.

- Se eles entrarem aqui, vão fazer bagunça. - ele realmente parece preocupado. E eu acho a coisa mais fofa do mundo.

- Alex? - minha voz sai tão baixinha que talvez ele nem escute. - Você não vai me deixar, não é?

- Nunca.

Então meu coração se acalma pela primeira vez desde que eu soube dos sentimentos dele por mim. Fecho meus olhos com um sorriso confiante em meu rosto e me aconchego mais nele. Uso seu peito como travesseiro e em poucos minutos já estou apagado também.

Eu realmente estava feliz. E isso foi uma tremenda surpresa.

Alex :

Como sempre, eu acordo na hora certa. Meu despertador biológico nunca falhava. Sei que deve ser sete da manhã, e eu preciso me levantar pra me arrumar para ir trabalhar. Antes de abrir meus olhos, sinto meu nariz irritado com alguma coisa fazendo cócegas nele. Quando vejo cabelos castanhos escuros próximos demais do meu rosto, fico tenso. As lembranças da noite passada vívidas demais em minha memória vem com tudo e eu sinto o ar fugir de mim.

Não foi um sonho.

Ele estava aqui comigo, quente e acolhido em meus braços. Tão surreal quanto todos os meus sonhos com ele. Quero me mexer o mínimo possível para que ele não acorde e saia correndo daqui. Sinto um frio na barriga só de imaginar como ele iria reagir ao acordar. O que se passaria na cabeça dele?

Com certeza ele iria fugir de mim.

Mas ele parecia tão confortável agora. Como se ter meus braços em volta dele, fizesse com que ele se sentisse seguro. Eu não queria que essa sensação acabasse. Eu não queria que ele fugisse de mim assim que acordasse. Mas era isso que aconteceria, não é?

- Já são sete horas? - a voz dele me surpreende. Ele estava acordado?

- O que?

- Se você já está acordado é porque já deve ser sete horas. - ele abre os olhos e me encara. - Oi.

- Oi. - digo, nervoso.

- E então? Já são sete horas?

- Sim. - respondo, surpreso com a calma com que ele está se portando nesse momento.

- E por que você ainda está deitado? Você não vai me fazer sair daqui sem café da manhã, não é?

Ele se espreguiça e eu sigo seus movimentos. Tão... Apetitoso.

- Gabriel? Tá tudo bem com a gente? - pergunto, ansioso. Aparentemente, ele iria agir como se tudo fosse normal.

- Da minha parte sim. E você? - seus olhos fixos em mim, calorosos, me deixam mais apaixonado ainda.

- Tudo bem.

- Certo. - ele se movimenta e senta na cama, de frente pra mim. - Eu estive pensando...

- Sobre o que?

- Sobre nós.

- Nós? - meu coração dispara em meu peito como se tivesse acabado de correr uma maratona.

- Bom, é... Isso que nós fizemos sabe. - suas orelhas estão vermelhas, sinal de que ele estava com vergonha. - Podemos continuar se você quiser.

Suas palavras me fazem levantar também e me sento, ficando mais próximo dele de novo.

- Sério? - A ponta de esperança era demais pra mim, e conter meu sorriso era impossível.

- Sim. Eu meio que gostei sabe... - ele abaixa a cabeça, escondendo seus olhos de mim. - Do que fizemos aqui. E se você quiser... Bom, nós, você e eu...

Sem conseguir controlar a alegria que toma conta de mim eu o beijo. Ele não iria fugir. Ele queria mais...

- Eu topo. - digo, assim que nossos lábios se afastam.

- Ok.

- Eu sei que precisamos conversar mais sobre isso, mas eu realmente estou atrasado. - o empurro da cama e ele faz um biquinho muito fofo. - Vai tomar banho enquanto eu preparo nosso café.

- Não dá tempo nem de uma rapidinha? - meu corpo todo se arrepia, mas eu o afasto ainda rindo.

- Eu não posso me dar ao luxo de me atrasar, só por que agora tenho um amigo de foda.

- Amigo de foda?

- É isso que somos, não é?

- Gostei. - ele diz, antes de eu ir para o banheiro.

Enquanto preparava o café e o Gabriel estava no banho, fiquei pensando na mudança radical que aconteceu de ontem pra hoje. Talvez no fundo eu soubesse que uma hora ou outra isso poderia dar merda. Mas agora... Bom, agora eu só iria aproveitar. Ser amigo de foda do Gabriel, era mil vezes melhor do que ser apenas amigo dele. E eu iria aproveitar cada segundo antes que ele mudasse de ideia.

Gabriel:

Deixo Alex em frente a doceria e quase dou um beijo de despedida nele ali mesmo. Mas me seguro. Eu não precisava agir como um pré adolescente que acabou de descobrir sobre sexo.

Céus. Era apenas Alex ali na minha frente, sorrindo maroto enquanto se despedia de mim com um aceno de mão.

- Venho te buscar mais tarde.

- Ok. Eu guardo a sua torta.

- Hoje eu quero experimentar algo diferente. - digo me sentindo aventureiro.

