webnovel

Prólogo: Entre cinco poemas

Eu sou um auxiliar de biblioteca, segui com essa profissão pois desde pequeno adorava ler, e também porque eu não consegui a vaga de bibliotecário.

Eu tenho a minha própria biblioteca em casa, foi gasto bastante dinheiro para construí-la, mas no final valeu muito a pena.

Era aficionado com todo e qualquer tipo de leitura, seja livros de receitas ou até mesmo livros de dicas econômicas, não me importava muito com o conteúdo, apenas queria ler.

Mas como toda pessoa que lê, eu também tinha um gênero favorito, pode não ser tão fascinante para os outros, mas eu sempre amei o gênero de tragédia. A emoção e ansiedade que sentia sempre que lia algum livro desse gênero era de certa forma reconfortante. O fato da maioria das histórias terminarem com um feliz para sempre, após os personagens terem caminhado sobre rosas me deixava doente, era tão irrealista.

Era por isso que eu gostava desse gênero, eu podia muitas vezes sentir o que o personagem sentiu, podia me identificar com muitos acontecimentos e o mais importante, os personagens tinham que lutar muito para tentar criar o seu final feliz. Era isso o que me prendia, o fato de muitas vezes mostrarem o pior lado do mundo.

Recentemente havia começado uma webnovel nova. Uma que deveria ser de romance, tinha a premissa clichê como qualquer outra que havia lido, a protagonista era pobre e lamentável no início, mas descobriu que tem poderes incríveis e então se torna a queridinha de homens bonitos e influentes. Era o padrão de todas essas webnovels da atualidade, mas confesso que havia muitas dessas que eram realmente muito boas, mas essa? Essa parecia que estava competindo para ganhar o prêmio de pior webnovel já feita no universo.

Era de uma autora que nunca ouvi falar, fiquei com receio de ler por conta de alguns comentários, mas a minha colega de trabalho disse que se eu lesse essa novel ela faria o meu trabalho por uma semana inteira. Não faço ideia do que ela viu de tão incrível nessa coisa, mas pelo menos estou livre por uma semana inteirinha a partir de amanhã.

Para ser honesto o maior problema dessa novel era os personagens em si. Além da protagonista ser estúpida, havia um total de cinco protagonistas masculinos malucos, e como se ainda não fosse o bastante, ela ainda faz outros dois ainda mais malucos se apaixonarem por ela, mas infelizmente, ou felizmente, eles não tiveram a chance nem de beijar a mão dela.

Cada um dos personagens masculinos tinha um problema diferente. O príncipe era um alcoólatra com péssimos hábitos, o duque era um psicopata que tentava matar qualquer um que ousasse chegar perto da protagonista, o líder da guilda dos mercenários era um ladrão viciado em apostas, o mestre da torre mágica era um louco que conduzia experimentos com humanos, e por último, o homem lobo que era um pervertido com tendências masoquistas.

Acho que só com essa breve descrição já dá para saber um pouco sobre o que acontece nessa webnovel, não é? Sequestros a cada dez capítulos, assassinatos para todo o lado, tortura psicológica e sexual, esses tipos de coisas bizarras que fariam alguém acabar preso por uns bons e longos anos na cadeia.

Senti até vontade de vomitar ao ler isso, a protagonista é simplesmente arrastada de um lado para o outro enquanto é tratada como um objeto que não possui emoções nem necessidades humanas sem motivo algum.

Já li muitos dark romances, mas essa era a minha primeira vez lendo algo podre e mal escrito assim, nem sequer estava categorizado da forma correta, apenas tinha a categoria de romance, e a sinopse também não ajudava muita coisa.

Não pude acreditar que tinha gente capaz de realmente gostar daquilo, quanto mais eu lia mais da minha sanidade era levada embora pela autora. Depois que comecei a ler isso, eu nunca mais disse as pessoas que lia qualquer coisa que me indicassem.

Mesmo com tudo isso eu ainda estava extremamente curioso sobre como isso poderia acabar, então continuei lendo, mesmo sofrendo.

Essa foi de longe a pior decisão da minha vida.

Um dos que que acabou se apaixonando pela protagonista vira um vilão por não ter conseguido ficar com ela. Esse foi o vilão mais tosco que já vi em toda a minha vida, digo, há muitos motivos para alguém se tornar um vilão e muitas formas de agir como um, mas ele? Ele era patético, seus planos eram tão óbvios e ruins que me perguntava se a protagonista talvez fosse cega, já que não notava nunca.

Se por um acaso ele fosse real, eu já o teria puxado pelo colarinho e dado uns bons tapas para que ele tomasse jeito.

Ele só foi usado pela autora para fortalecer o amor da protagonista com o príncipe, depois da tentativa do vilão fracassar, o príncipe tranca a protagonista no palácio, e então, começa o romance mais forçado da história. Era frustrante ver que mesmo sendo mantida em cativeiro em uma masmorra e ficando sem comer por dias, ainda faz com que ela se apaixone pelo príncipe.

Quanto ao vilão... bem, ele só se ferrou.

Ele era tão estupido que ele conseguiu ser pego depois de fracassar na primeira tentativa, ele foi executado enquanto o príncipe e a protagonista juravam amor eterno, em uma masmorra... acho que não tinha lugar melhor na hora.

Infelizmente já não se fazem vilões bons como antigamente.

Depois de tudo isso, a protagonista é reconhecida pelo templo como uma santa e nenhum dos outros protagonistas masculinos podia tocar nela imprudentemente.

Mas como a boa e burra protagonista que ela é, ela voltou a dar para eles. Tinha vontade de lavar meus olhos com detergente sempre que lia uma cena dessas.

No final ela acabou criando um harém e se tornando a rainha. Tenho certeza que aquele reino não durou nem três meses depois disso. Mas resumindo, eu perdi o meu tempo lendo isso.

— Noah! Vai arrumar a sessão infantil!

Certo, estive desabafando por tanto tempo que até esqueci de me apresentar.

Sou Noah, Noah Collins.

— Noah!

— Estou indo!

Atualmente estou no horário de trabalho, que não é nada mais nada menos do que ficar organizando os livros que as crianças tiram do lugar a maior parte do tempo.

A biblioteca em que trabalhava era relativamente pequena e era mais focada na parte infantil, pagava bem, mas eu sempre tinha coisa para fazer.

A área estava uma completa bagunça, acabava de sair uma turma de crianças daqui. Os professores nem se deram o trabalho de ao menos pedir para as crianças tirarem os livros do chão.

Esse já era o segundo passeio escolar. Só com a última turma, foi contado 21 livros que foram rasgados, não estavam destruídos ao ponto de serem inutilizáveis, mas havia algumas capas e páginas que sofreram.

Assim que comecei a pegar os livros do chão senti uma leve dor de cabeça.

Na hora, eu pensei que não fosse nada muito sério, por isso, continuei pegando os livros.

De um a um, fuicolocando os livros em seus devidos lugares. Quanto mais livros eu colocava,mais dor eu ia sentindo. Por fim, quando coloquei o último livro, acabeidesmaiando.