- Sério? - o sorriso dele era como fogos de artifício ao meu redor. Brilhante. - O que você quer?

- Vou deixar você escolher. Tenho certeza de que você vai saber me dar algo que eu goste. - Sei que ele entende meu duplo sentido aqui. Sua risada descarada é prova disso.

Volto pra casa e me jogo em minha cama. Algo dentro de mim havia mudado de ontem pra hoje. Eu só precisava descobrir a magnitude de tudo. Mas eu não queria pensar nisso agora. Eu só queria fechar meus olhos e com um sorriso enorme em meu rosto, lembrar cada minuto da noite de ontem. E tudo que eu quero é repetir.

A manhã passa devagar, e eu resolvo jogar um pouco pra passar a hora. Quando vai chegando o horário de ir buscar o Alex, fico tão animado que mal me reconheço. O engraçado que nossa rotina continuaria praticamente a mesma, mas agora, com o sexo envolvido, o simples fato de buscá-lo na doceria já me deixava atiçado.

Eu estava tão ansioso, que chego uns bons minutos antes do normal. E por isso fico sentado, apenas o observando. Ele era realmente incrível. O sentimento de orgulho apenas aumenta em vê-lo trabalhando. Fazendo ele mesmo o próprio destino.

Quando ele vem em minha direção, trazendo nas mãos um prato com algum doce diferente dessa vez, espelhamos o sorriso um do outro.

- Chegou cedo. - ele diz, sentando-se na cadeira vazia à minha frente.

- Eu estava querendo muito um doce.

- Acho que você vai gostar desse aqui. - ele me empurra o pequeno prato. E eu dou uma garfada, gemendo em prazer ao saborear o doce perfeito. - O que achou?

- Delicioso. - me inclino para a frente e me aproximo dele, dizendo baixinho. - Mas preciso de mais para ter certeza. - e dou uma piscada com um sorriso de lado.

Ele se levanta e apenas diz:

- Eu vou me trocar. Acho que é melhor irmos rápido pra casa.

E assim, passamos a tarde toda na cama. Rindo, jogando... Transando.

Acho que eu poderia me acostumar demais com isso tudo. Em menos de vinte e quatro horas, eu tinha a impressão de que nossa amizade, mesmo com todo aquele sexo, tinha se tornado algo muito mais importante pra mim do que eu queria admitir.

Fomos juntos pra faculdade e quando sentamos em nossas mesas tive a impressão de que todos nos olhavam. E na verdade isso era coisa da minha cabeça, já que não tinha como eles saberem que Alex e eu acabamos de sair de uma maratona de sexo. Ou tinha?

Não, não tinha. Eu estava sendo paranóico.

Durante o intervalo, Alex resolve ir até a biblioteca, dizendo que precisa devolver o livro que havia pego uns dias atrás. Espero ele se afastar e dou uma margem de tempo pra que não dê muito na cara que eu iria segui-lo. Talvez uns beijos pelos corredores da biblioteca não fosse uma má ideia. Penso comigo mesmo, já me dirigindo pra lá.

Ando por alguns corredores o procurando, com um sorriso bobo no rosto. O que será que ele diria quando me visse ali? Ele saberia o motivo de eu vim procurá-lo? Aposto que sim.

E então, eu o avisto. Mas sinto meu estômago se afundar na mesma hora. Alex estava ali, abraçado a um cara que eu nunca havia visto pela faculdade antes. Um cara que o abraçava de volta, como se o Alex fosse íntimo dele.

- Eu não acredito que você é o aluno novo, Leo. - Alex diz todo animado. - Quando você se mudou?

Leo? O vizinho? O cara com quem ele perdeu a virgindade?

Eu estou escondido através de uma prateleira, então eles não podiam me ver. Por isso, fico ali, estático vendo o tal Leo, segurar o Alex em um abraço que pra minha opinião, estava demorando demais para ser desfeito.

Eu estava tão perdido em meus pensamentos espionando os dois, que quase morro do coração, quando uma menina para ao meu lado, e diz:

- O destino o escolheu.

- O que? - pergunto tentando acalmar meu coração pelo susto.

- O desejo do Alex . - ela continua com um sorriso etéreo, como se soubesse todos os segredos do mundo. - O destino vai realizar.

- O desejo? - estou confuso agora. Do que ela estava falando? E quem era ela?

- Você sabe do que eu estou falando. Você sabe o que ele sente... - Meu peito se aperta ao me lembrar do papel roxo. É sobre isso que ela estava falando? - Está vendo? - ela aponta para os dois, que ainda estavam próximos demais. - Logo o Alex será feliz. Ele merece, não é?

Ela pisca pra mim e do mesmo modo como apareceu, ela se afasta sem eu nem perceber. Estou meio que perdido, confuso demais e sem saber explicar o por que meu coração se sentia triste nesse momento.

"O desejo do Alex . O destino vai realizar".

Porra. Eu não acreditava nessas coisas.

E mesmo se eu acreditasse, eu deveria estar feliz por isso, não é? O Alex deixaria de me amar...

Era o que eu queria, não é?